sábado, 29 de maio de 2021

Conheça os fatos que levaram à fatídica noite do 23 de maio em 1932

Costumeiramente as pessoas me perguntam qual o significado da data que dá nome à Avenida 23 de Maio, uma das mais movimentadas de São Paulo e justamente aquela que leva ao Obelisco do Ibirapuera, onde repousam os heróis que lutaram na Revolução Constitucionalista de 1932.

Tudo aconteceu na esquina da Praça da República com a Rua Barão Itapetininga, onde os moradores do prédio número 70 (mais tarde 298), já estavam na cama quando foram despertados pela gritaria.


Os que levantaram e espiaram pelas cortinas do quarto puderam ver uma multidão enfurecida se aproximando, formada na maioria por jovens.

Eram estudantes, realizando mais uma de tantas manifestações pela democracia, mas desta vez vários deles vinham armados e o alvoroço foi aumentando e o número de pessoas crescendo.

Eis então que se inicia uma investida na direção deste prédio de 6 andares, situado bem na esquina Barão x República. Escadas de madeira são debruçadas sobre a fachada de forma a possibilitar entrada pela janela do imóvel.

A intenção era chegar à sobreloja para atacar a sede da Legião Revolucionária, fundada em 1930, pelos apoiadores de Getúlio Vargas que assumira o comando da nação, prometendo um governo provisório, mas que após quase dois anos matinha as casas legislativas fechadas e decidia tudo através de decretos.

Para auxiliá-lo nas decisões estaduais havia interventores escolhidos por ele exercendo o papel que caberia hoje aos governadores eleitos pelo povo.

Em razão de tudo isso, os estudantes passaram a pedir a implantação de uma Assembleia Nacional Constituinte, mas nada surtia efeito junto ao irredutível e insensível governante.


A Legião Revolucionária, integrada pelos tenentes apoiadores de Getúlio recebeu o nome Partido Popular Paulista - PPP.

Os estudantes consideravam a criação desta sigla uma provocação e tentaram invadir a sede dos apoiadores de Getúlio para depredar os escritórios. Entendiam os jovens que a mesma funcionava como uma espécie de Gestapo, pois ajudava na repressão e ao mesmo tempo servia de base política para os tenentes, na época maioria entre os oficiais com força suficiente para pressionar as decisões dos generais do exército naqueles tempos difíceis.

Passava das 11 da noite e as luzes do "gabinete do ódio" daquela época estavam apagadas. Imaginou-se, portanto, que não haveria ninguém.

Tão logo os primeiros estudantes iniciaram a abordagem tentando ingressar pela janela, na sede da agremiação, ouviu-se uma saraivada de tiros partindo das salas escuras.

De dentro militantes armados fizeram os primeiros disparos para o alto e surpreenderam os manifestantes que saltaram das escadas para o chão em busca de abrigo.


A massa, entretanto, não se dissipou e, ao contrário, com a chegada de mais gente vinda dos comícios em prol da democratização, foram todos se aglomerando e por volta da meia-noite, novos manifestantes chegaram portando armas.

De posse agora de um arsenal, decidiram fazer nova ofensiva ao prédio da guarda getulista dando tiros na direção da janela da sobreloja, enquanto outros voltaram a subir as escadas apoiadas sobre a fachada.

Lá em cima sob um chuveiro de balas, os sitiados improvisaram uma trincheira, empilhando armários e outros móveis rente às janelas.

Mesmo em flagrante inferioridade numérica, os militares favoráveis a Getúlio, tinham em seu favor a visão privilegiada, devido à altura na qual se encontravam.

Um dos primeiros a tentar alcançar o topo foi alvejado, soltou um grito de dor e despencou da escada caindo sobre a calçada e uma bolsa de sangue, logo se formou em volta de seu corpo imóvel.

Os companheiros que o seguiam também foram atingidos, mas conseguiram se afastar cambaleantes para fora da zona de perigo, seguindo-se um cerrado tiroteio.

As 20 famílias que moravam nos apartamentos situados a partir do terceiro andar daquele prédio, apavoradas, ligaram para a polícia.



O plantão da Força Pública prometeu mandar um pelotão urgente, contudo, três horas depois, o tiroteio continuava e nada da polícia dar as caras.

Às quatro da madrugada ouviu-se o som de metralhadoras. Era um contingente do exército que, na ausência dos policiais, agiu para coibir a troca de tiros.

O comandante da operação ordenou o imediato cessar-fogo: “Caso contrário - gritou - iremos impor a ordem nem que para tanto seja preciso disparar contra quem estiver na frente sem distinção de qual lado”.

Em seguida, os soldados formaram um cordão de isolamento e colocaram suas  metralhadoras voltadas para a praça, ao mesmo tempo em que um oficial se dirigiu ao prédio da guarda getulista.

Nem precisou de esforço para arrombar a porta, bastou um empurrão, a fechadura já estava arrebentada pelos tiros.

Intimados a deixar o local, os ocupantes da sede da legião tenentista receberam garantias de que seguiriam para um quartel, longe das vistas dos estudantes.


Debaixo de vaias, um a um seguiu por um corredor pelos soldados, ingressando em três veículos estacionados junto ao meio-fio. Nenhum deles exibia ferimentos graves. 

Eram quase 5 horas da manhã, o dia ainda não havia clareado e só depois, ao alvorecer, se teve a dimensão exata do episódio de violência ocorrido durante aquela madrugada.


Havia mais de uma dezena de estudantes feridos ainda caídos ao chão aguardando o transporte em padiolas para a Santa Casa.

O número de vítimas, incluindo os que morreriam dias depois nos leitos hospitalares chegaria a 13, mas um número ainda maior de mortos foi esquecido pela historiografia e assim, condenado ao eterno anonimato.

Ficaram para a eternidade apenas os nomes de Euclides Miragaia, Antônio Américo Camargo Andrade e Mário Martins de Almeida, recolhidos sem vida e do palco das manifestações conduzidos ao necrotério.


Uma quarta vítima, o adolescente Dráusio Marcondes de Souza, de apenas 14 anos, morreria menos de uma semana depois pelas complicações dos ferimentos a bala que recebeu.

As iniciais dos seus nomes; Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo deram origem à sigla MMDC que marcaria a cruzada iniciada por São Paulo contra a ditadura e em defesa de uma constituição legítima e democrática. 

Por isso se torna inadmissível aceitar que pessoas nos dias de hoje, saiam às ruas não para pedir a democracia e sim o retorno de regimes autoritários.

Isto vai contra os princípios do MMDC. Um memorial erguido em homenagem aos heróis defensores de São Paulo por uma constituição, não pode ser afrontado.




sexta-feira, 21 de maio de 2021

German Lorca e a arte da fotografia neste “Festival do Adeus" ao lado de Eva Wilma e Bruno Covas

German Lorca, o fotógrafo do IV Centenário de São Paulo, se foi aos 98 anos. Paulistano do Brás, completaria 99 agora, em 28 de maio.

Apesar da idade avançada, sua despedida veio de surpresa no início deste mês, porque não foi acometido pelo coronavírus. Morreu de causas naturais.


Seu falecimento aconteceu em 8 de maio, lamento não ter postado antes minha crônica sobre German Lorca, mas em seguida veio a notícia da morte de Eva Wilma e logo depois de Bruno Covas, que fez aumentar ainda mais o trágico "Festival do Adeus" pelo qual o País está passando.

Sempre gostei da personalidade de Eva Wilma, na TV Tupi protagonizou  séries divertidas como Alô Doçura e Confissões de Penélope, além de ter sido a primeira a interpretar Ruth e Raquel, na primeira versão de Mulheres de Areia, novela de Ivani Ribeiro. 

Nos anos de chumbo não se fez intimidar, saiu às ruas quando necessário, para pedir o fim da censura, do AI-5 e a abertura política.

Não me conformo em saber que hoje existem pessoas pedindo o contrário.


Na foto histórica acima, Eva Wilma aparece caminhando de mãos dadas ao lado de outras atrizes, entre elas Tônia Carrero, Odete Lara e Norma Bengell, em uma passeata na Avenida São João.

Após a democratização, voltou às ruas em 2011, para defender um quarteirão de 20 mil m², no Itaim-Bibi, que a prefeitura pretendia vender a uma incorporadora do mercado imobiliário.

A aquisição do terreno colocaria abaixo uma área verde dotada de serviços públicos e culturais gratuitos, entre os quais uma escola e biblioteca infantil.


Ao lado de moradores, a atriz participou das reivindicações para a devolução do terreno à municipalidade e a prefeitura pressionada, voltou atrás em sua decisão.


No ano de 2019, foi inaugurado o Espaço Cultural Itaim, na primeira gestão de Bruno Covas como prefeito, conforme foto de Helcias Bernardo de Pádua.

“Quarteirão da Cultura”, localizado entre as ruas Horácio Lafer, Salvador Cardoso, Cojuba e Lopes Neto, foi devolvido à população em definitivo.


Voltando a falar de German Lorca, preparei para a "Revista “Matarazzo em Foco", da jovem produtora de livros Thaís Matarazzo, em 2018, um pequeno artigo sobre a exposição de fotos promovida em homenagem ao fotógrafo no Espaço Itaú Cultural.

Na matéria coloquei a imagem postada no início deste texto, da velha senhora de costas, conduzindo a criança em direção à Oca do Parque do Ibirapuera ainda em construção.

A estampa é considerada uma obra de arte, graças ao olhar sensível do seu autor, sempre observador dos pequenos detalhes.

Na foto, a senhora representa a cidade de 400 anos e a criança significa o futuro na direção do que é novo, um edifício moderno construído dentro de um parque público prestes a ser inaugurado, em 1954.

German Lorca era filho de imigrantes espanhóis, morou no Brás quando aquele bairro era iluminado por lampiões de gás e suas ruas repletas de gente proveniente de vários países, pisando sobre paralelepípedos.

Naquele ano, Lorca foi contratado pela prefeitura para ser o fotógrafo oficial das cerimônias alusivas ao IV Centenário de São Paulo.

No registro acima feito das escadarias da catedral da Sé, suas lentes mostram a multidão, tendo ao fundo o Edifício Santa Helena, demolido em 1976 para as obras do metrô Sé.

No ano de 2018, recebeu a singela homenagem quando se fez a exposição de suas fotos na Avenida Paulista com o título, "German Lorca: Mosaico do Tempo, 70 Anos de Fotografia."

Na mostra apareceram 150 figuras entre as quais as imagens registradas pelo fotógrafo no Parque do Ibirapuera, logo após sua inauguração.

“As coisas mudaram, mas ainda sinto prazer em fotografar a cidade”, contou German Lorca pelo telefone, na breve entrevista com ele por ocasião da mostra no Itaú Cultural.

  

Sobre Bruno Covas, tenho também algo a dizer. Foi o mais jovem prefeito que São Paulo já teve e o primeiro a morrer no exercício do cargo.

Assumiu a prefeitura com 38 anos em 2018 e a deixou em 2021, por causa de sua morte causada por um câncer cruel. Lutou o quanto pode. Tinha 41 anos.

Com ele se foi um importante defensor da democracia, nesses tempos de polarização e desrespeito às instituições.

Pessoas como Bruno Covas, Eva Wilma e German Lorca sempre farão falta e cada vez mais.



  Colaborou: Helcias Bernardo de Paula, historiador do Itaim-Bibi, biólogo e jornalista.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Sinto falta dos Long-Plays: Além das músicas, quase todos traziam capas geniais

Está fazendo um ano - maio de 2020 - que recebi de um amigo, em pleno avanço do coronavírus e isolamento social, o desafio de apresentar no Facebook as fotos dos 10 álbuns que mais influenciaram o meu gosto pela música. 

Um álbum por dia, durante 10 dias consecutivos, sem a necessidade de explicações. "Não precisar dar opiniões, só as capas", me explicou. Como jornalista, não consegui ficar sem escrever algo a respeito. Afinal, diria Roberto: "São tantas emoções!"


Comecei falando de Abbey Road que para mim, é o melhor álbum da história do rock. O Lado B deste disco dos Beatles cheio de faixas curtinhas onde uma vai se interligando à fazendo um só segmento é uma das maravilhas que mais deliciaram os meus ouvidos.



Sou capaz de amar os Beatles e os Rolling Stones sem ter que compará-los. Os dois são sensacionais. Let It Bleed, álbum lançado após a separação dos Beatles, fazendo um contraponto a Let it Bee, mostra a união perfeita do blues com rock'n roll.

Há no bom sentido, um duelo de guitarras sensacional entre Keith Richards e Mick Taylor. Não dá para ficar sem elogiar após ouvir tamanha joia musical. Qualquer pessoa que de fato, gosta de música fará elogios a este disco.


O Deep Purple foi a "boa nova" musical da minha vida. Nunca tinha ouvido nada igual até 1974 quando descobri esse grupo.

As músicas faziam parte do que se chamava de rock pauleira, mas com um toque harmonioso oferecido pelo tecladista John Lord.

Ele dava sustentação musical à banda. Canções como Burn, You Fool No One e Mistreated, presentes no disco, são boas de ouvir até hoje.


Entusiasmado com o  Deep Purple, quis comprar o álbum duplo Made in Japan, gravado ao vivo em Tóquio, no ano de 1972. A minha condição financeira de estudante, entretanto, não me permitia adquirir um álbum duplo. 

Eis então que, um colega de sala de aula do Colégio Gualter da Silva, Renato Lena, me disse que tinha esse álbum na casa dele e que não ouvia. Se eu quisesse, ele me venderia por um preço baratinho. 

Feito o negócio, ouvi Made in Japan pela primeira vez em 1975, três anos depois de seu lançamento e me engasguei tentando acompanhar o desempenho do vocalista Ian Gillan, dono de um pulmão fantástico.


A capa do álbum “The Dark Side of the Moon”, nada tem a ver com um símbolo LGBT, as cores deste movimento vieram depois. 

O prisma com as cores do arco-íris utilizado pelo Pink Floyd, faz referência ao famoso experimento do físico Isaac Newton, sobre a composição da luz. 

Aprendi isso nos meus tempos de Gualter, no Moinho Velho - Ipiranga. Lá, me ensinaram, que as cores do prisma girando em grande velocidade se decompõem levando à coloração branca. 

Criamos um "Disco de Newton" para a nossa feira de ciências, sempre lembrado todas as vezes que deparo em algum lugar com a capa do Long-Play do Pink Floyd.

Lançado em 1973, a música Us and Them era executada na programação da Rádio Excelsior, a "Máquina do Som" e o toque romântico desta canção ganhou destaque nos nos bailinhos de luz negra da minha adolescência. Nessa idade, tudo é lindo, divino e maravilhoso. Uau!

O álbum The Dark Side Of the Moon me ajudou compreender que pode a música lenta também servia de linguagem ao rock. O Pink Floyd também abriu portas para que nós brasileiros passássemos a ouvir a música progressiva  que marcou parte dos anos 1970.

O título "Krig-ha, Bandolo!" faz referência a um grito de guerra do personagem Tarzan das revistas em quadrinhos e significa: "Cuidado, aí vem o inimigo".

Ouvi a letra de Ouro de Tolo, que quase não cabe dentro da música, no programa de Hélio Ribeiro, na Rádio Bandeirantes, quando estava almoçando. 

Precisei parar de comer e me aproximei do rádio para escutar direito o que ele dizia.

Na mesma semana recebi minha mesada e comprei o LP que também traz Al Capone, Metamorfose Ambulante, Mosca na Sopa, enfim a nata de Raul.

Meus irmãos se admiraram quando apareci com este disco em caso, para eles considerado disco chato. Um pouco mais velhos do que eu, já ouviam 
Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina, etc. 

"Gosto desses todos, só que eu quero ouvir Raul também", expliquei. 

Raul Seixas segue sendo ouvido não só pelos roqueiros, mas por quem gosta da moderna MPB e até pelos sertanejos. Ninguém mais duvida que Raul virou ídolo de todas as torcidas e ideologias. Mais até do que Elvis, Raul Seixas não morreu.


O que há de mais lindo neste disco é a capa. Rita Lee aparece portentosa, após seu desligamento dos Mutantes, tendo seguido adiante com o Tutti-Frutti.

Houve um show que ficou meses em cartaz no extinto Teatro Aquarius e fui até lá com os meus amigos para assistir. 

Nunca havia visto alguém com tanta presença de palco, não consegui desviar os olhos dela durante o show inteiro.  Ainda gosto de ouvir as faixas deste LP, guardado comigo em sua versão original em vinil de 1975. 

Por favor, se alguém visitar algum lugar e se encontrar com Rita Lee, passem o meu recado. Digam a ela que eu ainda a amo.

Destaques deste disco para: Agora Só Falta Você, Esse Tal de Roque Enrow e Luz del Fuego, sem esquecer claro, da emblemática Ovelha Negra.


Eu só conhecia o Joelho de Porco de nome, até o dia em que passando na Rua 24 de Maio, entrei na loja de discos Brenno Rossi e pedi para ouvir o Long-Play dessa banda. 

Gostei tanto que comprei na hora. Estava com 17 anos e sonhava em seguir a carreira de vocalista, igual a Próspero Albanesi, voz principal do Joelho de Porco que eu procurava  imitar. Achava os tons dele parecidos aos meus.

Sei de cor e salteado todas as letras das faixas deste disco, então eu não tenho como deixar o "Joelho" de fora desta minha lista de favoritos.


Foi uma escolha difícil porque são tantos os discos bons do Led Zeppelin que a gente até fica na dúvida, mas escolhi o Led III.

Este LP me inspirou a compor uma música chamada Blues Tentador.

A canção do Led Zeppelin à qual me refiro é Since I've Been Loving You, que considero a melhor interpretação de Robert Plant.


O tempo foi passando, 1984. Já trabalhando como jornalista, li a notícia que a gravadora do The Police decidiu lançar uma coletânea com os singles da banda.

Não havia ainda me atido ao início do The Police porque achava que se tratava de uma banda comercial que é como se dizia na época sobre os artistas que aceitavam se submeter aos interesses comerciais das gravadoras.

Ao ouvir o cantor Sting interpretando em um tom acima da média e com o baterista Stewart Copeland trazendo uma batida inovadora, percebi que o grupo tinha qualidade

Cheguei a dizer aos amigos que depois dos Beatles, foram eles os que mais inovações trouxeram ao rock. 

Essa é uma tese que ainda defendo. Nas canções do The Police quase não aparece uma segunda guitarra. 

Andy Summers, o guitarrista segura a onda de maneira magistral. A partir do The Police, os longos solos começaram a desaparecer pouco a pouco.


Completadas as 10 postagens, pedi ao amigo que me lançou o desafio pelo Facebook, Welliton Morgan, que me desse um bônus, ou seja, a possibilidade de colocar mais um disco, seria então o 11°.

Não poderia deixar de fora o álbum Cabeça Dinossauro, o terceiro dos Titãs que representou para eles o auge da banda nos anos 1980.

Para mim, este LP representou o ponto mais alto em termos de qualidade em relação a tudo o que se produziu no rock brasileiro. 

Enfim, o avanço da tecnologia levou à perda do lúdico e da magia que as capas dos Long-Plays nos ofereciam.

Daria até para se resgatar mais histórias musicais aqui, mas por hoje é só.


sexta-feira, 7 de maio de 2021

Lendas e histórias do edifício Copan mesmo durante a pandemia

O Edifício Copan tem o formato de uma onda, as paredes internas e os corredores também fazem curva lá dentro.

A elaboração deste projeto arquitetônico pra lá de ousado na época em que foi concebido, se deu em 1951 e o anúncio da construção foi feito durante as comemorações do Quarto Centenário de São Paulo - 1954.

Quem projetou o Copan foi o arquiteto Oscar Niemeyer quando Brasília ainda não existia, mesmo assim era um profissional já bem conhecido e muito elogiado pelos entendidos.

O edifício só ficou pronto em 1966 e se transformou rapidamente uma das marcas registradas de São Paulo, pela imponência de sua construção com 35 andares, além de dois subsolos de garagem, uma ousadia para a época.

O Copan nasceu para ser uma pequena cidade que ostenta em seu piso térreo uma galeria com capacidade para 52 lojas e um cinema extinto na década de 1980 para dar lugar a um templo de uma igreja evangélica.

O surgimento deste prédio foi cheio de controvérsias, pois a ideia original era de se construir um imóvel de alto padrão com apartamentos espaçosos e super luxuosos.

O proprietário, se quisesse, poderia além de morar ter ali mesmo seu escritório porque os três primeiros andares foram projetados para fazer parte da área comercial do prédio.

Anexo há um edifício que pertence ao Bradesco, mas proposta original era fazer dele um hotel também luxuoso.

Durante a obra, entretanto, os interessados passaram a desistir da compra por causa do alto preço das unidades e a construtora decidiu modificar o empreendimento.

Oscar Niemeyer discordou das mudanças e deixou o projeto, sendo substituído pelo arquiteto Carlos Lemos.

No lugar dos apartamentos classe A, foram colocados à venda unidades menores distribuídas em conjuntos de três quartos e também quarto-sala integrados, chamados naquele tempo de kitchnetes.


Ao todo foram vendidos 1.160 apartamentos distribuídos em seis blocos, que passaram a compor aquele que foi durante muito tempo, o maior edifício residencial da América Latina.

O pavimento térreo possui uma galeria com espaço para abrigar 72 lojas, mais o cine-templo evangélico. 

Lá residem hoje cerca de 5 mil moradores e o nome Copan se deve à empresa que construiu o prédio; Companhia Pan-América.


Durante a década de 1980 o Departamento do Controle de Uso de Imóveis da Prefeitura de São Paulo - Contru - notificou o Copan por problemas com fiação elétrica, encanamentos e outras situações que todos os arranha-céus enfrentam quando não recebem a devida manutenção.

Foi quando a administradora do condomínio decidiu contratar um síndico que com o tempo se tornou praticamente o prefeito do prédio.

No cargo desde 1993, Afonso Celso Prazeres de Oliveira, segue mesmo agora no enfrentamento da pandemia, comandando o prédio gigante, considerado uma cidade dentro da metrópole.

Cheguei a entrevistá-lo no programa São Paulo de Todos os Tempos para a Rádio Eldorado, em 1997. Na ocasião ele se recusou a comparecer no estúdio alegando falta de tempo, então fui até ele.

Em seu escritório me apresentou um verdadeiro museu repleto de documentação e fotos relativas ao arranha-céu, inclusive algumas mostrando o que havia no terreno antes da construção.

Existia a Vila Normanda, um conjunto de residências bem ao estilo dos casarões europeus de primeira linha.

Em 2007, quando Oscar Niemeyer completou 100 anos de vida, Afonso Celso prestou uma homenagem ao arquiteto e estampou o número 100 na fachada da majestosa construção.


A crise econômica tem prejudicado as finanças do Copan, em 2020 um total de 26 lojas em funcionamento no prédio fecharam suas portas devido aos prejuízos decorrentes do distanciamento social. 

O Edifício Copan tem uma história muito interessante de moradores ilustres. Um deles é Plínio Marcos que se tornou lenda por ter sido um dos atores mais bem pagos do Brasil nos tempos da TV Tupi e que largou tudo por razões pessoais e políticas.


Chamado depois de “autor maldito”, Plínio Marcos se transformou em escritor e passou a viver da venda dos seus livros repletos de assuntos polêmicos envolvendo questões sociais e violência.

Só que viver do que se arrecada com livros no Brasil, sempre foi algo muito difícil e o artista passou a imprimir ele próprio suas obras e saia vendendo nas portas dos teatros e nas faculdades.

Quando não havia lugares para ir, Plínio Marcos montava sua banca em frente ao Copan e ali vendia seus trabalhos.

Trabalhei ao lado dele pela Rádio Capital em uma cobertura dos desfiles de carnaval na Avenida Tiradentes, em 1982.

Plínio Marcos morreu em 1999, quando já não mais residia no Edifício Copan. Essas são apenas algumas das passagens em torno dos acontecimentos que envolvem este arranha-céu, mas existem outras.


Um livro da escritora Regina Rheda que leva o título “Arca sem Noé: Histórias do Edifício Copan”, é tão rico em acontecimentos que no ano do seu lançamento - 1994 - a autora recebeu o prêmio Jabuti como melhor obra literária para provar que este baluarte da memória continuará sendo
 ainda por muito tempo, um lugar cheio de novidades.

Veja mais fotos do Copan e da Vila Normanda.





sábado, 1 de maio de 2021

Na semana do Dia das Mães, a história da Maternidade São Paulo

 “Andando nas ruas do centro de São Paulo ao final do século 19, Bráulio Gomes, um médico renomado, precisou dar assistência a uma mulher em plena calçada prestes a dar à luz.

Depois de auxiliá-la no parto, a levou para sua própria casa oferecendo todos os cuidados até que criança e a mãe estivessem fora de perigo.

Depois de vivenciar este episódio, Bráulio Gomes tomou a iniciativa então de construir um hospital para que as mães sem condições de pagar pelo atendimento pudessem, ainda assim, receber o tratamento necessário na hora de terem seus filhos.


Assim surgia, a Associação Maternidade São Paulo,
em 1894, pelo médico Bráulio Gomes (1854-1903).

A instituição funcionou como entidade beneficente durante 109 anos, até ser desativada em 15 de setembro de 2003, penhorada que foi em razão de uma dívida à época em torno dos seis milhões de reais.

Localizada na Rua Frei Caneca, bem próxima da Avenida Paulista, seu prédio de 14 andares foi demolido em agosto de 2014 pelo fato do terreno ser de alto valor comercial.

Até pouco antes seu fechamento, a instituição seguiu funcionando em ritmo frenético. Registros dão conta que somente na década de 1980 cerca de 160 mil partos foram ali realizados.


Entre os nascidos na Maternidade São Paulo que alcançaram notoriedade estão Ayrton Senna, Amyr Klink, Paulo Maluf, William Bonner, Susana Vieira e Nelson Motta.

Além dos nomes citados, milhares de outras pessoas vindas de famílias operárias e de classes mais humildes, deram o primeiro choro nas dependências daquela associação.

O acervo documental da maternidade foi preservado, inclui um número acima de 1630 livros de registro dos nascimentos que ali aconteceram no período entre 1901 e 2003.

Toda essa documentação se encontra sob custódia do Arquivo Público do Estado de São Paulo, podendo ser consultada sob autorização judicial.

Muito do que se sabe sobre a Maternidade São Paulo, foi contado nos livros do médico ginecologista e obstetra, Duílio Crispim Farina, que trabalhou para aquela casa durante 45 anos.

Ao se aposentar, o Dr. Duílio dedicou seu tempo a um estudo em que buscou valorizar a importância da medicina executada em São Paulo em todas as épocas, dando especial ênfase aos mestres e formandos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, à qual chamava pelo codinome “Casa de Arnaldo”, numa homenagem ao seu fundador, Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho.

Como jornalista acompanhei especialmente durante a década de 1990 discursos memoráveis proferidos pelo Dr. Duílio Crispim Farina na sede do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do qual era sócio titular.


Contava ele ter nascido em 21 de dezembro de 1921, na residência de uma tia moradora da Ladeira Porto Geral. "Assim pude vir ao mundo em berço histórico, próximo da antiga Casa de Tibiriçá e do Pátio do Colégio".

O Dr. Duílio, se despediu de nosso convívio em uma data muito especial para ele e todos os paulistas: 25 de janeiro no ano 2003.


Recebi recentemente de meu confrade na Academia Paulista de História – APH, o médico-historiador Hélio Begliomini, o livro de sua autoria que leva o título, "Antigos Membros da Centenária Academia de Medicina de São Paulo."

A publicação me fez lembrar o Dr. Duílio Crispim Farina, que se tornou com o tempo um grande amigo e um dos meus professores de história paulista.

Ele dizia acreditar ter realizado o parto do meu nascimento, visto que também vim ao mundo, através de minha saudosa mãe, nas dependências da Maternidade São Paulo, no tempo em que ele era médico titular da instituição.

Que Deus abençoe todas as mães em seu dia.