sábado, 29 de julho de 2023

Em Monteiro Lobato - SP visitamos o “Verdadeiro Sítio do Picapau Amarelo”

Realizei um sonho que acalentava desde menino, conhecer o “Verdadeiro Sítio do Picapau Amarelo”, ou seja, a sede da Fazenda Buquira, local onde Monteiro Lobato escreveu seus primeiros livros.

Fizemos uma viagem de carro para a estância climática de São Francisco Xavier – SP pela sinuosa Estrada Velha de Campos do Jordão e no caminho, ao chegarmos no perímetro urbano do município que hoje leva o nome do escritor, ingressamos em uma outra estradinha em declive acentuado e cheia de curvas até chegarmos ao casarão.


Ao entrar vimos a atual proprietária, dona Maria Lúcia, preparando o almoço. Ela disse não ter nenhum parentesco com o escritor, porque o sítio foi adquirido de proprietários que vieram depois.

Após a rápida conversa nos autorizou a fazer um giro por dentro da casa para conhecer os ambientes interiores típicos de uma fazenda.

A estrutura da residência é toda original, remonta o século 19, mas o piso da cozinha foi modificado, o fogão e a pia são do século 20.

A fazenda ficou para o escritor por herança deixada do avô, José Francisco Monteiro, o Visconde de Tremembé.

Neste lugar o ainda jovem José Bento Monteiro Lobato escreveu Urupês, em 1918 obra na qual descreve o personagem Jeca Tatu, típico caipira que trabalhava na roça, recebia baixo salário e nenhuma assistência dos patrões ou do Estado, sujeito às doenças e vítima da verminose.

Na sala os assoalhos de madeira demonstram o luxo e o requinte do que havia no século 19, nesta casa o escritor iniciou sua fase de inspiração para os livros infantis, sendo o primeiro “A Menina do Narizinho Arrebitado”, publicado em 1920, ali escrito.

A turma do sítio também nasceu naquela casa, a boneca de pano Emília, Pedrinho, Visconde de Sabugosa, Dona Benta, Tia Nastácia, o lendário Saci, além do Marques de Rabicó e o Quindim, entre outros.

Ao visitarmos os cômodos, desfrutamos das acomodações, mas sentimos falta de uma pessoa que nos mostrasse todos os detalhes.


Nas paredes havia pinturas de autores que não soubemos identificar, além de quadros colocados na parede com fotografias.

Até o menino Antoninho da Rocha Marmo, conhecido santo popular paulistano, sepultado no cemitério da Consolação, aparece em uma foto colocada num dos quartos da residência.

Em uma estante de livros encontramos a coletânea com milhares de páginas que traz, de uma só vez, a obra infantil completa do escritor Monteiro Lobato.


De uma das janelas o visual que se tem é este e, quando já estávamos de saída, encontramos a filha de dona Maria Lúcia que ressaltou para nós e a outros presentes, um pouco da influência daquele sítio na vida do escritor falecido em 1948.

Ela deixou claro que o casarão possui importância histórica pelo fato de ter sido sede de uma fazenda de café nos tempos que antecederam a chegada do trem, quando o produto era plantado exclusivamente no Vale do Paraíba. 

Achei as explicações muito interessantes, mas antecipo aos leitores e leitoras que queiram visitar, para que não alimentem expectativas de encontrar referências aos personagens do Sítio do Picapau Amarelo.


Ressalto, entretanto, que existem livros à venda para os interessados e os funcionários da fazenda são muito gentis e permitiram que estacionássemos o nosso carro bem próximo da entrada da casa.

Dentro da residência existe acessibilidade, não há nenhum degrau, mas do lado de fora o terreno é um tanto quanto irregular aos paraplégicos ou cadeirantes. 

Destaquei nesse texto o nome original, Fazenda Buquira, porque este pode ajudar na hora de se identificar “O Verdadeiro Sítio do Picapau Amarelo”, pois na região há outros lugares que usam o mesmo nome.

Para visitar paga-se R$ 10 por pessoa, o estacionamento é grátis e o almoço é servido somente aos domingos.

 

Produção e fotos: Dulce e Gustavo Alves

sábado, 22 de julho de 2023

Visitar o bairro da Liberdade é como viajar pela história de São Paulo

Um dos lugares que mais gosto de visitar em São Paulo é a Feira Oriental da Liberdade nos finais de semana.

Gosto dos atrativos da feira, mas ali meu pensamento voa através da história, a começar pela Igreja dos Enforcados, a saga do Cabo Chaguinhas e outras histórias já contadas neste blog.

Em maio último o atual prefeito sancionou um projeto aprovado pelos vereadores que alterou o nome Praça da Liberdade que agora se chama 'Praça Liberdade África-Japão'.

O motivo se deve ao fato deste lugar no passado ter sido o Pelourinho da cidade, onde se fazia o comércio de escravos.

Outra razão é que em 2021, foi colocada na praça uma estátua em homenagem à sambista Madrinha Eunice, personagem paulistana também citada aqui  em postagens anteriores (Ver links abaixo).

As terras que hoje compõem parte da Liberdade serviram no passado a um cemitério de escravos, visto que a região ficava nas cercanias do burgo paulistano formado pela Sé, Pátio do Colégio e as ruas do triângulo; Direita, São Bento e 15 de Novembro.

Um muro protegia o burgo, se bem que no século 16, nem houvessem tijolos. Essa proteção foi construída em taipa de pilão, ou seja, com a terra socada entre varetas de bambu.

Embora frágil, diante de possíveis ataques indígenas contra os portugueses dispostos a escravizá-los, dava tempo de correr, se esconder e preparar algum tipo de contra ataque.

Conta-se nos antigos livros que em 1562 houve um ataque especialmente sério e João Ramalho acabou nomeado “capitão de guerra”, pelos poderes constituídos.

A Liberdade que temos hoje também foi uma espécie de porta dos fundos para os que entravam em Piratininga pela Várzea do Carmo, atual Glicério.

Passavam por este caminho os tropeiros provenientes de Santos, daí o nome dessa entrada hoje se chamar Rua São Paulo.

Quando os terrenos do entorno foram loteados, uma lei municipal assinada em 20 de dezembro de 1905, criou o distrito da Liberdade, em homenagem à Abolição da Escravatura.

A princípio imigrantes italianos se mudaram para lá e, só a partir de 1912, os primeiros japoneses começaram a se estabelecer.

O destino fez da Praça da Liberdade aos domingos, um ponto de encontro da paz, repleto de artigos e comidas típicas orientais não só do Japão, mas também da China, Taiwan e Coreia do Sul.

Seu nome oficial é Feira de Arte, Artesanato e Cultura da Liberdade, com eventos especiais alusivos às datas comemorativas da cultura e costumes desses países.

Nos meus tempos de adolescente havia cinemas na Liberdade e meus amigos me levaram até um deles para assistir um filme de Bruce Lee que o tornou famoso no Brasil: “Operação Dragão”.

Na Rua Galvão Bueno, cujas luminárias fazem o visitante se imaginar em alguma rua de Tóquio ou no Chinatown de Nova York, existe uma loja interessantíssima, a Ikesaki.

Especializada na venda de xampus, sabonetes, hidratantes e uma infinidade de produtos, ao visitá-la não só as mulheres ficam deslumbradas, mas também os homens.

Os taiwaneses inauguraram em 1983, o templo budista Quan – Inn, na Rua Conselheiro Furtado, que chama a atenção de quem passa de carro por lá.

Visto de fora o templo é lindo e certa vez, já faz tempo, tentei conhecê-lo por dentro.

Quem me atendeu era de poucas palavras, não permitiu minha entrada e nem se dispôs a dar explicações, só me disse que chineses também frequentavam as celebrações.

Quando Jânio Quadros foi prefeito pela segunda vez, mexeu nos limites de inúmeros bairros. Em 1986, ampliou o tamanho da Liberdade que abraçou ruas da Aclimação como a Tamandaré e a Pires da Mota.

Com isso a Liberdade passou a ser o bairro mais bem-servido pelo Metrô com três estações: Vergueiro, São Joaquim e Japão-Liberdade.

Ainda escreverei mais sobre a Liberdade, hoje paro por aqui e recomendo: Não deixe de acessar também as postagens sugeridas abaixo.

Blog do Geraldo Nunes: A Praça da Liberdade e a saga do Cabo Chaguinhas:

Blog do Geraldo Nunes: Cinco personalidades negras ganharão estátuas na cidade de São Paulo: Confira os nomes:


sexta-feira, 7 de julho de 2023

Está na hora do mercado imobiliário agradecer São Paulo e abraçar a luta pela recuperação do nosso centro histórico

A função de São Paulo para o Brasil é a de oferecer oportunidades de trabalho e lucro para os que procuram a cidade vindos de outros lugares ou mesmo que nasceram e aqui vivem.

Nosso empresariado é forte, competente e capacitado, disso ninguém duvida, mas enquanto no mundo todo se investe de fato em qualidade de vida, aqui busca-se disfarçadamente se fazer o contrário.  

Os vereadores paulistanos em defesa de uma suposta melhoria no bem-estar da população, aprovaram o novo Plano Diretor Estratégico e atenderam a quase que queria o mercado imobiliário.

As mudanças irão permitir a construção de mais edifícios residenciais em bairros próximos às estações do Metrô, já superlotados de prédios.


Se de um lado a decisão irá facilitar o acesso de mais pessoas ao transporte coletivo, de outro a forte concentração de torres residenciais em um mesmo espaço trará desajustes na qualidade vida desses novos moradores e daqueles que já estão estabelecidos.

Ouvi do meu amigo cronista Antônio Penteado Mendonça que na Alemanha, as edificações novas são obrigadas a respeitar a incidência de sol nos imóveis que foram construídos antes. 

Lá não se faz sombra no prédio alheio, aqui não estão nem aí, só pensam em construir mais e mais sem uma análise detalhada dos impactos ambientais que cada construção pode causar. 


O risco é o de transformar bairros hoje considerados aprazíveis, em lugares inóspitos. São Paulo pode virar uma Gotham City sem que haja um Batman para nos proteger.

Imagine a decadência de bairros considerados classe média como a Pompeia, Perdizes ou a Vila Mariana, transformados em Santa Cecília, Vila Buarque ou Campos Elíseos? O que será de nós?


Não gosto do termo especulação imobiliária, porque os setores de compra e venda, associado ao da construção civil cumprem o importante papel de gerar empregos e renda. Isto movimenta a economia e ajuda o país todo a crescer.

Entre dezembro de 2021 e janeiro de 2023, a construção civil contratou 194.398 trabalhadores com registro em carteira, acréscimo de 8,5% no mercado de trabalho, conforme balanço do Sinduscon-SP, entidade que representa o setor.

Em cada esquina um novo empreendimento está sendo lançado, basta circular pela capital dos paulistas para se perceber isso e aqui, tudo que se constrói é vendido rapidamente, seja imóvel popular ou de alto padrão.

O Anuário 2022 do Secovi-SP, apontou a venda de 69.340 imóveis residenciais novos, recorde para o setor. 

Nos últimos 12 meses a quantidade de unidades vendidas cresceu 4,9% em relação a 2021 quando houve a entrega de 66.092 apartamentos prontos para morar e agora já ocupados pelos seus proprietários.

Perde-se na qualidade de vida? Certamente esses novos moradores não pensam assim. Eis por que São Paulo é uma cidade contraditória!

Bairros aprazíveis estarão em breve superlotados de prédios, pessoas e carros; ao mesmo tempo em que o centro segue cada vez mais vazio e decadente. 

Fotos aéreas sempre mostram a região central repleta de arranha-céus, mas quem mora em São Paulo sabe que a realidade é outra.

Boa parte desses prédios não tem mais serventia, alguns até foram emparedados para se evitar invasões e seus proprietários, há anos não pagam o Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU.

A lei 15.234, de 2010, estabelece que o imposto predial em atraso dobre de preço a cada ano se a dívida não for paga, mas na prática essa lei não funciona porque não interessa ao dono de um imóvel fechado pagar o imposto.

Além disso, por se tratar na maioria de condomínios, cada caso é analisado separadamente pela justiça e os processos de desapropriação quando ocorrem se tornam longos.

O mercado imobiliário tem meios parta contornar o assunto, mas prefere deixar em banho-maria até que algum fato valorize os terrenos para motivar a recuperação e o acerto de contas em atraso com a prefeitura.

A construção de um bulevar em torno do Palácio dos Campos Elíseos, ainda em estudos, certamente traria incentivos para a revalorização imobiliária do centro histórico da metrópole.

Sabemos que há outros empecilhos, a cracolândia entre eles, mas se nada for feito pela região central e bairros circunvizinhos como República, Arouche, Santa Cecília e mesmo parte de Higienópolis, a cidade toda pode entrar em colapso habitacional, ou seja, a degradação abraçando tudo.

O centro precisa ser recuperado com urgência pois, como expliquei, o homem-morcego mora em Gotham City.

Que tal pensarmos mais a respeito?




Fontes: Sinduscon- SP: Construção gera 38,9 mil novos empregos em janeiro: https://sindusconsp.com.br/construcao-gera-389-mil-novos-empregos-em-janeiro/#:~:text=No%20acumulado%20de%2012%20meses,empregados%20em%20dezembro%20de%202021

Portal Ape 11: Mercado imobiliário de São Paulo: 2022 bate recorde de vendas, aponta Secovi: https://www.ape11.com.br/mercado-imobiliario-de-sao-paulo/#:~:text=O%20valor%20total%20transacionado%20foi,(47%2C3%20mil).

Portal Secovi-SP: https://secovi.com.br/por-uma-cidade-mais-democratica/