terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Juventus da Mooca completa 100 anos em abril com festa e corrida de rua


O Clube Atlético Juventus completa 100 anos agora em abril e para comemorar serão realizados, entre outros festejos, duas corridas de rua no dia 28 de abril, um domingo.

A prova acontecerá em dois circuitos de 5 km e 10 km por dentro da nossa querida Mooca, um bairro diferenciado entre os demais.

Essa diferenciação surgiu durante o século 20 pela concentração de italianos de uma região, Piemonte, onde fica a cidade de Turim, terra natal do conde Rodolfo Crespi que ajudou a fundar o Juventus aqui da capital paulista.


A história do “moleque travesso”, começa em 1924, quando os empregados da fábrica de tecidos da Família Crespi decidem formar um time de futebol para se divertirem nos finais de semana. 

O primeiro nome do clube foi Extra São Paulo e começou a fazer sucesso na várzea. Animados, o dono do cotonifício decidiu apoiar a equipe para que ela chegasse à primeira divisão. 

Nesse tempo o futebol ainda não estava profissionalizado e em 1928 o Extra passou a se chamar Cotonifício Crespi Futebol Clube e no ano seguinte ganhou o campeonato da segunda divisão.

O nome Clube Atlético Juventus veio em 1930, porque na primeira divisão os clubes não podiam na época, ostentar marcas de empresas.

A escolha partiu do próprio Rodolfo Crespi, que torcia para a Juventus da Itália, mas dentro da fábrica havia funcionários, também italianos, adeptos do arquirrival Torino que começaram torcer contra o time da Mooca por causa do novo nome.

Para contornar a situação e acalmar os ânimos, o conde mandou avisar que manteria o nome, mas colocaria as cores grená e branco do Torino, como as oficiais do time.

Deu certo, todos concordaram, a torcida dentro da fábrica se uniu e as cores se tornaram a marca registrada que hoje surpreende os torcedores italianos que vivem em Turim e torcem pela Juve ou pelo Torino.

O apelido “moleque travesso” foi colocado pelo jornalista Tomaz Mazzoni quando os juventinos começaram a “aprontar” para cima dos clubes considerados grandes.


Esta saga se inicia também em 1930, a primeira vítima foi o Corinthians, derrotado em pleno Parque São Jorge por 2x1, depois viriam os demais grandes: Palmeiras, Santos e São Paulo, sua arquirrival passou a ser a Lusa.

A Família Crespi deixou a direção do clube em 1950, mas ao sair, deu de presente o pequeno estádio da Rua Javari com capacidade de apenas 3.800 torcedores, para os treinos e jogos quando é o clube mandante. 

Nas dependências há dois bustos esculpidos, um em homenagem ao zagueiro Clóvis, muito querido no clube e outro ao Rei Pelé que marcou no estádio aquele que é considerado o gol mais bonito de sua carreira.

No filme “Pelé Eterno”, disponível no YouTube, a jogada em que o camisa 10 do Santos, dá um chapéu sobre três jogadores e depois cobre o goleiro Mão de Onça e faz de cabeça.

A cena foi recriada para o filme em computador, graças à descrição de antigos juventinos presentes naquela tarde memorável de 1959.


Também há glórias para serem registradas, o principal título do Juventus da Mooca é a Taça de Prata 1983, equivalente ao Brasileirão da série B nos moldes atuais, o técnico daquela conquista era Cândido Souto Maior, o Candinho.

Rebaixado no Paulistão de 2004, o Juventus ressurge das cinzas e se torna o campeão da série A-2 de 2005, mas cai novamente. Desde então não figura mais na elite do Campeonato Paulista.


Para a Copa do Mundo 2014, a diretoria apresentou a maquete de um novo estádio para a Rua Javari, mas o projeto não seguiu adiante.

Por incrível que pareça parte da torcida pediu que o estádio Conde Rodolfo Crespi continuasse como sempre foi, para ostentar o sabor nostálgico do futebol em seus primórdios.

Ainda assim, o clube montou uma loja para vender suas camisas oficiais e reservou um espaço para o “canolli”, doce exclusivo dos frequentadores da Rua Javari, dentro do Conde Rodolfo Crespi.


Voltei à Rua Javari em 2022 para matar saudades de quando ia ao estádio nos meus tempos de menino.

Lá estava o repórter Márcio Canutto que me perguntou sobre a importância do Juventus para a Mooca.

Respondi que a Mooca e os Juventus são carne e osso, lugar comum de congraçamento feliz entre as pessoas que buscam na simplicidade dos pequenos clubes, as alegrias do futebol.

As inscrições para a corrida de rua ainda estão abertas no campo do “Juva” na “Java”. Compareça.


Fontes e Fotos: Site oficial do Clube Atlético Juventus e imagens do Google

Ilustração do gol de Pelé: Marco Souza

Foto com Marcio Canutto: Gustavo Alves 













sábado, 17 de fevereiro de 2024

Esquina da Ipiranga com Avenida São João mistura dor e amor

Certa vez fui convidado a fazer uma palestra sobre a esquina mais famosa do Brasil: Ipiranga com Avenida São João.

Para dar ênfase ao assunto preparei uma análise da letra de Sampa, música de Caetano Veloso lançada em disco por ele, no ano de 1978. 

O encontro foi para promover o lançamento de uma coletânea organizada pela saudosa Thais Matarazzo e o livro, com a assinatura de vários autores, alcançou bom resultado nas vendas.

Comecei a explanação dizendo que não há mais uma música que enalteça São Paulo, como a marcha Quarto Centenário, de Mário Zan e JM Alves. 

Essa música serviu de referência durante anos, mas já não é mais lembrada: “São Paulo terra amada, cidade imensa de grandezas mil! És tu, terra adorada, progresso e gloria do meu Brasil...”

Outro sucesso que caiu no esquecimento é o da dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho; “Eh,eh,eh São Paulo, Eh São Paulo, São Paulo da garoa, São Paulo que terra boa...”

Em um concurso da Rede Globo, em 2004, para saber qual a canção que melhor definiria a cidade em seus 450 anos, ganhou Trem das Onze de Adoniran Barbosa e Sampa ficou em segundo lugar.

Embora bonitas, nenhuma das duas músicas citam diretamente o nome São Paulo, embora Sampa tenha passado a servir de abreviatura nas conversas e em alguns textos.

Rio de Janeiro sim, é a cidade campeã em músicas que a enaltecem, não é por menos, tamanha sua beleza.

Cidade Maravilhosa e Samba do Avião, são dois exemplos, porém a mais bela de todas, ao meu ver, é Valsa de uma Cidade, de Antônio Maria e Ismael Neto: “Rio de Janeiro, gosto de você, gosto de quem gosta deste céu, desse mar, dessa gente feliz...” Lindeza! Não é mesmo?

Sampa, é uma entre tantas canções que contam a história do nordestino que chega e encontra dificuldades na cidade grande.

Caetano Veloso que hoje está com 81 anos, veio da Bahia para São Paulo em 1965, quando tinha 23. À noite seguia para a esquina famosa que na época, servia de ponto de encontro dos músicos à espera de oportunidades.

Todos se reuniam em frente  a um bar que já não existe mais, o Jeca e lá faziam contatos para conseguir algum lugar para se apresentar. Isso explica o início da letra, conforme o cartaz:

Mas tem gente que detesta a música Sampa, já ouvi pessoas dizerem que em vez de enaltecer, a letra escracha São Paulo quando diz: “...da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas...”

De fato, na letra, Caetano faz críticas e elogios: “Ainda não havia para mim Rita Lee, a sua mais completa tradução...” Ele a conheceu nos Mutantes dois anos depois de chegar, nos festivais de música da TV Record.

Chuta o balde de novo ao dizer: “chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto...porque ésavesso do avesso, do avesso do avesso.”

Cita verdades na estrofe; “a força da grana que ergue e destrói coisas belas...” Em seguida enaltece os poetas, “seus deuses da chuva”.

Principal metrópole da América do Sul, nossa cidade recebe pessoas vindas de quase todas as partes do mundo: “Pan-America de Áfricas utópicas... 

“Túmulo do samba”, definição de Vinicius de Moraes para São Paulo em um momento de raiva, foi lembrada por Caetano que retruca: “Mais possível novo quilombo de zumbi...”.

Sim! Porque de Sampa sempre partiram as decisões ou iniciativas que ajudaram a mudar a história do país. 

Foi assim com a Proclamação da Independência, as greves de 1917, a marcha das famílias, em 1964 e o movimento das Diretas Já, 20 anos depois.

Ao finalizar sua música, Caetano Veloso cita os Novos Baianos, grupo musical de Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Baby Consuelo e afirma: “Os Novos Baianos passeiam na tua garoa e novos baianos te podem curtir numa boa”. Este final a meu ver é magnífico!


Na conclusão da palestra sobre a famosa esquina expliquei que as letras de Caetano Veloso sempre levantam polêmicas.

Sampa pode não ser a mais bela canção já feita para São Paulo, porém é a mais inspirada. Concordam ou não? Peço respeito a Caetano Veloso para os que forem comentar.

Durante uma fase da minha vida passei diariamente por essa essa esquina, quando fui bancário e trabalhei no Banco Itaú da Praça da República. 

De vez em quando compareço ao Bar Brahma para "bater o ponto" e matar saudades deste lugar emblemático próximo de onde ficava o Cine Ipiranga e o Cine Marabá.


Obs: Algumas fotos extraídas do Google, outras de meu acervo particular


sábado, 10 de fevereiro de 2024

Cenas da cidade e o carnaval paulistano de outros tempos nas fotos de Theodor Preising

O trabalho deixado à posteridade pelo fotógrafo Theodor Preising (1883-1962), por incrível que pareça, ainda é pouco conhecido mas sua qualidade é excelente.

Este alemão naturalizado brasileiro, escolheu São Paulo para morar e fez belas fotografias da cidade, especialmente nas épocas de carnaval.


Os corsos aconteciam na Avenida São João como este acima na década de 1930. Essa foto foi resgatada para uma exposição que aconteceu em 2018 nas dependências da Fiesp, na Avenida Paulista.

No dia 10 de fevereiro daquele mesmo ano outras chapas contidas na mostra foram postadas no Blog do Prof. Evanir (https://blogdoprofevanir.blogspot.com)

Como as nossas postagens buscam resgatar a história recente sem fins comerciais, decidi reproduzir aqui alguns dos registros.

Por este motivo sempre cito ao final de cada postagem, as fontes da internet que utilizo e, para tornar os registros mais atraentes, colorizamos algumas fotos.


As imagens dos corsos carnavalescos da São João, são do final da década de 1920, a prova está no formato dos automóveis.

Naquela época os desfiles aconteciam sobre carros luxuosos, abertos e muito enfeitados, com foliões e foliãs jogando confetes e serpentinas nas pessoas que iam à avenida para observá-los. 

Conta o Prof. Evanir em seu blog que Theodor Preising se estabeleceu em São Paulo a fim de produzir cartões postais e vender equipamentos para fotógrafos amadores.

A partir de 1924, portanto há um século, montou seu laboratório fotográfico para revelar seu próprio material.

Tornou-se colaborador de vários jornais como “O Estado de S. Paulo e da revista National Geographic, entre outras

Esta paisagem urbana da São Paulo dos anos 1920, mostra os carros que desciam pela Avenida São João no sentido do Anhangabaú.

Sobre um cavalo, o policial sinaliza o trânsito para que os paulistanos sempre apressados possam atravessar na confluência da Rua Direita com a Praça do Patriarca, em 1939.

Esta foto aérea é simplesmente fantástica! Foi tirada por Theodor Preising a bordo de um avião voando mais alto que um dirigível que aparece ao lado.

Das alturas avista-se a São Paulo da década de 1930 com a construção do Edifício Martinelli já finalizada. 

Uma imensidão de árvores aparece em frente ao prédio do Colégio Caetano de Campos.

Essa imagem nos leva à constatação de que a Praça da República era muito mais arborizada que agora.


Como Theodor Preising também fazia cartões postais, resgatamos do Portal Brasiliana Fotográfica um exemplo de como era a colheita de café no interior de São Paulo.

Neste outro retrato, imigrantes asiáticos desembarcam no Porto de Santos.


O Portal Brasiliana Fotográfica aponta Theodor Preising como um “viajante incansável”.

Ele fotografou vários outros lugares por este Brasil afora, em especial o Rio de Janeiro e o Guarujá, mas também há registros dele em Campos do Jordão, Itanhaém e Curitiba, além de outras cidades.


Theodor Preising tinha um carinho especial pela capital paulista da qual registrou em suas lentes o Viaduto do Chá em 1940.

 

Fontes: Blog do prof. Evanir - https://blogdoprofevanir.blogspot.com/2018/02/theodor-preising-sao-paulo-sinfonia-de.html 

Portal Brasiliana Fotográfica - https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=34735  escolheu São Paulo como residência e fotografou muito a cidade, especialmente seu carnaval.


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Mercado Livre paga R$ 1 bi para ter “naming rights” do Pacaembu e o que será do nome Paulo Machado de Carvalho?

Ao receber a notícia da jogada de marketing que colocou R$ 1 bilhão nos cofres da Allegra Pacaembu, me lembrei de Paulo Machado de Carvalho que dá nome ao estádio desde 1961.

A plataforma de comércio eletrônico Mercado Livre investiu este valor para ser o “naming rights” da futura Arena Pacaembu por cinco anos.

Como o espaço é tombado, a inscrição original na fachada externa será mantida, conforme notícia trazida pela Folha de S. Paulo.

O nome Paulo Machado de Carvalho, substituído pela marca, provavelmente, não será mais citado nas transmissões esportivas. Uma pena porque aos poucos o “Marechal da Vitória” cairá no esquecimento.

Empresário das comunicações e dirigente esportivo, Paulo Machado de Carvalho teve participação importante na história do futebol.

Foi ele quem organizou nos mínimos detalhes a logística das delegações vencedoras das copas do mundo de 1958 e 1962.

Também soube incutir na cabeça dos jogadores valores como seriedade, profissionalismo e amor à camisa da seleção brasileira.

Todos nós conhecemos o Mercado Livre graças à excelência de seu trabalho inovador, símbolo de qualidade e modernidade.

Ao se associar ao futebol o Mercado Livre ganha ainda mais prestígio e, além do “naming rights”, a marca irá patrocinar este ano a Copa Libertadores, a Sul-Americana e a Recopa.


Este logotipo estará presente tanto nas modalidades masculina quanto feminina dessas competições, além de aparecer estampado no uniforme do Flamengo.

O que entristece é o pouco caso da Allegra Pacaembu em relação à memória do futebol. Nada nas novas obras lembra o passado do estádio.

Comprometida em investir R$ 111 milhões pela gestão do estádio durante 35 anos e mais R$ 500 milhões pela revitalização, faz parte do contrato a construção de um edifício multifuncional.

Depois de pronta a obra terá um centro de convenções e ginásio poliesportivo com a logomarca Mercado Livre presente também nesses ambientes, conforme notícia publicada no Estadão.

Não me conformo é com a feiura da fachada externa desse prédio a ser construído no lugar do antigo tobogã, a edificação deveria ter motivos esportivos e para isso existem arquitetos criativos.

Com tantos escritórios de arquitetura em São Paulo e inúmeros edifícios de esplendorosa beleza, como pode a Allegra Pacaembu se contentar com um monstrengo igual a esse?

O design faz lembrar uma gaiola e o pouco que foi mostrado da parte interna é repleto de escadarias que me fazem lembrar os antigos prédios escolares de minha adolescência.

A prefeitura possui uma comissão de acessibilidade que fiscaliza os projetos em andamento na cidade de São Paulo, mas ao se perguntar sobre o "engradado de madeira" da Allegra Pacaembu não há informações. E as assessorias de imprensa que não dão orientações: Servem para quê? Trabalham a favor ou contra os jornalistas?

O Mercado Livre apoia o esporte com a certeza de obter lucros a partir dessas iniciativas. Quem sabe agora com a injeção de R$ 1 bilhão, a Allegra Pacaembu se defina em fazer o mesmo?


Em 2022 a concessionária tentou abocanhar para si a Praça Charles Miller com o intuito de “cobrir despesas”, por isso é importante prestar atenção na Allegra Pacaembu, p
or favor, senhor prefeito e vereadores.

Não se esqueçam que o país do futebol precisa preservar sua memória esportiva, repleta de boas histórias que enchem de alegria e ajudam lavar a alma do nosso povo, especialmente aquele mais sofrido. Isso também ajuda explicar por que o futebol é um esporte tão popular.

Seguem algumas fotos históricas tiradas no Pacaembu:

 


Essa talvez seja a foto mais famosa, Leônidas faz gol de bicicleta


Pelé com a camisa do Santos e a concha acústica ao fundo


Aqui o Rei aparece com a camisa da seleção brasileira


Rivelino dá uma bicicleta em uma partida do Corinthians no Pacaembu


A despedida de Romário da seleção brasileira aconteceu no Pacaembu


Que o Pacaembu mantenha viva sua memória esportiva!

 

Fontes:

Tag Notícias: https://tagnoticias.com.br/mercado-livre-compra-pacaembu-e-pagara-r-1-bilhao-para-ter-seu-nome-na-arena-por-30-anos/

Nexo: https://www.nexojornal.com.br/extra/2024/01/31/estadio-pacaembu-mercado-livre-naming-rights

 Fotos extraídas da página da Allegra Pacaembu no Facebook e do Google