segunda-feira, 25 de outubro de 2021

“Famílias de Rua” fazem do Pátio do Colégio sua moradia

Dias atrás em um passeio de carro quis mostrar a um jovem sobrinho a fachada da igreja do Pátio do Colégio.

Ao entrar de automóvel na Rua Boa Vista me impressionou a quantidade de pessoas em condições de abandono.

Notei que a população de rua em São Paulo adquiriu um novo perfil durante a pandemia. Existem agora as “Famílias de Rua”.

Pais e mães perderam o emprego e sem dinheiro para pagar as contas, deixaram a moradia e foram dormir com os filhos em barracas de lona no ponto onde a cidade foi fundada pelos jesuítas, em 1554.

É de cortar o coração. Anchieta ficaria abismado! Em vez de um passeio alegre, voltamos entristecidos para casa.


Lembrei das reportagens e entrevistas com representantes da Associação Viva o Centro, que fiz várias vezes para a Rádio Eldorado. Compareci, inclusive, na solenidade de lançamento, em 11 de outubro de 1991.

O plano era recuperar o centro histórico da cidade em 20 anos, o prazo esgotou-se em 2011.

Aconteceu que no meio do caminho, o Bank Boston, grande parceiro do projeto, foi adquirido por outros bancos e o patrocínio se extinguiu.

A associação ainda existe no papel, completou 30 anos recentemente, mas sem bala na agulha, ou seja, sem dinheiro, quase nada pode fazer.


Por outro lado de que adiantaria trazer de volta a paisagem do centro de outrora com centenas de famílias vivendo dentro dele no desabrigo?

A questão do urbanismo passou agora para um segundo plano, o que se espera no prazo mais rápido possível, é um reaquecimento na economia que possa gerar emprego e renda para esses pais e mães de família.


A maior cidade do Brasil pode ser considerada a que concentra maior número de famintos em todo o mundo, basta avaliar sua densidade populacional.



Durante os dias mais frios do inverno a prefeitura ofereceu sopas e cobertores aos moradores de rua, mesmo assim e muito pouco tamanha a gravidade da situação em que se encontram várias famílias.

O desafio de mudar esse quadro de degradação existente na cidade de São Paulo, não é só dos governantes, mas de todos nós, sociedade, que de alguma forma teremos que praticar a solidariedade em nome do bem comum, em relação a essas pessoas carentes até que a situação melhore. 

Nossa maior preocupação precisa ser em relação às crianças que estão vivendo, sem domicilio, sem escola, sem comida.

Do jeito que está, não dá para falar: “Viva o Centro!”

sábado, 16 de outubro de 2021

Fotos do Palácio da Justiça revelam o começo e fim da Praça Clóvis

Ganhei de presente um livro institucional raro, editado em 1990, que se chama "Palácio da Justiça São Paulo". A publicação se deu em comemoração aos 70 anos do lançamento da pedra fundamental para a construção do edifício situado na Praça Clóvis Beviláqua, s/n, no centro de São Paulo.


Os mais velhos, entretanto, sabem que a Praça Clóvis original, não existe mais. Foi engolida após a demolição dos edifícios em seu entorno para dar lugar à Estação Sé do Metrô.

 

Na foto aérea de 1951 vemos a sede do Tribunal de Justiça, a Praça Clóvis já construída e no entorno árvores, e os primeiros pontos de ônibus que depois tomariam conta do lugar. A Catedral da Sé seguia em construção e o prédio do Fórum João Mendes Júnior ainda não existia.


Os jardins da praça foram retirados no final da década de 1950, para aumentar o terminal de ônibus urbanos que pode ser visto no canto esquerdo desta fotografia acima onde o prédio do TJ-SP também aparece.

Recentemente ouvi de um senhor que estudou no Colégio do Carmo, Pedro Osvaldo Scattone, a informação que antes da construção da Praça da Clóvis existiam casas em frente ao Palácio da Justiça.

Fiquei curioso em saber como eram essas moradias e depois de conversar com meu amigo de longa data, Eduardo Britto, recebi dele o livro escrito por José Renato Nalini, com pesquisa iconográfica de Ebe Reale.

Esses dois, são meus colegas de Academia Cristã de Letras e Academia Paulista de História, respectivamente, o que me enche de orgulho.




Uma das fotos publicadas no livro é esta, de 1932, onde aparecem casarões defronte ao tribunal, prova que o sr. Scattone está certo em suas informações.

Na mesma fotografia aparece também uma espécie de playground. Reparem. Também dá para ver a Catedral da Sé em construção no lado direito acima. 

Pedro Scattone assistiu à demolição das casas em frente ao tribunal a partir de 1946 para dar lugar à Praça Clóvis Beviláqua, cujo nome faz homenagem ao jurista, magistrado, jornalista, professor, historiador e crítico literário, falecido no ano de 1944. Percebem como as datas coincidem?

Uma informação que não está no livro, transmitida pelo sr. Scattone, é que jornais da época noticiaram que durante as escavações para a abertura da praça, encontraram ossadas humanas que sugeriam a existência de um pequeno cemitério anterior às casas e até então desconhecido.

Nesta fotografia tirada do Palacete Santa Helena vemos uma Praça Clóvis arborizada, durante os anos 1960. Nada disso existe mais.

Quando da construção do Metrô, tanto o Edifício Mendes Caldeira quanto o Palacete Santa Helena foram implodidos durante o ano de 1976.


O resultado após as implosões foi este cenário parecido a um bombardeio.


No lugar da antiga Praça Clóvis, além das escadarias de acesso ao Metrô, foi construído um espelho d’água que há bastante tempo vem servindo de piscina e banho para os desafortunados da sorte que perambulam na região.


Ficaram como lembranças do antigo centro, somente a Catedral da Sé e o majestoso Palácio da Justiça, cujas atividades tiveram início em 1933 e uma segunda inauguração aconteceu em 25 de janeiro de 1942.

Precisei fotografar diretamente do livro duas fotos postadas acima, pois as mesmas quase inéditas não estão na internet.

O Palácio da Justiça, hoje considerado monumento histórico de valor arquitetônico e interesse cultural, foi tombado como patrimônio histórico em dezembro de 1981.

Acima aparece a capa do livro institucional Palácio da Justiça São Paulo.

Ressalto que nem todas as fotos aqui postadas saíram na publicação de 1990, quando ainda não existiam os recursos digitais que temos hoje.

Parabéns a José Renato Nalini e Ebe Reale pela publicação, e os meus agradecimentos a Eduardo Britto pelo livro de presente e a Pedro Osvaldo Scattone que fez um rico depoimento sobre a Praça Clóvis.

domingo, 10 de outubro de 2021

Estátua de José Bonifácio, “o moço”: Você sabe quem foi?

Com o reinício das aulas presenciais nas universidades, voltaram as indagações de quem circula pela parte interna da Faculdade de Direito do Largo São Francisco sobre a estátua de um ex-professor daquela escola que tem o mesmo nome do patriarca da independência.


Os estudiosos em história de São Paulo e do Brasil gostam de falar dele e de sua participação política importante em defesa da libertação dos escravos.


Defender publicamente a abolição da escravatura e depois ser convidado por Dom Pedro II para ser o “conselheiro – mor”, foi um privilégio que só coube a ele, José Bonifácio de Andrada e Silva, “o moço”, pertencente à segunda geração após os Andradas que lutaram pela Independência.
 

Era filho de Martim Francisco, irmão do “patriarca” e não foi só sobrinho, mas também neto de José Bonifácio de Andrada e Silva, que concedeu sua segunda filha legítima, Gabriela Frederica, em casamento com o tio.


Essas coisas do século 19 é que me deixam chocado, tio se casar com sobrinha e coisas assim, só para não se dividir a herança com outras famílias? Era o interesse pelo dinheiro se sobrepondo ao amor.

Mas do casamento do tio Martim Francisco com a sobrinha, Gabriela Frederica, nasceu “o moço”, mais tarde grão-mestre dos que passaram pela Academia de Direito.

O poeta Paulo Bomfim, que teria feito 95 anos em 30 de setembro, se ainda estivesse entre nós, costumava me falar a respeito de "o moço". Elogiava seus discursos e poesias românticas.

Nascido em 1827, na cidade de Bordeaux - França, por ocasião do exílio da família após dissolução da Assembleia Constituinte de 1823 por D. Pedro I, respondeu sempre como cidadão brasileiro.

O ano de seu nascimento coincide com a instituição dos cursos jurídicos no Brasil, que fizeram dele um orador aplaudido em sua época.


Sua mãe teve outros filhos além deste que se notabilizou na política, ao defender em pleno século XIX a instituição do voto para os analfabetos.

Mesmo no cargo de ministro manifestou-se publicamente, em 1864, a favor da libertação imediata de todos os escravos, sem indenização para os seus proprietários.

Depois, contou com o prestígio de Dom Pedro II, que chegou a convidá-lo para ser presidente do Conselho de Ministros, em 1883, cargo equivalente ao de primeiro-ministro no parlamentarismo europeu de hoje.

José Bonifácio rejeitou o cargo, acredito que antevendo a queda para breve do regime monárquico.

O apelido de “o moço” era usado para distingui-lo do seu tio e avô, José Bonifácio de Andrada e Silva, “o patriarca”. 



Na foto acima o vemos, já não tão moço. Contam que quando tinha 14 anos, ingressou na Escola Militar da Corte, de onde se afastou em 1846, sem terminar o curso.

Ao dar preferência a uma carreira civil, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo e sua formatura aconteceu em 1853 quando tinha 26 anos de idade.

Depois foi professor na mesma instituição e teve alunos proeminentes na vida pública como Castro Alves, Joaquim Nabuco e Afonso Pena.


Rui Barbosa, visto na foto acima, foi um de seus maiores admiradores, a ponto de ter viajado para São Paulo com o objetivo de fazer um pronunciamento em sua homenagem ao "moço", após seu falecimento aos 59 anos, em 26 de outubro de 1886, cujo 
sepultamento aconteceu em Santos, a cidade dos Andradas.

Depois de ler essa crônica, quem estiver em São Paulo e for ao prédio da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, já saberá quem foi José Bonifácio, “o moço”.

Quanto a Rui Barbosa, é bem provável que nunca imaginou um dia ter uma tataraneta atriz de televisão, na Rede Globo.  Segue então, a foto.