segunda-feira, 26 de julho de 2021

Duro de Matar: Estátua do Borba Gato sobrevive e restauração será paga por empresário, diz prefeito de São Paulo

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, anunciou que a estátua a Borba Gato será restaurada, com os custos pagos por um empresário de identidade não divulgada. (Foto: Felipe Rau/Estadão)

Atacada por vândalos no sábado, 24 de julho de 2021, a escultura que homenageia o bandeirante nascido em Santo Amaro, foi vítima de uma facção autodenominada Revolução Periférica.

Os integrantes da facção aparecem em um vídeo distribuído nas redes sociais, onde fazem uma ameaça com os dizeres: “A favela vai descer e não será carnaval”.

Para o historiador Luiz Eduardo Pesce Arruda, é preciso compreender o passado segundo os valores da época em que tudo aconteceu.

“Eram outras as nuances e as motivações dos nossos antepassados no Brasil colônia de quatro séculos atrás”, diz Arruda.

Ele acrescenta: “Dissídios de opinião não se resolvem pela violência, estamos em uma democracia que agora começa a descobrir e compreender sua própria história.”


Uma técnica do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), vinculado à Secretaria Municipal de Cultura, acompanhou a limpeza da obra, que segue de pé.

Outras avaliações sobre o estado do monumento serão realizadas por especialistas para avaliar o custo e o tempo de duração do restauro.

“Só não vou dizer aqui quem é que pagará a restauração para não fazer propaganda da pessoa”, informou o prefeito paulistano.

O monumento foi inaugurado em 27 de janeiro de 1963, durante os festejos do IV Centenário de Santo Amaro. 

Naquelas comemorações, houve desfile de pessoas vestidas de bandeirantes e indígenas, com carros de boi e cavalarias.

Conheci e entrevistei o escultor Júlio Guerra cuja trajetória está em meu livro São Paulo de Todos os Tempos Vol. I.

Ele me contou na época que a estátua foi esculpida no quintal da casa dele, na Avenida João Dias.


“Acharam a estátua feia porque coloquei pedras de basalto e mármore, em vez de bronze”, me explicou na época, Júlio Guerra.

Segundo ele “utilizar bronze em monumentos faz lembrar cemitérios”.

O Borba Gato de Júlio Guerra tem 13 metros de altura e pesa cerca de 20 toneladas

A obra foi colocada sobre um pedestal revestido de granito rústico com 2 metros de altura.

Fotos da escultura foram feitas na casa de Júlio Guerra antes da instalação na Avenida Santo Amaro.





sábado, 24 de julho de 2021

Incêndio na estátua do Borba Gato demonstra a ignorância de um povo que não conhece sua história

Faz tempo que pessoas ignorantes atentam com maus olhos a estátua do Borba Gato, um bandeirante nascido em Santo Amaro.

Em julho do ano passado tentaram arrancá-la de onde ela está, mas não conseguiram.

Agora queimaram pneus em volta dela para assim destruir de vez uma escultura considerada feia, mas produzida com todo amor por Júlio Guerra que, igual a seus contemporâneos, considerava Borba Gato um herói.


Nascido em 20 de janeiro de 1912, quando Santo Amaro ainda era município, iniciou os estudos sobre a história do bandeirante ainda no curso primário.

Quando estudante na Escola de Belas Artes, Júlio Guerra prometeu a si mesmo esculpir uma estátua para homenagear aquele que ajudou expandir fronteiras além do Tratado de Tordesilhas.

Ainda bem que Júlio Guerra já não está mais entre nós, ele morreu em 2001 para não a ver a tremenda maldade que fizeram.

Os que praticaram este crime, sejam de direita ou de esquerda, merecem arder no fogo do inferno igual às chamas que consumiram a estátua.

São extremistas sem sentimentos que não conseguem enxergar a história com os olhos do coração.

Claro que Manuel Borba Gato não era santo, foi bandeirante em um tempo primitivo e de poucos recursos, mas em sua época não mais se escravizava índios, só se saia em busca de riquezas naturais.

Entrou para as bandeiras, após ter se casado com a quinta filha de Fernão Dias Paes, a quem acompanhou na expedição de 1674 em terras mineiras para procurar pedras preciosas.

Fernão Dias morreu vencido pelas febres, sem saber que as pedras que encontrara eram na realidade turmalinas de menor valor.

Garcia Rodrigues Pais, seu filho, encarregou-se de trazer os ossos do pai para São Paulo e sepultá-lo no Mosteiro de São Bento.

Borba Gato continuou pelo sertão onde fundou a cidade mineira de Sabará.

O historiador Paulo Setúbal, o chamava Borba Gato de capitão do mato “por ter ‘apaulistado’ o sertão”.

Os costumes e as sociedades mudam com o passar do tempo e nada de um período tão longínquo pode ser julgado com os olhos de agora, as circunstâncias e condições de vida eram outras.



Crimes de dano ao patrimônio público, estão previstos no Código Penal e podem resultar em detenção de seis meses a três anos, sendo inafiançável.

Os santamarenses botina amarela choram agora a segunda morte de Borba Gato e de Júlio Guerra.

 


 


 Adeus! Borba Gato.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Arquiteto planejou em 2013 edifício para substituir o tobogã no Estádio do Pacaembu

Em um texto deste blog comentamos a construção de um edifício-multiuso de cinco andares que virá no lugar do tobogã, dentro do Estádio do Pacaembu. A postagem tem sido comentada nas redes sociais, ainda bem. 

Entre as inúmeras participações dos leitores, a que mais me chamou atenção foi postada no Messenger pelo  arquiteto e urbanista Cristiano Schneider, CAU - A114788-9.

No ano de 2013 ele defendeu em seu TCC, na Universidade Mackenzie, o projeto de um edifício-ponte para o Estádio Paulo Machado Carvalho, em substituição ao tobogã, bem parecido com este da Allegra Pacaembu.

Cristiano contou na mensagem que a ideia para o seu Trabalho de Conclusão de Curso partiu dele mesmo, porque sempre olhou com carinho para os imóveis antigos que podem ser restaurados e se tornar mais belos ainda.

Na universidade, entretanto, alguns professores consideraram a proposta ousada demais, pelo fato do estádio já estar naquele tempo tombado pelo patrimônio histórico.

"Isto poderia servir de motivo para a banca examinadora reprovar a apresentação", argumentou um dos mestres a Cristiano.

Ele não desistiu da ideia, mas teve que preparar o projeto sozinho, sem a participação de nenhum colega de classe.

Para isso utilizou o Revit, um software que prepara o desenho e a modelagem em 3D, até então pouco conhecido no Brasil.

Seu orientador no TCC foi o professor do Mackenzie, José Geraldo Simões Jr e a monografia teve por título; “Estádio do Pacaembu e suas instalações: Novos usos a partir de antigos ideais”.

No dia da avaliação compareceram para compor a banca examinadora, além do orientador, as professoras de arquitetura Claudia Virginia Stinco e Regina Helena Vieira dos Santos, esta vinculada ao CONPRESP, órgão municipal responsável pelo tombamento dos bens culturais, naturais e históricos da cidade de São Paulo.

Durante a apresentação, as componentes da banca viram as maquetes por computador semelhantes a estas aqui postadas.

"Ao final da exposição, a professora Regina Helena se levantou e aplaudiu", contou Cristiano Schneider.

Em seguida a avaliadora comentou aos presentes que se alguma proposta daquele tipo chegasse ao conselho ela aprovaria, "porque o tobogã sempre foi a ‘parte estranha’, em relação ao projeto original", explicou.

Sete anos se passaram da monografia apresentada por Cristiano Schneider até a aprovação pelo CONPRESP do projeto apresentado pela Allegra Pacaembu, em 2020.

As definições do CONPRESP para a aprovação, foram as mesmas citadas no TCC pela professora Regina Helena. 

A deliberação tornou possível criar o atual projeto que dará um novo visual ao estádio inaugurado em 1940.

A proposta apresentada por Cristiano Schneider ficou tão boa, que seu TCC foi escolhido para concorrer no concurso Opera Prima, considerado o "Oscar" entre os estudantes de arquitetura e urbanismo.

Para este repórter, a história contada pelo leitor é motivo de orgulho, porque valoriza também o nosso trabalho e aumenta nossa credibilidade junto ao público.

Cristiano, assim como nós, observa a cidade com os olhos do coração e deseja para ela um futuro de modernidade sustentável e acessível para todos. 

Sobre isso, como jornalista e cidadão com  deficiência - PcD, tenho esperado da concessionária do estádio uma apresentação mais detalhada das acessibilidades disponíveis no prédio a ser construído no lugar do tobogã.

Por que não fazem isso? Seria bom para todos, inclusive para a Allegra Pacaembu. Transparência não faz mal a ninguém. 


Acima, um dos camarotes projetados por Cristiano Schneider.

Abaixo outros desenhos apresentados no TCC:








segunda-feira, 12 de julho de 2021

Conheça a história de Ibrahim Nobre, o primeiro a clamar por democracia no Brasil


8 de julho de 1932, no Largo da Sé o comício fervia indignação.

Corria de boca em boca a notícia que Oswaldo Aranha, porta – voz de Getúlio Vargas, encontrava-se em São Paulo, na Vila Kyrial, em Vila Mariana, residência de seu parente Freitas Valle.

Os manifestantes enfurecidos saem rumando para esse local.

O tribuno Ibrahim Nobre fala a seu amigo Menotti Del Picchia que o acompanhava: “Vamos pegar um carro e ir para lá”.


No relato que o autor de “Juca Mulato” fez ao poeta Paulo Bomfim, Ibrahim chegou quando o povo se preparava para arrombar os portões da histórica mansão.

Ibrahim então subiu em uma mureta e encostando o revólver na têmpora brada aos manifestantes: “Paulistas, se vocês mancharem as mãos num gesto de covardia eu me mato de vergonha!”

A multidão que o venerava, respeita sua voz e pouco a pouco vai se dispersando. O orador com aquele gesto salvara a vida do inimigo político, o futuro chanceler Oswaldo Aranha.

Anos mais tarde, o poeta indagou a Ibrahim Nobre o que haveria acontecido se sua ordem não fosse cumprida. “Eu teria me matado, porque há passos que não tem retorno”, explicou Ibrahim Nobre a Paulo Bomfim.

Assim era Ibrahim Nobre que quando promotor, a partir de 1930, bradava no Tribunal do Júri: "Acuso ditadura!"

"Plantava-se no Palácio da Justiça a semente da revolução que lutaria pela lei e pelos brios de nossa gente", explicou Paulo Bomfim ao lembrar o episódio em um evento da Academia Paulista de História,  na sede do CIEE, em 2014.


Aquele longínquo 8 de julho está sendo lembrado agora por este repórter tomado pela angústia neste 9 de julho de 2021, ao ouvir em alto e bom som, ofensas às instituições e à constituição cidadã de 1988 obtida após anos de lutas e sofrimentos. 

Cabe ao povo novamente impedir tamanho retrocesso que pode manchar o nome de nosso país como nação livre e democrática.

Aproveito para louvar a memória de Menotti Del Picchia, que cheguei a conhecer em idade avançada e  Paulo Bomfim, amigo que tanto me ensinou sobre os acontecimentos relativos ao movimento constitucionalista.

Tanto Paulo quanto Menotti, consideravam a Revolução de 1932 como "a pia batismal da democracia no Brasil." 





                               Menotti Del Pichia - 1932.



domingo, 4 de julho de 2021

Velho Pacaembu se despede, novo projeto valoriza acessibilidade mas precisa melhorar

Quero sugerir ideias, mas antes preciso explicar algumas diferenças.

Sou memorialista, sem ser saudosista, dá para entender?

Memorialista é a pessoa que recorda o passado e faz uso da memória para comparar situações do presente com acontecimentos do passado.

O saudosista, ao contrário, é aquele que sente saudades do que passou porque considera o passado melhor que o presente. Isto nem sempre é bom e não é o meu caso.

Fiz a comparação para explicar que não sou contra a modernidade.

O início da demolição do Tobogã, no Estádio do Pacaembu, veio para atender uma proposta de valorização de um lugar cheio de boas recordações e lembranças.

Um ponto de encontro de torcidas que leva o nome de Paulo Machado de Carvalho, o marechal da vitória nas copas de 1958 e 1962, merece todo nosso respeito. 

Existiu antes do Tobogã uma concha acústica destinada a shows e outros eventos culturais, pois a proposta inicial também era fazer do Pacaembu um espaço multiuso.

Houve a demolição e nunca mais tivemos outra concha acústica na cidade, nem mesmo nos parques públicos onde sobra espaço para atividades artísticas.

Na época, a finalidade foi a de erguer mais uma arquibancada para aumentar a capacidade do estádio para 30 mil torcedores para evitar superlotação nos jogos decisivos dos campeonatos de futebol.

Ao longo dos anos a torcida do Corinthians, principalmente, fez do Tobogã seu reduto para exibir os famosos bandeirões.

Naquele setor, o preço do ingresso era mais barato e havia aqueles que faziam questão de assistir somente de lá as partidas para analisar a disposição tática dos jogadores em campo.

Tudo isso mudou, a cidade ganhou novas praças esportivas e o Pacaembu ficou obsoleto e quase esquecido.

A Allegra Pacaembu assumiu o estádio em 2020 para revitalizá-lo. Ao se tornar concessionária por 35 anos, assumiu o compromisso de investir R$ 400 milhões em melhorias.

Para isso obteve o direito de promover alterações entre as quais erguer um prédio de cinco andares no lugar do antigo Tobogã.

Assim teremos restaurantes, lojas, escritórios, centro de convenções e eventos associados ao estádio de futebol.

No subsolo surgirá um grande estacionamento e do térreo será possível avistar o gramado.

Uma praça pública elevada irá conectar as ruas Desembargador Paulo Passaláqua e Itápolis.

Na paisagem por computador acima, temos a imagem do projeto original. Quando vi pela primeira vez achei horrível.

Há tantas edificações bonitas na cidade de São Paulo, porque não no Estádio do Pacaembu de tantas tradições?

O projeto foi então revisto, mas desculpem, continua feio. Agora está parecido a uma gaiola, a um engradado de madeira, mais parece uma construção inacabada repleta de andaimes. 

A parte da frente, vista das arquibancadas, ao que parecer, está em desarmonia com o restante da praça esportiva, é concretista demais.

Não sou arquiteto, sou jornalista, mas a fachada externa deveria ser mais atraente, cito como exemplo as obras do arquiteto Ruy Othake, responsável por mais de 300 obras no Brasil e no exterior.

Essa foto é de um shopping center em Brasília, o formato é arredondado por fora e lembra um pouco a concha acústica do Pacaembu, mas possui linhas retas por dentro. Claro que se trata de um exemplo, mas sugiro algo assim.

Quando vemos um prédio bonito, sentimos vontade de conhecê-lo por dentro. Cabe ao profissional de arquitetura unir beleza e comodidade aos ambientes. 

A empresa concessionária está garantindo que internamente, o projeto seguirá as normas do Desenho Universal, ainda bem.

Nem todos sabem, mas o Desenho Universal é uma proposta desenvolvida nos Estados Unidos, pela Universidade da Carolina do Norte.

Onde passa uma cadeira de rodas passará também todas as demais Pessoas com Deficiência - PcD e ainda idosos, cidadãos excessivamente obesos, etc. 

Claro que a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, já estabelece regras nesse sentido, mas há ainda reparos necessários que precisam ser feitos. Nesta vista do camarote oeste, a ser construído, as escadas da arquibancada aparecem sem corrimão.

O estádio é tombado pelo patrimônio histórico, mas corrimões não atrapalham a originalidade e ajudam as pessoas.

Escadas laterais no boulevard seguem sem alternativas. Por quê? Os elevadores onde estão e as escadas rolantes, por que não aparecem?

Não é implicância, tudo o que estou sugerindo são observações no intuito de colaborar, para que o projeto saia o melhor possível.

Ainda dá tempo, afinal, a proposta é deixar tudo pronto até 2023 e neste caminho novidades para melhor podem ser introduzidas.

Quero o bem do Pacaembu e de toda a cidade.

Ah! Nunca vi pessoalmente e nem sequer entrevistei o arquiteto Ruy Othake.