terça-feira, 31 de outubro de 2023

Cemitério da Consolação abriga nomes ilustres e histórias curiosas

Todas as vezes que passo de carro em frente ao Cemitério da Consolação me lembro de uma reportagem que fiz com seu então diretor, Délio Freire dos Santos e o poeta Paulo Bomfim.

Os dois conheciam detalhes interessantes sobre os túmulos e o histórico de figuras ilustres que lá repousam.

Estão sepultados entre os mais de 8 mil jazigos decorados por 300 esculturas de alto valor artístico e cultural, ex-presidentes da República, como Campos Salles (1841-1913) e Washington Luiz (1869-1957).

Vitoriosos quando vivos em diversas eleições os dois agora perdem na quantidade de visitas para o túmulo de Domitila de Castro Canto e Melo (1797-1867), a Marquesa de Santos.

Famosa por ter sido amante de Dom Pedro I, casou-se ela depois com o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar e mais tarde, viúva e idosa, passou a fazer benemerências.

Com uma fortuna equivalente a R$ 120 milhões em valores atuais, foi a marquesa quem doou o dinheiro para a construção da primeira capela do cemitério inaugurado em 1858.

Essas informações estão no livro “Domitila, A verdadeira história da Marquesa de Santos” do escritor youtuber,  Paulo Rezzutti.

Na obra ele desmente a versão popular que teria sido a marquesa a doadora do terreno onde está o Cemitério da Consolação.

“A maior parte dos 77 mil m² de área já pertencia à municipalidade e o restante era de propriedade de Marciano Pires de Oliveira, dono de uma chácara vizinha.

Quem também sabe muito a respeito do Cemitério da Consolação, é o historiador Eduardo Coelho Morgado Rezende.

Rejeitado pelos editores, resolveu publicar seus livros por conta própria e para isso criou a Editora Necrópoles.

Autor de cinco obras repletas de curiosidades sobre os cemitérios da capital paulista, ele explora assuntos como os epitáfios sobre as lápides, a importância da arte tumular e o valor turístico dos cemitérios.


No Cemitério da Consolação existem esculturas de artistas famosos como Victor Brecheret (1894-1955) que lá esculpiu “O Sepultamento”, monumento colocado sobre o túmulo de Olívia Guedes Penteado (1872-1934).

Dama da alta-sociedade paulistana de sua época, além de mecenas, curiosamente, Dona Olívia foi a primeira mulher a tirar carteira de habilitação para conduzir automóveis na capital paulista.

Há também o túmulo da estátua de mármore de uma mulher nua, esculpida por Francisco Leopoldo e Silva (1879-1948) que está sentada na posição de um ponto de interrogação.

A explicação envolve uma tragédia amorosa acontecida entre o brilhante advogado Moacyr Toledo Piza (1891-1923), lá sepultado e Romilda Machiaverni (1897-1923).

Conhecida cortesã que aparece na foto acima, era chamada nas rodas sociais pelo codinome Nenê Romano e considerada naquele tempo a mulher mais bonita de São Paulo. 

Moacyr foi procurado por ela para tocar uma ação indenizatória contra outra mulher que a agrediu e feriu seu rosto com uma faca.

Dizem que ao vê-la o advogado se apaixonou de imediato, muito embora a linda moça não tivesse demonstrado o mesmo interesse por ele.

A morte dos dois aconteceu há exatos 100 anos, em 25 de outubro de 1923.

Romilda deixara uma recepção no Jóquei Clube e pediu um carro para conduzi-la até sua residência, Moacyr embarcou junto, levando consigo um buquê de flores.

Após entrarem na casa localizada na Avenida Angélica com Rua Sergipe, Romilda Machiaverni foi achada morta com quatro tiros e Moacyr Toledo Piza também morto, estava ao seu lado, com um tiro na cabeça.

Investigações policiais da época concluíram que o advogado foi quem praticou o assassinato seguido de suicídio.

O fato foi contestado pelos familiares do advogado, daí a ideia da escultura em forma de interrogação a perguntar como tudo aconteceu.

Estes são apenas alguns casos que fazem parte da história do Cemitério da Consolação, existem outros contados em meu livro São Paulo de Todos os Tempos Vol. I, mas estes ficarão para uma próxima vez.

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6 comentários:

  1. Muito importante! Um patrimônio da cidade bem descrito.

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  2. Fico sempre fascinado com as incríveis e instrutivas histórias do Geraldo. Leio tcom muita atenção e prazer tudo o que escreve. Parabéns
    Reinaldo Polito

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  3. Lembro ainda, qdo criança, minha avó paterna, tinha o hábito de ir ao cemitério do Araçá, muitas vezes para ficar chorando no túmulo da família. Eu , criança, ficava andando pela rua do túmulo, até e um dia ví um túmulo com o nome de uma Yara que nasceu no mesmo dia, mês e ano que eu e estava enterrada lá e sua foto ....afff nunca esquecerei.....

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  4. Tenho saudades do seu programa na rádio Eldorado, vc poderia publicar uma vez por semana ou mês uma matéria assim, tenha um fim de semana abençoado noite abençoada !!

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  5. Ricas informações sobre nossa querida São Paulo. Tenho um livro do Eduardo Rezende, fui ao lançamento há uns 16 anos... Gostaria de saber a opinião dele sobre a recente concessão dos cemitérios, feita pela prefeitura à iniciativa privada. Sou a favor das privatizações em quase tudo, menos com certeza na água. Água é o bem mais precioso, bom deixar alguma coisa fora das garras do capitalismo.

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