Realizei um sonho que acalentava desde menino, conhecer o “Verdadeiro Sítio do Picapau Amarelo”, ou seja, a sede da Fazenda Buquira,
local onde Monteiro Lobato escreveu seus primeiros livros.
Fizemos uma viagem de carro para a estância climática de São Francisco Xavier – SP pela sinuosa Estrada Velha de Campos do Jordão e no caminho, ao chegarmos no perímetro urbano do município que hoje leva o nome do escritor, ingressamos em uma outra estradinha em declive acentuado e cheia de curvas até chegarmos ao casarão.
Ao entrar vimos a atual proprietária, dona Maria
Lúcia, preparando o almoço. Ela disse não ter nenhum parentesco com o escritor, porque o sítio
foi adquirido de proprietários que vieram depois.
Após a rápida conversa nos autorizou a fazer um giro por dentro da casa para conhecer os ambientes interiores típicos de uma fazenda.
A estrutura da residência é toda original, remonta o século 19, mas o piso da cozinha foi modificado, o fogão e a pia são do século 20.
A fazenda ficou para o escritor por herança deixada do avô,
José Francisco Monteiro, o Visconde de Tremembé.
Neste lugar o ainda jovem José Bento Monteiro Lobato escreveu Urupês, em 1918 obra na qual descreve o personagem Jeca Tatu, típico caipira que trabalhava na roça, recebia baixo salário e nenhuma assistência dos patrões ou do Estado, sujeito às doenças e vítima da verminose.
Na sala os assoalhos de madeira demonstram o luxo e o requinte do que havia no século 19, nesta casa o escritor iniciou sua fase de inspiração para os livros infantis, sendo o primeiro “A Menina do Narizinho Arrebitado”, publicado em 1920, ali escrito.
A turma do sítio também nasceu naquela casa, a boneca de pano Emília, Pedrinho, Visconde de Sabugosa, Dona Benta, Tia Nastácia, o lendário Saci, além do Marques de Rabicó e o Quindim, entre outros.
Ao visitarmos os cômodos, desfrutamos das acomodações, mas sentimos falta de uma pessoa que nos mostrasse todos os detalhes.
Nas paredes havia pinturas de autores que não soubemos identificar, além de quadros colocados na parede com fotografias.
Até o menino Antoninho da Rocha Marmo, conhecido santo popular paulistano, sepultado no cemitério da Consolação, aparece em uma foto colocada num dos quartos da residência.
Em uma estante de livros encontramos a coletânea com milhares de páginas que traz, de uma só vez, a obra infantil completa do escritor Monteiro Lobato.
De uma das janelas o visual que se tem é este e, quando já estávamos de saída, encontramos a filha de dona Maria Lúcia que ressaltou para nós e a outros presentes, um pouco da influência daquele sítio na vida do escritor falecido em 1948.
Ela deixou claro que o casarão possui importância histórica pelo fato de ter sido sede de uma fazenda de café nos tempos que antecederam a chegada do trem, quando o produto era plantado exclusivamente no Vale do Paraíba.
Achei as explicações muito interessantes, mas antecipo aos leitores e leitoras que queiram visitar, para que não alimentem expectativas de encontrar referências aos personagens do Sítio do Picapau Amarelo.
Ressalto, entretanto, que existem livros à venda para os interessados e os funcionários da fazenda são muito gentis e permitiram que estacionássemos o nosso carro bem próximo da entrada da casa.
Dentro da residência existe acessibilidade, não há nenhum degrau, mas do lado de fora o terreno é um tanto quanto irregular aos paraplégicos ou cadeirantes.
Para visitar paga-se R$ 10 por pessoa, o
estacionamento é grátis e o almoço é servido somente aos domingos.
Produção e fotos: Dulce e Gustavo Alves