domingo, 8 de setembro de 2019

O Brasil é campeão na luta pela superação das deficiências, mas a mídia ainda não compreende essa importância

Sou dos que defendem o papel informativo da mídia e tenho combatido as notícias falsas, também chamadas de fake news. Entendo que existem critérios editoriais para se elaborar as manchetes, seja de um jornal, blog ou revista. Ainda assim, observo que falta sensibilidade aos colegas por não terem dedicado mais espaços para a divulgação de resultados tão expressivos, que envolvem não apenas o esporte, mas também a medicina, a psicologia, a fisioterapia e outras ciências.

Os Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru, terminaram faz mais de semana -1° de setembro- e o Brasil chegou pela quarta vez ao topo no quadro geral de medalhas deste segmento esportivo, tendo sido essa etapa de Lima, a a melhor classificação em todos os tempos, com 308 medalhas, sendo 124 ouros, 99 pratas e 85 bronzes. Foi mais que o dobro do país segundo colocado, ninguém menos que os Estados Unidos, com 185 medalhas: 58 de ouro, 62 de prata e 65 medalhas de bonze.

Este respeitoso “puxão de orelha” aos colegas da mídia, se deve ao fato deles não terem percebido a importância dessa conquista, obtida graças ao esforço pessoal e individual de cada um dos paratletas. Vale lembrar que um dia, a maioria deles foi uma pessoa considerada normal e que adquiriu uma deficiência física, visual ou auditiva por alguma dessas fatalidades que acontecem na vida.

Homens e mulheres de todos os gêneros e idades precisaram superar as barreiras surgidas a partir da deficiência até encontrar a solução para os novos desafios de quem se torna um cadeirante devido a uma doença ou acidente que leva essa pessoa, por exemplo, a ser amputada de uma ou das duas pernas. A primeira grande dificuldade é a adaptação a essa nova forma de viver e encarar a vida dai em diante que não é tarefa fácil.

Importante ressaltar, que ninguém adquire uma deficiência e já sai depois praticando esportes. A trajetória é longa, difícil e nem todos conseguem. A competição inicialmente é individual. Aquele que passa a ser portador de um deficiência tem primeiro que competir com ele mesmo para superar as dificuldades do dia-a-dia que passam a ser: subir um ou mais degraus, acionar o interruptor de uma lâmpada, abrir o chuveiro, tomar banho, etc. Tarefas antes corriqueiras se tornam empecilhos difíceis de serem superados e quando surgem os bons resultados, passam a ser comemorados como se fossem vitórias esportivas e essas conquistas surgem somente depois de muito treino nos centros de fisioterapia. Fazer tudo sem precisar pedir ajuda é de uma felicidade só entendida por quem já passou por essa situação.

A mídia perdeu a oportunidade de registrar em primeira página que o Brasil se sagrou campeão na luta pela superação, meus colegas ainda não conseguiram compreender a dimensão dessa importância. Apesar do movimento de luta em favor das pessoas com deficiência em nosso país ter se iniciado há quase cinco décadas, somente no ano passado, o Congresso Nacional definiu uma sigla jurídica para designar a Pessoa com Deficiência. A sigla PCD define os direitos assegurados a este segmento pela Lei Brasileira de Inclusão, número 13.146, de 6 de julho de 2015.

Outra observação que precisa ser apontada é que a vitória esportiva se deve ao fato do Brasil ser também o campeão de muitas coisas ruins. O nosso País é, em termos absolutos, o 4º do mundo na quantidade de acidentes de trânsito, ficando atrás somente da China, Índia e Nigéria, sem contar a quantidade de vítimas da violência urbana e dos acidentes do trabalho. O Brasil fabrica todos os anos, milhares de portadores de deficiência que depois precisarão de cirurgias, tratamentos médicos e reabilitação.

Essas ocorrências, embora negativas, promovem por outro lado, o desenvolvimento da medicina e de outras ciências em qualidade comparável à de países ricos. Nossas universidade formam todos os anos profissionais que depois irão auxiliar na recuperação de novas vítimas. 

Embora paradoxal, isto faz do Brasil uma nação maravilhosa por possuir profissionais capazes de valorizar a vida de pessoas que em determinado momento acharam que tudo estava perdido. Isto faz do esporte, um aliado dos médicos, dos psicólogos e de todos os que trabalham na recuperação e superação das dificuldades do ser humano. A medicina e o esporte devolvem pessoas sadias à sociedade. Parabéns ao paratletas brasileiros! A próxima edição do Parapan será em Santiago, no Chile, em 2023.



QUADRO DE MEDALHAS DO PARAPAN DE LIMA

1º lugar.

Brasil: 124 ouros, 99 pratas e 85 bronzes - 308 no total.

2º lugar.

Estados Unidos: 58 ouros, 62 pratas e 65 bronzes - 185 no total.

3º lugar.

México: 55 ouros, 58 pratas e 45 bronzes - 158 no total.

4º lugar.

Colômbia: 47 ouros, 36 pratas e 50 bronzes - 133 no total.

5º lugar.

Argentina: 26 ouros, 38 pratas e 43 bronzes - 107 no total.

6º lugar.

Canadá: 17 ouros, 21 pratas e 22 bronzes - 60 no total.

7º lugar.

Cuba: 13 ouros, 10 pratas e 16 bronzes - 39 no total.

8º lugar.

Chile: 11 ouros, 12 pratas e 11 bronzes - 34 no total.

9º lugar.

Equador: 5 ouros, 6 pratas e 5 bronzes - 16 no total.

10º lugar.

Peru: 5 ouros, 3 pratas e 7 bronzes 

2 comentários:

  1. Os para atletas não tem a mesma visibilidade com atletas normais. Esse quadro de medalhas é fantástico e propicia um enorme incentivo, apesar de a mídia dar pouca cobertura !

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  2. É verdade, Geraldo. Não soubemos valorizar essa conquista. Parabéns ao atletas.

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