domingo, 23 de outubro de 2022

Conheça Agripina: Rainha do Rádio Paulista

Conforme mostramos na postagem anterior, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro levava ao ar em seus programas de auditório cantoras que ficaram para a história da Música Popular Brasileira, entre elas Marlene, Emilinha Borba e Ângela Maria, transformadas pelo gosto popular em “Rainhas do Rádio”.

São Paulo também teve suas rainhas que, entretanto, terminaram suas vidas no mais completo anonimato, exceção talvez de Isaura Garcia, mulher de encantadora sensibilidade.


Para apresentar e produzir programas de auditório no rádio paulista, foi preciso trazer do Rio de Janeiro, César Ladeira, que deixou a Rádio Nacional, contratado por Paulo Machado de Carvalho, para dirigir a Record de São Paulo.

De início César Ladeira teve muito trabalho pela necessidade de criar um elenco genuinamente paulista. Ninguém mais além dele, iria se dispôs a deixar a Nacional, ouvida em todo país, para ingressar em uma emissora localizada fora do Distrito Federal.

Dessa procura surgiram novas cantoras que fizeram grande sucesso, a principal delas foi Agripina Duarte, cujo rosto aparece na foto acima.

Isto possibilitou a formação de um público cativo que passou a lotar auditórios, comprar discos e revistas.


Outras intérpretes ganharam destaque como Neide Fraga, Cida Tibiriça e Sonia Carvalho, entre outras.

Nenhuma dessa vozes, contudo, sobreviveu ao tempo e praticamente todas foram esquecidas.

A cidade de São Paulo, quem sabe, pela constante pressa de progredir, se esqueceu de preservar até mesmo os registros sonoros desta época, porque nenhum desses programas de auditório, depois de gravado, ficou guardado em arquivo.


Quem resgatou esses nomes foi Thais Matarazzo, jornalista e pesquisadora musical em seu livro “A Dinastia do Rádio Paulista”, escrito em parceria com o historiador Valdir Comegno, publicado em 2013.


Em 1935, Agripina se tornou a primeira Rainha do Rádio em São Paulo. 
Seu salário de 300 mil réis, chegou a ser o maior entre os funcionários da Rádio Record”, revela a autora em sua obra.



Um artigo postado em 2020, no “Guia dos Curiosos”, por Marcelo Duarte, sobrinho-neto de Agripina, dá conta que ela se iniciou no rádio aos 12 anos, cantando em programas infantis.

Aos 16, já fazia parte do cast da Rádio Record e no auge da fama, se casou com Raul Gama Duarte, grande nome do meio artístico e um dos pioneiros da televisão no Brasil.

Dessa união nasceu a filha Maria Cristina Gama Duarte, que se tornou jornalista e dirigiu a revista “Cláudia”.

Marcelo Duarte, acrescenta em seu texto, que o casamento pode ter influenciado sua tia-avó, a recusar uma proposta para integrar o quadro de cantores da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.



Agripina, aos poucos, foi abandonando a carreira e essa decisão abriu espaço para que Isaurinha Garcia, que está nessa foto, tomasse o posto de “Rainha do Rádio de São Paulo
, no ano de 1953.

Thais Matarazzo em seu livro, traz ainda outros nomes de cantoras da Pauliceia, como Elza Laranjeira, Esterzinha de Souza, Triana Romero, Hebe Camargo e Lolita Rodrigues.

Outro destaque foi Juanita Cavalcanti, também cantora e rainha, escolhida pela Rádio Gazeta, em 1957.

Todas elas brilharam, mas tiveram curto reinado.

 

Fontes: MATARAZZO, Thais/COMEGNO, Valdir/ A Dinastia do Rádio Paulista, ABR Editora/São Paulo/ 2013/

DUARTE, Marcelo/ Portal Guia dos Curiosos/Agripina Duarte: A rainha do rádio paulista que nunca ouvi cantar; 18 de junho de 2020/

https://www.guiadoscuriosos.com.br/blog/historia-2/agripina-duarte-a-rainha-do-radio-paulista-que-nunca-ouvi-cantar/

 

 

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Saiba como foi “A Era do Rádio no Brasil” e suas Rainhas

Logo após ter surgido, o rádio passou a mostrar o poder de seduzir a imaginação das pessoas através dos ouvidos.

Capaz de ser mais lúdica que os olhos, a audição consegue levar as pessoas a imaginar o rosto de um locutor ou uma cantora através da voz.

Embora a tecnologia tenha desfeito muitos desses mitos imaginários, a partir do surgimento da televisão e mais recente com as webcans nos estúdios radiofônicos, ainda assim, o poder da voz ainda tem força entre os que gostam de ouvir rádio.


Isto ajuda explicar o interesse despertado quando da escolha das Rainhas do Rádio, nos tempos dos programas de auditório.

A ideia surgiu em 1937, mesmo ano em que a Ditadura Vargas se institucionalizou com a implantação do Estado Novo.

Talvez por isso não tenha ocorrido de início uma eleição entre os ouvintes, para a escolha de sua primeira rainha que acabou sendo a cantora Linda Baptista.

“Este nome veio do consenso entre os artistas”, nos explicou em uma antiga entrevista, o escritor Reynaldo Tavares, de saudosa memória, grande pesquisador do rádio no passado.

O "mandato" de Linda Batista, assim como o de Getúlio, foi longo, durou 11 anos até 1948, quando sua irmã Dircinha Baptista, também foi escolhida como rainha. 

A grande polêmica, entretanto, começou no ano seguinte, quando se estabeleceu a escolha através do voto popular e a vencedora foi Marlene, que aparece na foto acima, após acirrada disputa pelo voto com Emilinha Borba, situação que fez das duas, eternas rivais.

Marlene, uma paulistana da Bela Vista, cujo nome de batismo era Vitória Bonaiutti, levou para o Rio de Janeiro, o patrocínio da Companhia Antárctica que colocava no mercado o Guaraná Caçula.


Com o dinheiro pago pelo patrocinador, o empresário de Marlene, comprou toda uma edição da Revista do Rádio, que promovia o concurso, e mandou preencher os cupons com o nome dela.

Desgostosa, Emilinha Borba - Emilia Savanna Borba - que tinha chances de vencer, retirou-se da competição

Marlene foi eleita com 529.982 votos e no dia da entrega do prêmio, a cidade maravilhosa amanheceu forrada de cartazes onde, Marlene aparecia em uma foto tomando o guaraná caçula e os fãs de Emilinha ficaram doidos.

Tal atitude deu início a uma guerra entre as duas cantoras, que passaram a se desafiar abertamente na busca de títulos e homenagens, sempre no intuito de superar a adversária.

Quando Emilinha obteve o título de “A Favorita da Marinha”, Marlene não deixou por menos e deu o troco se tornando “A Favorita da Aeronáutica”.

Mas se fizermos um ranking entre Rainhas do Rádio da Nacional Rio, nem Marlene e nem Emilinha seriam as vencedoras.


A mais votada entre todas as rainhas pertencentes à Rádio Nacional do Rio de Janeiro foi Ângela Maria, eleita em 1954, com mais de um milhão de votos.

Tentaram depois em 1958, quando o concurso já estava decadente, escolher um galã para fazer dele o “Rei do Rádio”, mas não deu certo. O vencedor foi o cantor Francisco Carlos, chamado na época de El Broto. 

  

CONCURSO RAINHA DO RÁDIO AO LONGO DA HISTÓRIA

 

VENCEDORAS:

 

1937 - LINDA BAPTISTA*

1948 - DIRCINHA BAPTISTA**

1949 - MARLENE - 529.982 VOTOS

1951 - DALVA DE OLIVEIRA - 311.107 VOTOS

1952 - MARY GONÇALVES - 744.826 VOTOS

1953 -EMILINHA BORBA - 691.515 VOTOS

1954 -ÂNGELA MARIA -1.464.996 VOTOS

1955- VERA LÚCIA- 565.636 VOTOS

1957- DORIS MONTEIRO- 875.605 VOTOS

1958- JULIE JOY- 350.421***

 

(*, **) - Não houve eleição para a escolha das duas primeiras rainhas do rádio

(***) – Eleita ao lado de Francisco Carlos

 

Em São Paulo também houve Rainhas do Rádio, mas este assunto será tratado em nossa próxima postagem.

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

A revolução de 1932 ajudou popularizar o rádio no Brasil: Confira essa história

Em nossa série de postagens sobre os 100 Anos do Rádio no Brasil, é preciso contar que até o início da década de 1930, apenas 21 emissoras funcionavam no Brasil, todas elas levando ao ar programas de cunho educativo e música erudita.

O início da mudança desse estilo, para uma programação mais próxima do público em geral, começou em 1928, quando em São Paulo, o dono de uma loja de discos chamada Record, visitou os Estados Unidos e trouxe consigo um transmissor AM de 500 kWs.



A loja de Álvaro Liberato de Macedo, tinha como endereço a Praça da República, n°17 e sua compra foi para divulgar os discos a venda na loja, cujas músicas eram apresentadas pela estação de rádio.

Passado algum tempo, em 13 de junho de 1931, Álvaro de Macedo vendeu sua rádio a Paulo Machado de Carvalho por 25 contos de réis.

Nesta época, São Paulo exigia nas ruas a deposição do então presidente Getúlio Vargas e o primeiro passo da revolta foi dado pelos estudantes da faculdade de Direito do Largo São Francisco.


No início da noite de 23 de maio de 1932, os estudantes invadiram o estúdio da Record e exigiram que se colocasse no ar a leitura de um abaixo-assinado que pedia mudanças na situação política do País.

O locutor de plantão naquela noite era Nicolau Tuma e a marcha escolhida para fundo musical, foi Paris Belfort, por decisão aleatória do técnico de som.

Lido o manifesto, dali em diante, a Rádio Record se transformou na “Voz de São Paulo”, durante a Revolução Constitucionalista.



Foi através destes acontecimentos que Getúlio Vargas reforçou sua percepção sobre a força do rádio como veículo de comunicação, visto que, por um decreto-lei, foi ele quem autorizou a introdução de anúncios comerciais durante a programação das emissoras.

Com a inclusão desta novidade, as estações puderam contratar artistas e apresentar programas variados, mais próximos do grande público.

Outro fato importante para a popularização do rádio, aconteceu em 12 de setembro de 1936, dia em que foi ao ar pela primeira vez, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

Surgida inicialmente como empresa privada, a rádio acabou sendo encampada por decisão de Getúlio, em 8 de março de 1940, e transformada na emissora oficial do governo brasileiro.


Com potentes transmissores capazes de alcançar todas as regiões do país, a Rádio Nacional se tornou mais conhecida em sua época de ouro que qualquer outra emissora de TV aberta dos tempos atuais.

A Nacional tinha em seu elenco, o que havia de melhor entre músicos, cantores e cantoras, além de atores e radio-atrizes, que deram início ao que se chama de fase de ouro do rádio brasileiro.

Foi também a pioneira na introdução do radiojornalismo, ao incluir na programação, a partir da II Guerra Mundial, o Repórter Esso com notícias do Brasil e do mundo, lidas de hora em hora.


Terminada a guerra, o Repórter Esso permaneceu no ar até 1968 sempre com o slogan: “A testemunha ocular da história”.

Entre os apresentadores, no Rio de Janeiro, destacam-se os nomes de Heron Domingues e César Ladeira, além das vozes de Dalmácio Jordão e Lívio Carneiro, no rádio paulista, entre outros.

Tanto a Rádio Nacional quanto a Rádio Record seguem no ar transmitindo em AM para todo Brasil. 

No Rio de Janeiro, a Nacional opera na frequência de 1.130 kHz e a paulistana Record, segue firme nos 1.000 kHz.

Essas rádios possuem páginas na internet e podem ser sintonizadas por aplicativos disponíveis no Play Store de cada aparelho celular.








quarta-feira, 5 de outubro de 2022

As memórias do rádio paulista em quase 100 anos de história

 Nas comemorações dos primeiros 100 anos do Rádio no Brasil, contamos que oficialmente, a primeira transmissão radiofônica em nosso país aconteceu durante as comemorações do Centenário da Independência, em 7 de setembro de 1922.

Depois, em 20 de abril de 1923, surgiu a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, graças ao empenho do médico amante das comunicações, Edgard Roquette Pinto.

Na capital paulista, o Rádio nasceu no dia 30 de novembro de 1923, quando foi ao ar pela primeira vez, a Rádio Sociedade Educadora Paulista, sob o prefixo PRA-E.

A iniciativa partiu de outros abnegados amantes da ciência e tecnologia: os engenheiros Leonardo Jones Jr, Otávio Ferraz Sampaio, George Corbisier, Luiz Ferraz de Mesquita, além do industrial Francisco Matarazzo e do comerciante Luiz do Amaral César.

Como presidente da rádio, os sócios escolheram Heribaldo Siciliano, por ser este um entusiasta sempre em busca de inovações.

O primeiro programa levado ao ar, foi transmitido de um estúdio no Palácio das Indústrias e contou com a participação do cantor Paraguassu, muito conhecido na época.


Descendente de italianos e morador do Brás, o jovem cantor buscou um nome artístico originalmente brasileiro para ser aceito no meio musical. Seu nome verdadeiro era Roque Richiardi.

Pouco depois, a Rádio Educadora mudou de endereço e foi para a Rua Carlos Sampaio, entre a Cincinato Braga e a Treze de Maio, onde instalou no mesmo terreno uma torre de 47 metros, para irradiar as ondas de um transmissor, cuja potência atingia mil watts.

A Educadora Paulista funcionava em regime de sociedade civil, ou seja, ninguém da diretoria era remunerado, apenas os funcionários recebiam salários em dinheiro pago pelos assinantes.

Aos poucos foram surgindo os primeiros anúncios comerciais, até que, em 21 de janeiro de 1931, pelo decreto lei 21.111, surgiu a primeira legislação que regulamentou a transmissão de anúncios comerciais pelas emissoras de rádio em todo Brasil. 

Daí em diante, o Rádio popularizou-se.

Por inúmeras vezes entrevistei Nicolau Tuma, nascido em 19 de janeiro de 1911, uma das primeiras vozes da Educadora Paulista. 

Entre outras atividades, Tuma narrava futebol, função na qual ficou conhecido como “Speaker Metralhadora”. 

Foi ele quem introduziu a narração veloz de uma partida de futebol.

Tuma fez escola para outros narradores esportivos, além de ter sido o inventor da palavra radialista.

Na língua portuguesa esta palavra não existia, em Portugal, por exemplo, o termo empregado era radista.


Na reunião inaugural da Associação Brasileira de Rádio, Nicolau Tuma sugeriu que empregassem nos estatutos da entidade a palavra radialista, para satisfação geral.  

“Muito mais bonita e fácil de pronunciar, minha sugestão foi aceita por unanimidade e se tornou o símbolo da profissão”, explicou o veterano mestre que nos deixou, em 11 de fevereiro de 2006.

De Nicolau Tuma, herdei a cadeira número 7, da Academia Paulista de Jornalismo, cujo patrono é José Maria Lisboa.

Este também, é um pioneiro nas comunicações por ter sido um dos fundadores, em 1884, do jornal Diário Popular, de saudosa memória.