sábado, 24 de outubro de 2020

Pelé 80 Anos: O Rei trabalhou em novela e seu primeiro carro foi um Fusca

Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, completou 80 anos de vida em 23 de outubro de 2020.

A efeméride teve repercussão mundial, porque Pelé é ainda hoje o brasileiro mais conhecido do planeta.

Conta o jornalista Wanderley Nogueira que a Rede Globo quis testar, certa vez, a popularidade do rei do futebol.

Pediram a ele que caminhasse sozinho em uma rua de Nova York, para se saber quanto tempo levariam para reconhecê-lo.

Em apenas 8 segundos o reconheceram como sendo Pelé.



O maior atleta do século 20, foi assunto também na Live Semanal, da Academia Paulista de Jornalismo - APJ, realizada nas sextas-feiras às 16 horas, com transmissão ao vivo pelo Facebook.

Durante o encontro sob a mediação de Luiz Fernando Magliocca, a jornalista Regina Helena Paiva Ramos, contou uma história interessantíssima.

“Além de filmes, o Pelé chegou a participar de uma novela transmitida em São Paulo pela TV Excelsior, no ano de 1969”, disse ela.



A Pró-TV – Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira, confirmou a informação, emitindo a seguinte nota:

“No final dos anos 60, com as viagens da Apolo à Lua, o tema "espacial" estava na moda. Ivani Ribeiro, sempre disposta a buscar temas diferentes para suas novelas, criou para a Excelsior "Os Estranhos".  

Um escritor que vivia em uma ilha, recebe a visita de seres do planeta Gama Y-12, onde tudo era uma maravilha, sem problemas, sem conflitos.

A missão dos visitantes consistia em ajudar os humanos a encontrar a paz. Conseguirão?

A novela foi ao ar de março a julho de 1969, às 19h30, com direção de Gonzaga Blota e Gianfrancesco Guarnieri.

Pelé, foi contratado pela emissora para fazer o papel do escritor. No elenco estiveram:

Regina Duarte - Melissa

Rosamaria Murtinho - Dioneia

Vida Alves - Irene

Cláudio Corrêa e Castro - Radamés

Márcia de Windsor - Walkíria Galvão

Roberto Maya - Emanoel

João José Pompeo - Tibério

Márcia Real - Ofélia

Osmar Prado - Tony

Gianfrancesco Guarnieri - Bernardo

Átila Iório - Calebe

Stênio Garcia - Daniel

Lídia Costa - Madalena

Serafim Gonzalez - Baltazar

Lucy Meirelles - Judite

Sílvio de Abreu - Dr. Valentim

Cleyde Blota - Marta

Alexandre Araújo -

Marcus Toledo- Décio

Ana Maria Neumann, Carlos Zara, Josmar Martins, Mário Guimarães, Osmano Cardoso e Vera Nunes também tiveram participação na novela.



Outra curiosidade inusitada sobre o Rei Pelé, trazida pelo Fusca Clube do Brasil, é que primeiro carro da vida dele foi um modelo Volkswagen.

O carro vindo direto da fábrica da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, foi entregue ao Rei do Futebol pelo funcionário Walter Herbert, gerente de um galpão da Volkswagen, em Santos.



Conheça a Academia Paulista de Jornalismo – APJ: https://www.facebook.com/groups/156551388371271/

Ouça em uma narração virtual o gol mais bonito de Pelé

https://soundcloud.com/geraldo-nunes-784956074/gnunes-0808-a-gol-virtual-rei-1


Assista como se deu a ida de Pelé para o New York Cosmos



 

 

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A eleição de 1982, as Diretas Já e o Brasil de hoje

Convido as pessoas que estão acompanhando esta série de textos em meu blog sobre as eleições no Brasil, para que reflitam comigo neste último capítulo.

Inegável que durante o regime militar (1964-1985) houve desenvolvimento e crescimento econômico. Um exemplo é a reformulação do ensino superior que permitiu o acesso de mais pessoas às universidades. Além disso obras importantes como a Ponte Rio-Niterói e a Usina Hidrelétrica de Itaipu, foram realizadas com sucesso.

Por outro lado, eram tempos agitados de enfrentamento parte a parte, entre governo e grupos armados contrários ao regime. A consequência foi um número elevado de mortes em ambos os lados e ainda, prisões e exílio para milhares de brasileiros, além de repressão e torturas.

Foi um passado difícil e que felizmente ficou para trás. Neste caso a melhor coisa é não ser saudosista. 

Viver em uma democracia também é complicado, mas tenha certeza de uma coisa; estamos em uma situação melhor que nos "anos de chumbo", graças ao direito da liberdade de expressão. Nos tempos do regime militar, um texto simples e didático igual a este seria censurado, com toda a certeza.

Neste aspecto peço a atenção de todos. O importante é pensar no futuro. O que planejar para o Brasil até 2030 ou 2040?

Tentar repetir o passado é retrocesso, até porque, "nada será como antes, amanhã", diz uma canção na voz de Milton Nascimento.



O mundo atual em nada se assemelha ao que tínhamos entre as décadas de 1960-1970, por exemplo, vivíamos a guerra fria entre americanos e soviéticos e os Estados Unidos precisava da América Latina a seu lado, hoje as preocupações norte-americanas são outras.

Nossa série sobre as eleições foi preparada para coincidir com o início das campanhas eleitorais para a escolha dos novos prefeitos em todo o país. O voto direto e secreto legitima a nossa constituição e por conseguinte a nossa democracia.

A intervenção militar no Brasil, em 1964, livrou o país de uma situação insustentável diante de um governo fraco e indeciso, mas aos poucos foi se transformando em uma ditadura, por suprimir direitos, entre os quais o voto direto.

As eleições presidenciais que aconteceriam em 1965 foram canceladas. Depois os partidos políticos existentes acabaram extintos. 

Duas siglas foram criadas para abrigar situação e oposição: Aliança Renovadora Nacional - Arena e Movimento Democrático Brasileiro - MDB, respectivamente.

A constituição de 1946 foi substituída por outro texto promulgado em 1967, mantendo de fora as eleições presidenciais, de governadores dos Estados e de prefeitos das capitais, além dos municípios considerados de segurança nacional: Santos, Cubatão e Paulínia.

O voto direto foi substituído por um Colégio Eleitoral formado por congressistas, eleitos pelo povo, que por sua vez passaram a eleger os presidentes que o governo indicava, sempre generais.

Nas assembleias legislativas, os deputados estaduais votavam para a escolha dos governadores. Sempre havia um nome indicado pelo presidente da República para cada Estado e era este o vencedor. Cabia depois ao governador eleito pelos deputados, escolher o prefeito de sua capital.



Assinado em uma sexta-feira 13, no mês de dezembro de 1968, o Ato Institucional n°5, impôs a repressão para qualquer tipo de manifestação em praças públicas ou recintos fechados e determinou a censura nos meios de comunicação, incluindo não só os jornais e revistas, mas também as rádios, as TVs, cinemas e teatros.

O AI-5 veio em um momento de conturbação política causado por manifestações estudantis de rua e ações consideradas subversivas. Cerca de 1.400 pessoas foram presas, cassadas politicamente que passaram na maioria a viver no exílio.

Nem todos os cassados tinham engajamento nos movimentos de esquerda. Faziam sim, oposição ao governo, mas os militares costumam confundir adversários com inimigos e o ponto de vista dos que comandavam o governo prevaleceu.

O AI-5 vigorou durante 10 anos, foi extinto em dezembro de 1978, no governo do presidente Ernesto Geisel, após pressões da sociedade civil com o apoio de uma parte do Congresso Nacional ligada ao MDB.

Fazia parte dessa ala do Congresso, o deputado federal Ulysses Guimarães, além dos senadores Franco Montoro, Tancredo Neves e outros líderes de oposição.

O presidente da República, Ernesto Geisel, em 1° de abril de 1977, fazendo uso de suas prerrogativas constitucionais, fechou o Congresso Nacional.

Durante os 14 dias em que Senado e Câmara paralisaram seus trabalhos, o governo elaborou uma série de medidas para garantir maioria no Poder Legislativo, em especial no Senado.

Entre as medidas do Pacote de Abril, estava a eleição indireta para um terço dos senadores, que seriam indicados pelas respectivas assembleias estaduais.

Mesmo sob censura, a imprensa e a população apelidaram os novos parlamentares de "senadores biônicos".  Assim, no ano seguinte, 23 não eleitos pelo povo tomaram posse. A Arena ganhou 15 cadeiras e o MDB 8.

Com os "biônicos", os votos favoráveis ao governo passaram para 38 contra 8, uma vitória esmagadora.

Assim mesmo, o regime seguia pressionado cada vez mais pela opinião pública, levando o presidente da República a dar início a uma abertura política lenta, gradual e segura. 

Ernesto Geisel manteve o processo nas mãos, em outubro de 1977, ele afastou as pretensões sucessórias de seu ministro do Exército, o general Sylvio Frota, integrante de uma ala do exército contrária à abertura.

Frota foi demitido sumariamente, ficando aberto o caminho para a volta da normalidade institucional ao país.

A Lei Falcão, batizada com o nome de seu autor, o então ministro da Justiça, Armando Falcão, proibia o debate nas campanhas eleitorais ao legislativo pela TV e no Rádio. Eram apenas exibidos os "santinhos" com o respectivo nome e número. 

Esta lei foi extinta para que as eleições diretas para a escolha de governadores, no ano de 1982, acontecessem da forma mais democrática possível. A decisão permitiu a volta dos debates entre os candidatos.

A abertura política também permitiu a implantação de uma anistia ampla, geral e irrestrita, garantindo assim a volta dos exilados políticos ao Brasil.

O vitorioso do pleito histórico de 1982, no Estado de São Paulo, foi o senador André Franco Montoro, do MDB, eleito com mais de 5 milhões de votos.



Com o pluripartidarismo restabelecido, Montoro teve como adversários na eleição; Reynaldo de Barros (PDS), Jânio Quadros (PTB), Luiz Inácio Lula de Silva (PT) e Rogê Ferreira (PDT).

Logo após sua posse, em uma edição do programa de televisão Canal Livre, da Rede Bandeirantes, o senador alagoano Teotônio Vilela, defendeu a organização de uma série de comícios pelo País, pedindo a volta das eleições diretas para presidente da República.  

A sugestão foi abraçada pelo governador Franco Montoro que organizou o primeiro comício para que as eleições presidenciais se tornassem realidade.

Tramitava no Congresso uma proposta de emenda constitucional apresentada pelo deputado federal, Dante de Oliveira (MDB-MS), restabelecendo as eleições para presidente da República, em 15 janeiro de 1985.

O primeiro comício por eleições diretas para presidente se deu um ano antes, na Praça da Sé, em 25 de janeiro de 1984.

Na data de aniversário dos 430 anos de fundação da cidade de São Paulo, compareceram ao marco zero mais de 250 mil pessoas reivindicando ao lado de políticos e artistas, a volta das eleições presidenciais.

O movimento ganhou o nome Diretas Já e o maior de todos os comícios aconteceu também em São Paulo, em 26 de abril de 1984, no Vale do Anhangabaú, reunindo mais de 1,5 milhão de pessoas.



Ao todo foram 32 comícios Brasil afora, pela aprovação da emenda Dante de Oliveira. Mesmo assim a matéria foi rejeitada em sessão conjunta da Câmara e do Senado, em 25 de abril de 1984.

Embora derrotado na votação, o movimento das Diretas Já saiu vencedor em seus ideais, pelo fato da maioria do Colégio Eleitoral ter votado em Tancredo Neves, para fazer dele o primeiro presidente civil eleito no Brasil depois de 1964.

A posse de Tancredo Neves aconteceria em 15 de março de 1985, mas por problemas de saúde, na véspera da posse, precisou ser internado e a faixa presidencial foi entregue ao vice-presidente, José Sarney.

O presidente João Batista Figueiredo se negou a entregar a faixa para Sarney por achar a medida inconstitucional. Mesmo assim aceitou devolver o poder aos civis de maneira pacífica.

Terminava o regime militar sem nenhum tiro, graças a Deus.



A morte do sucessor eleito aconteceu, em 21 de abril de 1985, no Instituto do Coração, em São Paulo, após 7 cirurgias por complicações múltiplas no aparelho digestivo.

Durante o governo Sarney foi convocada uma Assembleia Nacional Constituinte que redigiu a atual Carta Magna, promulgada em 5 de outubro de 1988, a chamada Constituição Cidadã.

Esta mesma constituição assegurou, em 28 de outubro 2018, a vitória nas eleições e a posse de Jair Bolsonaro como presidente da República, através do voto da maioria da população.

Agora se faz importante defender a continuidade da atual Constituição para assegurar a continuidade da democracia no Brasil conquistada a duras penas. Faço parte da população que foi às ruas pedindo Diretas Já e considero inadmissível qualquer tipo de retrocesso.

Como disse certa vez Winston Churchil, "a democracia é o pior dos regimes, mas não há nenhum sistema de governo melhor."

Neste ano de 2020 teremos eleições municipais. Que se façam essas eleições e outras mais que virão.

Se faz necessário legitimar cada vez mais a nossa constituição que assegura o direito ao voto para o exercício pleno de nossa cidadania. 




quinta-feira, 1 de outubro de 2020

As eleições na República Velha e o voto de cabresto

 Pelo fato de 2020 ser um ano eleitoral, decidi segurar um pouco os posts  de minhas incursões aéreas, me dedicando à pesquisa dos acontecimentos históricos tendo como pano de fundo as eleições.

Esta já é a quarta postagem sobre o assunto e, quem sabe, possamos assim acrescentar um pouco mais ao conhecimento de todos.

Na publicação anterior, explicamos como se dava o processo eleitoral nos tempos do Brasil monárquico.

Nesta, contaremos o que veio depois, ou seja, as eleições da chamada República Velha, entre 1889 a 1930.


 O primeiro a governar o Brasil sob o título de presidente da República, foi marechal Manuel Deodoro da Fonseca, um militar até então defensor da monarquia.

Principal liderança do exército, o marechal acabou cedendo às pressões de outros líderes militares interessados em afastar Dom Pedro II e sua família do poder.

Após a abolição, os grandes fazendeiros passaram a reivindicar indenizações pela perda de seus escravos.

Os militares vinham há anos se sentindo desprestigiados pelo monarca que, desde o término da Guerra do Paraguai (1870), não lhes oferecia novas promoções de patente e melhores soldos.

Assim, fazendeiros e militares se juntaram ao movimento republicano promovido pelos intelectuais e proclamaram a República.

Deodoro da Fonseca assumiu o cargo na condição de presidente provisório, tendo depois sido eleito indiretamente.

Renunciou cerca de 1 ano e meio depois, assumindo em seu lugar o vice-presidente, também militar, Floriano Peixoto.

O primeiro presidente de fato eleito no Brasil, pelo voto direto, foi o civil Prudente de Morais, na eleição de 1894.

Depois desse histórico acontecimento, as eleições se tornaram sinônimo de fraudes que se repetiam em todos os pleitos.

Atas eleitorais passaram a ser manipuladas e a compra de votos, entrou em prática. Surgiram as concessões de favores a familiares de apaniguados, resultando na intimidação de eleitores, o tal voto de cabresto.

Diferente de agora onde o voto é secreto, a Constituição de 1891 determinava o voto aberto. Isso tornava possível saber em qual candidato o eleitor iria votar.

Diante desse contexto e somado a outros fatores da época, o “voto de cabresto” tornou-se ferramenta poderosa utilizada pelos coronéis que elegiam quem eles queriam.

Ainda assim havia disputas, pois interessava saber de que lado o cabresto era mais forte, que tinha mais poder de manipulação e assim por diante.

Ao longo desse período, registraram-se apenas três eleições em que a disputa presidencial foi razoavelmente equilibrada:

1910: Hermes da Fonseca vence Rui Barbosa com mais de 60% dos votos

1919: Epitácio Pessoa vence Rui Barbosa com 71% dos votos

1922: Artur Bernardes vence Nilo Peçanha com 60% dos votos

1930: Júlio Prestes derrota Getúlio Vargas com 60% dos votos

Em todas as outras eleições, os candidatos venciam com cerca de 90% das preferências, algo absurdo.

Esse cenário de fraudes eleitorais, não agradava a população sendo um dos motivos para o surgimento do tenentismo, movimento de jovens oficiais do exército brasileiro que exigia reformas no país, entre as quais, o fim das fraudes nas eleições.

A continuidade desse sistema eleitoral introduzido pela República Velha foi abolida quando o alto comando militar compôs uma junta de três generais e afastou o presidente Washington Luiz da chefia da nação. Em seguida impediu a posse do então presidente eleito Júlio Prestes.

Embora derrotado na eleição considerada a mais corrupta da história, Getúlio Vargas é conduzido ao cargo de presidente da República, pelos militares. Este episódio é conhecido na história pelo nome Revolução de 1930.

Getúlio prometeu fazer um governo provisório e maioria acreditava que sua permanência terminaria, assim que promulgada uma nova constituição.

Mas a demora na convocação de uma assembleia nacional constituinte, somada aos insultos proferidos pelo interventor do governo provisório em São Paulo, João Alberto, fez com que o povo se levantasse em armas contra Getúlio Vargas para afastá-lo.

Ainda assim, o presidente resistiu permanecendo no cargo. O tal governo provisório durou 15 anos, período em que apenas uma eleição legislativa aconteceu, em 1935, ainda assim os eleitos perderam seus cargos dois anos depois pelo Golpe do Estado Novo, em 1937.

Durante esta fase da vida brasileira, as casas legislativas em todos os níveis foram fechadas e as bandeiras dos Estados suprimidas, permanecendo apenas, a bandeira nacional.   

Após a queda da Ditadura Vargas, em 1945, tudo voltou à normalidade, se tornando possível experimentar pela primeira vez no Brasil, a prática de se levar adiante um regime de democracia participativa com o povo elegendo pelo voto direto e secreto, os seus representantes.

A Constituição promulgada em 1946, garantiu a realização de eleições para presidentes, governadores e prefeitos até 1960.

Veio então, 1964...

Este assunto fará parte de nossa próxima postagem.