terça-feira, 23 de junho de 2020

Entenda a Lei do Zoneamento em São Paulo através de fotos aéreas


Quando alguém sobrevoa a capital paulista pela primeira vez, fica surpreendido pelo mar de edifícios.

Todo mundo sabe que há muitos prédios em São Paulo, mas o número é infinitamente maior do que se imagina e nem a prefeitura sabe o número exato.

Em uma lista das metrópoles com a maior quantidade de arranha-céus no Emporis Buildings, São Paulo fica em primeiro lugar.

A capital paulista possui aproximadamente 45 mil edifícios.

Essa quantidade supera Tóquio em 15 mil edifícios e há por aqui 37 mil prédios a mais do que em Nova York.

Emporis Building é uma entidade alemã que coleta e publica dados e fotografias sobre construções realizadas em todo o planeta.

Ainda assim não são números definitivos porque o mercado imobiliário está sempre em expansão em todos os lugares.

Os prédios na foto pertencem a Moema e, mais acima, está o Planalto Paulista ao lado esquerdo de Congonhas

A explosão demográfica surgida no século 20, transformou São Paulo na metrópole que aí está, cheia de contradições.

Em 1972 foi criado o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado que estabeleceu as diretrizes da Lei do Zoneamento Urbano.

A partir de então a cidade buscou determinar lugares onde se pode ou não construir edifícios.

O cumprimento da lei passou a acontecer de maneira confusa.

Se no Planalto Paulista não se pode construir arranha-céus por causa do Aeroporto de Congonhas, por que em Moema foi possível?

Buscando critérios a prefeitura estabeleceu, no ano de 2002, um novo Plano Diretor.

A cidade de São Paulo foi redistribuída em 19 zonas diferenciadas umas das outras.

Desde então houve mais restrições para a implantação de novas torres de concreto se buscando respeitar as características dos bairros.

Explicar tudo agora, tornaria esse texto difícil e chato.

Buscamos então utilizar fotos, algumas feitas por nós nos tempos de repórter aéreo.

Fotografia de 2009 sobre a Avenida Rebouças mostra prédios de Cerqueira César, os Jardins onde não há edifícios e, do outro lado, o Itaim-Bibi com mais prédios

Esta é uma área Z-1, de uso estritamente residencial e de densidade demográfica baixa, como é o caso dos Jardins.

Outros exemplos são Alto da Lapa, Alto de Pinheiros e uma parte do Morumbi e Cidade Jardim.

Cerqueira César, desce da Alameda Santos até Rua Estados Unidos, ali toda a região é Z-4, assim como o bairro do Paraíso.

Rua Estados Unidos faz a divisa do Jardim América com o paredão de edifícios que constitui Cerqueira César até a Paulista

Outros exemplos de Z-4 estão em Pinheiros, Lapa, Pompeia, Santana, Vila Mariana, Moema, Cambuci - Aclimação, Mooca, Ipiranga, Santo Amaro e assim por diante.

Vista aérea do Cambuci mostra o convívio entre residências, torres de apartamentos, pequenos comércios e igrejas

Z-5 é uma zona de uso misto e densidade demográfica alta, com atividades típicas de áreas centrais, permitindo a coexistência entre a habitação e os usos não residenciais.

Como exemplos temos o Bom Retiro, Pari, Brás, Santa Cecília e o Centro.

Foto aérea feita durante uma decolagem do Campo de Marte mostra a cidade entre o Rio Tietê e o Centro

Embora apresente prédios residencias de alto padrão, parte de Higienopolis se enquadra no padrão Z-5 pela sua proximidade da área Centro.


Higienopolis tem como vizinho o Pacaembú que se enquadra ao padrão Z-1 por ter sido projetado pela Companhia City

O Plano Diretor aprovado em 2002 permitiu o surgimento da Z-13 para estimular a implantação de torres residenciais em bairros com menor ocupação.

Vila Leopoldina, antes com baixa densidade populacional, se expandiu com o surgimento de inúmeros prédios residenciais de médio e alto padrão. 

A Z-13 permitiu, na Vila Leopoldina, a convivência entre edifícios residenciais, o comércio e a indústria
Outra novidade foi a Z-16 destinada exclusivamente ao lazer.

A partir dela se estabeleceram critérios para um convívio urbano respeitoso com os mananciais tipo Represa Guarapiranga.

No lado direito da foto aparece coberta pelo verde a Riviera Paulista, bairro onde o conceito de preservação sempre existiu
Apesar dos benefícios trazidos a São Paulo pelo Plano Diretor e pela atual Lei do Zoneamento, contradições de difícil solução permanecem.

Paraisópolis tendo ao fundo o Portal do Morumbi com suas torres suntuosas colocam ricos e pobres em convívio próximo
São Paulo tem muito para mostrar, mas suas contradições aguardam serem resolvidas. As fotos aéreas comprovam isso.

Se você gostou do que viu não deixe de colocar seu comentário.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Quem são os pioneiros das rádios na cobertura aérea do trânsito? Conheça alguns nomes


Não fui o primeiro a fazer reportagens aéreas sobre o trânsito de São Paulo e nem poderia, sempre deixei isso bem claro. 

Ainda sou mocinho, hehe! 

Mas me considero um dos pioneiros neste setor, porque ajudei consolidar um trabalho que ainda estava no começo.

Claro que na Rádio Eldorado outros sobrevoaram antes de mim: Wilson Dias e Vera Gomes, por exemplo.

Passei a ser titular no cargo de repórter aéreo da Rádio Eldorado, em setembro de 1989, mas fui demitido da emissora em dezembro de 1991.

Sérgio Camargo, que agora ganha manchetes nos jornais pelas frases polêmicas à frente da Fundação Palmares, foi quem me demitiu.

Ele ocupou a chefia da rádio interinamente e sobre esse episódio - garanto de minha parte - não ficaram mágoas.

Afinal, fui recontratado em abril de 1992 por ordem do diretor-executivo João Lara Mesquita.

O repórter Jorge Machado de Souza, então titular do helicóptero, tinha deixado a emissora.

Segui de volta ao posto que fez de mim marca registrada da Rádio Eldorado por mais de duas décadas, para esses assuntos.

Somando tudo sobrevoei São Paulo durante 21 anos, até dezembro de 2010.

Foram cerca de 15.300 horas de voo e calculo ter feito mais de 60 mil boletins de trânsito.

Sigo trabalhando como jornalista e, sinceramente, não sinto saudades dos helicópteros.

O que tenho são recordações e muitas histórias para contar, por isso procuro escrevê-las neste blog.

Acredito ter sido o único repórter aéreo a ganhar uma charge: Márcio Wagner/Caixa Preta Publicidade

Um quase xará, Genilson Araújo, começou a sobrevoar o Rio de Janeiro, em reportagens aéreas de trânsito na mesma época que eu.

O mais interessante é que o Genilson ainda segue nessa atividade.

São cerca de 30 anos de sobrevoos e certamente é o repórter aéreo com mais horas de voo em todo o País, quiçá no mundo.

Sua história começou Rádio Jornal do Brasil do Rio de Janeiro.

Em 1990 se estabeleceu uma parceria da Eldorado/SP com a JB.

O Genilson entrava com um boletim sobre o trânsito do Rio e eu daqui falava para o Rio de Janeiro.

Uma prestação de serviço inusitada até então.

Um operador de som brincou certa vez: “Poderiam criar uma dupla sertaneja: Genilson e Geraldo”.

Não conheço pessoalmente o Genilson Araújo.

Sei que depois da JB ele trabalhou 20 anos no Sistema Globo de Rádio

Transferiu-se em 2016 para o Globocop do RJ/TV todas as manhãs.

Genilson Araújo também lançou livro falando de suas peripécias nos ares da cidade maravilhosa

Outros repórteres aéreos pioneiros merecem lembrança.

Franz Netto, do helicóptero Abelhudo Cofap-Bandeirantes, sobrevoou São Paulo na década de 1970.

O conheci nos anos 1980 quando ele estava na Rádio Capital e eu nao Bandeirantes.

Visitei sua casa após convite para um churrasco com direito a bailinho ao som de um toca-discos.

Acreditem: Cheguei a voar nesse Enstrom prefixo PT-HDG e com ele desci em um pouso forçado em um terreno baldio
Aluani Neto, de quem também fui amigo, me contou ter sobrevoado São Paulo pela Jovem Pan na mesma época do Franz.

Tanto a Pan de Aluani, quanto a Bandeirantes de Franz Netto, modificaram suas rotas.

Deixaram de prestar serviços pelos céus de São Paulo, antes do final daquela década.

Além do custo operacional elevado, havia problemas técnicos causados pelo excesso de ruído a bordo.

Aluani Neto aparece segurando o microfone na entrevista com Emerson Fittipaldi tendo ao lado Claudio Carsughi

Outro nome para registrar é o de Murilo Antunes Alves que sobrevoou o estádio do Pacaembu em 1946 quando fez um pouso no gramado.

Foi para uma promoção da Rádio Record realizada no dia de um jogo decisivo do campeonato paulista daquele ano.

Murilo Antunes Alves nos tempos da Rádio Record

Mas a entrada da Rádio Eldorado na cobertura aérea de trânsito merece uma história a parte.

Entrevistei durante as comemorações dos 50 anos da emissora, em 2008, o publicitário Geraldo Leite.

Ele contou que em 1986 houve uma mudança estrutural, inclusive no nome que passou a ser Nova Eldorado AM.

Uma reunião foi marcada em uma agência de publicidade nos Jardins, para definir novos projetos.

"Durante a reunião surgiram poucas ideias até cair uma tremenda chuva, com relâmpagos e trovoadas", contou Leite.

Os participantes da reunião começaram a reclamar que encontrariam dificuldades no trânsito e o resultado da reunião acabou sendo excelente.

"Decidimos, graças ao mal tempo, criar um serviço de informações do trânsito por helicóptero...

... a cidade de São Paulo jã não dispunha mais daquele serviço e no mesmo encontro a Ford decidiu patrocinar", esclareceu.

Geraldo Leite, além de publicitário é compositor de músicas ao lado de Paulo Tatit, do Grupo Rumo

Surgiu então um modelo novo de prestação de serviço com linguagem moderna e diferenciada através do rádio.

Ficou acertado que, na Eldorado, o repórter aéreo só poderia falar na primeira pessoa.

Objetivo foi passar a impressão de que se estaríamos falando para um amigo sobre como escapar do congestionamento.

Vale salientar: Tudo isso em um tempo onde não havia telefonia celular e nem se sonhava com o Waze.

Essa iniciativa inédita levou o diretor-executivo João Lara Mesquita a criar uma chamada:

“Eldorado, pioneira na cobertura do trânsito com helicópteros”.

As emissoras concorrentes não gostaram da frase de João Lara Mesquita por causa das coberturas do passado, mas o diferencial positivo, de fato, era enorme

As concorrentes tentaram relembrar seu passado, mas a imagem estava consolidada em nosso favor e assim permaneceu por um bom tempo.

Muito do que inovamos naquele tempo segue sendo levado em prática por algumas emissoras

Mais para frente contarei como foi o dia do meu primeiro sobrevoo por São Paulo em um helicóptero.

Também falaremos em futuro próximo da nova geração de voadores nas rádios da atualidade.


Colaborou: Monica Santos

sexta-feira, 12 de junho de 2020

O Dia dos Namorados nos céus de São Paulo: Conheça histórias de amor a bordo dos helicópteros


O Dia dos Namorados celebrado em 12 de junho por todo o Brasil, me fez recordar passagens interessantes ligadas à aviação e ao amor.

Nada mais sublime que acordar a namorada - depois esposa - pairando com o helicóptero na janela do apartamento.

Essa história que merece estar na cena de algum romance de cinema, é verdadeira e aconteceu assim que me tornei repórter aéreo.

Outros casos interessantes envolvendo histórias de amor ou paixão nos céus de São Paulo, merecem relato.

Sonhos e ilusões de amor também acontecem nas alturas

Voei com um piloto considerado bonitão pelas mulheres, ele despertava a atenção das repórteres aéreas.

Algumas, em tom de brincadeira, chegaram a me dizer: “Falte no emprego amanhã, assim poderei voar no seu lugar.”

Azar dele que em vez de viajar ao lado das beldades do universo jornalístico tinha mesmo era que voar comigo.

Ainda assim este comandante acabou se casando com uma jornalista que voou com ele em várias coberturas.

Saindo à janela para ver o namorado passar de helicóptero: Nada mais romântico

Houve um piloto que namorou uma repórter da Nova Eldorado AM, mas que terminou tudo ao descobrir que ela fumava.

Alegou não gostar de ver mulheres fumando na sua frente, embora naquele tempo (início dos anos 1990) o hábito do fumo fosse considerado charme no meio social.

Homens e mulheres tabagistas fumavam livremente em bares, restaurantes e outros lugares públicos.

Ocasionalmente alguém reclamava, já havia campanhas contrárias ao tabagismo, mas ainda não existiam leis proibitivas ou fumódromos. 

Seguindo adiante, um piloto que se tornaria dono de uma escola de pilotagem, sobrevoou comigo a cidade inúmeras vezes.

Para sair fora das paqueras dizia que namorava uma garota imaginária chamada Meméia, uma espécie de "menina veneno".

O termo entre aspas se refere a uma música de sucesso na época.

Tempos depois esse piloto se casou, só não sei se o casamento foi com a imaginária Meméia - se é que ela existiu mesmo, mas hoje é pai de dois filhos.

As repórteres e seus pilotos: Durante o voo não dá muito tempo para conversar, depois é que pode acontecer a paquera

Teve um caso triste de uma comandante que namorava um piloto que servia às rádios na cobertura de trânsito.

Ela atuava para a Jovem Pan e ele para a Eldorado.

Durante o voo trocavam conversinhas pela fonia, eu achava aquilo romântico.

Logo depois esse piloto deixou de servir nossa emissora porque conseguiu um outro emprego em um helicóptero mais possante. 

Acabou se envolvendo em um acidente lamentável e morreu.

Sua jovem consorte, que também pilotava, ficou tão abalada com a perda do namorado, que acabou deixando a profissão.

Muitos casais consideram os helipontos um local romântico para se fazer um pedido de casamento

Um caso envolvendo um piloto apaixonado, entretanto, me deixou certa vez em situação embaraçosa.

Se tratava de um comandante experiente, instrutor de voo de um helicóptero espaçoso com motor turbo e capacidade para três passageiros.

Seu coração estava comprometido com uma oficial da aeronáutica, ficaram noivos faltando apenas marcar a data do casamento.

Havia no Campo de Marte uma jovem também apaixonada por ele que não largava do seu pé.

Insistiu tanto que acabou conseguindo uma carona para voar conosco em uma tarde de domingo.

Era mais um daqueles finais de semana prolongados e fomos cobrir a volta do paulistano das praias.

O Enstrom 280 FX é um helicóptero onde cabem piloto, repórter e passageiro

Embarcamos os três, ela sentada no meio.

Durante o voo, sobrevoando o Sistema Anchieta-Imigrantes, reparei que a garota nem olhava direito para a paisagem.

Estava mesmo interessada em ver o que o piloto fazia, seus procedimentos e sua conversa pela fonia que ela também acompanhava.

Munida de um fone semelhante ao dele, ouvia as mensagens entre os pilotos e me pareceu deslumbrada.

Na hora do pouso a surpresa:

A noiva, oficial da aeronáutica, estava de pé esperando pelo comandante.

Para não brigarem ele fez um pedido inusitado para sua acompanhante de bordo:

“Ao desembarcar saia do helicóptero de mãos dadas com o Geraldo”.

Ela pareceu não acreditar: “O que foi mesmo que você disse?”

“Ao sair, vá de mãos dadas com o Geraldo até o hangar ", repetiu ele.

Foto faz lembrar a cena que precisei enfrentar, mãos dadas para não causar briga entre o piloto e sua noiva
Foi uma surpresa também para mim, mas resolvi ficar calado.

Estendi minha mão meio sem graça e ela aceitou.

Seguimos assim até o carro de reportagem, com motorista, que nos aguardava do lado de fora.

A moça seguiu com a gente, sentada no banco de trás e eu no banco do passageiro da frente.

Nós a deixamos na estação Tiradentes do metrô e o motorista sem entender direito o que se passava.

Ao descer do veículo, na entrada do metrô, a funcionária do Campo de Marte se despediu e percebi um fio de lágrima em seu rosto.

Enfim, desencontros do amor.

Charge faz lembrar o enlace entre um piloto e sua noiva também aeronauta

Mas não se trata de uma história triste, depois a moça do Campo de Marte encontrou seu par.

Portanto, contamos histórias envolvendo amores desfeitos, mas também os que se concretizaram e geraram frutos.

Nesse nosso texto: O Dia dos Namorados nos céus de São Paulo, teve de tudo.

Aos leitores poetas ou compositores, segue a sugestão para que façam músicas ou poesias para essas histórias.





segunda-feira, 8 de junho de 2020

Manobras radicais e loopings entre as neuras de um piloto e seu repórter aéreo

Quando iniciei como repórter aéreo a preocupação dos controladores de voo era com a interferência dos helicópteros no trajeto dos aviões para o pouso no aeroporto de Congonhas.

Como sempre há pilotos mais cautelosos e outros menos, mas nunca vi nenhum deles querer colocar a vida em risco em manobras arriscadas.

O primeiro piloto com quem sobrevoei a cidade se chama Edgard Schaffer.

Ele é mais um entre os pioneiros na implantação da família Robinson de helicópteros no Brasil.

Schaffer ajudou trazer para nós o R-22 pelo final da década de 1980, período em que iniciei meus sobvrevoos.

Por ser uma aeronave de pequeno porte causou estranheza no início.

Há também, um certo preconceito por parte de alguns “entendidos” com esse tipo de aeronave, ainda hoje.

Por essa razão este piloto procurava fazer tudo da maneira mais correta possível.

Durante o voo não excedia na altura e nem baixava muito.

Estava sempre no “padrão”, como falam os pilotos em sua linguagem.

A foto mostra um helicóptero fazendo looping em Nova York, manobra ainda não realizada por nenhum piloto brasileiro

De minha parte recebi a orientação da Rádio Eldorado, quando fui contratado, para fazer uma linguagem diferenciada.

Em um tempo onde ainda não havia telefones celulares, a ideia era mostrar aos ouvintes que lá em cima havia um amigo.

Mandavam eu entrar no ar como se estivesse falando ao telefone.

“Olha, eu estou aqui em cima observando que a Avenida 23 de Maio está congestionada no sentido do aeroporto, mas se você puder fazer um caminho utilizando a Consolação e a Paulista, vai encontrar tudo livre...”

Quem não gosta de ser elogiado que atire a primeira pedra!

O  trabalho que a Rádio Eldorado levou adiante era o que havia de mais moderno em termos de linguagem no rádio.

A audiência melhorava a cada e as concorrentes passaram a seguir o que estava dando certo.

Por isso o nosso diretor-executivo João Lara Mesquita passou a dizer: 

"Eldorado, pioneira na cobertura do trânsito com helicópteros", para ciúmes de alguns que já haviam feito reportagens aéreas em décadas anteriores sem o mesmo resultado.

Buscando inovar a cada dia, certa vez eu disse durante um boletim algo que me pareceu normal para os ouvintes:

“... Para que sair da Avenida Rebouças e ingressar na Dr. Arnaldo onde estou agora, o comandante Schaffer precisou fazer uma manobra radical...”

Essas palavras ofenderam o comandante que falou comigo depois voo, não de maneira nervosa, mas com preocupação.

“A empresa para a qual trabalho é a representante do R-22 no Brasil, se eles ouviram que você disse que eu fiz uma manobra radical, irão me chamar a atenção”.

Para ele a manobra radical seria entendida como alguma imprudência dele.

Perguntei se ele chegou a ser advertido por algum controlador de voo e ele disse. Não, eu não fiz nada de irregular.

“Então esquece porque eu fiz isso só para tornar a nossa linguagem no rádio mais dinâmica”, ponderei.

Realmente ninguém reclamou e não deu em nada. 

"Neuras de um piloto", pensei comigo.

Este é um integrante da "Família Robinson". O R-44 além de transportar piloto e repórter pode levar mais dois passageiros

Muitos anos se passaram quando em 2002, quem se surpreendeu com uma frase dita no rádio fui eu, por incrível que pareça.

A apresentadora e produtora musical Patrícia Palumbo levava ao ar na Eldorado FM um programa chamado “Hora do Rush”.

Sempre no final de tarde - início de noite - ela levava ao ar música de qualidade entremeada por conversas agradáveis.

Nos intervalos havia as inserções do repórter aéreo com informações do trânsito.

Costumeiramente o titular desse horário nos sobrevoos era o repórter aéreo Jair Rafael, mas naquele dia não me lembro o motivo, precisei substituí-lo.

Decolamos em um Robinson-44 pilotado pelo comandante Marcelo Fagundes, cujo início de carreira tem um história bonita que ainda irei contar.

Havia também dois passageiros a bordo, ouvinte e acompanhante, por causa de uma promoção no programa.

Ao anoitecer a cidade se ilumina e do helicóptero se tem uma visual muito atraente para quem voa como passageiro

Perto do pouso houve uma última entrada e ao encerrar o boletim, assinei meu nome e disse: “A caminho do Campo de Marte”.

Nisso, a Patrícia Palumbo brincou do estúdio: “Geraldo Nunes sonha em fazer um looping de helicóptero! Abraço, Geraldo".

Foi uma brincadeira dela, mas aquilo me deixou preocupado.

"Será que vão pensar que eu peço mesmo para os pilotos fazerem looping? Isso é muito arriscado tenho que reclamar com ela".

Pensei como alguém que mesmo ficando coroa.

Looping para quem não sabe, é uma palavra inglesa que descreve um movimento circular em plano vertical.

Aviões de acrobacias fazem looping no céu, mas com helicópteros eu nunca tinha visto até então.

Pessoa madura e já diferente dos tempos das brincadeiras com o comandante Schaffer, desembarquei irritado.

Depois pensando melhor decidi ficar quieto: "Irão achar que eu estou ficando neurótico".

Realmente ficar calado foi a melhor decisão da minha parte, porque a apresentadora quis também como eu anteriormente, maior proximidade com os ouvintes.

Esta é Patrícia Palumbo, jornalista e apresentadora de rádio muitas vezes premiada

Lembrei desse episódio porque assisti recentemente a um vídeo que me chegou pelo WhatsApp e me deixou impressionado.

Assisti as acrobacias aéreas do piloto norte-americano Chuck Aaron em um helicóptero patrocinado pela Red Bull sobre o Rio Hudson, em Nova York.

Fui pesquisar e descobri que Aaron é o único piloto autorizado realizar manobras desse tipo nas três Américas.

Com mais de 20 mil horas de voo, já realizou mais de 200 shows de acrobacia nos Estados Unidos.

Este é Chuck Aaron piloto que conseguiu convencer a Red Bull a patrocinar suas acrobacias em helicópteros nos EUA

Me lembrei então das “manobras radicais” do comandante Schaffer e do “looping” da Patrícia Palumbo e me pus a escrever para este blog.

O helicóptero utilizado por Chuck Aaron é de fabricação alemã, marca Messerschmitt.

Helicóptero de fabricação alemã é utilizado pelas polícias de vários países e um dos poucos capaz de voar de cabeça pra baixo

Já imaginou alguém voando de ponta-cabeça sobre a cidade de São Paulo?

O risco é grande, operações desse tipo na capital paulista, se autorizadas aconteceriam sobre represas para se evitar riscos.

O vídeo a seguir foi gravado em 2019 sobre o Rio Hudson que separa Manhattan de New Jersey. Vale a pena assistir.



Diante de toda a experiência em voos de helicóptero, ainda assim, se Chuck Aaron me convidasse para acrobacias ao lado dele, não sei se aceitaria.

Os cabelos brancos nos tornam mais prudentes. Eis a questão.

E você toparia voar como passageiro nessas acrobacias?

Responda nos comentários: Sim ou não?