Um evento para celebrar os 130 anos do nascimento de Mário de Andrade aconteceu na sede do Iphan-SP, na Avenida Angélica.
A escolha do local foi apropriada porque Mário em suas
andanças por São Paulo costumava circular naquela região que fazia de Santa
Cecília, Higienópolis e Campos Elíseos um só lugar.
Pascoal da Conceição vivenciou Mário de Andrade na
inesquecível minissérie “Um Só Coração”, de Maria Adelaide Amaral.
Mário de Andrade nasceu em 9 de outubro de 1893 na cidade de São Paulo, a quem amou com paixão intensa, só comparável à do poeta
Paulo Bomfim que tive a honra de conhecer e desfrutar de sua amizade.
Paulo conversava sempre comigo, me falava de suas
reminiscências, certa vez recordou a casa onde viveu parte da infância, na Rua
Rego Freitas, 59 – Vila Buarque.
Na mesma residência moravam suas tias Cecília e Magdalena
Lébeis, que recebiam na sala muitos visitantes, entre eles intelectuais da época.
Paulo Bomfim embora menino, chegou a ver nas visitas às suas tias, os poetas parnasianos Coelho Neto e Martins Fontes.
Além deles, viu Guilherme de Almeida e o maestro Heitor Villa - Lobos, do qual sua tia Magdalena, que tocava piano, era uma de suas grandes intérpretes.
Quanto a Mário de Andrade, o menino Paulo o conheceu quando tinha seis anos de idade e caminhava com sua mãe pelo antigo Viaduto do Chá, cujo piso de madeira trepidava na passagem dos bondes elétricos.
“Vivia-se a Revolução Constitucionalista de 1932 e Mário brincou comigo: 'Vamos precisar de você para entregar cartas aos soldados que estão na batalha!' Inocente, fiquei eufórico com o convite.”
O menino Paulo passou a pedalar intensamente o seu triciclo. “Eu acreditava que aquilo me
deixaria forte a ponto de começar logo a fazer as entregas com a rapidez que fosse necessária”.
Poucos anos depois, Mário de Andrade compareceu a uma
festa de Ano Novo organizada no casarão de sua família e tudo parecia meio
desanimado, até que o autor de Pauliceia Desvairada, deu início a um cordão
pela sala.
Suas tias à frente, Mário e Paulo ainda criança no fim
da fila, a brincadeira foi divertida e todos ficaram alegres ao final.
Paulo Bomfim se lembrava do velório de Mário de Andrade morto por um enfarto aos 52 anos, em 25 de fevereiro de
1945, quando dormia em sua casa na Rua Lopes Chaves.
“Leonor Aguiar, uma mulher inteligentíssima que declamava russo, entrou no recinto com uma roupa e quando se aproximou do caixão resolveu trocar. Tirou o vestido, ficou só de combinação e, na frente do morto e de todos os presentes, colocou um outro que trazia na bolsa sem a menor cerimônia!”
No livro "Insólita Metrópole", publicado em
2013, a autora Ana Luiza Martins coloca alguns desses casos que ouvi pessoalmente da boca do
próprio poeta e outros mais que Paulo Bomfim costumava contar durante suas conversas
memoráveis.
Os pés de Mário de Andrade não foram enterrados na rua
Aurora, seu coração paulistano não acabou afundado no Pátio do Colégio, nem sua
língua no Alto do Ipiranga para cantar a liberdade, como pediu em um de seus
poemas.
Mário de Andrade teve como morada definitiva o Cemitério da Consolação, onde também repousa o poeta Paulo Bomfim que nos deixou
em 7 de julho de 2019, aos 92 anos.
Outros modernistas descansam no Consolação, Oswald de Andrade celebrou seu casamento com a escritora Patrícia Galvão, a Pagu, na rua 17 deste cemitério, em frente ao túmulo do pai, em 1930.
Mas o que importa para finalizar esse texto que celebra os
130 anos de Mário de Andrade, é colocar algumas de suas boas, inteligentes e alegres lembranças para enriquecer nosso conteúdo de informações.
A ideia de se
organizar a Semana de Arte Moderna de 1922, cresceu após Mário de
Andrade rebater o artigo de Monteiro Lobato contrário ao movimento modernista.
Em 1917, nas páginas do Estadão, Lobato fez duras críticas à exposição de Anita Malfatti, artista plástica genuinamente modernista, e sua atitude deixou Mário indignado.
Durante a abertura da semana histórica, em 1922, Mário recitou nas escadarias do Teatro Municipal, debaixo de vaias, sua Ode ao Burguês, por considerar os conceitos da sociedade de então totalmente ultrapassados.
“Eu
insulto o burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês! A digestão bem-feita de
São Paulo! O homem-curva, o homem - nádegas! O homem que sendo francês,
brasileiro, italiano é sempre um cauteloso pouco -a- pouco... Eu insulto as
aristocracias cautelosas... eu insulto o burguês funesto!”
Imaginem Mário nos dias de hoje entre nós, em meio a
tanta polarização política, de que lado estaria?
Após 130 anos de seu nascimento, a obra deixada por
Mário de Andrade permanece atual e serve de alerta aos que insistem em buscar no passado as soluções para os problemas atuais.
Para saber mais acesse: Blog do Geraldo Nunes: Monteiro Lobato x Anita Malfatti e muito mais sobre a Semana de 22
Interessante! Esther Saba
ResponderExcluirPaulo Bomfim, Mário de Andrade, pilares da história de nossa cidade ( SP), onde a poesia e a arte, entrelaçadas às suas próprias vivências, dão o corolário necessário àquela!
ResponderExcluirExcelente. Tenho para mim que o coração do poeta não resistiu, depois de quase 6 anos atormentado pela 2a guerra mundial e suas iniquidades.
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