segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Repórter Aéreo foi o primeiro a noticiar volta do sequestrador à casa de Sílvio Santos

Logo depois de ter iniciado minha carreira de repórter aéreo, descobri onde morava o apresentador e magnata das comunicações, Silvio Santos.

Todas as manhãs ele costumava fazer Cooper, dando voltas pelo quintal de sua mansão no Morumbi.

Quando nos via, brincalhão como é, sorria e dava tchauzinhos para nós no helicóptero.

Isto acabou sendo útil para mim anos depois quando a filha dele, Patrícia Abravanel, foi sequestrada, em 2001.

Na ocasião, fui o primeiro a noticiar pelo helicóptero que o sequestrador, Fernando Dutra Pinto, havia voltado à residência no dia seguinte ao resgate ter sido pago.

Sílvio Santos e sua filha procuram sorrir após desfecho dramático 

Todos acreditaram que o sequestro havia terminado.

Funcionários do flat-hotel onde ele havia se hospedado, na cidade de Osasco, viram armas de grosso calibre e avisaram a polícia.

Três investigadores compareceram ao local para prendê-lo, mas no tiroteio dois desses policiais civis foram mortos e o terceiro ficou gravemente ferido.

Após o tiroteio, Fernando Dutra Pinto, desceu do prédio onde estava pelo lado de fora, pulando de andar em andar.

Entrou em um carro e seguiu dirigindo até a casa do dono do SBT.

Chegando à residência fez do empresário-apresentador seu refém, assim como a filha Patrícia, e o restante da família.

Seu objetivo não era agora conseguir um novo resgate, mas a chance de se livrar da prisão.

Fernando Dutra Pinto, um dos mais ousados bandidos já surgidos foi morto em briga no presídio 

Na manhã daquele 30 de agosto de 2001, tendo este repórter aéreo tomado conhecimento do término do sequestro pelo noticiário do dia anterior, antes de decolar, passou instruções ao comandante Glaucos Delgado, que voaria naquele dia para a Rádio Eldorado.

Partimos, noticiando o trânsito como de praxe, mas indo na direção da casa de Sílvio Santos, localizada nas proximidades da Ponte do Morumbi.

Embora não se soubesse ainda dos desdobramentos, queria eu me certificar que tudo estava bem. Faro jornalístico, modéstia à parte.

Lembrei Sílvio Santos se exercitando no quintal, me acenando alegremente. 

O que vimos, no entanto, foi a mansão cercada por viaturas policiais.

Avisei a redação da Rádio Eldorado sobre o que estava acontecendo e imediatamente foram encaminhados repórteres para noticiar por terra, os desdobramentos na Rua Antônio Andrade Rebelo, endereço do apresentador.

A checagem da redação confirmou a invasão da residência e um novo sequestro em andamento dentro da casa.

Pude assim ser o primeiro a noticiar do helicóptero o que se passava em torno da residência, já explicando o motivo da presença de tantas viaturas policiais.

Narrei tudo o que eu via de cima, conseguindo aquilo que se chama furo de reportagem.

Percebe-se pela claridade que outros helicópteros sobrevoaram a casa bem depois do início da manhã

Naquele momento, provavelmente 7h30 da manhã, não havia ninguém da imprensa sobrevoando o local, apenas este repórter pela Rádio Eldorado.

Ficamos horas seguidas girando sobre a região com deslocamentos apenas para reabastecer a aeronave.

Repórteres da emissora, em frente do endereço, noticiavam de um outro ponto de observação ou entrevistando policiais porque ninguém estava autorizado a entrar dentro da casa.

Percebe-se por esta foto tirada da rua, o quanto foi difícil o trabalho da imprensa naquele dia

Diante daquele desenrolar coube a nós anunciar a chegada de mais viaturas policiais e as interferências no trânsito decorrentes da ação.

Por volta do meio-dia ou pouco depois disso, o então governador do Estado, Geraldo Alckmin, entrou na residência deixando policiais e jornalistas atônitos.

O ousado sequestrador poderia ter matado Sílvio Santos, sua família e ainda o governador do Estado.

Se tratava de uma pessoa perigosa e destemida que teve a capacidade de matar dois policiais e de ferir gravemente um outro

Foram momentos de muita tensão naquele trabalho de informar o ouvinte, qualquer palavra poderia ser mal interpretada 

Muitas horas se passaram até que o sequestrador decidiu se entregar, os motivos que o levaram a essa decisão ainda são contraditórios, mas enfim tudo deu certo.

Após a retirada pelos fundos da casa de Fernando Dutra Pinto pela polícia, Silvio Santos e o governador saíram à janela e da sacada do andar superior da mansão falaram aos jornalistas na rua.

Sílvio Santos surge ao lado do então governador Geraldo Alckmin para dar informações sobre o fim do sequestro

Explicaram sem muitos detalhes o desfecho que resultou na solução do impasse.

Em seguida o governador se retirou e Silvio Santos continuou diante da imprensa buscando passar serenidade vindo sua filha Patrícia, então com 23 anos, logo depois.

Do alto observei o apresentador conversando, suas palavras chegaram até mim, pela escuta do rádio, mas seu sorriso não era nem poderia ser o mesmo dos programas de auditório.

Ao caminhar de volta para dentro de sua residência, notei um Sílvio Santos buscando disfarçar o nervosismo.


Sílvio Santos se despede dos repórteres com um aceno

Contei isso aos ouvintes naquele exato momento e depois um repórter da Rede Globo disse a mesma coisa durante o Jornal Nacional, só que utilizando outras palavras.

Após o fim do sequestro retornei em definitivo à base, acredito por volta das 4 horas da tarde, obviamente faminto.

No dia posterior ao acontecimento voltei mais uma vez em sobrevoo à mansão de Silvio Santos.

Vi quando ele deixou sua casa conduzindo sozinho o seu Lincoln branco, ano 1976, uma das marcas registradas dele até então.


O carro de Sílvio Santos na época do sequestro, em 2001 era este Lincoln 76

Não havia nenhuma segurança particular ou mesmo uma viatura policial a escoltá-lo.

Acompanhei o automóvel vendo do alto ele descer a  Avenida Morumbi e avistei o carro ingressando na Marginal do Pinheiros.

Dali ele tomou o rumo da Via Anhanguera, onde fica o SBT, e só depois, em uma entrevista, explicou porque não pediu escolta policial.

“Dirijo sempre sozinho, minha segurança sou eu mesmo, todos conhecem o Sílvio Santos”.

Se alguém achar que exagerei ou contei alguma mentira, segue aqui a reportagem do JN sobre o sequestro



Confira a edição de 30 de agosto de 2001, do Jornal Nacional com apresentação de William Bonner e Fátima Bernardes.

Nosso helicóptero aparece entre as inserções. 

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

João Doria pisa na bola ao excluir pessoas com deficiência da isenção do IPVA


Somente depois que tirei a minha Carteira Nacional de Habilitação – CNH, muitos anos atrás, é que fiquei sabendo que as Pessoas Com Deficiência – PCD, tinham direito à isenção do pagamento do IPVA em seus automóveis.

Para o meu carro particular atual e para o anterior, por força da lei, houve o pagamento do IPVA. Não conto mais com a isenção, mas fico preocupado com quem ainda tem esse direito e encontra dificuldades para pagar este imposto caro, pela necessidade de ter um carro adaptado, cujo preço é mais alto que um modelo popular, mesmo não podendo dirigir.




Essa é uma história longa, cheia de detalhes e que se modifica de tempos em tempos, mas vou tentar resumir.

Em 2008, uma Lei Estadual relacionada à cobrança do Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores, passou a determinar que “não precisa pagar o imposto o PCD que tenha um único veículo de sua propriedade”.

Essa lei passou a isentar todas as pessoas com deficiência física, inclusive as que não podem dirigir como os autistas, os cegos e síndrome de down.

Em 2017, Geraldo Alckmin então governador, sancionou alterações nesta legislação determinando a isenção do IPVA somente para veículos com valor máximo de R$ 70 mil.

Entidades de apoio aos portadores de deficiência, saíram em defensa dos que dependem inteiramente do carro, reivindicando que o valor máximo de isenção fosse aumentado.

“Os carros sobem de preço e o valor da isenção continua o mesmo e muitas dessas pessoas dependem de carros automáticos ou com adaptações”, explica Rodrigo Rosso, presidente da Assoc. Bras. da Indústria, Comércio e Serviços de Tecnologia Assistiva – Abridef, mas aconteceu justamente o contrário.

O governo do Estado de São Paulo encaminhou recentemente à Assembleia Legislativa o projeto de lei n° 529/2020, estabelecendo medidas voltadas ao ajuste fiscal e ao equilíbrio das contas públicas.

Entre as proposituras se pede: “critérios mais adequados para a isenção aos portadores de deficiência que possuem carro, mas não dirigem.

Existem cadeirantes que não dirigem e não conseguem entrar ou sair de um veículo sem a ajuda de alguém

As pessoas que não dirigem, não precisam de carros adaptados e por essa razão existe o risco de fraudes, ou seja, alguém pode comprar o carro no nome dessa pessoa sem que ela faça uso do mesmo. 

Pode ocorrer, mas haveria tantos fraudadores desse tipo a ponto de colocar em risco as contas públicas?

Nenhum levantamento a esse respeito foi mostrado pela Secretaria da Fazenda para justificar a medida.

Também precisa ser explicado qual é o tamanho dessa renúncia fiscal em valores relativos ao orçamento estadual. 

Sinceramente, parece haver outro tipo de implicância a esse respeito, pois acreditamos que não existam tantas pessoas com deficiências severas ou profundas que coloquem em risco os cofres do governo.

O governador João Doria precisa ser mais sensível, porque o prejuízo social causado por uma decisão desse tipo, pode ser maior do que os lucros para o governo.

Daí nosso apelo para que o governador, o seu líder na Alesp, e os demais deputados estaduais abordem com carinho esse trecho do projeto 529/2020.




Assuntos que dizem respeito à qualidade de vida de cidadãos que enfrentam limitações, merecem análise criteriosa para não se maltratar ainda mais quem já sofre em demasia.

Diz a gíria esportiva: De repente, João Doria está pisando na bola, por desconhecimento sobre a real da situação existente dentro dos lares de inúmeras famílias que arcam com as despesas dessas pessoas.

Precisamos ser ainda mais sensíveis nessa hora!


RESPOSTA DO GOVERNADOR VIA ASSESSORIA DE IMPRENSA:

O Governo de São Paulo identificou um crescimento desproporcional de isenções de IPVA, que indicam fraudes. A proposta tem o objetivo de coibir essa prática ilegal, enquanto garante o benefício para quem mais precisa e tem direito. Desde 2016, o número de isenções de IPVA cresceu 139%, de 138 mil para 330 mil veículos, e a compra desses veículos subiu 246%, de 29,5 mil em 2016 para 102,1 mil em 2019. Com isso, o valor das isenções desse imposto subiu de R$ 232 milhões para R$ 677,5 milhões. Enquanto isso, no mesmo período, a população de pessoas com deficiência no estado cresceu apenas 2,1% no estado - de 3.156.170 em 2016 para 3.223.594 em 2019, de acordo com a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Assessoria de Imprensa
Secretaria de Projetos, Orçamento e Gestão – 26/08/2020

Fonte: Revista Reação
https://revistareacao.com.br/projeto-de-doria-que-retira-beneficios-de-pcd-pode-ser-votado-pelos-deputados-estaduais-paulistas-a-qualquer-momento/


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

São Paulo guarda debaixo do asfalto uma bacia hidrográfica por onde passam avenidas


Durante a construção do túnel Tribunal de Justiça, aconteceu um desmoronamento que ganhou manchetes nos telejornais.

Na madrugada de 24 de novembro de 1993, rompeu uma galeria do Córrego do Sapateiro, sob a Rua Antônio Joaquim de Moura Andrade, proximidades da Avenida São Gabriel.

Com isso as águas deste antigo riacho vieram à tona, dando o ar de sua graça como nos tempos em que seguia a céu aberto, na direção do Pinheiros

As águas que formam o Lago do Ibirapuera são provenientes do Córrego do Sapateiro com nascente na Rua Sena Madureira

 O Córrego do Sapateiro tem uma história interessante, durante uma parte do século 20 margeou o antigo matadouro da Vila Mariana, cujo prédio foi ocupado pela Cinemateca Brasileira, hoje em risco de abandono.

Depois, foi canalizado na altura da Rua Sena Madureira e suas águas formam o lago do Parque do Ibirapuera, inaugurado em 1954, continuando seu curso só que debaixo da terra.

Uma pequena usina de tratamento de esgotos faz com que as águas do córrego cheguem limpas ao Lago do Ibirapuera

Durante os reparos para continuidade da obra de implantação do Túnel Tribunal de Justiça, a construtora cercou tudo com tapumes e os desvios no trânsito, que já existiam, foram ampliados pela CET.

Com isso os transeuntes não podiam ver a cascata formada no antigo cruzamento que dava início à Avenida Juscelino Kubstcheck.

Apenas a visão privilegiada dos repórteres aéreos tinha acesso para descrever do alto o visual que se tinha lá embaixo.

Jornais e emissoras de TV alugaram helicópteros para fotografar e filmar aquele cenário inusitado.

Aquela cobertura despertou em mim, uma curiosidade imensa.

Busquei então fazer um levantamento da quantidade de avenidas que hoje existem sobre antigos córregos canalizados.

Muitas pessoas nem sabem de sua existência, mas a cidade de São Paulo guarda debaixo de si uma verdadeira bacia hidrográfica.

São os afluentes dos rios Tamanduateí, Tietê e Pinheiros, hoje guardados debaixo do asfalto.

Em São Paulo quando chove mais forte as águas dos riachos canalizados se sobrepõem às galerias e ganhas as ruas

Afluentes do Rio Tietê

Córrego do Pacaembu – Avenida Pacaembu
Córrego da Água Branca – Avenida Francisco Matarazzo
Córrego da Água Preta – Avenida Pompeia
Córrego Sumaré – Avenida Sumaré
Córrego Tatuapé – Avenida Salim Farah Maluf
Cabuçu de Baixo – Avenida Inajar de Souza
Ribeirão Verde – Avenida Edgar Facó

Uma parte da Avenida Salim Farah Maluf  tem por baixo de si o Córrego Tatuapé 

Afluentes do Rio Tamanduatei

Córrego Anhangabaú – Avenida Prestes Maia
Córrego Saracura – Avenida Nove de Julho
Córrego Itororó – Avenida 23 de Maio
Ribeirão da Mooca – Avenida Anhaia Mello
Córrego do Lavapés – Rua do Lavapés
Riacho Moinho Velho – Avenida Tancredo Neves
Riacho do Ipiranga – parte da Rodovia dos Imigrantes

O monotrilho segue sobre a Avenida Anhaia Mello e debaixo dela está o Riacho que segue da Vila Ema  até a Mooca

Afluentes do Rio Pinheiros

Córrego do Sapateiro – Avenida Juscelino Kubstcheck
Córrego da Traição – Avenida dos Bandeirantes
Córrego Uberabinha – Avenida Hélio Pelegrino
Córrego das Águas Espraiadas – Avenida Roberto Marinho
Córrego do Antonico – Avenida Jorge João Saad
Rio Pirajussara – Avenida Eliseu de Almeida

Por baixo da Avenida 9 de Julho sentido centro está o Córrego da Saracura, um afluente do Anhangabaú 


Acrescente-se que por baixo do Lago do Ibirapuera seguem os dois túneis do Complexo Viário Ayrton Senna, uma homenagem ao piloto tricampeão mundial de Fórmula 1, morto em 1° de maio de 1994.


A cidade guarda ainda muitos outros riachos canalizados, enumerá-los todos seria difíl porque nem a prefeitura possui um registro completo





segunda-feira, 10 de agosto de 2020

São Paulo teve um Arco do Triunfo, mas só por algumas semanas


O então presidente da República, Epitácio Pessoa, anunciou durante o ano de 1921 uma visita à capital paulista. 

Naquela época não havia os aviões de carreira e a viagem do Rio de Janeiro – então Distrito Federal – para São Paulo, aconteceria de trem.

Para tornar a recepção efusiva, afinal os chefes de estado viajavam bem menos que agora, o então prefeito paulistano Firmiano Pinto, mandou erguer um monumento exclusivo para aquela recepção.


Surgia assim o Arco do Triunfo de São Paulo, montado em madeira e gesso para durar só algumas semanas, pois não recebeu sequer um grão de cimento.

A ideia veio de um trabalho feito em Nova York para uma solenidade semelhante só durar alguns dias.

No Brasil, a execução ficou a cargo do Escritório Ramos de Azevedo e cerca de 200 operários fizeram tudo no curto prazo de três dias. 


Na foto acima, feita provavelmente de um avião, se observa o local exato da montagem naquela que seria hoje, a pista lateral da Avenida Tiradentes sentido centro, em frente à Estação da Luz.

O pontilhão à direita, na fotografia. ainda existe, agora coberto pelo asfalto e segue na direção da Rua Brigadeiro Tobias.

A pista central é que ainda não existia, na atualidade um viaduto passa sobre os trilhos da ferrovia, oferecendo ao tráfego viário circulação nos dois sentidos.


O Arco do Triunfo montada para a prefeitura paulistana tinha 28 metros de altura por 27 de largura.

Sua abertura era de 14 metros para cima e 10 metros de largura, se possibilitando assim a passagem dos bondes e demais veículos durante os dias que antecederam ao desfile. 

Ao fundo, na mesma foto se observa parte da Igreja e do Colégio de São Cristóvão.


Após desembarcar na Estação da Luz, o presidente Epitácio Pessoa seguiu trajeto pelas ruas da cidade.

Percebe-se na direita desta fotografia parte do prédio da atual Pinacoteca do Estado.


Jornais da época registraram o acontecimento em primeira página.


Observe a foto estampada na edição do Correio Paulistano de 20 de agosto de 1921, em tamanho ampliado.



Após a visita solene, o Arco do Triunfo em homenagem a Epitácio Pessoa foi demolido semanas depois e nunca mais se cogitou a volta dele.


Em Nova York aconteceu o contrário, a obra de curto prazo foi refeita a pedido da população. 

Reconstruído uma segunda vez e, definitivamente em concreto, segue localizado na entrada do Washington Square Park ao final da 5ª Avenida.