A Vila Alpina é progressista e bela, foi fundada por um italiano empreendedor chamado Vicente Giacagline, era ele um terrenista, termo usado na época para designar os que compravam grandes glebas e depois loteavam.
Essa atividade revela que o empreendedorismo não é coisa nova, pois já existia na São Paulo da década de 1920.
Com a criação da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943, vários sindicatos foram fundados, entre eles o Secovi-SP, para representar os terrenistas, substituídos mais adiante pelas construtoras de edifícios.
Não existem mais terrenistas na cidade de São Paulo, mas a história da Vila Alpina ajuda explicar a evolução do mercado imobiliário e como ele trabalha.
O italiano Giacagline gostou das terras que adquiriu, dizia que lhe trazia lembranças dos Alpes da Itália, por isso não teve dúvida de batizar o empreendimento com o nome Vila Alpina.
Isto aconteceu em 1921, os primeiros registros de escrituras do loteamento Vila Alpina são do dia 3 de setembro daquele ano e desde então nessa data se comemora o aniversário do bairro.
Antes, as mesmas terras tiveram relação histórica com a fundação de São Paulo porque no século 16, fizeram parte da sesmaria de João Ramalho que incluia a primitiva Santo André da Borda do Campo que não vingou como cidade e nada tem a ver com a Santo André atual.
Era preciso construir habitações mais adiante para servirem de ponto de partida para o interior e isso levou à escolha das Terras de Piratininga por Martim Afonso de Souza.
Em comum acordo com os jesuítas, o donatário da capitania de São Vicente, decidiu implantar no mesmo lugar que serviria de ponto de partida para os bandeirantes, um colégio de padres.
Da decisão surgiu a São Paulo de Piratininga de Manuel da Nóbrega, José de Anchieta e mais adiante de Antônio Raposo Tavares e Fernão Dias Paes.
Em 1829, as terras pertencentes à atual Vila Alpina aparecem em documentos de propriedade de um português chamado João Pedroso que dividiu toda área em fazendolas para criação do gado e o cultivo de hortas e frutas, mas antes ainda do final do século 19, a região começou a ganhar outras feições.
Parte dos sítios foi retalhada para dar lugar a pequenas olarias, um nascente negócio que se tornaria lucrativo ao longo dos anos, embora a Vila Alpina mantivesse ainda aspectos rurais.
A partir da chegada do italiano Vicente Giacagline, a venda de lotes se expandiu pela forma facilitada de prestações a perder de vista para possibilitar aos novos proprietários, a construção de suas casas.
Como a Vila Alpina faz divisa com São Caetano, que por sua vez pertencia à Santo André, a distância entre o novo bairro e a estação de trens era curta e isso facilitava a vida dos moradores.
Depois com a chegada da indústria automobilística ao ABC, quase no final da década de 1950, a Vila Alpina passou a abrigar as famílias de vários funcionários das fábricas e se tornou um bairro residencial.
Dali em diante todas as chácaras e olarias ainda existentes foram desfeitas e seus terrenos ocupados por mais residências.
Em 1974 uma novidade veio sacudir a calma da Vila Alpina, a prefeitura decidiu erguer na Avenida Francisco Falconi, um crematório ao lado do cemitério já construído.
Ninguém sabia direito o que era aquilo, foi o primeiro da América Latina, dentro de uma área verde de 134 mil metros quadrados.
O Crematório
da Vila Alpina hoje é uma realidade, atualmente acontecem dezenas cremações diárias
em quatro fornos.
Isso já não atrapalha a rotina do bairro, ao contrário, a Vila Alpina se expandiu e agora com acesso fácil ao Metrô e ao Monotrilho tende a se crescer ainda mais. Daí as dúvidas.
Com as mudanças aprovadas pelo novo Plano Diretor e as consequentes alterações na Lei de Zoneamento Urbano, não se sabe direito quais serão os rumos do crescimento de Vila Alpina daqui em diante.
A ideia de verticalizar mais ainda regiões próximas às estações do Metrô, Trens e Monotrilho pode, além da saturação no trânsito, trazer transtornos à qualidade de vida da população e o momento é de expectativa.
Algumas entidades representativas dos bairros se mobilizam para um protesto dia 30 de novembro, em frente à Câmara Municipal, contra as alterações previstas na Lei de Zoneamento Urbano.
População da Vila Alpina, com certeza preocupada, aguarda ansiosa