sábado, 30 de janeiro de 2021

Conheça os nomes das linhas de bonde que circularam em São Paulo

Hoje não vou falar de helicópteros, é que de vez em quando bate uma nostalgia e, nas comemorações dos 467 anos de fundação da cidade de São Paulo, me veio à lembrança, os bondes elétricos da minha infância.

Passeei bastante sobre os trilhos dessa pauliceia da minha infância sempre levado pelos meus pais ou por alguma tia, lógico.

Ainda me lembro do itinerário de algumas linhas e do ponto final dos bondes na Praça Clóvis Beviláqua, em frente à antiga Drogaria do Farto.

As principais linhas saiam dos bairros com destino à cidade, ou seja, ao centro.


Essas lembranças me ajudaram a pesquisar a história do transporte coletivo em São Paulo cujo início se dá no século 19.

Em 1875 quando a capital paulista passou a receber imigrantes de vários países, foi necessário implantar um serviço de bondes puxados por burros.






A tração animal tinha seus inconvenientes, a cidade ficou mal cheirosa. Dá para entender?

Jornais da época, como o Correio Paulistano, noticiavam a formação de imensas nuvens de mosquitos pela demora das autoridades em remover a sujeira deixada pelos animais. 



Por volta de 1900 surgiram os primeiros bondes elétricos circulando nas ruas do triângulo; São Bento, Direita e XV de Novembro. Na inauguração o povo não cabia em si de tanta alegria. A aglomeração foi geral.



Os bondes elétricos eram largos demais para as ruas estreitas do centro e a situação se tornou perigosa para os pedestres. Naquele tempo as pessoas não tinham o costume de olhar o trânsito antes de atravessar as ruas e muita gente foi atropelada e morta.

Em um outro aspecto a cidade saiu ganhando porque obteve um transporte mais limpo, eficiente e não poluente. 

A eletricidade passou a fazer parte da vida de todos e foi um dos principais fatores para o progresso do século 20.

Os anos seguiram e o bonde antes herói, foi transformado em vilão quando surgiram os ônibus. Estes eram mais velozes e a população passou a dar preferência a eles. 

Ainda não havia preocupações com a poluição e quase ninguém sabia o significado da palavra monóxido de carbono.


Os bondes não tinham motoristas, quem dirigia era chamado de motorneiro. O mais famoso deles foi Augusto Barbosa, o Bailarino.

Titular da linha 43 Santana-São Bento, ficou conhecido pela solidariedade com as pessoas. Ele descia da cabine para ajudar as passageiras idosas a atravessarem a rua após o desembarque.

Diziam até que conhecia cada um dos usuários porque costumava parar nos pontos e aguardá-los quando estavam atrasados.


O apelido Bailarino veio dos tempos em que jogava futebol na várzea. Quando marcava um gol comemorava fazendo dancinhas como alguns jogadores de hoje.

Determinado dia, quebrou um caminhão sobre os trilhos e o bonde ficou retido. Algumas meninas estudantes do Colégio Santana desceram para comprar sorvete e depois retornaram, em plena Rua Voluntários da Pátria, com a permissão do Bailarino. 



Um fiscal assistiu a cena e quis demitir o motorneiro, mas a população saiu em defesa dele. Ao se aposentar virou entregador dos jornais Gazeta da Zona Norte e sua história ali foi publicada pela primeira vez.

Em 28 de outubro de 1984 a Gazeta da Norte noticiou: "Morreu Augusto Barbosa, o motorneiro Bailarino, amigo dos idosos e das crianças".


Nos áureos tempos do bonde, São Paulo chegou a ter 60 linhas para atender a demanda de passageiros de quase todos os bairros.

Sua desativação pela Companhia Municipal de Transportes Coletivos - CMTC, começou em 1957 e se completou em 1968. 

Conheça as últimas linhas de bonde extintas pela prefeitura*

 

Linha e Extinção

42- Duarte de Azevedo – São Bento -     24/02/1957

43- Santana – São Bento                          24/02/1957

9 – Duque de Caxias                                25/11/1961

12 - Barra Funda                                      25/11/1961

13 – Barra Funda                                      25/11/1961

14 – Vila Buarque                                     25/11/1961

32 – Vila Prudente                                    25/11/1961

33 – Sorocabanos                                      25/11/1961

1 – Jaraguá                                                09/04/1962

6 – Penha                                                  15/03/1962

11 – Bresser                                              15/03/1962

17 – Vila Pompeia                                    11/02/1962

27 – Vila Mariana                                     25/01/1962 

30 – Bosque da Saúde                              15/04/1962

30 A – Praça da Árvore – Bosque            15/04/1962

47 – Vila Clementino                               15/04/1962

53 – Oriente                                              09/04/1962

63 – V. Clementino – V. Madalena          01/03/1962

65 – Casa Verde – Fábrica                        20/07/1963

26 – Pq. São Jorge                                     20/07/1963

64 – São Judas – Lapa                               13/01/1963

102 – Indianópolis                                     24/02/1963

104 – São Judas – Santo Amaro                24/02/1963

5 – Bela Vista                                             01/05/1964

23 – Domingos de Morais                          16/11/1964

3 – Avenida                                                 01/10/1965

40 – Jardim Paulista                                    01/10/1965

7 – Penha                                                     26/03/1966

19 – Perdizes                                               12/08/1966

24 – Belém                                                  10/03/1966

28 – Vila Madalena                                     08/07/1966

29 – Pinheiros                                           12/08/1966

35 – Lapa                                                     12/08/1966

36 – Avenida Angélica                                15/07/1966

49 – Canindé                                                10/03/1966

51 – Rubino de Oliveira                               10/03/1966

55 – Casa Verde                                           12/08/1966

60 – Penha – Lapa                                        10/03/1966

66 – São Judas Tadeu                                   30/06/1966

4 – Ipiranga                                                   14/01/1967

20 – Fábrica                                                  14/01/1967

34 – Vila Maria                                             21/01/1967

41 – Belém Auxiliar                                      21/07/1967

61 – Vila Maria – Casa Verde                       21/01/1967

67 – Alto da Vila Maria                                 21/01/1967

103 – Brooklin Paulista                                  25/01/1967

101 – Santo Amaro – Biológico                     27/03/1968

 

 

*Fontes: Abelias Rodrigues da Silva e Waldemar Pinto Sampaio





sábado, 23 de janeiro de 2021

Repórter Aéreo no Cinema: Confira os filmes e assista

Não chego aos pés de Brad Pitt, Richard Gere ou Antonio Banderas, mas dei meus pitacos no cinema.

Como diria Alberto Roberto: “Te cuida, Latorraca”.



Após visitar São Paulo, Olivier Koning, um cineasta holandês, decidiu fazer um filme para mostrar aos europeus a maior e principal metrópole da América do Sul.

Em seu roteiro, incluiu imagens aéreas e trilhas sonoras da programação da então Rádio Nova Eldorado AM que ele em sua visita ouviu e gostou.

Ficou acertado que no dia em que subiria às alturas, o repórter aéreo da emissora voaria junto, para ser filmado narrando seus boletins de trânsito.

Quem era o repórter aéreo? Quem? Quem?



O filme recebeu o título São Paulo, SP e o lançamento mundial aconteceu em uma noite de gala no Museu da Imagem e do Som como parte integrante  da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – 1990.       

Lá estavam alguns dos entrevistados no documentário, o então presidente da Câmara Municipal, vereador Eduardo Matarazzo Suplicy e o urbanista Jorge Wilhein, além da escritora e roteirista, Maria Lúcia Fróes.

O filme traz lindas imagens, mostra a cidade de São Paulo ao amanhecer e de fundo se ouve a famosa trilha de abertura do Jornal Eldorado, a Marcha Brasil, em uma versão eletrônica, não aquela da bandinha.

Na época recém-contratado da emissora, este repórter aéreo aparece já nos primeiros minutos fazendo do alto seu boletim de trânsito cuja descrição corresponde às imagens apresentadas na tela.

A televisão ainda não fazia esse tipo de cobertura. A maior parte do filme é falada em inglês e quando as falas acontecem em português é que aparecem as legendas.

 


No exterior o filme percorreu circuitos culturais e acadêmicos da Europa e foi assistido por Fernando Gabeira na Holanda.

Em um artigo na Folha de S. Paulo, o jornalista apontou que faltaram imagens dos jogos de futebol, uma das paixões dos brasileiros. Foi a primeira vez que li Gabeira preocupado com o esporte.

Enfim, para Nova Eldorado AM a produção trouxe resultados positivos na área de marketing e para o repórter aéreo ficou a satisfação de ter seu rosto e sua voz registrados pela primeira vez em um filme de cinema.

Atualmente, Olivier Koning mantém página no Instagram, mas o filme São Paulo, SP não aparece disponibilizado em nenhum portal, nem mesmo no YouTube. Se alguém localizar este filme por favor me avise.

 


Em 2009 um boletim de trânsito na voz deste repórter foi incluído aos 11 minutos do filme “É proibido fumar”, de Anna Muylaert, um sucesso de bilheteria.

Como repórter aéreo houve nossa participação no filme Brás, Sotaques e Desmemorias, dirigido por Marta Nehring, em 2008, cujo roteiro foi inspirado no livro de mesmo nome escrito pelo saudoso Lourenço Diaféria.


No filme Capela do Socorro, o Balneário Paulistano, de 2006, direção de Pedro Gorski, apareço como um dos entrevistados e as imagens aéreas foram feitas do nosso helicóptero.


Em 2015, fui o narrador de - “Eu Vi” - dirigido por  Fábio Eitelberg que visitou a casa da jornalista Elle Alves, enviada como repórter à Bolívia pelos Diários e Emissoras Associados para cobrir a captura e morte de Che Guevara.
                                                           

Neste mesmo ano, 2015, emprestamos a nossa voz para o Portal Estadão, na reportagem sobre os 10 anos do maior assalto a banco ocorrido no Brasil.

Um túnel escavado durante meses por uma quadrilha chegou ao cofre onde estavam guardados cerca de R$ 164 milhões. Com o título, Assalto ao Banco Central de Fortaleza o documentário está disponível no YouTube.

De Eliane Basso e alunos, em 2018, o filme Ipiranga Além do Grito traz a história do bairro da colina histórica, onde participei não apenas como entrevistado mas também como colaborador na realização do roteiro.

Em comemoração aos 50 anos da conquista do tricampeonato mundial de futebol pela seleção brasileira, em 1970 no México, uma equipe de jornalistas do Rio de Janeiro me convidou para participar da produção Gol do Capita, a Copa da Minha Vida.


Para os que puderem acessar este blog em PC ou Notebook seguem abaixo os filmes completos. 

Aos que só utilizam o celular no android ou smartphone, basta acessar o YouTube e colocar os nomes das produções, exceto São Paulo, SP













Se possível deixe um comentário. 


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

CoronaVac: O melhor presente de aniversário que São Paulo já recebeu em sua história

A cidade de São Paulo lembra neste 25 de janeiro os seus 467 anos de fundação, ainda sob o trauma das mortes causadas pelo coronavírus e muitas pessoas ainda hospitalizadas por causa da covid-19. Mas agora, com o início da vacinação, se abre a possibilidade de melhoria nos ânimos e a perspectiva otimista da situação começar a se normalizar a partir da metade do ano.


Repito, não poderia haver melhor presente de aniversário para a cidade do que essa vacina para a população após as 15.705 mortes pela covid somente na capital paulista, conforme balanço final da Secretaria Municipal de Saúde, relativo ao ano de 2020. Em termos comparativos, essa quantidade significa o triplo de vítimas da Gripe Espanhola de 1918, quando 5.331 pessoas morreram no município.


Há 102 anos a cidade precisou se resolver sozinha porque não surgiram vacinas em nenhuma parte do planeta. Agora a situação passou a ser diferente com o plano de se vacinar 9 milhões de pessoas durante este 1º ciclo de aplicações. A CoronaVac precisa ser oferecida em duas doses, com intervalo de duas semanas entre elas, ou seja, 18 milhões de doses para a etapa inicial. Estão sendo atendidos em primeiro lugar os profissionais de saúde, os indígenas e quilombolas. Depois será a vez das pessoas com mais de 60 anos.


Merece elogios o empenho do Instituto Butantan na comprovação de eficácia da vacina, respeitando sempre os padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde - OMS e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa. Após a imunização o desafio para São Paulo será o de se recuperar economicamente. Neste sentido, acreditamos na disposição ao trabalho, que faz parte do cotidiano de nossa população. São Paulo continua sendo a locomotiva do Brasil, ocupa a vigésima primeira colocação entre as maiores economias do mundo. Com o PIB na casa dos U$ 603,4 bilhões, é o terceiro maior mercado consumidor da América Latina e o Estado  é o maior produtor mundial de suco de laranja, açúcar e etanol.


Na capital são 12,3 milhões de habitantes, quantidade superior à de países como Israel, Grécia ou Portugal. Dentro do nosso perímetro urbano a zona leste é a região mais habitada, com 4 milhões de moradores quantidade acima do nosso vizinho Uruguai. A maior Bolsa de Valores da América Latina, a B3, está em São Paulo. No ano de 2020 o total de investidores cresceu 92,1% e passou de 1.681.033, em dezembro de 2019, para 3.229.318 neste mesmo mês do ano passado. Um dos motivos para tamanho crescimento está ligado à diminuição da atividade econômica causada pelo isolamento social. Pode parecer um paradoxo, mas tal situação levou muitas pessoas físicas a investirem na bolsa para não deixar seu dinheiro parado. Com a volta das atividades, acreditamos que muitos desses investidores utilizarão seus lucros na reabertura de suas empresas, colocando de novo a economia nos eixos. As perspectivas para isso são favoráveis porque o Ibovespa movimentou em   2020, cerca de R$ 200 bilhões em ações.



Todo esse dinheiro garantiu mesmo durante o auge da crise a sobrevivência de inúmeras empresas de pequeno, médio e grande porte. Óbvio que apareceram dificuldades e muitos empresários ainda não fecharam suas contas em dia, mas com empenho, disciplina nos gastos e bons financiamentos, teremos um 2021 melhor que o ano passado.

Aos que ainda estão pessimistas na questão dos negócios, vale lembrar que os maiores prejuízos foram e continuam sendo os de ordem familiar pela perda dos entes queridos para a pandemia; pais, mães, filhos, irmãos, avós. Quem não passou por isso deve dar graças a Deus. Nos primeiros dias deste mês de janeiro - 2021, o país ultrapassou a triste marca de 200 mil mortes e, na capital paulista, inúmeras famílias continuam de luto. Não existe clima para se festejar o aniversário da cidade nesta situação. Aos que perderam seus familiares só se pode dedicar nesta hora, a solidariedade e as orações para que apesar da tristeza não se perca o entusiasmo pela vida. Precisamos acreditar na ciência e na eficácia da vacina, instrumentos capazes de fazer a pandemia arredar pé.

Ao mesmo tempo não podemos nos descuidar. A doença ainda está presente e todos os procedimentos de segurança contra a disseminação do vírus precisam ser mantidos, inclusive o distanciamento social. Não se pode baixar a guarda em relação ao coronavírus e para isso precisaremos ter ainda um pouco mais de paciência. Nada de sair às ruas ou visitar lugares sem necessidade, principalmente se você ainda não tomou a vacina.


Mais para frente, aí sim, encontraremos motivos para comemorar o aniversário de São Paulo com pompa e circunstância, quem sabe no mês de julho. Em 1954, quando se festejou o quarto centenário de fundação da cidade de São Paulo, boa parte das solenidades, inclusive a “chuva de prata”, aconteceu no dia 9 de julho, data comemorativa da Revolução Constitucionalista de 1932 de grande significado para os paulistas. Façamos assim novamente e que até lá todos estejam vacinados e fortalecidos para sair às ruas e dizer: “Viva São Paulo!” 



 

 Fontes: PMSP, SP Notícias, Portal Poder 360 

sábado, 9 de janeiro de 2021

Vícios de linguagem entre os apresentadores de Rádio e TV estão cada vez mais frequentes: Seria influência do Nheengatu?

Estou mesmo ficando velho e rabugento, porque tenho reparado que os vícios de linguagem tomaram conta do Rádio e da Televisão, algo que antes não me era tão perceptível.

Amigos meus, puristas da língua portuguesa, já me disseram que se trata de um modo informal de conversar e que isso faz parte da programação.

Não é que estes jovens valores estejam falando errado, mas o formato das palavras quando colocadas diante dos microfones poderia ser melhorado. 

Acredito que algo de errado está acontecendo na formação dos novos alunos nos meios acadêmicos e depois nos cursos de locução.

Entre os vícios de linguagem está o menosprezo à letra R no final das frases. 

São inúmeros os programas de rádio e telejornais de grande audiência, onde escuto frases como: “Vamos chamá, a repórter fulana de tal”.

Ou então: “Chegou a hora aqui em nossa programaçao da gente conversá com o doutor sicrano que vai nos dizê, o que devemos fazê, diante da pandemia”.

Ocorrem ainda outros vícios de linguagem na mídia, mas hoje ficaremos por aqui, porque posso ser taxado de chato se ainda não fui.

 


Sei que o paulista tradicionalmente costuma falar errado.

O caipira do passado costumava dizer ao invés de colher, cuié; em vez de mulher, muié.

Na capital paulista ainda é comum se ouvir o plural fica sem complemento: "Dois pastel ou dois real, são formas ainda usadas com frequência.


Há também os que se esquecem da letra S.

Conheci um sujeito que me dizia ter só um par de sapato e que depois do almoço não via a hora de escovar os dente.

Houve até um motorista que me contou morar em Guarulho e que ia para o trabalho de ônibu, sei que aí já é demais, mas pode acreditar que é verdade.


O compositor e comediante Adoniran Barbosa dizia: "É preciso saber falar errado". Certas pronúncias colocadas de maneira indevida ficam engraçadas, mas há outras que denotam falta de escolaridade.

Adoniran tornava seus sambas engraçados colocando neles palavras erradas como, “...taubua de tiro ao álvaro, não tem mais onde furar...”

Acontece que agora certas palavras consideradas erradas estão indo ao ar com mais frequência nos veículos de comunicação.


Foi então que me lembrei do Nheengatu, a linguagem primitiva do Brasil colonial e imaginei as caravelas de Cabral aportando.

Na praia pessoas inteiramente nuas, curiosas, inocentes e sem nenhum pecado, observavam aqueles homens desembarcando com roupas pesadas e olhar assustado.

Foi difícil a comunicação entre os indígenas e os portugueses naquele momento e só bem depois é que surgiu uma linguagem que misturava as pronúncias do tupi-guarani e do português, o Nheengatu.


Partiu dos jesuítas a iniciativa de se desenvolver formas de comunicação junto aos indígenas e assim o Nheengatu acabou se transformando em uma forma de linguagem para a compreensão e entendimento geral.

Quem sabe muito a respeito é o professor Eduardo Navarro, da Universidade de São Paulo, um especialista em linguagens indígenas.


Nheengatu significa, língua boa. Navarro nos disse em uma entrevista que no Brasil colonial o Nheengatu era falado na Amazônia e mais ao sul virou a língua geral dos caipiras do interior paulista.

"Colonizadores, indígenas, escravos negros e demais moradores de origem portuguesa, falavam livremente o Nheengatu até o dia em que Portugal decidiu proibir, no século 18, outras línguas que não fossem o português", explicou o professor da USP, enfatizando: "mesmo assim, muitas palavras e outros modos de expressão do Nheengatu acabaram se incorporando ao idioma que falamos hoje.

Sendo assim, vai ver que o Nheengatu ainda exerce influência entre a população jovem de São Paulo, entre os quais a moçada que está ingressando nos veículos de mídia eletrônica. 

De repente até, o Nheengatu segue ainda pronunciado neste Brasil afora por, tamanha a diversidade de palavras ainda em uso.

Segue a lista:




sábado, 2 de janeiro de 2021

Quatro livros para ler e não se arrepender, em 2021

Nenhum desses livros é lançamento e nem todos talvez estejam disponíveis na versão e-book, mas merecem leitura ainda que a impressão seja somente em papel.

Posso não ser um especialista em livros, mas diante da desinformação de pessoas que sonham em renascer brutalidades do passado, decidi tomar a iniciativa de sugerir algumas leituras, antes que 2021se perca em discussões que não levam a nada, algo comum, nesses tempos de polarização.

Afinal, um povo que não conhece sua história corre o risco de repeti-la.


Somente os livros oferecem a cultura permanente, aquela que se mantém sempre atual e que nos ajuda a refletir e se posicionar diante dos acontecimentos que surgem no nosso cotidiano.

No Brasil muitas pessoas se acostumaram a pensar com a cabeça dos outros por ignorância, comodismo ou oportunismo e isto não é bom.

Sendo assim, me permitam a ousadia de recomendar alguns livros que possam facilitar a compreensão do que ainda irá acontecer em 2021.

A História nos explica o passado para que possamos compreender o presente e até mesmo o futuro. 


1 - Sapiens, uma breve história da humanidade foi o livro estrangeiro mais vendido no Brasil em 2018.

Seu autor, o cientista israelense Yuval Noah Harari, discorre sobre a trajetória do Homo Sapiens, desde as cavernas até os dias atuais.

Durante a leitura surgem conflitos entre o que o autor escreve e os costumes tradicionais. 

Tudo é colocado com base em comprovações científicas e a conclusão é que apesar de tantos avanços sociais e tecnológicos, o homo sapiens continua se comportando da maneira brutal e animalesca igual aos tempos da idade da pedra, só que em cenário diferente.

Em suma, o ser humano é mau por natureza, mas precisa modificar seu comportamento enquanto há tempo para isso.


2 - Chatô, o Rei do Brasil, foi lançado por Fernando Morais, em 1994, e segue sendo um tema atual por colocar em análise o comportamento da mídia.

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, nasceu no dia 4 de outubro de 1892, em Umbuzeiro - PB, também cidade natal do ex-presidente Epitácio Pessoa.

Foi o maior empresário do setor de comunicações já surgido no Brasil, e ainda ocupa um patamar acima até mesmo de Roberto Marinho. 

Proprietário dos Diários e Emissoras Associados chegou a comandar 34 jornais e 36 emissoras de rádio pelo país todo.

Em São Paulo, foi dono dos jornais Diário de São Paulo, Diário da Noite e das rádios Tupi e Difusora.

A pioneira TV Tupi surgiu em 1950 por iniciativa de Assis Chateaubriand que depois implantou outros 18 canais de televisão Brasil afora. 

Tanta influência fazia dele um homem super poderoso, capaz de modificar leis que o prejudicassem e de elaborar outras em seu favor.

Se fez senador sem nunca disputar uma eleição e foi até embaixador em Londres, mesmo sem ser diplomata. 

Sua relação com o presidente Getúlio Vargas era de amor e ódio que variava de acordo com o interesse de cada uma das partes.

Chateaubriand teve a capacidade de mobilizar o empresariado para financiar iniciativas culturais, como a criação do Museu de Arte de São Paulo – MASP, cujo acervo riquíssimo foi adquirido pela iniciativa privada e doado à coletividade. 

Em 1960, Chatô sofreu uma trombose, espécie de Acidente Vascular Cerebral -AVC, perdeu parte dos movimentos e também a fala, mas seguiu escrevendo editoriais. 

Após Castelo Branco tomar posse, iniciou uma campanha contra o marechal presidente pelo fato de estar governando o país sem promover eleições.

A censura nos veículos de comunicação estava implantada, mas o magnata entendia que o presidente não faria uso desse instrumento contra ele. 

"O fato de eu estar em uma cadeira de rodas e ser quase um morto vivo, faz de mim uma pessoa inatacável", chegou a escrever aos seus interlocutores.

Efetivamente, não houve censura aos artigos de Chatô, mas se promoveu a entrada disfarçada do capital norte-americano nas comunicações do Brasil, com a chegada do Grupo Time Life que financiou o surgimento da Rede Globo de Televisão para fazer frente à Rede Tupi.

Foram, portanto, os militares que promoveram o crescimento da Rede Globo que os bolsonaristas gostam de chamar de "emissora do demônio".

Assis Chateaubriand morreu em 4 de abril de 1968, seu velório foi transmitido ao vivo pela TV Tupi. Caixão fechado, multidão passando em fila para o último adeus.

Em vida teve quatro mulheres, após a separação todas passaram a detestá-lo. Dessas uniões nasceram três filhos, dois rapazes e uma moça, com os quais também brigou, os afastando da herança.

Em seu testamento distribuiu os bens a um condomínio formado por pessoas de sua confiança. 

Mesmo assim, a Rede Tupi não resistiu à concorrência global. Endividada, com salários dos funcionários atrasados e inúmeras pendências judiciais, teve seus transmissores lacrados em 1980.

Em alguns Estados e no Distrito Federal jornais e emissoras de rádio pertencentes ao condomínio associado ainda seguem funcionando.


3- Getúlio, de Lira Neto, se distribui em 3 volumes imperdíveis para quem deseja saber como funciona o Brasil. 

No primeiro volume se aborda o cenário histórico do Rio Grande do Sul em 1882, ano em que Getúlio Dorneles Vargas nasceu, bem como o envolvimento da família dele na política.

Getúlio foi ministro da Fazenda do então presidente da República, Washington Luiz, e se tornou depois candidato à sua sucessão.

Ocorre que o presidente tinha um outro candidato, o paulista Júlio Prestes que venceu a eleição.

Entretanto, nos quartéis, o candidato preferido era Getúlio e após o resultado da eleição considerada fraudulenta, rebeliões começaram a acontecer e Washington Luiz acabou deposto por um junta formada por três generais.

O episódio entrou para a história com o nome Revolução de 1930, colocando Getúlio Vargas à frente do posto máximo da nação para um "governo provisório".

No segundo volume, Lira Neto, explica os acontecimentos de uma outra revolução, a de 1932, quando São Paulo através das armas tenta destituir Getúlio para convocar em seguida uma assembleia constituinte.

Os paulistas perdem nas armas, o presidente permanece no cargo, mas uma constituição democrática é promulgada em 1934.

Em 1937 acontece um golpe, a constituição elaborada três anos antes é rasgada e se estabelece o Estado Novo que na prática representava uma volta ao passado.

As casas legislativas são fechadas e as bandeiras dos Estados suprimidas. A Ditadura Vargas prossegue até 1945, quando Getúlio é destituído pelos mesmos militares que o defenderam durante quinze anos.

O terceiro e decisivo volume escrito por Lira Neto, trata da democratização do país, a formação dos partidos políticos e a volta das eleições diretas. Getúlio retorna à presidência da República, desta vez através das urnas.

Só que as pressões políticas aumentam sobre ele e aparece um inimigo implacável, o jornalista Carlos Lacerda, que se lançara na política e tenta de todos os modos aniquilar o presidente.

Termina a Era Vargas com o suicídio praticado em 24 de agosto 1954. Na carta testamento ele escreve: "Deixo a vida para entrar na história".


4 - 1968, o ano que não terminou, de Zuenir Ventura, é o quarto livro recomendado, porque o tema voltou a ser atual.

Efetivamente, o ano de 1968 parece não terminar. Foi nele que aconteceu o endurecimento do regime militar e a decretação do AI-5 que alguns agora pedem a volta, por total desconhecimento ou oportunismo.

O livro de Zuenir Ventura faz referências ao caso Para-Sar, plano terrorista arquitetado por um brigadeiro líder de um esquadrão de paraquedistas, interessado em desacreditar e reprimir os oposicionistas ao governo militar chefiado pelo marechal Costa e Silva.

Zuenir conta que a proposta do Para-Sar, era detonar explosivos em diversas vias públicas do Rio de Janeiro e atribuir a ação aos movimentos de esquerda.

Na fase seguinte seriam sequestrados e assassinados figurões da política brasileira, como Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros.

O plano não foi levado adiante porque um dos oficiais se recusou a cumprir as ordens por achar o plano violento demais. 

O assunto foi levado às instâncias superiores e uma sindicância foi aberta, mas nenhum militar chegou a ser punido. 

A primeira edição desta obra saiu em 1988, já sob vigência da atual constituição. 

"Os acontecimentos de 1968 podem agora ser relatados livremente, graças ao retorno da democracia", escreve Zuenir Ventura em uma parte do livro. 

Nossa esperança é que a democracia permanece em vigência neste ano de 2021, porque alguns saudosistas da ditadura sonham tornar possível se acabar com as liberdades democráticas conquistadas com sofrimento e luta de inúmeros brasileiros.

Tenho fé no Brasil e sigo acreditando na democracia e nas instituições que a protegem.

Bem, como ainda estamos em uma clima de ano-novo, não vamos prolongar a conversa. Espero que façam a leitura de pelo menos um desses livros.

Ler faz bem e lembre-se: Só um povo que conhece sua história consegue impedir que os erros do passado se repitam.