quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Cariocas reclamam do gosto e cheiro da água, mas em São Paulo algas também infestaram a Represa Guarapiranga

O carnaval 2020 está aí e a água servida à população do Rio de Janeiro continua com gosto e cheiro de terra.

Algas nascidas dentro das águas do manancial do Guandu que serve a cidade, da espécie geosmina, é a responsável por este gosto e sabor nada atraentes.

Fico pensando nos turistas estrangeiros hospedados nos luxuosos hotéis da zona sul do Rio, tendo que tomar banho de chuveiro com essa água que depois deixará especialmente nos cabelos um cheiro não muito agradável.

Apesar dos especialistas dizerem que não há riscos à saúde dos consumidores que eventualmente beberem dessa água, recomendamos que não o faça.

Ainda que usada para fazer comida, o gosto de terra passará para os alimentos.

Essa recomendação vem de uma situação já vivida pelos paulistanos, cerca de 13 anos atrás.

Em 2007 após um longo período de estiagem, com a volta das chuvas, as águas da represa Guarapiranga foram tomadas por algas que também deram o mesmo gosto e sabor estranho.

Fotografia aérea mostra uma parte da Represa Guarapiranga cujo nome em tupi significa barro vermelho ou lamaçal

Diferente da foto acima, a proliferação de algas na ocasião foi tamanha que chegou à tona, podendo ser fotografada no nosso helicóptero.

Essa foto aérea é nossa tirada em uma manhã onde havia nevoeiro. O verde sobre as águas é a da vegetação nociva
Na tentativa de minimizar o problema da proliferação de algas dentro da represa, as autoridades da época determinaram que, parte das águas da Guarapiranga, fosse bombeada para o Rio Pinheiros.

Assim, da mesma forma que a Guarapiranga, também o Pinheiros ficou repleto de algas.

Este é o Rio Pinheiros próximo da Ponte João Dias com suas águas tomadas pelas estranhas algas vindas da Guarapiranga
Na ocasião não citaram o nome geosmina, mas o acontecimento levou o governo do Estado a desativar parte do abastecimento da represa para a população.

Desde então, a Guarapiranga não mais serviu suas águas aos bairros de classe média alta da capital paulista.

Até 2007 a água que saia nas torneiras da Avenida Paulista e região dos Jardins, vinha dessa represa de Santo Amaro.

Além da Paulista e Cerqueira César, outros bairros como Paraíso, Vila Mariana e Ipiranga não mais recebem águas da Guarapiranga.

Deste modo a ninguém mais reclamou, mas o problema não está resolvido, apenas adiado por uma alternativa que ainda segue viável.

Se algo acontecer com o Sistema Cantareira, que desde então passou a abastecer a maioria dos bairros, exceção da zona leste servida pelo Sistema Alto Tietê, a população cidade São Paulo corre o risco de ter em suas torneiras uma água parecida com essa servida à população carioca.

Em 2014, devido a um prolongado período de secas, o Sistema Cantareira passou a operar no volume morto, quando seus reservatórios chegaram a ficar com apenas 8,2% de sua capacidade utilizável.

Foi o pior nível desde 1974, ano em que o sistema localizado na região norte da Grande São Paulo foi criado.

Foto aérea mostra imagens do Sistema Cantareira hoje

Neste outra foto aérea vemos o Sistema Cantareira durante o período de estiagem em 2014
Para complementar gostaria de dizer que tenho extremo apreço pelos mananciais que rodeiam a capital paulista.

Todos foram criados pela ação dos nossos engenheiros mas, embora feitos por mãos humanas, atraem para si os efeitos da natureza, preservando árvores e pássaros.

Gosto tanto de nossas represas que passei a estudar a história da construção de algumas delas. Se você leitor ou leitora estiver com tempo de sobra, assista esse vídeo onde falo sobre a Guarapiranga.



Vídeo produzido por Pedro Gorski,

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Já assisti a muitas enchentes em SP e numa delas precisei almoçar pão com fígado para não desmaiar de fome

O temporal verificado em São Paulo nesta segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020, foi o maior em volume dos últimos 37 anos, informa o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Em 21 anos de sobrevoos entre 1989 e 2010, como repórter aéreo assisti a inúmeras enchentes, com seus estragos, prejuízos, congestionamentos de trânsito intermináveis e até mortes.

Mas vendo as fotos que resultaram dessa última chuva percebo que nas marginais o transbordamento dos rios Tietê e Pinheiros pode mesmo ter sido acima do registrado em outras ocasiões.


Esta foto aérea da Ponte da Casa Verde mostra que água ocupou as três pistas dificultando até mesmo a entrada na alça de acesso.



Nesse outro registro, também da Ponte da Casa Verde, o fotógrafo puxou a imagem do local onde estava pelo zoom e se vê um carro submerso.

A recomendação dos Bombeiros e da Defesa Civil passou a ser: Evitem sair de casa. Pura verdade. Fazer o que fora do ninho, numa ocasião dessas?


A Ceagesp também foi invadida pelas águas, imagine o tamanho do prejuízo com a quantidade de alimentos perdidos e outras mercadorias, fora o estrago de quem teve seu veículo ocupado pela enchente.


Na Marginal do Pinheiros na altura da Ponte Cidade Jardim, só passavam os mais corajosos, porém o risco de se perder o carro e até a vida em uma enchente é bem grande.


O Campo de Marte costumeiramente fica alagado em dias de enchente. Lá enfrentei situações difíceis.

Certa vez começou a chover forte logo ao amanhecer, mesmo assim o motorista Adão de Souza conseguiu chegar me transportando no carro de reportagem até o Hangar Fontoura onde ficava guardado o helicóptero da Rádio Eldorado.

O comandante Costandi Kardosh já havia posicionado a aeronave, na ocasião um Enstrom 280 FX, sobre uma plataforma onde a enchente não chegava, abastecido e pronto para voar.

Ocorre que em minha volta estava tudo inundado e como sou paraplégico, não tinha jeito de sair do carro e ir até a aeronave caminhando sem molhar as minhas botas ortopédicas.

Alguém então teve a ideia de me colocar em um carrinho utilizado para carregar peças.

Me deitaram no carrinho puxado a mão e me levaram até o helicóptero, deitado como fazem com os jogadores que se machucam durante as partidas de futebol.

Lá em cima da plataforma me tiraram do carrinho e pude embarcar no helicóptero onde voamos durante duas horas.

Ao retornar reabasteceram a aeronave e voltei a voar por mais duas horas e assim por diante até as duas da tarde, falando do trânsito.

Após um terceiro sobrevoo, eu já não aguentava mais de fome e comecei a sentir tonturas.

Foi quando o Getúlio, um gentil funcionário do Hangar Fontoura, me ofereceu o lanche que ele havia trazido. "Eu já almocei", explicou.

"Pão com fígado", ele me disse. O quê? Eu tinha aversão por fígado, mas ou era aquilo ou iria desmaiar de tanta fome. Agradecido, aceitei.

Trêmulo, devorei o lanche seguido de um copo d'água. Foi o melhor pão com fígado que já comi na minha vida.

Alimentado continuei sobrevoando até as 4 da tarde quando então as águas da enchente começaram a baixar.


Bife de fígado acebolado com pão, uma delícia!

Repórter aéreo mais sofre que se diverte.


Fotos: Portal G1

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A transformação do prédio esqueleto Eletropaulo em luxuosa sede do Santander prova que em São Paulo tudo é possível


Em São Paulo tudo é possível desde que possa gerar lucros.

Na capital do progresso vimos transformações extraordinárias durante os nossos 21 anos de sobrevoos diários a bordo de helicópteros.

Assistimos, por exemplo, a transformação lenta de um prédio em construção abandonado que pertenceu à Eletropaulo.

Aos poucos se transformaria em dos edifícios mais luxuosos que a cidade já viu em toda a sua história

Sua obra paralisada antes ainda de 1989, quando comecei a voar, só foi retomada em 2002 para se transformar numa referência arquitetônica.

Esta era a visão aérea que tínhamos do esqueleto da Eletropaulo na década de 1990

No alto da foto em imagem recente aparece o mesmo prédio transformado agora na Torre Santander
Essa história começou assim: A Eletropaulo era uma empresa estatal de energia elétrica fundada pelo governo paulista no início da década de 1980, após aquisição da antiga Light & Power.

O prédio que serviria de sede para a nova empresa então surgida, teve sua construção paralisada por falta de verbas.

Ficou aquele esqueleto que víamos diariamente em nossos sobrevoos pela Marginal do Rio Pinheiros, altura da confluência com a Avenida Juscelino Kubstcheck.

Foram anos e anos vendo do alto a mesma cena entre carros e congestionamentos diários.

Em 1999 a Eletropaulo Metropolitana foi privatizada passando seu controle acionário para um grupo empresarial liderado pela AES Corporation Houston Industries Energy.

Depois, em 2018, quem passou a controlar a distribuição de energia elétrica na cidade de São Paulo foi a empresa italiana Enel, que adquiriu a AES Eletropaulo por R$ 5,5 bilhões.

Mas, vamos ao que interessa. Antes que tudo isso acontecesse, a  AES Eletropaulo negociou o esqueleto de concreto abandonado na Marginal do Pinheiros em 2002.

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Na foto de 2003 se observa o início da transformação
A empresa compradora do antigo esqueleto de concreto foi a W.Torre, a mesma construtora que mais tarde faria o Allianz Park para a Sociedade Esportiva Palmeiras.

Na foto aérea de 2011 se observa a construção da atual Arena do Palmeiras tendo ainda ao fundo a antiga arquibancada
Em preços da época (2002) a W.Torre pagou R$ 175 milhões pelo “Esqueleto da Eletropaulo, concluindo a obra em 2009.

O Banco Santander, por sua vez, gastou R$ 1,06 bilhão para a compra do prédio inteiramente pronto.

Quem passa pela Marginal do Pinheiros hoje nem se dá conta que o luxuoso prédio ficou mais de 20 anos abandonado na forma de um esqueleto de concreto.

Nessa foto do final da década de 2000 já se percebe a pujança da luxuosa torre surgida
Passados 10 anos e meio desde o término dessa construção, o Complexo JK - Torre Santander é uma referência em termos técnicos de arquitetura para construção de edifícios corporativos.

O edifício possui um total de 28 andares com lajes a partir de 1553 m² e conta com 21 elevadores sociais.

A Torre ornamenta em beleza o corredor de tráfego da Marginal do Pinheiros, faltando agora despoluir o rio ainda fétido

O empreendimento possui também 90 mil m² de área locável e certificação LEED - categoria Gold.

Por todos esses acontecimentos envolvendo a obra tendo como resultado uma solução lucrativa em benefício de toda a sociedade, a empresa W. Torre ganhou o Prêmio Master Imobiliário 2010 oferecido pelo Secovi-SP – Sindicato da Habitação.

Resultados assim servem para mostrar o lado bom de São Paulo, uma cidade onde quase tudo é possível.

Uma projeção em computador feita quando da retornada do projeto


Informações obtidas após pesquisas nos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo.