terça-feira, 26 de maio de 2020

A conclusão da viagem de Cabral às Índias e como foi a morte de Pero Vaz de Caminha, em destaque nesta edição

Atendendo a pedidos dos nossos leitores, traremos com detalhes o que aconteceu na viagem de Pedro Álvares Cabral às Índias, depois do descobrimento do Brasil.

A chegada em Calecute foi seguida de incidentes graves que resultaram na morte de Pero Vaz de Caminha, em 16 de dezembro de 1500.

Para quem não teve a oportunidade de ler a primeira parte dessa história em nossa postagem anterior, acesse: 

https://blogdogeraldonunes.blogspot.com/2020/04/foi-mesmo-pedro-alvares-cabral-quem.html

Pintura retrata como se dava a partida das expedições lusitanas às Índias, com o rei e o povo acompanhando de perto
Conforme explicamos, Pedro Álvares Gouveia não herdou o sobrenome do pai, porque não era o primogênito.

Este era um costume da época em Portugal, mesmo assim era por todos chamado carinhosamente de Cabral.

Nunca foi um navegador nato, sua escolha para comandar a expedição às Índias se deu por ser um chefe-militar.

Sua missão era estabelecer relações diplomáticas e comerciais com o Samorim, líder político e comercial de Calecute.

A cidade indiana é quem detinha o comércio mais importante das especiarias para a conservação de alimentos por parte dos europeus.

Pinturas retratam o Samorim de Calecute de maneira parecida a um sultão nas estórias das Mil e uma Noites

Como não havia condições naquele tempo de se alimentar o gado durante o inverno, a quase totalidade do rebanho era abatida.


A geladeira ainda não havia sido inventada e para a conserva da carne se usava pimenta, para disfarçar o gosto ruim de porções quase deterioradas.

Além desse outros condimentos como noz moscada, cravo eram canela utilizados.

Esses produtos só eram encontrados em terras indianas.

Havia entre os europeus a aquisição desses produtos por meio de um comércio cujo deslocamento era feito por terra sobre camelos.

O trajeto era longo, também conhecido como "A Rota de Marco Pólo".

Se atravessava o Oriente Médio e parte da Turquia até chegar a Constantinopla onde tudo era embarcado com destino a Veneza ou Florença.

Portugal e Espanha concorriam buscando alternativas para esse comércio, dando início à corrida marítima.

Uma parte da Rota de Marco Polo era marítima até o estreito de Hormuz, seguindo por terra até Constantinopla
A expedição de Cabral deixou Lisboa em 9 de março de 1500 para contornar a costa africana até alcançar as Índias.

A passagem pelo Brasil foi uma escala necessária para sacramentar o Tratado de Tordesilhas.

Após “descobrirem” o Brasil, uma das 12 embarcações do início do trajeto levando a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, Dom Manuel I.

Os originais da carta de Pero Vaz de Caminha ficaram esquecidos durante séculos na Torre do Tombo, em Lisboa
A escrita aponta que foram 10 dias maravilhosos em terras brasileiras, de 22 de abril e 2 de maio de 1500.

A carta transcrita para o português atual por Rubem Braga, em 1968, é rica em detalhes.

“...Enquanto andávamos nessa mata a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios por essas árvores e deles verdes e outros pardos, grandes e pequenos, de maneira que me parece que haverá muitos...algumas pombas-seixas, e pareceram-me bastante maiores que as de Portugal...

...alguns diziam que viram rolas; eu não as vi. Mas, os arvoredos são muitos e mui grandes, e de infindas maneiras, não duvido que por esse sertão haja muitas mais aves!

Pintura mostra a naveta de alimentos deixando a expedição rumo à Portugal com a carta de Pero Vaz de Caminha
O historiador Eduardo Bueno explica em “A Viagem do Descobrimento”, de1998, que Pero Vaz de Caminha não era o escrivão oficial da viagem.


Tal função cabia a Gonçalo Gil Barbosa relator dos diários de bordo da nau capitânia.

Caminha era na verdade o contador da expedição, ou seja, aquele que calculava e controlava os estoques de alimentos e outros utensílios.

Assim que chegassem a Calecute faria a contabilidade da feitoria ou armazém, uma espécie de entreposto de mercadorias que Portugal pretendia criar nas Índias.

Caminha, entretanto, pediu permissão para escrever a carta porque desejava o perdão do rei a um crime praticado por seu genro.

O marido de sua filha estava em degredo na Ilha de São Tomé, condenado por ter assaltado uma igreja e ferido um padre.

“A Vossa Alteza peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro, o que d'Ela receberei em muita mercê...

... Beijo as mãos de Vossa Alteza, deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, 1º dia de maio de 1500.”

“Comentários de que o autor da carta do descobrimento teria pedido ao rei, emprego para um parente, não são verdadeiros”, enfatiza o autor Eduardo Bueno em “Brasil, Terra à Vista”.

Pintura faz supor que Pero Vaz de Caminha leu a carta em voz alta para Cabral e o frei Henrique de Coimbra

Caminha não retornaria a Lisboa, foi morto em Calicute, quando a feitoria instalada por Cabral foi atacada por um exército árabe-hindu.

O rei, sensibilizado com a notícia de sua morte, atende o último desejo, livrando o genro do desterro em 1501.

Outro a morrer na expedição de Cabral é Bartolomeu Dias, no mesmo Cabo das Tormentas que conseguiu cruzar
Ao zarpar de Porto Seguro a frota de Pedro Álvares Cabral navegou pelo menos mais 1.000 km pela costa brasileira.

A riqueza dos contornos e a variada vegetação deixou a certeza de que não se não se tratava de uma ilha, mas de um imenso continente.

A esquadra enfim se afasta do litoral e em 23 de maio de 1500, já no Cabo das Tormentas, acontece uma horrível tempestade.

O desespero tomou conta dos tripulantes. “Se queres aprender a orar, faça-te ao mar”, seguiu-se à risca o velho provérbio português.

Cinco navios afundaram, morreram mais de 300 homens, entre eles Bartolomeu Dias.


Pouco representativo em sua época, por não ter sangue nobre, mas venerado pelos portugueses de hoje.

Em 1488, debaixo de um temporal que durou 10 dias, conseguiu passar da costa africana para o Oceano Índico.

Deu nome ao lugar o nome Cabo das Tormentas, mas o rei mandou mudar para Cabo da Boa Esperança, por acreditar que dali se iniciariam os bons negócios.

Em 30 de setembro de 1500 a expedição cabralina chega a Calecute no sul da Índia.

A riqueza da cidade deixa maravilhados os portugueses.

Pintura faz alusão ao primeiro contato dos portugueses com o Samorim por Vasco da Gama
O contato com o sumo mandatário de Calecute dessa vez seria feito por Pedro Álvares Cabral e a ele entrega uma carta.

Assinada pelo rei de Portugal e escrita em árabe, para que assim ele entendesse, a carta pede de modo gentil, autorização para se implantar uma feitoria.

Na mesma oportunidade, Cabral presenteia o líder político com moedas de ouro e prata, sedas e brocados em valor altíssimo.

Tudo o que foi entregue tinha valor muito superior ao apresentado por Vasco da Gama que teria oferecido, dois anos antes, somente potes de açúcar e azeite.

Por causa dos pobres presentes se acreditava que o Samorim teria desprezado os portugueses.

A princípio a ideia pareceu ter dado resultado, o líder político se mostrou feliz com os ricos presentes e autorizou Portugal instalar sua feitoria.

Ocorre que dias depois, um exército com mais de 300 soldados árabes e hindus ataca a feitoria matando cerca de 50 portugueses.

Nesse dia, 15 de dezembro de 1500, acontece a morte de Pero Vaz de Caminha.

Em consequência, Cabral manda bombardear Calecute, matando uma infinidade de pessoas.

A expedição portuguesa deixa o local e se dirige ao reino de Coxim, vizinho 200 quilômetros de Calecute.

Ali se consegue negociar mais facilmente com um rajá rival do Samorim e Portugal consegue finalmente, implantar sua feitoria.

De Coxim as embarcações conseguem zarpar superlotadas de volta a Lisboa, levando a bordo as tão sonhadas especiarias.

Cabral inicia viagem de retorno a Lisboa tendo alcançado seu objetivo, mas não receberia devido reconhecimento do rei

A viagem de retorno se inicia em 16 de janeiro de 1501 e uma das naus com excesso de peso encalha em um banco de areia.

Cabral manda incendiá-la, temendo que piratas se apossassem dela posteriormente.


Nessa altura eram apenas cinco navios, dos 13 que partiram de Lisboa, em 9 de março de 1500.

A armada dobra o perigoso Cabo das Tormentas, em 22 de maio de 1501 desta vez sem nenhum problema.

Uma outra nave ainda se perderia na costa africana durante o trajeto de volta.

O desembarque em Portugal acontece no dia 22 de julho de 1501, ainda assim com um lucro que chegou à casa dos 800%.

Os banqueiros de Gênova e Florença, financiadores da expedição comemoram e o rei Dom Manuel anuncia uma nova viagem.

A essa expedição ele daria o nome de Esquadra da Vingança.

Cabral se apresenta para comandá-la, mas o rei decide escolher Vasco da Gama como capitão oferecendo a ele um segundo posto.

Vasco da Gama contava com as preferências do rei de Portugal pelos dotes de navegador, ao contrário de Cabral, um militar
O descobridor do Brasil reclama, afinal, alcançara o objetivo proposto.

Dom Manuel se surpreende com a atitude e determina a Cabral o afastamento da corte e que passe a viver isolado, numa espécie de prisão domiciliar.

Fixa então moradia em Santarém, em terras pertencentes a Isabel de Castro, sua esposa.

Ela sim, exercia influência na corte por ser neta e bisneta de reis e rainhas de Portugal e Espanha, sem no entanto conseguir livrar o marido de tão grande punição.

Não se sabe ao certo o que Pedro Álvares Cabral teria dito a Dom Manuel para desagradá-lo tanto.

Estabelecem moradia no Castelo de Belmonte, mandado construir por Álvaro Gil Cabral, ancestral da família que deu origem ao sobrenome.

Álvaro Gil Cabral é considerado um dos heróis da Batalha de Ajubarrota que livrou Portugal do jugo castelhano, em 1385
Após chegar às Índias, o descobridor do Brasil contraiu a malária e nunca mais se livrou dos efeitos da doença.

Ainda não havia a cloroquina para o combate dessa doença, vejam só.

Com isso e cometido de febres frequentes. Pedro Álvares Gouveia morre em 1520, aos 52 anos sem as honrarias que se fez merecedor.

Foi enterrado na Igreja da Graça de Santarém, mas durante anos se acreditou que ali existisse somente o túmulo da esposa dele.

Cabral só voltou a ser lembrado quando Dom Pedro II, já no século 19, determinou que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro levantasse fatos relativos ao descobrimento do Brasil.

O historiador Francisco Adolfo Varnhagen, encarregado de atender esse pedido, se deslocou a Lisboa.

Foi ele quem localizou o túmulo de Cabral e desengavetou a íntegra da carta de Pero Vaz de Caminha.


A exumação do corpo de Cabral aconteceu em 1871 quando então se constatou ter ele, 1 metro e 90 de altura, algo raro na época em que viveu.

Em seu tempo, a estatura média era de 1 metro e 60.

Em 30 de dezembro de 1903, uma parte do seu esqueleto foi trazida para o Brasil, outra parte continua em Portugal.

O esquife que pode ser visitado na Igreja do Carmo, do Rio de Janeiro.

No mapa aparece em vermelho o trajeto de ida, iniciado em março de 1500 e a viagem de volta, concluída em julho de 1501

Livros: Brasil, Terra à Vista e Viagem do Descobrimento – Eduardo Bueno. Nau Capitânia – Walter Galvani. Canal Buenas Ideias – YouTube.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

A pandemia e o medo, empresários temem quebrar: Como seria se o Barão de Mauá ainda estivesse entre nós?

Pessoas com firmeza de caráter igual a Irineu Evangelista de Sousa, parecem estar em falta no Brasil de hoje.

Elas até existem, mas são poucas.

Precisamos de mais gente com a coragem do Barão que depois se tornou Visconde de Mauá.

Retrato do rosto de Irineu Evangelista de Sousa no dia da condecoração em que passou de barão para visconde



No Brasil a busca de soluções imediatas sempre existiu e se deve ao fato dos empresários pensarem no curto prazo.

O que faria o maior empresário brasileiro do século 19 se estivesse enfrentando uma pandemia como essa do mundo atual?

Para obter a resposta contaremos um pouco da sua história.

Dono de ideias avançadas para a sua época, Mauá causava inveja aos outros empresários e aos políticos

Nascido em 1813, viveu até quase a Proclamação da República.

Em nenhum momento de sua vida recorreu ao uso da mão de obra escrava, permitida em seu tempo.

Ele trouxe para o Brasil a indústria naval e as estradas de ferro com ajuda, é claro, de bancos estrangeiros.

Manteve parcerias com o governo, mas poderia ter feito muito mais não fosse o pensamento extremamente conservador de outros empresários.

A questão do comodismo entre alguns apaniguados da corte começou com a família real portuguesa que desembarcou no Brasil em 1808.

Vieram junto muitos bajuladores, mas quando Dom João VI decidiu voltar, alguns permaneceram pelo fato de terem adquirido terras ou aberto negócios no comércio.

Com Dom Pedro II, na hora do aperto, recorriam ao imperador que assim mantinha tutela sobre eles, era o jogo de sempre.

Os fazendeiros viam como essencial para a lavoura manter a escravidão pela falta de mão de obra para o plantio e colheita.

A cada safra o resultado era o mesmo, boa parte dos lucros era gasta na importação de bens de consumo para a ostentação do luxo e riqueza.

Só pensavam em lucrar e não em investir.

Foto provavelmente tirada no Reino Unido mostra o rosto de Richard Carruthers, o mestre do Barão de Mauá

Irineu Evangelista de Sousa, perdeu o pai quando tinha cinco anos de idade, numa contenda por terras no Rio Grande do Sul.

Sua mãe, pouco tempo depois, se casou novamente. A irmã mais velha, também se casou com a idade de 13 anos.

Coube ao jovem assim que completou 11 anos se mudar para o Rio de Janeiro, indo morar na casa de um tio.

Conseguiu emprego no escritório do comerciante escocês, Richard Carruthers, dono de uma empresa de importação e exportação.

Carruthers explicou que para trabalhar em sua empresa era preciso aprender falar em inglês, e lá se pôs o jovem a estudar.

O escocês disse também que os negociantes brasileiros pensavam de modo atrasado em relação ao que já acontecia na Europa, onde a industrialização fervilhava.

Irineu Evangelista de Souza ao visitar as indústrias do reino unido voltou ao Brasil maravilhado

Cansado de assistir ao círculo vicioso das relações entre governo e o empresariado, Carruthers decidiu retornar à sua terra natal.

Propôs ao jovem funcionário que assumisse seus negócios no Brasil, mas para isso era preciso antes visitar o Reino Unido.

Objetivo era fazer o rapaz entender como funcionavam as relações empresariais em um ambiente desenvolvimentista.

Irineu estava com 24 anos quando visitou Londres pela primeira vez e voltou convencido que o futuro do desenvolvimento caminhava junto com a industrialização.

Comprou ações e passou a fazer empréstimos junto aos bancos para dar início ao ousado projeto de industrializar o Brasil.

Implantou primeiro a indústria naval levando para seus estaleiros mais de mil operários, todos eles assalariados.

Além das embarcações suas empresas passaram a fabricar caldeiras para máquinas a vapor.

Guindastes, prensas, armas e tubos para encanamentos de água começaram a ser fabricados e logo adquiriu um banco.

Expandiu seus negócios também para o Uruguai e Argentina.

Mauá levou Dom Pedro II para visitar o estaleiro, depois deu uma pá para que assentasse o primeiro dormente da ferrovia 

Surgiram então os invejosos e dizem, até mesmo o imperador passou a não ver com bons olhos, as ousadias do jovem empresário.

Mesmo assim, em 1854, concedeu a Irineu Evangelista de Sousa o título nobiliárquico de barão.

A escolha pela alcunha Mauá veio de uma das estações da primeira linha férrea construída por ele, entre o Rio e Petrópolis.

Não bastasse, implantou na capital do Império uma companhia de gás destinada à iluminação pública.

Depois levou a navegação a vapor para o Rio Amazonas.

Réplica de um barco a vapor do século 19 navegando na região Amazônica como nos tempos do Barão de Mauá

Participando como sócio, Mauá ajudou trazer ao Brasil a São Paulo Railway que implantou a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.

Uma avançada obra de engenharia, o sistema funicular, possibilitou a subida da Serra por trilhos na ligação entre Cubatão e Paranapiacaba.

Os vagões eram puxados por cabos de aço ligados a uma locomotiva fixa, também chamada locobreque.

Foto atual mostra equipamentos recuperados da São Paulo Railway para visitação em Paranapiacaba

Por iniciativa do Barão de Mauá, o Brasil instalou ligação telegráfica com a Europa por cabos submarinos, uma inovação que surgiu a pedido de Dom Pedro II.

O investimento saiu caríssimo e o lucro financeiro ficou abaixo do esperado, mas com a obra ele obteve o título de Visconde.

Agências do Banco Mauá no Rio, Montevidéu e Buenos Aires fizeram de seu principal acionista um precursor do Mercosul

Irineu Evangelista de Sousa foi o homem mais rico do país em seu tempo

Sua fortuna seria equivalente hoje a US$ 80 bilhões, valor considerado acima do orçamento da nação em sua época.

Entrou para a vida pública, foi parlamentar liberal e abolicionista.

Contrário à continuidade da Guerra do Paraguai, após Uruguai e Argentina terem deixado o conflito, considerava a questão resolvida.

Dom Pedro insistiu na deposição de Solano Lopez e manteve o Brasil na guerra.

Disso se aproveitaram os adversários para fustigar Mauá junto ao imperador.

Suas fábricas foram alvo de sabotagens criminosas e seus negócios no Brasil, abalados pela legislação que sobretaxava a importação de insumos, entraram em declínio.

Os bancos pertencentes a Mauá tanto no Brasil, quanto no Uruguai e Argentina quebraram.

Deixou a política para se dedicar inteiramente aos negócios.

Precisou vender a maioria de suas empresas a capitalistas estrangeiros, como forma única de quitar suas dívidas.

Chegou ao final da vida ainda tendo algumas posses, desmentindo versões de que teria morrido à míngua.

Retornou para o Rio Grande do Sul onde manteve terras e morreu vitimado pelo diabetes, aos 76 anos, em 21 de outubro de 1889.

A data coincide com o baile da Ilha Fiscal, último evento oficial da Monarquia no Brasil.

Não chegou ver a proclamação da República.

Foi casado com Maria Joaquina Machado, sua sobrinha e teve com ela 18 filhos.

No filme dirigido por Sérgio Rezende: Mauá, o Imperador e o Rei, Paulo Betti interpreta o papel principal e contracena com Malu Mader.


A vida do Barão e Visconde de Mauá foi retratada em obra magistral do cinema brasileiro 


No início perguntamos como agiria Irineu Evangelista de Sousa se estivesse entre nós enfrentando o coronavírus e suas consequências. Você já tem a resposta?

Pelo que lemos a seu respeito, a conclusão é que agiria com a honestidade que o caracterizou, combatendo com fibra todas as dificuldades, não se comportando como um bajulador.

Falta ao País de hoje pessoas que façam investimentos pensando no lucro de suas empresas e em avanços para a sociedade e ao país como um todo.

O Barão-Visconde de Mauá faz falta!

Para saber mais assista o filme:




Leitura recomendada: Mauá, Empresário do Império – Jorge Caldeira – Companhia das Letras - 1995

terça-feira, 12 de maio de 2020

Abolição da Escravatura e suas semelhanças com os dias atuais


A empresa Royal African Company, fundada por ingleses em 1672 deteve para si o monopólio do comércio de escravos em todo o mundo durante quase 80 anos.

A Revolução Industrial, iniciada no século 18, fez a Inglaterra mudar radicalmente de posição em relação ao que fazia antes.

Percebendo que era mais lucrativo para os seus negócios remunerar os empregados em vez de mantê-los em cativeiro, tratou de pressionar outras nações para que fizessem o mesmo.

O Brasil seguia sendo um país exclusivamente agrícola e não havia por parte dos fazendeiros ou donos de engenho nenhum interesse em se acabar com a escravidão.

Por isso a Lei Áurea veio tão tarde, somente em 13 de maio de 1888, muito depois do início da Revolução Industrial.

Ainda assim, para que acontecesse foi necessário muito empenho por parte dos liberais abolicionistas e republicanos da época.

A assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel na pintura em óleo de Victor Meirelles em 1888
A Lei Áurea, por sua vez, colocou indiretamente um fim à monarquia porque os fazendeiros queriam ser indenizados por terem libertado seus escravos.

O Império não tinha como pagar e estes se juntaram aos republicanos e militares pondo fim ao reinado exercido por Dom Pedro II durante 48 anos.

Perceberam como é a política? Os fazendeiros não se davam com os liberais, mas se juntaram para derrubar o governo e proclamar a República.

Fazendeiros, liberais republicanos e militares unidos em um mesmo interesse: Se ver livre da Monarquia
Se você acha importante o legado deixado para o Brasil pelo movimento abolicionista do século 19, reflita bastante porque a situação agora é parecida.

Em pleno século 21 direitos conquistados estão se perdendo em nome de uma suposta garantia de emprego, embora demissões sigam acontecendo.

A postura humanitária dos republicanos de outrora, também está sendo colocada de lado, especialmente quando vemos pessoas saindo em carreatas para pedir o fim do isolamento social causado pela pandemia e a volta da ditadura e do AI-5.

Se postas em prática para que serviriam essas resoluções drásticas de um passado sombrio?

A Lei Áurea propunha um Brasil para o futuro e não uma volta ao passado.

Charge postada na internet exprime aquilo que pode ser o pensamento de alguns setores
Acredito que nenhum parente dessas pessoas que se mostram interessadas em “salvar a economia” tenha morrido de coronavírus.

Mãe, pai, filha, irmã não estão doentes. Em situação oposta - talvez - o pensamento fosse outro.

“A parte do corpo humano que mais dói é o bolso”, me disse certa vez um professor de economia que entrevistei.

Talvez esse seja o real motivo da postura de alguns diante da pandemia.

A preocupação com o dinheiro é mais importante que a proteção à vida?

O posicionamento dos participantes das últimas manifestações se assemelha politicamente ao de analfabetos funcionais
A comunidade negra deveria se lembrar com mais carinho do 13 de maio.

Nada contra o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, que simboliza Zumbi dos Palmares um líder em defesa da liberdade.

Só que a abolição da escravatura veio de uma mobilização nacional, de forma parecida ao movimento pelas Diretas Já, em 1984.

Assim como a Lei Áurea, a mobilização pelas eleições diretas para presidente fez mudar um sistema político.

Como no tempo dos abolicionistas, o povo saiu às ruas em 1984 por um objetivo definido: Eleições Diretas para Presidente
Meu apelo é para que todos reflitam sobre a importância da abolição da escravatura e seu significado para este ano tão difícil de 2020.

Um povo que não conhece sua história costuma repetir erros do passado e pedir de volta coisas que nem sabe direito para que serviam.

Vamos refletir e parar de agir feito gado. Lembrem-se: A massa não conduz, é conduzida e muitas vezes por aqueles que atuam somente em benefício próprio.

E agora viaje na história através dessas imagens.

Negros provenientes de tribos africanas em guerra eram trazidos em navios com péssimas condições de higiene
Depois de vendidos em praças públicas como animais em feiras livres, escravos que recusassem trabalhar eram espancados

Cartaz comemorativo de 1888 apresentava o branco e o negro em cena inusitada para a época
A imprensa tão criticada por alguns nos dias de hoje era motivo de orgulho para a nação por representar avanço tecnológico



sexta-feira, 8 de maio de 2020

Por causa da pandemia governo paulista sugere nova data para o Dias das Mães: Você concorda?


O isolamento social ocasionado pela pandemia vai impedir o encontro de muitos filhos com suas mães.

Aquelas com mais idade estão no grupo de risco e nem pense em quebrar a quarentena.

Melhor ficar sem ver a mamãe mais alguns dias do que perdê-la de vez.

Só quem já perdeu a companhia de uma mãe consegue avaliar com exatidão o quanto ela é importante na vida das pessoas.

Buscando uma atenuante o governo paulista sugeriu ao comércio que a data comemorativa este ano, passe para o mês de agosto.

Os comerciantes não gostaram da ideia: a mudança coincide com o Dia dos Pais e existe o risco de nem todos terem como gastar com presentes para os dois de uma só vez.

De todo limão se pode extrair uma limonada.

Assim, o bom é pensar na possibilidade de se homenagear as mães duas vezes neste ano de 2020 que já se mostra tão difícil.

Será um motivo para festejar e afinal de contas, elas merecem.

A tecnologia permite ver e conversar com as mães pelo Skype ou Whatsapp, só a entrega do presentes será adiada
As mães dedicam todo seu amor aos filhos e fazem tudo para agradá-los

Sofrem com nossos sofrimentos e querem que estejamos sempre bem.

Das mães que se foram ficam as lembranças das homenagens que fizemos e das que deveríamos ter feito.

Silhueta de uma mãe e filho em um por do sol, nada mais singelo
Homenagens às mães acontecem desde os tempos mais antigos. 

Povos da Grécia faziam  comemoração à mãe dos deuses, Reia.

Na Idade Média os trabalhadores que moravam longe de suas famílias ganhavam um dia para visitar suas mães.

Reia, a mãe dos deuses
Os britânicos deram o nome “mothering sunday” para o Dia das Mães, comemorado no quarto domingo da Quaresma, geralmente faltando três semanas para o domingo de Páscoa, geralmente na segunda metade do mês de março ou no início de abril.

Os britânicos comemoram seu Dia das Mães em uma data diferente da nossa e não são apenas eles
Mãe não é só a que dá luz a um filho, mas também aquela que cria uma criança como se fosse dela própria, com amor, carinho e proteção.

O Dia das Mães aquece o comércio no mundo todo e em datas diferentes de acordo com os costumes de cada pais.

Na Noruega as saudações acontecem no segundo domingo de fevereiro e, na África do Sul e em Portugal, no primeiro domingo de maio.

Já na Suécia, o quarto domingo de maio é dedicado às mães e no México a data é fixa, dia 10 de maio.

Os tailandeses preferem o dia 12 de agosto, aniversário da rainha mãe, Mom Rajawongse Sirikit, nascida em 1932 para saudar todas as mães.


Ela é a segunda rainha regente da Tailândia e com o mais longo reinado

No Brasil, assim como nos Estados Unidos, Canadá, Japão, Turquia e Itália, a data é comemorada no segundo domingo de maio.

Em nosso país o Dia das Mães surgiu por iniciativa da Associação Cristã de Moços - ACM, em maio de 1918. 

A data só foi oficializada em 1932 pelo então presidente Getúlio Vargas.

Nos tempos do jornal O Pasquim, cartoons sempre lembravam o dia das mães
Certa vez, fui ao lançamento de um livro do cartunista Henfil. 

Enquanto autografava, uma senhora se mantinha sentada ao lado dele. Perguntei quem era. Ele respondeu: “Dona Maria, minha mãe”.

Foi na época em que um dos filhos dela estava exilado, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.

Lembrei desse acontecimento esses dias em razão do falecimento do compositor Aldir Blanc que fez uma música o ela é citada.

“...Chora a minha pátria-mãe gentil, choram Marias e Clarices no solo do Brasil”...

Achei aquilo tudo tão lindo que resolvi fazer a mesma coisa quando lancei o meu livro São Paulo de Todos os Tempos.

O lançamento aconteceu na Casa das Rosas, na Avenida Paulista, para um público recorde. Quem foi pode constatar.

Coloquei a minha mãe, também chamada Maria, sentada à minha direita, na noite de autógrafos.

Muita gente ficou conversando com ela e eu observando o sorriso radiante dela por causa do carinho das pessoas em um momento sublime.
.
Acredito ter retribuído pelo menos um pouco do tanto que ela fez pelo meu crescimento físico, social e moral.

Na infância e adolescência fiz travessuras que a desagradaram e na vida adulta tomei atitudes que certamente a entristeceram.

Como todo filho tanto causei orgulho a ela, nas formaturas, nas premiações, etc.

Busquei dentro do possível, colocá-la em destaque como na noite de entrega da Medalha Anchieta e Diploma da Gratidão da Cidade de São Paulo, na Câmara Municipal.

Houve depois a noite de autógrafos já citada e as fotos ali registradas não se perderam, mas guardadas em algum pen drive.

A Casa das Rosas guarda consigo o glamour dos antigos casarões da Avenida Paulista e requisitada para eventos culturais
 Nos momentos mais difíceis pelos quais passei na vida, nas inúmeras tardes de fisioterapia me recuperando das sequelas da poliomielite ou das tantas cirurgias que passei, lá estava ela me ajudando, chorando junto e rezando.

Ríamos também comentando as novelas da televisão, os programas infantis e de auditório. 

Deveria ter ficado mais perto dela depois que me senti menino crescido.

Nos dias que antecederam sua partida, eu tinha que trabalhar e quando cheguei ela já estava indo embora.

Certeza é que um pedaço da minha alma foi junto.

Por isso tenho certeza: Em nossos corações, todas as mães estarão sempre vivas.

Maria Aparecida: Mãe do Geraldo, Bernadete e Vicente