quarta-feira, 29 de julho de 2020

Na onda de ataques a estátuas conheça história do Monumento às Bandeiras - Ibirapuera


Ainda falando dos acontecimentos que envolveram a tentativa de derrubada de estátuas em São Paulo, vamos relembrar histórias das quais ficamos sabendo quando das pesquisas que fazíamos, em trabalho conjunto com a jornalista Valéria Rambaldi, para a elaboração dos nossos programas de rádio que iam ao ar pela Rádio Estadão.

Sim, quando o rádio é feito com profissionalismo a pesquisa é fundamental e, neste quesito, fizemos um trabalho inédito para a então emissora oficial do Grupo Estado.

Essas lembranças vieram quando o atual governo do Estado decidiu colocar máscaras nas esculturas do Monumento às Bandeiras - Ibirapuera - São Paulo.  

A ideia de conscientizar a população sobre a batalha contra o coronavírus, em cima das estátuas, nos pareceu insensível, porque há lugares onde não se pode mexer. Decisões assim, incentivam outras pessoas a fazer o mesmo.

Foto do Portal UOL de 12 de maio de 2020 mostrou o rosto de algumas estátuas com o rosto coberto por máscaras

 Não deu outra, logo depois vandalizaram as esculturas. Além da tinta vermelha, escreveram: “bandeirantes assassinos”.

“Perdoai-os senhor, eles não sabem o que fazem”.

Há dois tipos de pichadores: Aqueles que picham sem saber o por que, mas vão no embalo, e os oportunistas da política
O conjunto de esculturas reunidas no Monumento às Bandeiras não exibe apenas a saga dos bandeirantes, mas a sensibilidade de um artista plástico elogiado em todo o mundo.

Embora nascido na Itália, Victor Brecheret fez questão de entrar na justiça, aos 30 anos de idade, exigindo um registro de nascimento brasileiro. 

No documento concedido pelo cartório do Jardim América aparece seu nome artístico. Antes ele possuía apenas a certidão de batismo cujo nome original, Vittorio Brecheret, serviu depois para representar somente as lembranças dele, de um passado remoto.

Sua decisão, acreditamos, se deu pelo reconhecimento que teve dos brasileiros, especialmente dos modernistas que conviveram com ele, e de um ex-presidente da República.

Coincidência, ou não, tudo isso aconteceu há exatos 100 anos.

Em uma foto de 2008, tirada por Lucas Sales, o Monumento às Bandeiras é mostrado com esplendor

No portal da prefeitura paulistana, a inspiração para o Monumento às Bandeiras se explica na saga dos bandeirantes que ampliaram fronteiras recebendo o apoio das diversas etnias que compõem o povo brasileiro.

O homem branco aparece nas estátuas barbadas, os negros e os mamelucos são mostrados com outras feições, enquanto os índios aparecem ostentando cruzes no pescoço.

Claro que tudo isso surgiu da inspiração do autor tendo por base o que já havia sido escrito de forma romântica por antigos historiadores.

"Todos os povos unidos em um único esforço de puxar a adiante a canoa do desenvolvimento", nos disse certa vez Hernâni Donato, então presidente de honra do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

Com o passar do tempo, a população foi colocando apelidos na obra: empurra-empurra ou deixa-que-eu-empurro, entre outros. Normal!

De acordo com a Divisão de Preservação do Patrimônio Histórico – DPH, da prefeitura paulistana, a brincadeira surgiu pelo fato da embarcação não sair do lugar, mesmo com tanta gente empurrando.

A interpretação estaria no fato das figuras mais à frente da comitiva não estarem fazendo força para mover a canoa.

A única figura que realmente faz força para empurrar, é a última entre as estátuas.

“No Brasil é assim, alguns trabalham enquanto outros fingem que estão trabalhando”, já me disseram
Victor Brecheret nasceu em Farnesi – Itália, em 15 fevereiro de 1894 e ficou órfão muito cedo.

Foi trazido a São Paulo pelos tios imigrantes, irmãos de sua mãe, Henrique e Antônio. Eles aqui o criaram.

Iniciou seus estudos em arte no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, após completar o curso primário.

Trabalhava de dia e estudava à noite e o curso foi escolhido porque, desde menino, já modelava bonecos de barro e gostava de desenhar.

São Paulo guardou muito de sua arte, além do Monumento às Bandeiras, a estátua de Duque de Caxias e o túmulo de dona Olívia Guedes Penteado, no cemitério da Consolação, são de sua autoria.

A arte cemiterial também deveria ser melhor conhecida. Olívia Guedes Penteado foi mecenas de vários artistas

O talento de Brecheret despontou em 1916, aos 22 anos, quando se inscreveu no concurso para participar da Exposição Paulista de Belas Artes, ficando em primeiro lugar.

Artigos assinados em jornais pelos modernistas Mário e Oswald de Andrade teceram elogios ao jovem artista.

Em julho de 1920, expôs seu projeto do Monumento às Bandeiras em uma maquete, com os dizeres: “evocando a saga dos bandeirantes em busca de novas terras para alargar nossas fronteiras”.

Washington Luiz - então presidente do Estado - visitou a exposição e prometeu fazer da proposta uma realidade.

Contratada a obra, o escultor dedicou parte de sua vida ao projeto que só ficou pronto em 1953.

O conjunto de esculturas reúne 240 blocos de granito pesando em torno de 50 toneladas. Ao todo são 50 metros de comprimento e 16 metros de altura.

A inauguração oficial aconteceu em 25 de janeiro de 1954, durante as comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo.

“Trabalhei 30 anos nesse monumento e em cada figura criada eu encontrava sempre novas emoções”, disse Brecheret em uma entrevista à Rádio Gazeta.

Essa gravação entrou em um documentário apresentado pela TV Cultura, em 1994, cujo link você poderá acessar mais abaixo:

Na foto vemos Victor Brecheret com a sua inseparável boina, uma marca registrada do artista


Victor Brecheret morreu em dezembro 1955, aos 61 anos, deixando para a filha, Sandra Brecheret Pellegrini, um rico acervo de suas obras.

Durante anos as inúmeras esculturas ficaram guardadas com ela, mas em 2013, decidiu doá-las a interessados que quisessem colocar as obras de arte em locais visíveis ao público.

“Será uma forma de se conhecer um pouco mais daquilo que já se conhece dele”, disse a nós em entrevista na Rádio Estadão.

Esculturas de Brecheret fazem parte do acervo permanente da Pinacoteca do Estado e do Teatro Municipal de São Paulo.

Assista agora ao vídeo onde aparece a voz de Victor Brecheret.






sexta-feira, 24 de julho de 2020

Borba Gato está na mira dos manifestantes mesmo não tendo escravizado índios: Conheça a história


A História merece compreensão e não podemos enxergá-la apenas com os olhos da atualidade.

Os costumes e as sociedades mudam com o tempo e nada mais é igual ao período em que viveu o bandeirante Manuel Borba Gato, no Brasil do século 17. 

Nos meus tempos de repórter aéreo eu costumava chamar Borba Gato pelo rádio de "O gigante de Santo Amaro"
As manifestações contra o preconceito racial ocorridas após a morte do segurança George Floyd, asfixiado por um policial nos EUA, repercutiram no mundo todo.

Em Lisboa, por exemplo, a estátua do padre Antônio Vieira foi depredada porque na visão atual, o jesuíta está sendo acusado de colaborar com o colonialismo português.

O padre Antônio Vieira morou no Brasil tendo deixado escritos muitos de seus sermões de cunho político e social
Sobrou até para o Cristóvão Colombo, cuja estátua foi decapitada em Boston.

O descobridor da América convenceu o rei da Espanha de que a Terra era redonda e disse que navegando a oeste chegaria às Índias.

Seu raciocínio estava certo, mas esbarrou no continente americano e morreu sem saber direito o que havia descoberto e nem onde de fato tinha chegado.

O que os espanhóis fizeram depois com os nativos do novo mundo, não é culpa de Cristóvão Colombo.

Quem tem menos culpa nessas questões envolvendo preconceito é Cristóvão Colombo que viveu entre 1451 e 1506
Claro que a História é cheia de contradições e erros, assim sendo o que antes era motivo de glória, hoje se torna inadmissível.

A humanidade, por sua vez, sempre foi cheia de intrigas e discussões políticas. Isso acontece desde o surgimento do homo sapiens, mas houve casos no sentido inverso, como o de Tiradentes.

Enforcado e esquartejado como traidor da pátria mãe, Portugal, o alferes de Vila Rica é agora tratado com respeito pelas duas nações.

A linda estátua de Tiradentes em Ouro Preto, esculpida em granito e elevada em um pedestal com 19 metros de altura
tentativa recente de se derrubar a estátua do Borba Gato, inaugurada no bairro de Santo Amaro, em 1962, serve para provar mais uma vez que o povo brasileiro não conhece sua história.

Ao contrário dos bandeirantes que o antecederam, Borba Gato não precisou escravizar índios, pois em seu período a procura era por ouro e pedras preciosas.

Nascido por volta de 1650, casou-se com a filha de Fernão Dias Paes, o caçador de esmeraldas que foi ao sertão sob as ordens do rei Dom Pedro II, de Portugal.

Fernão Dias morreu achando que havia encontrado esmeraldas que na verdade eram turmalinas de menor valor.

Pintura faz alusão à morte de Fernão Dias Paes sem ter encontrado as tão sonhadas esmeraldas

Borba Gato prosseguiu na missão iniciada pelo sogro e mata adentro foi criando núcleos e estabelecendo habitações. 

A cidade de Sabará, em Minas Gerais, foi fundada pelo bandeirante santamarense. 

Em sua busca descobriu minas de ouro na região onde hoje está o município de Pedro Leopoldo e mais adiante na atual cidade de Ipatinga.

Após a descoberta mandou que alguns integrantes de seu grupo voltassem para comunicar aos paulistas que ele havia encontrado ouro.

Foi então procurado por um oficial de Lisboa de nome, Rodrigo Castelo Branco, representante do rei de Portugal.

Disse que tomaria posse das minas de ouro e determinou que Borba Gato retornasse imediatamente a São Paulo.

O bandeirante não aceitou, argumentando que ele próprio iria a Portugal comunicar ao rei a sua descoberta.

Houve então uma briga entre os dois e na luta Borba Gato empurrou o emissário do rei a um abismo, causando sua morte.

O crime significava o mesmo que matar o próprio rei de Portugal.

Borba Gato decidiu continuar no mato onde ficaria escondido, mas em liberdade e não retornou a São Paulo.

Ficou 16 anos refugiado, morando entre os índios e neste período entre 1682 e 1691 não há relato de que tenha escravizar os indígenas.

Os governantes, entretanto, sabiam onde ele estava por informações dos que haviam viajado com ele. 

A decisão de localizá-lo partiu do então governador-geral do Brasil, Arthur de Sá Menezes.

Ele mandou entregar a Borba Gato, uma carta de perdão pelo crime praticado, desde que avisasse onde estavam as minas de ouro descobertas.

Como se percebe também nunca houve santinhos na História e depois dessa negociação Borba Gato retornou a Santo Amaro, sua cidade natal.

Tornou-se então uma espécie de mito entre os moradores, obtendo o título de “capitão do mato”.

O historiador Paulo Setúbal escreveu de forma romântica, “Borba Gato apaulistou o sertão”.

O genro de Fernão Dias viveu 66 anos e sua morte, em 1716, veio após a contenda entre bandeirantes e os emboabas, para a exploração do ouro em Minas Gerais, mas essa é uma outra história que fica para uma outra vez.

A imaginação dos historiadores deu aos bandeirantes os trajes de couro e chapéu, na verdade andavam quase mal trapilhos
A estátua do Borba Gato, no atual bairro de Santo Amaro, foi esculpida pelo artista plástico Júlio Guerra com quem tive a chance de conversar.

Ele nasceu quando Santo Amaro ainda era um município, em 1912, pois o decreto de transformação em bairro veio em 1932.

Na ocasião da entrevista - 1995 - Júlio Guerra me contou que o bandeirante foi um antepassado seu e que em família todos falavam dele como herói.

Sua inspiração para seguir a carreira de artista plástico veio para realizar seu sonho de esculpir uma estátua para aquele que tanto admirou sua infância.

Cursou a Escola de Belas Artes, tendo sido aluno de Victor Brecheret, autor do Monumento às Bandeiras, do Ibirapuera e de quem se tornaria depois assistente.

Victor Brecheret é outro que merece uma postagem exclusiva.

Em Santo Amaro inúmeros moradores sentem orgulho em dizer que conheceram o artista plástico Júlio Guerra
Pronta a escultura em granito e mármore, foi erguida e instalada na confluência das avenidas Santo Amaro e Adolpho Pinheiro.

Depois de inaugurada, a estátua começou a ser considerada feia.

Vários apelidos foram colocados nela: bonecão, boi parado e monstrengo, entre outros.

Virou também uma referência para todo tipo de encontro ou manifestação

A foto de 1984, ano do movimento pelas Diretas Já, serve de prova que o monumento a Borba Gato serve  de referência

Júlio Guerra morreu em 2001, meses antes do lançamento do meu primeiro livro: São Paulo de Todos os Tempos Volume I.

Nesta publicação recorde de vendas pela RG Editores as histórias de Júlio Guerra sobre Borba Gato, contadas em nosso programa de rádio foram transcritas.

Um capítulo exclusivo sobre a história de Santo Amaro, Júlio Guerra e Borba Gato estão presentes neste livro


















Desfigurar ou mesmo destruir uma obra de arte é considerado crime, além disso se faria uma injustiça a Júlio Guerra grande injustiça.

Quanto à História, esta pode e deve sim ser revista para o esclarecimento de fatos passados e presentes, mas sem violência.



sexta-feira, 17 de julho de 2020

José Paulo de Andrade fazia jornalismo sem preconceito: Conheça essa e outras histórias


José Paulo de Andrade será sempre um exemplo de como se faz bom jornalismo no rádio.

Foi ele o grande incentivador da maioria dos jornalistas que tiveram passagem por nossas emissoras ou que de algum modo estiveram em contato com ele no Grupo Bandeirantes.

Prova está na grande quantidade de postagens feitas pelos colegas, após seu passamento nesta sexta-feira, 17 de julho, contando acontecimentos interessantes da profissão, onde o mestre é citado, de modo carinhoso.

Não pensem, entretanto, que conviver com José Paulo de Andrade era fácil.

Intempestivo, sempre cobrou com veemência dos profissionais que atuaram com ele, qualidade nas coberturas e postura ética nas atitudes.

Não deixava barato e nunca o vi pedir desculpas a alguém. Depois sim, que a poeira baixava, vinha com um afago.

Conheci José Paulo de Andrade em 18 de maio de 1984, dia em que ele completava 42 anos, em uma roda de amigos

Convidado  para cobrir as férias de Ivan Quadros como repórter das estradas da Rádio Bandeirantes, em 1984, José Paulo se tornou para mim, com o passar do tempo, mais que um mestre. Foi quase um irmão.

Durante a internação do presidente eleito Tancredo Neves no Instituto do Coração, em 1985, o país acompanhava atento aqueles acontecimentos.

José Paulo não teve dúvidas ao me colocar posicionado em frente ao Incor, revezando com outros repórteres na busca de notícias.

Ele não levou em conta o fato de um paraplégico estar segurando o microfone de uma emissora tão importante como a Rádio Bandeirantes.

Neste momento em que se discute tanto a questão do preconceito, José Paulo de Andrade dava exemplo, 35 anos atrás.

Ele permitiu que eu entrasse naquela batalha em busca da notícia debaixo do sol, do frio e da chuva, durante 25 dias, como qualquer outro porque acreditou no meu trabalho.

Aquela cobertura talvez tenha sido a mais importante da minha carreira, pois me valorizou como pessoa e como profissional.

Senti que a partir dali, obtive mais respeito dos colegas dentro e fora da emissora, atuando com eles de igual para igual.

Chefias elogiaram na época meu poder de síntese. Fiquei feliz, claro.

Foto de 1985 mostra repórteres dando plantão em frente ao Incor ,aguardando notícias sobre Tancredo Neves 

Um dia precisei deixar a Rádio Bandeirantes para ganhar asas e voar.

Me transferi para a Rádio Eldorado, convidado que fui para ser o repórter aéreo, quando tal função se mostrava uma novidade.

José Paulo deu o contra na época, alegando que eu estava fazendo um caminho inverso.

“A Bandeirantes tem um prefixo mais forte que o da Eldorado e você pode depois se arrepender”, me explicou.

Aleguei que estava saindo para crescer, meu sonho era ser o José Paulo de Andrade da Rádio Eldorado.

Nessa emissora apresentei entre 1994 e 2008 um programa chamado De Olho na Cidade.

A finalidade desse programa, com início às 5 horas da manhã, era antecipar as notícias e a prestação de serviços antes que o Pulo do Gato e assegurar audiência para o Jornal Eldorado.

Antes da estreia telefonei para o José Paulo e contei que iria fazer um programa nos moldes daquele que o consagrou. 

"Você ficará com raiva de mim?" Perguntei

Do outro lado da linha, o mestre sorriu e disse: "Absolutamente"!

Me desejou boa sorte e brincou: "Vou chamar teu programa de Pulinho."

Vez por outra ele me telefonava perguntando: “Como vai o Pulinho”?

Foto tirada em 1995 durante apresentação do De Olho na Cidade, carinhosamente chamado pelo mestre de Pulinho

Nosso último contato pessoalmente aconteceu em 2018, no lançamento do livro de Claudio Junqueira: “Esse Gato Ninguém Segura – 45 anos de sucesso do programa de rádio”, obra onde sou citado.

Vi pela primeira vez naquela noite, um José Paulo emocionado com tantos admiradores em sua volta para saudá-lo.

Sentado ao lado do autor e do grande companheiro de tantos anos, Salomão Ésper, também me emocionei ao rever o mestre.

Quem também aparece nessa foto é Suely Longue, segunda esposa de José Paulo de Andrade, que bem soube cuidar dele após a efizema pulmonar que o acometeu durante anos, se agravando com a chegada do coronavírus
Nessa mesma foto, acima, está de pé ao meu lado, Thiago Uberreich, apresentador do Jornal da Manhã, da Jovem Pan. 

De fato, profissionais de todas as emissoras se congraçaram naquela noite para homenagear o líder de audiência de todas as manhãs.

Passei a seguir José Paulo de Andrade no Twitter e depois prosseguimos trocando ideias pelo Whatsapp.

Discordâncias entre nós sobre os assuntos de política voltaram a acontecer.

Rebatido com veemência pelo Zé, novamente senti nele a garra de quando era meu chefe e adorei aquilo. 

José Paulo de Andrade me foi apresentado por Alexandre Kadunc que ele chamava de "mestre de todos nós".

De lá para cá nossa amizade cresceu e se manteve. Sua ausência significa uma lacuna que jamais será substituída!

A frase é bem batida entre os radialistas, mas exprime uma grande verdade.

A falta dele na programação da Rádio Bandeirantes será sempre sentida, assim como se deu na perda de Vicente Leporace.

Depois de O Trabuco, veio o Jornal da Bandeirantes Gente, mas de agora em diante, os laços dessas tradições estarão para sempre rompidos.

Nossa querida emissora do Morumbi precisará buscar nova linguagem, um novo formato, nada mais será como antes.

No Rádio, ninguém sobrevive apenas da audiência, é preciso oferecer conteúdo à informação.

Exemplo recente é o da Rádio Globo/SP que se esvaiu mesmo tendo sido líder de audiência anos a fio, em São Paulo.

Essa é a tradicional logomarca dos microfones da Rádio Bandeirantes durante nossa passagem pela emissora

José Paulo de Andrade deve agora estar sendo recepcionado no céu pelos ouvintes que partiram antes dele.

Tieko Suma, é uma delas. Assídua ouvinte tem história especial.

Paraplégica como eu, certa vez me telefonou na Sala de Imprensa da Polícia Militar, onde dava plantão, pedindo para que eu a apresentasse ao José Paulo.

Fã do programa Pulo do Gato, queria conhecê-lo pessoalmente.

Liguei para o chefe que me autorizou levá-la a um evento onde ele estaria presente.

Fiz isso e me sinto honrado por ter cumprido para a Rádio Bandeirantes também essa tarefa. Tieko partiria logo depois.

Espero que agora haja um feliz reencontro deles lá nas alturas, onde os helicópteros não chegam, ao lado de tantos outros ouvintes. 

Saudades para sempre de Tieko Suma e José Paulo de Andrade, agora irmãos no céu. 





segunda-feira, 13 de julho de 2020

13 de julho: Dia do Mundial do Rock, festa dos “coroas”


Daria para imaginar que o Rock, considerado a mais ousada forma de expressão artística do século 20, se tornaria um ritmo que hoje agrada, na sua maioria, só os "coroas"?

Haverá vozes em contrário comentando a frase acima, eu sei. Mas aviso: 

Essa constatação não diz respeito só ao Brasil, mas também aos Estados Unidos onde o ritmo surgiu.

A Gibson, lendária fabricante de guitarras elétricas, anunciou já faz alguns anos que possui uma dívida girando em torno dos US$ 375 milhões. 

Sua maior concorrente, a Fender não costuma divulgar números, mas também enfrenta dificuldades.


Em nosso país, a preferência de boa parte dos jovens, tem sido pelo sertanejo universitário ou pela música dos rappers, mc’s e dj’s. 

Não vamos aqui discutir os motivos que levaram os jovens brasileiros do século 21 a essa preferência.

Informo apenas que de acordo com a Associação Nacional da Indústria da Música (Anafima), entre os instrumentos musicais, a guitarra é o que apresenta os piores resultados nas vendas. 

Comparando também ao número das importações de instrumentos, entre 2012 e 2017, as guitarras amargaram queda de 78%. 


Especialistas do setor avaliam que aprender a tocar um instrumento requer uma rotina que envolve dedicação e muitas horas de estudo, práticas e descobertas. 

Diante do imediatismo das novas tecnologias os adolescentes atuais preferem atividades que consumam menos tempo. 

Se não há interesse de quem queira tocar guitarra, o vendedor não tem para quem vender e o mercado sofre abalos.

Por essa razão, o mercado do rock passou a ser encarado como música de agrado aos “coroas”, ou seja, os que já passaram dos 50 anos.

Quem ainda procura por música na programação das rádios sabe que apenas emissoras segmentadas tocam rock.

O dia 13 de julho de 2020, nesta São Paulo de coronavírus, certamente está sendo lembrado na Galeria do Rock, no centro da cidade.


Mundialmente, a data passou a ser comemorada por causa do Live Aid, um festival de música idealizado, em 1985, por Bob Geldof, vocalista da banda Boomtown Rats.

A renda do show que reuniu feras do rock do mundo todo, foi revertida em prol dos famintos da Etiópia. 

Pela primeira vez roqueiros consagrados se uniram em uma causa conjunta e o festival acabou acontecendo com apresentações simultâneas nos Estados Unidos e na Inglaterra. 

Alguns artistas se apresentaram também em Sydney, Moscou e Tóquio. 

Foi uma das maiores transmissões de televisão em larga escala por satélite em todos os tempos, estima-se que 1,5 bilhão de espectadores, em mais de 100 países, assistiram às apresentações ao vivo.

O concerto teve cerca de 16 horas de duração, embora não tenham entrado nesse cálculo, as apresentações simultâneas entre os dois países e nem a soma dos horários dos shows nas outras três outras grandes cidades.


Bandas como o Queen, The Who, Black Sabbath e Led Zeppelin participaram.

Cantores como David Bowie, Mick Jagger, Bob Dylan, Tina Turner e Phil Collins deram as caras, além dos guitarristas B.B.King, Carlos Santana e Eric Clapton, entre outros.

A ideia de se criar o Dia Mundial do Rock, a partir desse acontecimento, partiu das revistas internacionais especializadas que cobriram o encontro.

De fato, a data pegou. Sendo assim, como roqueiro assumido que sou comunico: Faço parte de uma lista de coroas friorentos que espantam o reumatismo curtindo rock'n roll.

Deste modo preparei uma lista das 20 músicas que mais gosto de ouvir.

 As 20 melhores canções do Rock em Todos os Tempos

1. Bohemian Rhapsody- Queen
2. Stairway to Heaven - Led Zeppelin
3. Another Brick in the Wall – Pink Floyd
4. Johnny B. Goode – Chuck Berry
5. (I Can't Get No) Satisfaction – The Rolling Stones
6. Jailhouse Rock - Elvis Presley
7. Rock Around The Clock - Bill Haley & His Comets
8. She Loves You – The Beatles
9.  Like a Rolling Stone – Bob Dylan
10. Tutti-Frutti - Little Richard
11. Starman – David Bowie
12. Smoke on the Water – Deep Purple
13. Sunday, Blood Sunday – U2
14. Imagine - John Lennon
15. Notorious – Duran Duran
16. Cocaine – Eric Clapton
17. Sweet Child O' Mine - Guns N’ Roses
18. Owner Of A Lonely Heart - Yes
19. Smells Like Teen Spirit – Nirvana
20. Hey Joe – Jimi Hendrix

Assista agora um trecho da magistral apresentação do Queen no Live Aid