terça-feira, 3 de setembro de 2019

Em 1826 os europeus já se preocupavam com a Amazônia. Saiba como foi a Expedição Langsdorff

Toda essa discussão em torno da Amazônia e a suposta alegação de risco à nossa soberania na proteção à floresta, me trouxe à lembrança uma entrevista que fizemos na Rádio Eldorado, com a escritora e artista plástica Adriana Florence, tataraneta do pesquisador, Hércules Florence, mais conhecido por ter inventado a fotografia morando no Brasil, embora não seja reconhecido mundialmente, assim como o nosso 'Pai da Aviação', Santos Dumont, em relação ao avião.

Nascido na França e naturalizado brasileiro, Hércules Florence, era artista plástico e foi nessa condição que participou da Expedição Langsdorf. Patrocinada pelo governo russo, em 1826, a missão teve por objetivo conhecer a fauna, flora e a população indígena do Brasil, pelo Rio Tietê, na altura de Porto Feliz e como destino, a foz do Rio Amazonas. Hércules tinha 19 anos e seguiu viagem para ser o segundo pintor-retratista da expedição, sendo o alemão Johann Moritz Rugendas, já famoso por outras viagens científicas pelo País, o primeiro retratista.

Aquarela de Rugendas: Expedição Lagsdorf  (1826-1834)

Em 1999, a tataraneta do ilustre pesquisador refez o roteiro da viagem e para isso contou com o apoio da BBC, interessada em preparar um documentário de televisão para o ‘History Channel’. Uma equipe formada por 11 profissionais entre jornalistas e cinegrafistas, seguiu durante 40 dias este trajeto entre rios pesquisado por Adriana Florence que também seguiu com a equipe para fotografar e depois retratar tudo em pinturas como fez o tataravô, 174 anos antes.

O roteiro teve por base as narrativas contidas nos diários de Hércules Florence e do barão Georg Heinrich von Langsdorff, um médico naturalista alemão-russo enviado ao Brasil pelo czar Alexandre, da Rússia, sob autorização do governo brasileiro chefiado por Dom Pedro I em atendimento a um pedido da imperatriz Dona Leopoldina, estudiosa nos assuntos da biodiversidade.

A expedição original durou oito anos e seu término aconteceu de maneira trágica, ficando a parte final sem ser concluída. Quando já estavam na região amazônica, um dos retratistas morreu afogado tentando atravessar a nado o Rio Tapajós, após avarias em um dos barcos. Em seguida, o próprio Langsdorff enlouquece, como dizem os relatos, vítima de sucessivas malárias. Sem poder contar com seu comandante, a expedição é encerrada e considerada fracassada. Todo o material da pesquisa é recolhido, encaixotado e mandado de volta à Rússia. Cerca de 100 anos depois, em 1938, cientistas decidem reabrir o que havia sido guardado e consideram o acervo riquíssimo, tendo sido criada no Museu de Leningrado, hoje São Petersburgo, uma exposição permanente de tudo o que foi catalogado pela Expedição Langsdorff.  


Entrada da exposição permanente no Museu de São Petersburgo

O documentário - ‘No Caminho da Expedição Langsdorff’ -produzido pela BBC para o History Channel, France 3 e Grifa, foi exibido no ano 2000, em mais de 200 países, com traduções para 19 idiomas, como que para provar que não só os europeus se interessam pela Amazônia, mas o mundo todo, visto que se trata de efetivamente de um patrimônio da humanidade.

Da viagem, Adriana Florence fez um livro a partir das aquarelas e textos de seu diário de bordo. “No Caminho da Expedição Langsdorff - Memória das Águas”, lançado pela Editora Melhoramentos, em 2006, foi indicado ao prêmio Jabuti e ganhador do prêmio Fernando Pini de excelência gráfica. Na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, foi eleito entre os livros mais bonitos já publicados mundo. Durante sua expedição, a artista produziu mais de 130 desenhos, aquarelas e telas. Ela segue residindo em São Paulo e tem um blog hospedado no Blogspot.


Capa do livro de Adriana Florence - Editora Melhoramentos - 2006

Você pode ouvir a entrevista que fizemos com Adriana Florence, acessando a página São Paulo de Todos os Tempos no Spotify gratuito, cujo acesso pode ser no Facebook, pela página Geraldo Nunes II ou pelo Twitter: @geraldonuness




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