quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

O adeus do rei menino do Brasil campeão do mundo

“... Passa a vida, lembranças, imagens se vão, mas tem coisas que ficam na gente. Um menino chorando, uma copa nas mãos, essa imagem ficou para sempre. Foi um grito de glória, o Brasil, a vitória,  esse povo cantou de alegria. Essa mesma alegria que um dia vai fazer essa gente chorar...”

A letra desta antiga canção, sucesso na voz de Ângela Maria, me evocou lembranças do Rei Pelé ao receber a notícia de sua morte. 

Durante a infância assistia pela televisão seus gols e como todos meninos de minha época me tornei seu fã.

 “O tempo passa e atravessa as avenidas”, diz uma outra música interpretada por Taiguara, ao relembrar que Pelé também foi menino na cidade de Três Corações – MG onde nasceu na célebre data, 23 de outubro de 1940.

O menino negro batizado com o nome Edson Arantes do Nascimento, mudou-se depois com os seus pais para Bauru, no interior paulista. 

Filho de Dona Celeste e Seu Dondinho, apelido de João Ramos do Nascimento, o garoto ainda inocente aprendeu os primeiros fundamentos do futebol com o pai também jogador que abandonou cedo a carreira.

Jogando pelo infanto-juvenil do BAC - Bauru Atlético Clube, time amador, foi bicampeão da Liga Citadina, em 1954 e 1955. Todos que o viam jogar percebiam nele um futuro grande craque.  

Foi então que Waldemar Brito, antigo atleta da seleção brasileira, ao vê-lo ficou deslumbrado. Seu apelido em Bauru era Gasolina, por incendiar as partidas e as defesas adversárias.


Levado para o Santos Futebol Clube passou a ser chamado de Pelé e quis o destino que ele fizesse da equipe de Vila Belmiro, uma das mais conhecidas do mundo nos tempos em que vestiu a camisa 10 do alvinegro praiano.

Cada narrador esportivo ao transmitir suas jogadas criava um bordão especial. Geraldo José de Almeida, passou a chamá-lo de "craque café", para Waldyr Amaral era "o deus dos estádios" e Walter Abrahão, da TV Tupi, fazia questão de chamá-lo simplesmente de "Ele".

Pelé, logo de início, passou a fazer gols em profusão, sendo por isso convocado para a seleção brasileira com apenas 17 anos de idade.

Tal oportunidade fez dele o mais jovem jogador a sagrar-se campeão em uma Copa do Mundo, no caso a de 1958 disputada na Suécia, quando eternizou para si, o mito da camisa 10 para o melhor jogador de uma equipe.

Voltou da Suécia sendo chamado de "Rei do Futebol" e, para se ter uma ideia de sua grandiosidade, Pelé foi artilheiro do Campeonato Paulista em 11 oportunidades, sendo dessas, 9 consecutivas.

Com o Santos, foi o primeiro do Brasil a levantar o título de Bi – Campeão Mundial Interclubes e da Copa Libertadores da América, nos anos de 1962 e 1963. 

Maior goleador da Libertadores de 1965 e artilheiro da Taça Brasil por três vezes (1961, 1963 e 1964) e do Torneio Rio - São Paulo, em 1963, ao todo na carreira, Pelé marcou 1.263 gols, tendo sido o milésimo assinalado de pênalti, no Maracanã, em 19 de novembro de 1969, diante do Vasco do goleiro Andrada.

As grandes imagens de suas jogadas que ficaram eternizadas com a camisa da seleção brasileira, são as da Copa do Mundo de 1970.

Quando não é o gol de cabeça em cima da Itália, na partida final, é o “drible da vaca” sobre o goleiro do Uruguai. Por isso, apesar de ter se despedido dessa vida, Pelé estará para sempre jogando a todos que quiserem assisti-lo.

Pelé é eterno! Existe inclusive, um filme sobre ele com este nome.

Em 1971, ao se despedir da seleção, em um jogo amistoso no Maracanã diante da Iugoslávia que terminou empatado em 2 x 2, Pelé pouco depois, foi pressionado a vestir novamente a camisa canarinho para a disputa da Copa de 1974, mas não aceitou e depois confessou ter se arrependido.

Pelo Santos sua despedida aconteceu de maneira simples, a diretoria santista não soube avaliar a importância do acontecimento.

De modo singelo, na noite de 2 de outubro de 1974, em um jogo com vitória de 2 x 0 sobre a Ponte Preta pelo Campeonato Paulista, o Rei encerrou a carreira. 

Naquele dia, aos 22 minutos do segundo tempo, Pelé se ajoelhou no centro do gramado, abriu os braços e virou para os quatro lados do campo em agradecimento. Em seguida, jogadores e torcedores correram para o abraçar.


Guerreiros são pessoas, são fortes, são frágeis. Guerreiros são meninos no fundo do peito,  precisam de um descanso, precisam de remanso, precisam de um sonho que os tornem perfeitos....” diz a gravação de Raimundo Fagner.

Houve depois um convite “irrecusável” para jogar no New York Cosmos em partidas de exibição ao lado de craques de outros países. 

Estes jogos ajudaram popularizar o futebol nos Estados Unidos e fizeram de Pelé, o cidadão brasileiro mais conhecido em todo o mundo até hoje. 

No dia 15 de maio de 1981, o jornal francês L’ équipe concedeu à Sua Majestade,  o título de Atleta do Século, após pesquisa junto a cronistas dos 20 mais importantes jornais do planeta. 

Foram 178 votos a favor de Pelé e 169 para o segundo colocado, o corredor norte-americano Jesse Owens, Medalha de Ouro nas Olímpíadas de Berlim, em 1936.

Aos que reconhecem apenas o Pelé jogador, mas carregam por ele certo desprezo pelas atitudes que teve na vida, lembro mais um trecho da canção, composta por Gonzaguinha: 

“...É triste ver este homem, guerreiro menino, com a barra de seu tempo por sobre seus ombros. Eu vejo que ele berra, eu vejo que ele sangra, a dor que traz no peito, pois ama e ama...”

Vá em paz, Pelé! Suas qualidades superam seus defeitos!

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Leia nossa retrospectiva 2022 e as “previsões” para 2023

Não me lembro de um ano com tantas efemérides importantes quanto este 2022! O Brasil parece ter sorte com este número.

Comemoramos o bicentenário da Independência, o centenário da Semana de Arte Moderna e da chegada do Rádio ao nosso país.

Houve outros acontecimentos importantes durante o ano, a começar pelas eleições presidenciais mais polarizadas da história.

Para descontrair tivemos a Copa do Mundo entre os meses de novembro e dezembro, algo inédito, mas a seleção brasileira não foi adiante, caiu nas quartas de final mais uma vez e os Hermanos ficaram com o título.

Na numerologia, entretanto, o 22 representa a concretização das finalidades, por estar relacionado com tudo que envolve objetivos para a construção de um mundo melhor no sentido coletivo, ou seja, para todos.

Quanto ao 23 o que este número nos reserva?

Para os numerólogos, sonhar com o número 23, significa um momento de mudança na vida pessoal no qual será preciso tomar uma decisão que pode ser definitiva.

Não é preciso ser astrólogo para prever que o presidente eleito sofrerá com a oposição no congresso e terá que cumprir com o que prometeu na campanha e apresentar resultados de curto prazo se quiser continuar governando.

Em 2023 teremos também efemérides importantes. Lembraremos o centenário do falecimento de Ruy Barbosa, político, escritor e diplomata de grande destaque nos primeiros anos da República no Brasil.

Ele atuou na defesa do abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias individuais, mas foi contrário à vacinação contra a varíola, no Rio de Janeiro, em 1904, pelo fato desta injetar o vírus da doença no corpo das pessoas.

Disse ele: “A lei da vacina obrigatória, é uma lei morta!”

Anos depois, o “Águia de Haia” elogiaria o médico Oswaldo Cruz, introdutor da vacina no Brasil, ao lembrar que o sanitarista, “não cedeu aos destemperos do obscurantismo popular e da oposição”.

Ao longo de 2023, também serão lembrados os 150 anos da Convenção Republicana de Itu, realizada em 18 de abril de 1873, tendo esta lançado as bases para a derrocada do Império e o início da República em nosso país.

Bem ou mal, com altos e baixos, o regime republicano permanece em vigor no Brasil, alicerçado desde 1988, por uma constituição cidadã, que assegura direitos aos cidadãos e garante o livre exercício da democracia através do voto direto e secreto.

Apesar das contestações que eventualmente possam vir a esse texto, desejo a todos e todas: Um Feliz 2023! Com muitos acontecimentos, "causos" e histórias para contar.

Viva o Brasil! Viva a democracia! Salve 2023!


Fontes:

Cinco efemérides que podem aparecer no Enem: https://ead.pucpr.br/blog/efemerides-2023

Lei da Vacina Obrigatória: https://www.migalhas.com.br/quentes/330685/lei-da-vacina-obrigatoria-e-uma-lei-morta---disse-rui-barbosa-contra-vacina-de-doenca-mortal-do-seculo-xx

Descubra qual o significado do 22 na numerologia: https://www.astrocentro.com.br/blog/numerologia/significado-numero-22-numerologia/

Número 23: quais são os seus significados? - https://osnumeros.com/numero-23/

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

A nova moda de Natal é o “Inimigo Secreto”: Você aceita brincadeiras?

Tudo muda neste mundo, inclusive as formas de se comemorar o Natal.

No calendário cristão, o Natal representa a data de nascimento de Jesus Cristo, retratado na figura do Menino Jesus.

Os livros de história contam, entretanto, que antigas civilizações comemoravam com festas o final de cada colheita agrícola.

Em Roma, se promovia a Saturnália, em homenagem ao deus romano da fartura e abundância chamado Saturno.


No ano de 313, o imperador Constantino concedeu liberdade de culto aos cristãos e, a partir de então, o cristianismo passou a agregar novos adeptos em Roma, tornando-se a religião oficial do Império Romano, em 390.

Em seguida, a Igreja Católica, extinguiu a Saturnália e fez dela um festejo religioso para comemorar o nascimento de Cristo e a data escolhida foi 25 de dezembro. Surgia assim o Natal.

Com o passar dos séculos e das gerações, a data foi obtendo simbolizações típicas como a troca de presentes entre as pessoas.

A Bíblia diz que o Menino Jesus, após nascer, foi visitado e presenteado por três Reis Magos, que trilharam o caminho da manjedoura seguindo, uma “Estrela Guia”.


Trocar presentes passou a significar a repetição da atitude positiva daqueles reis, embora o costume de dar presentes já ocorresse na Saturnália da antiga Roma. 

Somente no século 20 surgiu a brincadeira do “Amigo Secreto”, criada na Escandinávia, em 1929, o ano da “Grande Depressão” causada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York.

Naquele momento as pessoas estavam sem dinheiro para comprar presentes e alguém teve a ideia de colocar nomes em papeis picados para cada um retirar aquele ou aquela que seria presenteado e guardar esse nome em segredo até o dia da entrega.

Com o surgimento das redes sociais, o tradicional amigo secreto de fim de ano passou a não trazer mais a mesma emoção das décadas passadas.

Nos ambientes de trabalho surgiu uma nova versão, batizada de “Inimigo Secreto”.

O objetivo foi tornar a festa de fim de ano nas empresas mais divertida, com presentes que fogem do óbvio, de acordo com o perfil do presenteado.


Que tal dar de presente um despertador barulhento para quem sempre chega atrasado aos compromissos, ou lenços de papel para quem trabalha ao seu lado e vive espirrando?

Outro presente engraçado pode ser um rolo de papel higiênico para o colega capitalista que adora investir na bolsa com ousadia e vive perdendo dinheiro! 

Essas são algumas ideias de possíveis presentes para uma perfeita brincadeira de “inimigo secreto”.

Existem outras, basta copiar e colar o endereço abaixo: 

https://guiadospresentes.com/presente-para-inimigo-secreto/

Nos dias que antecedem a data maior da cristandade, o mais importante é manter o bom humor sem, é claro, perder o amigo... E seja feliz: Vem aí o Natal!

 

 Valéria Rambaldi colaborou

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

A internet deu sobrevida ao Rádio, só não se sabe por quanto tempo

Desde o mês de setembro tenho postado uma série de artigos em comemoração aos 100 anos do Rádio no Brasil sempre de maneira positiva e favorável.

Mas ninguém é perfeito e o Rádio brasileiro também não é. 

São inúmeras as qualidades, mas há uma série problemas que deixam em dúvida a sobrevivência deste veículo ainda hoje muito útil.

Ser útil apenas não basta, é preciso também obter lucratividade e desde quando surgiu a televisão, especialistas em mídia apontam o fim do Rádio sempre para daqui alguns anos.

O Rádio resiste, ouvido e admirado por boa parte da população, especialmente das classes mais populares.

Depois que vieram as redes de televisão, o alcance regional das rádios em AM ou FM, despencou em termos de audiência e anunciantes.

Ninguém na mídia sobrevive sem propaganda e a situação começou se agravar já na década de 1970, quando a televisão ganhou cores e via satélite passou a transmitir sua programação em rede nacional.

Os índices de audiência da TV cresceram, passaram a bater recordes sucessivos e os comerciais televisivos trouxeram lucros extraordinários aos que investiram em patrocínios.

Empresas que fabricam cervejas e refrigerantes, além das montadoras de automóveis e os grandes bancos se tornaram fortes anunciantes da TV aberta.


Para o Rádio sobraram os laboratórios de remédios e as lojas de comércio popular, além de outros poucos patrocinadores diversos.

As agências de publicidade entendem que no subconsciente, anúncios bem-produzidos despertam no consumidor um gosto especial para adquirir determinado produto.

Por isso, certos comerciais para a televisão custam  mais caro que filmes de longa-metragem, mas o resultado de quem investe em propaganda no horário nobre da TV, é amplamente satisfatório. Por quê?

As novelas e o futebol costumam dar mais de 30 pontos de audiência em uma só rede de TV aberta que cobra caro pelos seus anúncios, mas quem investe no patrocínio lucra depois muito mais.

Enquanto isso, os programas de maior audiência no Rádio costumam dar 1 ou no máximo 2 pontos de audiência, mesmo alicerçados pelo YouTube ou Facebook. Entenderam a diferença?

No Rádio com um bom texto e boas vozes dá para gravar comerciais de custo baixíssimo, mas a lucratividade também acaba sendo pequena por causa do fator audiência.

Embora a maioria das emissoras de Rádio também transmita em rede, nem sempre o anúncio tem abrangência nacional.

Enquanto algumas rádios de uma mesma programação vendem a sua propaganda, em outras praças, as associadas não conseguem vender e precisam ocupar o espaço destinado aos comerciais com chamadas de outros programas da emissora.

Na hora de repartir os vinténs surgem as discussões e o setor, por esses e outros motivos está sempre em crise, contendo gastos. 

Para se ter uma ideia, no início da década de 2000, apenas 3% de tudo o que se arrecadava em mídia no Brasil se destinava ao Rádio.


Até as empresas de outdoors, expulsas da cidade de São Paulo pela “Lei Cidade Limpa”, em 2006, faturavam mais que as rádios.

As consequências estão aí até hoje, várias emissoras venderam seus horários ou mesmo arrendaram seus prefixos para pastores e igrejas evangélicas.

Diante dessa situação, a mídia radiofônica como era na década de 1970, a que paga os menores salários para os seus profissionais.

Quem trabalha em uma rádio costuma ter também um segundo ou até terceiro emprego para cobrir todas as despesas de uma família. Quem é do ramo sabe que não estou mentindo.

Mas eis que surge a internet para ameaçar a televisão e beneficiar o Rádio que passa a falar mais longe com a mesma qualidade de som de uma emissora local, sem as oscilações da época das ondas curtas e o melhor de tudo: com imagens.

As webcams levaram o rosto dos apresentadores no estúdio para os portais e aplicativos, além de colocá-los em destaque nas redes sociais. 


Foi o balão de oxigênio que o combalido Rádio tanto precisava e ainda precisa para sobreviver.

O levantamento mais recente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão – ABERT, aponta uma pequena melhora.

Agora, 4% das verbas publicitárias, se destinam ao Rádio, mas a luz amarela de alerta nas finanças continua acesa: Para sobreviver, será preciso melhorar o conteúdo daquilo que é levado ao ar.

Aplicativos, streamings e podcasts serão cada vez mais acessados se houver uma programação de qualidade. Se não for o usuário de internet sai fora rapidamente. 

Agora é o ouvinte que escolhe o horário para ouvir porque tudo fica armazenado nos aplicativos.

Nestas novas ferramentas podem ser incluídas propagandas de acordo com o perfil desses web-ouvintes. Isto facilita a vida das emissoras. 

Fernando Vítolo, Nilo Frateschi Jr e Heródoto Barbeiro lançaram em setembro um livro que recomendo a todos que gostam de ouvir rádio.


Os autores enfatizam que agora, para se ter acesso às emissoras de rádio não são mais necessários os botões para ligar e mudar de estação.

"Os smartphones recebem sem ruído uma enormidade de canais radiofônicos trazidos pela web e as tecnologias do Metaverso e do QR Code tendem a deixar o rádio ainda mais acessível". 

Contamos com isso para que o Rádio se torne lucrativo e sobreviva!

Com esse artigo encerro minha série de postagens sobre os 100 Anos do Rádio no Brasil, sempre na torcida para que esse veículo consiga durar pelo menos mais um século cumprindo sua meta de divertir, informar e fazer companhia às pessoas.

O Rádio não vai morrer tão cedo! Assim espero.

Abraços fraternos a todos e todas que me acompanharam nesta série de postagens. 

Também estou no livro dos Campeões do Microfone.



Fontes: 

Portal Abert: As receitas da indústria de radiodifusão

https://www.abert.org.br/web/dados-do-setor/estatisticas/faturamento-do-setor.html

Livro: 100 Anos de Rádio no Brasil - Na voz dos campeões do microfone

Autores: Nilo Frateschi Jr, Heródoto Barbeiro, Fernando Vítolo/Editora Lafonte/São Paulo/2022

www.100anosderadionobrasil.com.br

 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Como se fazia para saber o resultado do futebol quando o rádio ainda não existia?

Em plena Copa do Mundo no Catar, assistindo um jogo pela televisão, alguém da família me veio com essa pergunta:

Como se fazia para saber os resultados do futebol quando ainda não havia emissoras de rádio no Brasil?

Lembrei então do meu amigo jornalista e memorialista Ademir Medici, que levantou essa questão em 2019, em um artigo no Diário do Grande ABC, publicado no ano do centenário da primeira conquista de um torneio internacional pela seleção brasileira.


Em 1919 aconteceu no Rio de Janeiro, a terceira edição do campeonato sul-americano de futebol, hoje chamado de Copa América, cuja disputa aconteceu no campo do Fluminense, nas Laranjeiras, com a participação de quatro seleções: Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, bicampeão do certame.

No ano de 2019, cem anos depois, o Brasil entrou em campo para mais uma Copa América, vestindo uma camisa branca para lembrar o uniforme utilizado naquela conquista.

Quem não viajasse ao Rio de Janeiro para assistir presencialmente os jogos do sul-americano de 1919, teria que aguardar pelos jornais do dia seguinte para saber os resultados.

“Foi quando o Estadão anunciou a boa-nova: manter um plantonista no campo do Fluminense e este, pelo telefone, enviaria todos os lances da partida para a redação”, escreveu Ademir, na edição do dia 29 de maio de 2019, data de 100 anos daquela conquista.

“Cada telefonema recebido virava um cartaz colocado em frente à sede do jornal, localizada na Praça Antônio Prado, daqueles tempos.

Da mesma forma, defronte ao jornal, com ansiedade, uma multidão se aglomerava do lado de fora para ler as informações do jogo no qual o selecionado brasileiro bateu a Argentina por 3 a 1.

A partida final foi Brasil x Uruguai, um jogo eletrizante com vitória da seleção brasileira por 1 a 0, gol de Friedenreich.

Contei essa história antes, para mostrar o quanto o rádio foi importante para a consolidação do futebol como esporte popular no Brasil.

Hoje em dia, mesmo com a maior parte dos jogos sendo transmitida pela televisão, as rádios brasileiras ainda têm no futebol sua grande fonte de faturamento e seus narradores seguem queridos pelos ouvintes.

Esta relação de amor entre o rádio e o esporte, começou em 19 de julho de 1931 quando a Rádio Educadora Paulista transmitiu, por meio de Nicolau Tuma, a primeira partida completa de futebol na história do Brasil.

Foi um jogo entre as seleções dos estados de São Paulo e Paraná que resultou na vitória dos paulistas por 6 a 4.

A foto acima mostra Nicolau Tuma se preparando para transmitir o jogo, tendo ao seu lado um técnico de som e um antigo aparelho telefônico, além de um jogador da seleção paulista pronto para ser entrevistado.

As partidas eram narradas à beira do gramado porque não havia cabines de rádio, implantadas no Brasil somente a partir de 1940, quando o Estádio do Pacaembu foi inaugurado e passou a oferecer esse conforto aos narradores.

De lá para cá muitos locutores esportivos iniciados no rádio ganharam projeção nacional e até mesmo internacional.

Carlos Eduardo Galvão Bueno, por exemplo, começou no rádio transmitindo pela Gazeta 890 AM, em 1974.

Galvão Bueno assinou contrato com a Rede Globo de Televisão em 1981, sendo esta Copa do Mundo de 2022, sua décima copa como narrador e isso merece registro.

Importantes locutores esportivos brilharam exclusivamente no rádio, entre eles Fiori Gigliotti, Joseval Peixoto, Pedro Luiz, Osmar Santos, José Silvério e por aí adiante.

Na atualidade, Ulisses Costa, Eder Luiz, Oscar Ulysses e Nilson César marcam presença entre os principais narradores paulistas nas transmissões que acontecem ao vivo diretamente do Catar.

Paro por aqui, porque diante de mais uma Copa do Mundo, certamente novos nomes surgirão para marcar presença no rádio e brilhar.

Viva os 100 Anos de Rádio no Brasil! Viva o Futebol Brasileiro!

domingo, 20 de novembro de 2022

Conheça o pioneirismo do rádio brasileiro nas transmissões esportivas das copas pelo mundo afora

O terceiro Campeonato Mundial de Futebol realizado na França, em 1938, é considerado um marco na história do rádio brasileiro.

Durante o evento aconteceu a primeira transmissão esportiva em rede nacional, feita diretamente da Europa.


O jogo de estreia da seleção brasileira, em 12 de junho de 1938, foi contra a Tchecoslováquia e a partida terminou empatada em 1x1.


Coube a façanha ao locutor esportivo paulista, Leonardo Gagliano Neto, de narrar os jogos para uma cadeia de emissoras formada pelas rádios Clube do Brasil e Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro, Cosmos e Cruzeiro do Sul de São Paulo, mais a Rádio Clube de Santos.

Os demais quatro jogos que o Brasil participou, além da partida final Itália 4x2 Hungria, foram do mesmo modo irradiados, com uma qualidade de som que surpreendeu a todos.

Naquele tempo, as transmissões radiofônicas de longa distância, eram feitas por emissões de ondas curtas integradas por um sistema de antenas coligadas.


Essas informações fazem parte da monografia elaborada pela saudosa professora de radiojornalismo, Gisela Swetlana Ortriwano, ainda nos tempos em que fui seu aluno na Universidade Metodista – UMESP – São Bernardo do Campo – SP.

Nesse trabalho, Gisela escreveu que em 1938, o Brasil parou para ouvir as irradiações de Gagliano Neto:

“O povo, incrédulo e fascinado com os sons vindos do outro lado do oceano, vibrava. Quem não tinha rádio em casa, se aglomerava no Largo do Paissandu, em São Paulo, ou diante da Galeria Cruzeiro, no Rio de Janeiro”.

De 1938 até 2022 foram exatas 20 copas do mundo transmitidas pelo rádio. Enumerar todos os radialistas que participaram dessas transmissões internacionais, ao longo de 84 anos, seria por demais trabalhoso. Mas se faz necessário, homenagear o torcedor brasileiro que acompanha o futebol com muito gosto pelo rádio.


Ainda existem aqueles que comparecem ao estádio, levando seu radinho de pilha. Outros exageram, como é o caso do seu Zé do Rádio, conhecido torcedor do Sport Recife. 

Ele carrega consigo um aparelho gigante para ver e ouvir o que falam de seu time toda vez que vai ao estádio. 

O seu Zé garante que o rádio é um "amigo fiel", porque o ajuda compreender tudo que acontece no gramado com os detalhes, que só os repórteres esportivos sabem transmitir.

Há também, como é o meu caso, os que gostam de ouvir as transmissões esportivas pelo rádio do automóvel, geralmente em uma estrada movimentada nos domingos de volta para casa.

A conversa alegre que envolve o futebol, torna a rotina do tráfego menos cansativa. Nos lares, há os que acompanham na poltrona as imagens pela televisão e a narração do jogo pelo rádio, se bem que a tecnologia dificultou essa prática, por causa dos downloads que causam delay e atrapalham a sincronia entre o som do rádio e a imagem da TV. 

Isto colocou o rádio ainda mais na frente quando o assunto é informação. Quando o locutor esportivo grita gol, a diferença entre o tempo real e codificação de alguns provedores costuma variar de 6 a 30 segundos até que a TV consiga mostrar a bola na rede. 

Por isso, quando o jogo está morno, bola pra lá - bola pra cá, alguns ainda preferem acompanhá-lo somente pelo rádio, graças ao dinamismo que os narradores esportivos acrescentam ao movimento dos jogadores em campo.


Certamente não está faltando ouvintes para as emissoras de rádio que estão transmitindo esta Copa do Mundo direto de Doha, no Catar. 

Notei que a quantidade de anunciantes, em vez de diminuir, aumentou neste mundial em relação à copa transmitida da Rússia, em 2018.

A CBN, por exemplo, vendeu 9 cotas de patrocínio, algo acima da média. Parabéns aos gestores. 

Isto se deve à ampliação dos recursos da tecnologia que agora possibilitam ouvir rádio via internet pelos aplicativos nos celulares em android e nos smartphones. 

Este avanço fez aumentar a quantidade de ouvintes e por conseguinte de patrocinadores. 

Conclusão: O rádio seguirá vivo por tempo indefinido, contrariando aqueles que, vez por outra, anunciam seu fim.

Confira a lista das rádios brasileiras que estão transmitindo em rede, a Copa do Mundo 2022 ao vivo no Catar:

Rádio CBN

Rádio Globo FM Rio

Rádio Bandeirantes

Band News FM

Transamérica FM

Energia 97 FM

Jovem Pan

Rádio Itatiaia

Rádio Jornal Pernambuco

Rádio Gaúcha


    Desejo sorte ao scratch brasileiro


Fontes: Portal Money Times e FRANÇA 1938, III COPA DO MUNDO - O RÁDIO BRASILEIRO ESTAVA LÁ – Monografia: Gisela Swetlana Ortriwano – Graduada em Jornalismo pela ECA/USP - 1972 e mestra em História do Rádio

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O jornalismo no Rádio demorou para ser aceito

Dois noticiários radiofônicos serviram de modelo para a leitura de notícias nas rádios brasileiras a partir da década de 1940.

O “Repórter Esso” começou como noticiário de guerra. Levava esse nome por causa do patrocinador, a Companhia Esso Brasileira de Petróleo, era a maior distribuidora de combustíveis do país naquela época.

Este noticiário ia ao ar de hora em hora, com notícias extraídas dos jornais impressos ou telegramas sobre a guerra enviados pelas agências internacionais. Sua duração era de cinco minutos.

“O Grande Jornal Falado Tupi”, por sua vez, começava às 7 da manhã, com uma hora de duração. Seu noticiário seguia o roteiro dos jornais publicados diariamente pela imprensa.

Trazia primeiro as manchetes do dia e depois era dividido em blocos de acordo com as editorias: notícias nacionais, internacionais, esportes, cultura, assuntos locais, etc.

Dirigido em São Paulo pelo jornalista Corifeu de Azevedo Marques, o “Jornal Falado”, foi ao ar pela primeira vez, em 1942, mesmo ano da estreia do “Repórter Esso”. 

Com o término da Segunda Guerra, esses noticiosos já consagrados, seguiram na programação, mas certos dirigentes da mídia não acreditavam que a leitura de notícias no rádio pudesse dar mais audiência que os programas musicais ou de entretenimento.

O jornalismo na mídia radiofônica passou a ganhar força mesmo, a partir de 1962, com a estreia na Rádio Bandeirantes do jornal Primeira Hora, cujo nome ainda é o mesmo no horário das 7 da manhã na Band Rádio.

“Se a televisão tem imagens, a qualidade do rádio está no som”, explicava Alexandre Kadunc, criador do Primeira Hora, que instituiu vinhetas, trilhas sonoras e frases de efeito que aguçavam a imaginação dos ouvintes.

Uma dessas trilhas, o “canto do uirapuru”, revelava os sons de um pássaro da Amazônia, ouvido somente uma vez por ano. 

“Quando o uirapuru canta, as outras aves silenciam para ouvi-lo, ressaltava o mestre Kadunc com quem muito aprendi como repórter iniciante, quando de sua passagem pela Rádio Capital, entre 1978 e 1982. 

Sua equipe de jornalistas na Bandeirantes tinha um nome: “Titulares da Notícia”.

Na mesma época, também pelo prefixo 840 AM, Vicente Leporace lançou “O Trabuco”, que entrava no ar após o “Primeira Hora”.

Leporace lia as notícias dos jornais impressos para em seguida comentá-las fazendo uso de seu senso crítico sempre aguçado.

A trilha de seu programa, que soou por 16 anos nos lares brasileiros, dizia: “Seu Leporace agora com o Trabuco (bang!), vai comentar as notícias dos jornais. Seu Leporace agora com o Trabuco (bang!), vai dar um tiro nos assuntos nacionais”.

Em 16 de abril de 1978, um domingo, Leporace morreu e “O Trabuco”, não foi ao ar na segunda-feira. Ninguém sabia quem seria capaz de substituí-lo diante dos microfones.

Para seu lugar chamaram Salomão Ésper, que costumeiramente substituía Leporace nas férias, e junto com ele, para alicerçar o conteúdo de opiniões se juntaram José Paulo de Andrade e Joelmir Betting, mas o programa precisou mudar de nome para Jornal da Bandeirantes Gente que segue na grade da emissora com outros apresentadores.


Mas quando o assunto é jornalismo no rádio, a marca Jovem Pan precisa ser citada. Inaugurada em 1944 com o nome Rádio Panamericana, ganhou de início, o título de “Emissora dos Esportes”.

O sucesso do programa Jovem Guarda, transmitido pela televisão Record, pertencente aos mesmos donos da Panamericana, ofereceu uma nova roupagem à rádio que antes só falava de futebol. 

Sua programação passou a ter programas que abordavam a música jovem, com a participação dos cantores da TV, complementada por assuntos que abordavam os temas da atualidade da época, com isso aos poucos, a notícia passou a ter prioridade.

Comandada nos bastidores pelo jornalista Fernando Luiz Vieira de Mello, a Jovem Pan levou ao ar ainda na década de 1960, o jornal da “Equipe Sete e Trinta”, lido nas vozes dos locutores, Antônio Del Fiol e Antônio Alexandre, com os comentários de Ney Gonçalves Dias.

A partir de 1969 se tornou possível a transmissão de programas ao vivo via satélite. Este avanço tecnológico possibilitou a criação do “Jornal de Integração Nacional”, com repórteres ao vivo direto de Brasília e do Rio de Janeiro.

Alguns anos depois o nome passou a ser, “Jornal da Manhã” e nele foram incorporadas as canções da Sinfonia Paulistana, obra imortal do compositor Billy Blanco, em homenagem à cidade de São Paulo.


Amanhecendo: “A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição. Porque tudo se repete, são sete, e às sete explode em multidão! Portas de aço levantam, todos parecem correr, não correm de, correm para...Para São Paulo crescer! Vam bora, vam bora, olha a horam vam bora, vam bora...!”

Grande São Paulo:São Paulo que amanhece trabalhando, São Paulo que não pode adormecer! Porque durante a noite, o paulista vai pensando, nas coisas que de dia vai fazer...”

Tudo o que foi contado nesta postagem, é apenas uma parte das muitas histórias sobre o jornalismo no rádio que completa agora em 2022, os seus 100 anos de existência no Brasil.

No próximo post, em razão da Copa do Mundo, traremos fatos interessantes ligados às narrações esportivas para em seguida concluir a série com as previsões que sempre anunciam para breve o fim do rádio.

Por hora, vamos brindar aqui mesmo, o centenário do rádio, ouvindo duas peças musicais da Sinfonia Paulistana de Billy Blanco:

Amanhecendo: https://www.youtube.com/watch?v=diJyOleyOVc

 


Grande São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=E8zCnw1hSrc