terça-feira, 30 de agosto de 2022

Em 1972, Dom Pedro I virou herói de uma revista em quadrinhos

Pensei que só eu lembrasse da história que levou ao Grito do Ipiranga contada em uma revista em quadrinhos editada nos tempos do “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Eis que, no entanto, navegando pela internet, deparei com um artigo assinado por Luiz Santiago, no Portal Plano Crítico, no qual algumas imagens dessa publicação impressa foram resgatadas.



No ano de 1972, quando o País comemorou o sesquicentenário da Independência do Brasil, uma revista de cunho didático paga pelo governo à Editora Brasil-América, especializada em quadrinhos, deixou deslumbrados os adolescentes e as crianças daquela época.

Com texto e roteiro de Pedro Anísio e ilustrações do excelente e pouco lembrado cartunista, Eugênio Colonnese, a saga aponta Dom Pedro I como o principal e maior herói da Pátria.


Guardei comigo, por alguns anos, um desses exemplares entregues gratuitamente nas escolas públicas, mas com o passar do tempo a publicação desapareceu. Afinal, já se passaram cinco décadas.

Claro que havia toda uma abordagem política por trás de tudo aquilo, mas isso não chegava até nós ginasianos. O que me despertava a atenção, era a qualidade dos desenhos.

As histórias em quadrinhos proporcionavam aos jovens uma viagem lúdica. Em cada estampa se imaginava a cena seguinte e isto me deixa fascinado até hoje.

Na publicação de 1972, o Super-Homem e o Batman, deram lugar a Tiradentes e Dom João VI, para culminar no lindo rosto de Dom Pedro, pintado pelo artista Eugênio Colonesse.

O texto bem-escrito por Pedro Anísio, mostra ser possível trabalhar temas históricos com o dinamismo dos quadrinhos.

Não sei se as HQs hoje seriam tão atraentes aos jovens estudantes quanto foram para mim, nas comemorações do sesquicentenário.

Se alguém encontrar em algum sebo, a Independência do Brasil em Quadrinhos, terá nas mãos um documento de leitura obrigatória para sociólogos e entusiastas das HQs no mundo todo.

Com essa postagem, encerro minha série de artigos neste blog sobre os 200 anos da Independência do Brasil!

Veja abaixo outros símbolos que marcaram a passagem do sesquicentenário.





A Independência do Brasil em Quadrinhos (Brasil, 1972)

Texto: Pedro Anísio

Desenhos: Eugênio Colonnese

Editora: Brasil-América Ltda./Rio de Janeiro

Editor – chefe: Adolfo Aizen (O Pai dos Quadrinhos no Brasil)


segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Quem foi José Bonifácio, o Patriarca da Independência. Confira

Ministro do Reino Unido de Portugal – Brasil e Algarves e dos Negócios Estrangeiros, entre janeiro de 1822 e julho de 1823, José Bonifácio de Andrada e Silva, foi o grande articulador político da independência do Brasil.

Nascido em uma família abastada de Santos, no dia 13 de junho de 1763, quando completou 20 anos de idade, viajou para estudar na Universidade de Coimbra, os cursos de Direito, Filosofia e Ciências Naturais.

Aplicado nos estudos, buscou na ciência, explicações para tudo e precisou deixar Portugal, em 1790, por causa da Inquisição, que passou a investigá-lo por ter proferido em seus discursos que era ateu.

Seguiu para a França em um momento que o país, passava pelo processo pós-revolução que afastou a monarquia e muitas cabeças começaram literalmente a rolar por causa de guilhotina.

Possivelmente, José Bonifácio assistiu cenas daquele banho de sangue que ocorreu nas praças públicas de Paris e, até por isso, acreditamos, manteve-se monarquista.

Mudou-se depois para a Suécia, onde estudou mineralogia tendo descoberto e dado nome a quatro espécies de minerais, uma delas a andradita, batizada em sua homenagem. Depois, na Alemanha, se especializou em metalurgia.

Todo esse conhecimento o fez voltar à Universidade de Coimbra onde passou a dar aulas, tendo inclusive, ocupado cargos públicos em Portugal.

Ao retornar ao Brasil, em 1819, depois de 36 anos na Europa, recebeu de Dom João VI, o título de conselheiro.

Com o retorno do rei a Portugal, em 1821, ocupou o cargo de ministro do então príncipe regente, Pedro de Alcântara, 30 anos mais moço.

José Bonifácio conseguiu convencê-lo a permanecer no Brasil para impedir que as juntas governativas, formadas durante o reino unido a Portugal, proclamassem a independência antes que ele.

Depois, já coroado imperador, Dom Pedro I instituiu os trabalhos para a elaboração de uma Assembleia Nacional Constituinte.

Nela o Patriarca tomou parte e, apesar de conservador, começou defender ideias avançadas para o seu tempo, como a abolição gradual da escravatura.

Antes, defendera em carta ao rei de Portugal, a construção de uma cidade no planalto central, para melhor ocupar as terras brasileiras.


Tais propostas, consideradas liberais demais, desagradaram o Imperador que de surpresa destituiu a assembleia, prendeu todos os constituintes e os mandou para o exílio, inclusive José Bonifácio.

A primeira constituição brasileira, promulgada em 1824, surgiu de modo autoritário, redigida pelo próprio Dom Pedro I, causando a ele sério desgaste político. Ali começou sua derrocada.

Em 1829, permitiu a volta ao Brasil dos exilados. José Bonifácio chegou ao Rio de Janeiro, em 23 de julho, trazendo consigo o cadáver da esposa, Narcisa Emília, morta no navio durante a viagem.

Com a abdicação de D. Pedro I, em 7 de abril de 1831, José Bonifácio foi nomeado por ele, tutor de seu filho de cinco anos, o futuro D. Pedro II.

Apesar de não ter sido bom marido, o imperador era um pai dedicado e enternecido de todos os filhos, legítimos ou não.

Deste modo, assinou um decreto em que nomeava “tutor dos meus amados e prezados filhos ao muito probo, honrado e patriótico cidadão José Bonifácio de Andrada e Silva, meu verdadeiro amigo”.

Bonifácio tinha 68 anos quando aceitou conduzir seus pupilos, mas seu temperamento e seu feitio não fizeram dele o tutor ideal.

O patriarca não caiu nas graças de Mariana Carlota, a Dadama, aia e mãe de criação, do príncipe herdeiro e suas irmãs Januária, Paula Mariana e Francisca, tendo permanecido pouco tempo no cargo.

Ao deixar a vida política, passou a morar em sua casa de veraneio na ilha de Paquetá, dentro da Baía de Guanabara.

Morreu ali perto, em Niterói, aos 75 anos, no dia 6 de abril 1838.

Fontes:

BUENO, Eduardo. Brasil, uma história. São Paulo. Editora Ática, 2007

CARVALHO, José Murilo de. Dom Pedro II - Ser ou não ser. São Paulo. Companhia das Letras. 2a edição. 2007

CAVALCANTE, Berenice. José Bonifácio: razão e sensibilidade, uma história em três tempos. Rio de Janeiro: FGV, 2001.

DOLNIKOFF, Miriam (org.). Projetos para o Brasil, José Bonifácio de Andrada e Silva. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.

sábado, 13 de agosto de 2022

Dona Leopoldina foi quem assinou o decreto de Independência do Brasil

A tragédia que destruiu parte da história brasileira até então guardada no Museu Nacional do Rio de Janeiro, devorou também os originais do decreto da independência, assinado por D. Maria Leopoldina.

Então princesa regente do Brasil, Leopoldina redigiu e assinou o documento nas dependências do mesmo prédio, no dia 2 de setembro de 1822, um domingo, 196 anos antes do catastrófico incêndio.

O Museu Nacional segue sendo recuperado e nós, ao lembrarmos os 200 anos da Independência do Brasil, preparamos esse estudo para revelar como foram os dias que antecederam o 7 de setembro de 1822, Dia do Grito.

A relação entre brasileiros e portugueses se deteriorou a partir da volta de D. João VI a Portugal, em 1821.

Desde então, as cortes de Lisboa passaram a exigir o retorno imediato de D. Pedro para a metrópole, mas os portugueses que aqui ficaram e prosperaram em seus negócios, juntamente com os brasileiros viram a necessidade de se proclamar a independência com ou sem o príncipe D. Pedro.

Portugal se deu conta da situação e pediu a revogação de uma série de medidas em vigência no Brasil como a elevação à reino unido que passou a ser considerada como “privilégio”, especialmente depois da volta de D. João.

As ordens foram lidas por D. Maria Leopoldina, que convocou uma sessão extraordinária do Conselho de Ministros. Este aprovou, em 2 de setembro de 1822, a assinatura da declaração de independência.

Em seguida a princesa organizou uma mensagem e enviou-a em caráter de urgência para D. Pedro que estava em São Paulo.

As cartas escritas pela princesa e por José Bonifácio, chegaram às mãos de do príncipe regente no dia 7 de setembro, junto às margens do riacho Ipiranga.

Nelas se informava que a independência já estava consumada, faltava apenas oficializá-la publicamente.

Foi o que fez D. Pedro ao proferir o grito histórico “Independência ou Morte”, ali mesmo onde estava, junto às margens do Ipiranga.

Leia a carta de Dona Leopoldina, vertida para a ortografia atual:

“Pedro, o Brasil está como um vulcão, até no paço há revolucionários e até oficiais das tropas são revolucionários.

As Cortes Portuguesas ordenam vossa partida imediata, ameaçam-vos e humilham-vos. O Conselho de Estado aconselha-vos para ficar. Meu coração de mulher e de esposa prevê desgraças, se partirmos agora para Lisboa.

Sabemos bem o que tem sofrido nossos pais. O rei e a rainha de Portugal não são mais reis, não governam mais, são governados pelo despotismo das Cortes que perseguem e humilham os soberanos a quem devem respeito.

Chamberlain (cônsul-geral da Inglaterra), vos contará tudo o que sucede em Lisboa.

O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará a sua separação.

O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece. Ainda é tempo de ouvirdes o conselho de um sábio que conheceu todas as cortes da Europa (José Bonifácio) que, além de vosso ministro fiel, é o maior de vossos amigos.

Ouvi o conselho de vosso ministro, se não quiser Pedro, o momento é o mais importante de vossa vida.

Já dissestes aqui o que ireis fazer em São Paulo. Fazei, pois.

Tereis o apoio do Brasil inteiro e, contra a vontade do povo brasileiro, os soldados portugueses que aqui estão nada podem fazer.

Leopoldina”.

Nossa futura imperatriz aderiu aos ideais de independência do Brasil, antes mesmo que o marido, em nome da conservação da monarquia.

Ela temia os excessos das revoluções populares. Eram fortes as lembranças contadas a ela por José Bonifácio, sobre as execuções ocorridas durante a Revolução Francesa quando foi guilhotinada sua tia-avó Maria Antonieta.

Havia a concordância dela com as ideias dos Andradas e seus partidários monarquistas, por isso defendeu a permanência de D. Pedro no Brasil simbolizada no Dia do Fico.

Leopoldina, segundo alguns autores, foi quem idealizou a bandeira do Brasil, surgida da união do verde da Casa de Bragança com o amarelo ouro da Casa de Habsburgo-Lorena.

Depois, como imperatriz, Leopoldina se empenhou a fundo no reconhecimento da independência do Brasil pelas cortes europeias, escrevendo cartas ao pai, imperador da Áustria, e ao sogro, rei de Portugal.


Fontes:

Neves, Lúcia Bastos Pereira das/ Emancipação política. In: Vaifas, Ronaldo/Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

Rezzutti, Paulo/ D. Leopoldina: a história não contada: a mulher que arquitetou a independência do Brasil. Ed. Leya, 2017. 

Del Priore, Marry/ A carne e o sangue. A imperatriz D. Leopoldina, D. Pedro I e Domitila, a Marquesa de Santos. Rio de Janeiro: Rocco, 2012.

Schumaher, Shuma e Brazil, Érico Vital (org.). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000

Portal CGP - Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública: Maria Leopoldina assinou o decreto de independência do Brasil 

Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Polêmica levantada por Monteiro Lobato marcou a inauguração do Monumento do Ipiranga, há 100 anos

O Monumento do Ipiranga, inaugurado durante as comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 1922, tem uma história polêmica que envolve o sempre combativo escritor Monteiro Lobato.

Em 1917, mesmo ano em que o escritor fez um levante nas páginas do Estadão contra os modernistas durante a exposição das pinturas de Anita Malfatti, um edital publicado pelo governo paulista convocou escultores para a participação em um concurso que iria escolher o monumento a ser construído em homenagem aos 100 anos do célebre grito de Dom Pedro I.

Participaram da licitação artistas renomados da Europa e das Américas, como Luigi Brizzollara e Nicola Rollo, entre outros, além de um desconhecido até então para os brasileiros, Ettore Ximenes.

Todas as maquetes desses projetos foram colocadas em exposição no Palácio das Indústrias e, no último dia da mostra, anunciou-se a obra vencedora. Coube a vitória ao projeto do escultor italiano.

Jornais da época consideraram que a decisão dos jurados não foi a melhor e levantou-se a hipótese de haver por trás da decisão um jogo de cartas marcadas. Todos acharam que o resultado foi uma tremenda marmelada.

O motivo estava no fato de um projeto de Ettore Ximenes ter sido derrotado em um concurso semelhante na Bélgica e sua inscrição no Brasil veio com o propósito premeditado de fazê-lo ganhar.



De fato, o monumento possui esculturas que nada têm a ver com a independência, como, por exemplo, um carro de combate romano que se chama Biga, sendo puxado por cavalos na parte mais alta.

Em um livro publicado em 1974 com o título “Ipiranga”, o autor Roney Bacelli apresenta um texto extraído de um jornal paulistano chamado "O Parafuso", publicado em 30 de março de 1920, no qual Monteiro Lobato escreve de modo irônico que a obra de Ettore Ximenes foi, de fato, escolhida por antecedência:

“... num dado momento cruzou conosco um tipo enfunado, de marca exótica, com o ar petulante dos que chegam à colônia vêm e vencem. O escultor Ximenes, cochichou-nos um amigo, é o tal que vai fazer o Monumento da Independência!

O concurso para esse monumento, aberto em 1917, ia encerrar-se somente em 1920; estranhamos, pois, que, com tamanha antecipação, já se apontasse na rua o vencedor. Vai fazer, como? Inquirimos. Não está encerrado o concurso, não se conhecem os projetos, não houve julgamento: como já pode haver um vencedor?

Ingênuo! Não conheces ainda São Paulo? Julgas acaso que um certame artístico possa ser regido por um critério moral diferente do que rege os casos políticos e os concursos para empregos públicos?

Concorra quem concorrer, Miguel Ângelo, Rodin ou Jevach, ainda que ressuscitados, o vencedor há de ser este Ximenes. 

Ele ‘acordou cedo’, já teceu os paus, já organizou a vitória. Outros serão eleitos, mas o ‘reconhecido’ será ele. Verás”.

Foi o que aconteceu, a obra de Ettore Ximenes foi a vitoriosa.

Fizeram parte da comissão julgadora do concurso para a escolha do monumento alguns vereadores, empreiteiros, engenheiros e funcionários públicos. O que acham vocês?


Embora execrado pela mídia da época, o italiano Ximenes fixou residência em São Paulo e acompanhou, do começo ao fim, a instalação do Monumento do Ipiranga. 

Na foto acima, tirada das páginas do meu livro "São Paulo de Todos os Tempos Vol. II", vemos esculturas do monumento ainda no ateliê do artista plástico, com os funcionários em sua volta.

Mesmo quando faltou a verba oferecida pelo governo e só depois enviada, o escultor não desistiu. Na ocasião, disse que tocaria a obra ainda que fosse com dinheiro do próprio bolso.

Talvez tenha sido exagerado, não foi preciso chegar a tanto, porque o dinheiro saiu.

Ettore Ximenes permaneceu no Brasil até o final das obras do monumento, concluídas em 1926, ano em que ele faleceu na cidade de Roma, no dia 20 de dezembro.

O escultor foi amigo do pintor Pedro Américo e, para homenageá-lo, fez uma reprodução em alto relevo no bronze do famoso quadro da independência, na parte frontal do monumento.

Os anos passaram e a obra de Ettore Ximenez agora é parte da paisagem urbana, abrigando em seu interior os restos mortais de Dom Pedro I e das imperatrizes Leopoldina e Amélia.

Pena que nem todos tenham tempo de ver o monumento com a devida atenção por causa do trânsito sempre agitado da metrópole.


O monumento está passando por um processo de limpeza para estar prontinho para as comemorações do 7 de setembro, quando a obra deixada por Ettore Ximenes completará seu centenário de inauguração.

Se possível deixe seu comentário abaixo e seu nome. Grato.