Este é um ano fraco de efemérides se comparado a 2022, quando lembramos o centenário da Invasão do Forte de Copacabana, os 100 anos do Rádio, da Semana de Arte Moderna
e os 200 anos da Independência do Brasil.
Mesmo assim uma data merece ser lembrada, a do
passamento de Ruy Barbosa, em 1º de março de 1923, portanto, há 100 anos.
Seu nome está classificado entre os mais ilustres brasileiros graças à sua inteligência acima da média e ao discurso histórico na Conferência pela Paz, em Haia - Holanda, em 1907.
Sua rapidez no aprendizado escolar durante a infância impressionava seus professores e passava a certeza que seria uma pessoa diferenciada das demais.
Ao completar 5 anos de idade foi para a
escola e aprendeu ler, escrever e conjugar verbos regulares em poucas semanas.
Com 10 anos já recitava Camões, aos 15 discursava em
público e já sabia conversar em várias línguas.
Aprendia tudo muito antes dos demais alunos e, como já não havia escolas no Brasil para o seu grau de capacidade, passou a estudar alemão até poder ingressar na faculdade de Direito que passou a cursar assim que completou 17 anos.
Nem por isso na vida adulta escapou das críticas, intrigas
e contradições tão comuns em nossa política sempre cheia de acusações, nem sempre
fundamentadas.
Sobre Ruy Barbosa, as discussões começam já a partir
da escrita de seu nome: Muitos escrevem com I - inclusive
a Fundação Casa de Rui Barbosa -, mas em vários documentos seu nome
aparece escrito com Y.
Afinal, Rui Barbosa se escreve com I ou com Y?
Se o que vale é a certidão de nascimento, informo: o nome
completo foi registrado em cartório com a letra Y: Ruy Barbosa de Oliveira.
A polêmica entre “Rui” e “Ruy” tem a ver com as
reformas ortográficas da língua portuguesa ocorridas em 1943 e 2009.
Na primeira se aboliu do alfabeto as letras K, W e Y e
nessa última, se voltou a admiti-las em algumas situações, entre elas os nomes
próprios.
Nesta postagem, de agora em diante, escreveremos o
nome do jurista, escritor, poeta, diplomata, jornalista, político e tribuno brasileiro
com a letra “Y”, muito embora saiba que irei contrariar alguns puristas do
nosso vernáculo.
Ruy Barbosa nasceu em Salvador – Bahia, em 5 de
novembro de 1849, em uma família de políticos.
Seu pai, João José Barbosa de Oliveira era médico, foi
deputado provincial e sua mãe, Maria Adélia, dona de casa, fabricava
doces para serem vendidos e dessa maneira ajudar no orçamento familiar.
Naquele tempo o exercício da medicina não era tão lucrativo como agora.
Preocupado com a educação dos filhos, João José quase não
permitia que o menino Ruy e a irmã brincassem, por isso teve uma infância triste.
Ao ingressar na Academia de Direito do Recife conheceu
o poeta Castro Alves seu colega de turma.
Após se desentenderem com um professor na sala de
aula, os dois se transferiram para São Paulo, em 1868, quando ingressaram na
Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Tanto Ruy Barbosa quanto Castro Alves se deram bem com os novos colegas que os convidaram para
ingressar no “Ateneu Paulistano”, um grupo literário presidido pelo também
estudante de Direito, Joaquim Nabuco, ferrenho defensor da Abolição da
Escravatura.
Outro estudante que se tornou amigo de Ruy Barbosa, foi Luiz Gama, mulato filho de escrava. Juntos fundaram, em 1869, o jornal “Radical
Paulistano”, cujos exemplares estão preservados no Arquivo do Estado.
Bacharelado em Direito, Ruy voltou para Salvador e lá, na condição de jornalista, profissão da qual preferia ser chamado, foi redator-chefe de um grande jornal da época, o “Diário da Bahia”.
Na capital baiana casou-se, em 1876, com Maria Augusta
Vieira Bandeira, que o incentivou a ingressar na política. Na foto estão ele, a esposa e a filha mais velha, embora o casal tenha tido cinco filhos, três meninas e dois meninos.Todos ganharam o sobrenome “Ruy Barbosa”, daí o fato de seus descendentes no meio
artístico ostentarem seu nome completo, como é o caso da atriz global que aparece na foto, Marina Ruy Barbosa.
Em 1877 se elegeu deputado provincial pela Bahia e no
ano seguinte concorreu a deputado geral. Eleito, se transferiu com a família para
o Rio de Janeiro.
Logo no início de seu mandato propôs uma reformulação
completa no ensino. Sua proposta foi considerada excelente pelos demais parlamentares,
mas impossível de ser colocada em prática.
O índice de 82,3% no total de analfabetos, colocava o
Brasil em posição desconfortável e, nesse aspecto, de lá para cá parece que pouca coisa
mudou.
Defensor das ideias liberais, além de abolicionista, tornou-se
republicano. Da tribuna sugeria a transformação do Brasil em uma federação de
províncias autônomas e acrescentava; “com ou sem coroa”.
Em meados de 1889 publicou em um jornal carioca, artigo
violentíssimo contra a monarquia.
Meses depois, quando foi proclamada a República,
Benjamin Constant, um dos articuladores na queda do imperador, disse em bom
tom: “Foi o artigo de Ruy Barbosa que derrubou o Império”.
Homem de confiança do marechal presidente, Deodoro da Fonseca, Ruy mandou queimar toda a documentação relativa à
escravidão no Brasil e sua atitude recebeu críticas da imprensa e dos historiadores.
Mas aconteceu que 11 dias depois, os antigos senhores
de escravos entraram na justiça, com uma ação coletiva exigindo que o novo
governo pagasse indenizações pelos prejuízos que tiveram com a perda dos escravos
comprados por eles.
Sem documentação para provar o que diziam, a ação não seguiu em frente e, neste aspecto, os méritos cabem a Ruy Barbosa.
Ao lado do futuro presidente, Prudente de Moraes, então parlamentar, Ruy
Barbosa, senador pela Bahia, redigiu praticamente sozinho, a primeira Constituição brasileira do período republicano, que vigorou até 1930, promulgada em 1891.
Escolhido pelo marechal Deodoro para ser ministro da Fazenda, Ruy implantou um
pacote econômico batizado de “política do encilhamento”.
Como havia pouco dinheiro em circulação e não existia um Banco
Central, os bancos foram autorizados a emitir papel moeda, mesmo sem
o lastro correspondente em ouro.
O mercado financeiro virou uma balbúrdia e o
resultado não poderia ter sido outro, a inflação explodiu.
Os preços foram
parar lá em cima e o ministro da fazenda pressionado, pediu demissão do cargo.
O surgimento da Bolsa de
Valores de São Paulo, aconteceu na gestão de Ruy Barbosa, sem leis regulamentares para o funcionamento do mercado de
ações. Com isso aproveitadores criaram empresas de fachada colocaram à venda ações sem a
devida garantia de patrimônio.
Foi uma festa para os especuladores e as más línguas acusaram Ruy
Barbosa de agir dessa maneira porque era sócio de uma dessas empresas e lucrou com as irregularidades,
acusações nunca confirmadas.
Fora do Ministério da Fazenda, Ruy Barbosa retornou
à vida parlamentar e o Marechal Deodoro renunciou ao cargo de presidente meses
depois.
Esta é só a primeira parte da história do Brasil da qual Ruy Barbosa é um dos protagonistas. A conclusão fica para a próxima postagem.
Fontes: O Globo, Arquivo do Estado, Revista Isto É.
Portal Migalhas:
https://www.migalhas.com.br/quentes/381977/rui-ou-ruy-barbosa-no-centenario-de-morte-entenda-a-polemica-do-nome
Portal Brasil Escola: Biografia de Ruy Barbosa:
https://brasilescola.uol.com.br/biografia/rui-barbosa.htm