segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O poeta Paulo Bomfim merece a homenagem de ter seu nome em alguma escola pública, biblioteca ou praça com árvores e flores


Quem sabe algum vereador acabe acessando este blog e abrace a ideia de transformar a data 30 de setembro, aniversário do poeta Paulo Bomfim, em um feriado municipal. Teríamos assim, o Dia do Poeta da Cidade. Ele nos deixou em 2019, aos 92 anos. 

Se não vier o feriado, que seu nome batize alguma praça com árvores, flores e pássaros, ou ainda uma escola, uma biblioteca.

Paulo Bomfim ao lado de sua inseparável máquina de escrever


Jamais conheci alguém que falasse com tanto amor sobre a cidade de São Paulo, fosse nos versos ou nas prosas sobre o cotidiano ou mesmo o passado da metrópole que considerava insólita. Ele merece ser homenageado.

Tudo para ele girava em torno dos paulistanos de hoje e seus antepassados. Dizia ser descendente de João Ramalho, Bartira e alguns dos bandeirantes.


O nosso poeta preferido partiu em 7 de julho de 2019. Sua ausência segue sendo sentida não só por mim, mas por todos que o rodeavam.

30 de setembro é a data de seu aniversário deve estar sentindo saudades de todos nós, e nós 
de sua poesia e de seu modo romântico de encarar situações, mesmo quando adversas.


O rosto do poeta na pintura de Anita Malfatti

Nasceu em 1926, no bairro de Vila Buarque, filho do médico Simeão dos Santos Bomfim e da artista plástica, Maria de Lourdes Lébeis Bomfim. Assistiu ainda inocente os acontecimentos em torno da Revolução Constitucionalista de 1932 da qual guardou muitas lembranças. 

Seu pai seguiu com as frentes de luta para a formação dos hospitais de campanha para atender os feridos de guerra, enquanto tios e primos seguiram adiante no front. 

Depois de encerrado o conflito, sua tia Nicota Pinto Alves, cuidou da família dos exilados tendo sido ela, a primeira mulher sepultada entre os heróis da revolução, no Mausoléu do Soldado Constitucionalista no Ibirapuera.

Esses relatos nos foram contados pelo próprio poeta e dele guardamos um depoimento disponível aos que acessarem o podcast do programa São Paulo de Todos os Tempos, no Spotify. Copie e depois cole o link:

https://open.spotify.com/episode/002eOL6YTnlkJx83Rn8bhm?si=fnijXxzqRtKjpy3gjkmKCQ


Paulo Bomfim, funcionário do Tribunal de Justiça em seu gabinete

Sucessor de Guilherme de Almeida foi o quinto na hierarquia poética a ostentar o título “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. 

Quem o conheceu, sabe que ele nunca esnobou sabedoria, ao contrário; atribuía a terceiros um saber maior sobre fatos históricos, pitorescos ou marcantes dos acontecimentos ligados à história da capital paulista.

Foram muitas as recordações de infância relatadas por Paulo Bomfim, quase todas acontecidas na casa onde passou a infância, na Rua Rego Freitas 59.

A residência era uma espécie de centro cultural que reunia intelectuais convidados por suas tias Cecília e Magdalena Lébeis. 

Elas também moravam no casarão e lá recebiam visitas de amigos como os poetas parnasianos Coelho Neto e Martins Fontes dos quais Paulo Bomfim dizia se lembrar apenas da fisionomia.

Também conheceu o maestro Heitor Villa – Lobos, cuja tia Magdalena que era pianista, se tornou uma de suas principais intérpretes.

“Do bairro onde morei quando menino nada mais restou, a não ser a Igreja da Consolação, a única referência ainda viva daqueles tempos”.

Uma graça alcançada por intercessão da Marquesa de Santos


Em uma entrevista para a Rádio Eldorado, Paulo Bomfim nos revelou que costumeiramente ia ao cemitério da Consolação e deixava uma rosa sobre o túmulo da marquesa de Santos.

“Certa vez ao chegar, vi uma preta velha ajoelhada rezando em frente ao túmulo de Domitila. Ela virou-se para mim e perguntou se eu era devoto da marquesa. Eu disse que sim. A mulher então me contou que havia recebido uma graça por intermédio dela.

Ela explicou que pediu em oração à marquesa, que intercedesse junto a Deus, para que o professor Pietro Maria Bardi, então diretor do Museu de Arte de São Paulo, autorizasse uma exposição de suas pinturas no Masp. Foi atendida e a mulher voltou ao cemitério para pagar sua promessa”.

Entre os modernistas

Paulo Bomfim conviveu com Anita Malfatti que pintou um quadro (óleo sobre tela) com o rosto do poeta que posteriormente o colocou na capa do seu livro que leva o título; ‘Aquele Menino’.

Outro grande nome da literatura que ele conheceu quando criança, foi o poeta modernista Mário de Andrade.

Anos depois de tê-lo visto pela primeira vez, compareceu ao seu velório, na Rua Lopes Chaves, onde morava.

"Naquela noite, uma mulher inteligentíssima que declamava russo, chamada Leonor Aguiar, entrou vestindo uma roupa e quando se aproximou do caixão resolveu trocá-la. Não teve dúvida, tirou o vestido e ficou só de combinação na frente ao defunto e todos os presentes. Em seguida, substituiu o vestido que usava por um outro que levava na bolsa sem a menor cerimônia".

Extremamente educado

Todos os amigos do poeta Paulo Bomfim, são unânimes em afirmar que jamais ouviram da boca dele qualquer malcriação ou palavra maledicente contra alguma pessoa.

Generoso e solícito com todos que o procuravam, tinha sempre uma palavra de elogio. “Se for para criticar ele prefere ficar quieto”, nos explicou sua esposa Emy (Emma Gelfi Bomfim), com quem ficou casado durante 50 anos. Ela adorava ouvir meus programas pela Rádio Eldorado.

Sobre o casal há uma história interessante contada pelo próprio poeta quando viviam com filhos ainda pequenos em uma casa modesta.

Certa vez a cantora Aracy de Almeida, segundo ele a melhor intérprete das músicas de Noel Rosa, o procurou dizendo que fazia uma temporada em São Paulo e se sentia triste no hotel e gostaria de passar uns dias na casa deles.

"Não tivemos dúvidas, tiramos as crianças do quarto e Aracy se instalou nele e foi ficando... Ela voltava de madrugada das boates onde se apresentava e antes de dormir, fazia ligações interurbanas intermináveis pelo telefone, conversando com amigos do Rio de Janeiro e assim prosseguia até o amanhecer. Quase três meses depois, trouxe uma arara que ganhou de presente na boate Jangada e levou o bicho para o quarto. Com o bico, a arara começou a morder os móveis, então não aguentei mais..."

Foi a única que vez, ao que se sabe, que o poeta disse ter ficado nervoso na frente de alguém e, mesmo assim, fez questão de não ofender a amiga.

“Eu expliquei a ela que estava expulsando apenas a arara, mas como resultado ouvi de Aracy, o seguinte: “Se é assim, eu também me retiro”.

Nossa presença no lançamento do livro Porta Retratos 

Em 2016, ao completar 90 anos, Paulo Bomfim foi homenageado com o livro "Porta Retratos", organizado pela jornalista Di Bonetti, com as fotografias do acervo pertencente ao poeta.

Pena que ele precisou partir. Se existissem mais pessoas com a sensibilidade de Paulo Bomfim, o mundo seria melhor. Sua poesia ficará para sempre.



Um comentário:

  1. Sugiro mudar o nome da Praça Rotary para Praça Paulo Bomfim. Há duas razões para isso. Ele foi da Vila Buarque e estreou seus versos no jornal "A Voz da Infância" da Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato, que fica na praça mencionada.

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