terça-feira, 26 de maio de 2020

A conclusão da viagem de Cabral às Índias e como foi a morte de Pero Vaz de Caminha, em destaque nesta edição

Atendendo a pedidos dos nossos leitores, traremos com detalhes o que aconteceu na viagem de Pedro Álvares Cabral às Índias, depois do descobrimento do Brasil.

A chegada em Calecute foi seguida de incidentes graves que resultaram na morte de Pero Vaz de Caminha, em 16 de dezembro de 1500.

Para quem não teve a oportunidade de ler a primeira parte dessa história em nossa postagem anterior, acesse: 

https://blogdogeraldonunes.blogspot.com/2020/04/foi-mesmo-pedro-alvares-cabral-quem.html

Pintura retrata como se dava a partida das expedições lusitanas às Índias, com o rei e o povo acompanhando de perto
Conforme explicamos, Pedro Álvares Gouveia não herdou o sobrenome do pai, porque não era o primogênito.

Este era um costume da época em Portugal, mesmo assim era por todos chamado carinhosamente de Cabral.

Nunca foi um navegador nato, sua escolha para comandar a expedição às Índias se deu por ser um chefe-militar.

Sua missão era estabelecer relações diplomáticas e comerciais com o Samorim, líder político e comercial de Calecute.

A cidade indiana é quem detinha o comércio mais importante das especiarias para a conservação de alimentos por parte dos europeus.

Pinturas retratam o Samorim de Calecute de maneira parecida a um sultão nas estórias das Mil e uma Noites

Como não havia condições naquele tempo de se alimentar o gado durante o inverno, a quase totalidade do rebanho era abatida.


A geladeira ainda não havia sido inventada e para a conserva da carne se usava pimenta, para disfarçar o gosto ruim de porções quase deterioradas.

Além desse outros condimentos como noz moscada, cravo eram canela utilizados.

Esses produtos só eram encontrados em terras indianas.

Havia entre os europeus a aquisição desses produtos por meio de um comércio cujo deslocamento era feito por terra sobre camelos.

O trajeto era longo, também conhecido como "A Rota de Marco Pólo".

Se atravessava o Oriente Médio e parte da Turquia até chegar a Constantinopla onde tudo era embarcado com destino a Veneza ou Florença.

Portugal e Espanha concorriam buscando alternativas para esse comércio, dando início à corrida marítima.

Uma parte da Rota de Marco Polo era marítima até o estreito de Hormuz, seguindo por terra até Constantinopla
A expedição de Cabral deixou Lisboa em 9 de março de 1500 para contornar a costa africana até alcançar as Índias.

A passagem pelo Brasil foi uma escala necessária para sacramentar o Tratado de Tordesilhas.

Após “descobrirem” o Brasil, uma das 12 embarcações do início do trajeto levando a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, Dom Manuel I.

Os originais da carta de Pero Vaz de Caminha ficaram esquecidos durante séculos na Torre do Tombo, em Lisboa
A escrita aponta que foram 10 dias maravilhosos em terras brasileiras, de 22 de abril e 2 de maio de 1500.

A carta transcrita para o português atual por Rubem Braga, em 1968, é rica em detalhes.

“...Enquanto andávamos nessa mata a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios por essas árvores e deles verdes e outros pardos, grandes e pequenos, de maneira que me parece que haverá muitos...algumas pombas-seixas, e pareceram-me bastante maiores que as de Portugal...

...alguns diziam que viram rolas; eu não as vi. Mas, os arvoredos são muitos e mui grandes, e de infindas maneiras, não duvido que por esse sertão haja muitas mais aves!

Pintura mostra a naveta de alimentos deixando a expedição rumo à Portugal com a carta de Pero Vaz de Caminha
O historiador Eduardo Bueno explica em “A Viagem do Descobrimento”, de1998, que Pero Vaz de Caminha não era o escrivão oficial da viagem.


Tal função cabia a Gonçalo Gil Barbosa relator dos diários de bordo da nau capitânia.

Caminha era na verdade o contador da expedição, ou seja, aquele que calculava e controlava os estoques de alimentos e outros utensílios.

Assim que chegassem a Calecute faria a contabilidade da feitoria ou armazém, uma espécie de entreposto de mercadorias que Portugal pretendia criar nas Índias.

Caminha, entretanto, pediu permissão para escrever a carta porque desejava o perdão do rei a um crime praticado por seu genro.

O marido de sua filha estava em degredo na Ilha de São Tomé, condenado por ter assaltado uma igreja e ferido um padre.

“A Vossa Alteza peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro, o que d'Ela receberei em muita mercê...

... Beijo as mãos de Vossa Alteza, deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, 1º dia de maio de 1500.”

“Comentários de que o autor da carta do descobrimento teria pedido ao rei, emprego para um parente, não são verdadeiros”, enfatiza o autor Eduardo Bueno em “Brasil, Terra à Vista”.

Pintura faz supor que Pero Vaz de Caminha leu a carta em voz alta para Cabral e o frei Henrique de Coimbra

Caminha não retornaria a Lisboa, foi morto em Calicute, quando a feitoria instalada por Cabral foi atacada por um exército árabe-hindu.

O rei, sensibilizado com a notícia de sua morte, atende o último desejo, livrando o genro do desterro em 1501.

Outro a morrer na expedição de Cabral é Bartolomeu Dias, no mesmo Cabo das Tormentas que conseguiu cruzar
Ao zarpar de Porto Seguro a frota de Pedro Álvares Cabral navegou pelo menos mais 1.000 km pela costa brasileira.

A riqueza dos contornos e a variada vegetação deixou a certeza de que não se não se tratava de uma ilha, mas de um imenso continente.

A esquadra enfim se afasta do litoral e em 23 de maio de 1500, já no Cabo das Tormentas, acontece uma horrível tempestade.

O desespero tomou conta dos tripulantes. “Se queres aprender a orar, faça-te ao mar”, seguiu-se à risca o velho provérbio português.

Cinco navios afundaram, morreram mais de 300 homens, entre eles Bartolomeu Dias.


Pouco representativo em sua época, por não ter sangue nobre, mas venerado pelos portugueses de hoje.

Em 1488, debaixo de um temporal que durou 10 dias, conseguiu passar da costa africana para o Oceano Índico.

Deu nome ao lugar o nome Cabo das Tormentas, mas o rei mandou mudar para Cabo da Boa Esperança, por acreditar que dali se iniciariam os bons negócios.

Em 30 de setembro de 1500 a expedição cabralina chega a Calecute no sul da Índia.

A riqueza da cidade deixa maravilhados os portugueses.

Pintura faz alusão ao primeiro contato dos portugueses com o Samorim por Vasco da Gama
O contato com o sumo mandatário de Calecute dessa vez seria feito por Pedro Álvares Cabral e a ele entrega uma carta.

Assinada pelo rei de Portugal e escrita em árabe, para que assim ele entendesse, a carta pede de modo gentil, autorização para se implantar uma feitoria.

Na mesma oportunidade, Cabral presenteia o líder político com moedas de ouro e prata, sedas e brocados em valor altíssimo.

Tudo o que foi entregue tinha valor muito superior ao apresentado por Vasco da Gama que teria oferecido, dois anos antes, somente potes de açúcar e azeite.

Por causa dos pobres presentes se acreditava que o Samorim teria desprezado os portugueses.

A princípio a ideia pareceu ter dado resultado, o líder político se mostrou feliz com os ricos presentes e autorizou Portugal instalar sua feitoria.

Ocorre que dias depois, um exército com mais de 300 soldados árabes e hindus ataca a feitoria matando cerca de 50 portugueses.

Nesse dia, 15 de dezembro de 1500, acontece a morte de Pero Vaz de Caminha.

Em consequência, Cabral manda bombardear Calecute, matando uma infinidade de pessoas.

A expedição portuguesa deixa o local e se dirige ao reino de Coxim, vizinho 200 quilômetros de Calecute.

Ali se consegue negociar mais facilmente com um rajá rival do Samorim e Portugal consegue finalmente, implantar sua feitoria.

De Coxim as embarcações conseguem zarpar superlotadas de volta a Lisboa, levando a bordo as tão sonhadas especiarias.

Cabral inicia viagem de retorno a Lisboa tendo alcançado seu objetivo, mas não receberia devido reconhecimento do rei

A viagem de retorno se inicia em 16 de janeiro de 1501 e uma das naus com excesso de peso encalha em um banco de areia.

Cabral manda incendiá-la, temendo que piratas se apossassem dela posteriormente.


Nessa altura eram apenas cinco navios, dos 13 que partiram de Lisboa, em 9 de março de 1500.

A armada dobra o perigoso Cabo das Tormentas, em 22 de maio de 1501 desta vez sem nenhum problema.

Uma outra nave ainda se perderia na costa africana durante o trajeto de volta.

O desembarque em Portugal acontece no dia 22 de julho de 1501, ainda assim com um lucro que chegou à casa dos 800%.

Os banqueiros de Gênova e Florença, financiadores da expedição comemoram e o rei Dom Manuel anuncia uma nova viagem.

A essa expedição ele daria o nome de Esquadra da Vingança.

Cabral se apresenta para comandá-la, mas o rei decide escolher Vasco da Gama como capitão oferecendo a ele um segundo posto.

Vasco da Gama contava com as preferências do rei de Portugal pelos dotes de navegador, ao contrário de Cabral, um militar
O descobridor do Brasil reclama, afinal, alcançara o objetivo proposto.

Dom Manuel se surpreende com a atitude e determina a Cabral o afastamento da corte e que passe a viver isolado, numa espécie de prisão domiciliar.

Fixa então moradia em Santarém, em terras pertencentes a Isabel de Castro, sua esposa.

Ela sim, exercia influência na corte por ser neta e bisneta de reis e rainhas de Portugal e Espanha, sem no entanto conseguir livrar o marido de tão grande punição.

Não se sabe ao certo o que Pedro Álvares Cabral teria dito a Dom Manuel para desagradá-lo tanto.

Estabelecem moradia no Castelo de Belmonte, mandado construir por Álvaro Gil Cabral, ancestral da família que deu origem ao sobrenome.

Álvaro Gil Cabral é considerado um dos heróis da Batalha de Ajubarrota que livrou Portugal do jugo castelhano, em 1385
Após chegar às Índias, o descobridor do Brasil contraiu a malária e nunca mais se livrou dos efeitos da doença.

Ainda não havia a cloroquina para o combate dessa doença, vejam só.

Com isso e cometido de febres frequentes. Pedro Álvares Gouveia morre em 1520, aos 52 anos sem as honrarias que se fez merecedor.

Foi enterrado na Igreja da Graça de Santarém, mas durante anos se acreditou que ali existisse somente o túmulo da esposa dele.

Cabral só voltou a ser lembrado quando Dom Pedro II, já no século 19, determinou que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro levantasse fatos relativos ao descobrimento do Brasil.

O historiador Francisco Adolfo Varnhagen, encarregado de atender esse pedido, se deslocou a Lisboa.

Foi ele quem localizou o túmulo de Cabral e desengavetou a íntegra da carta de Pero Vaz de Caminha.


A exumação do corpo de Cabral aconteceu em 1871 quando então se constatou ter ele, 1 metro e 90 de altura, algo raro na época em que viveu.

Em seu tempo, a estatura média era de 1 metro e 60.

Em 30 de dezembro de 1903, uma parte do seu esqueleto foi trazida para o Brasil, outra parte continua em Portugal.

O esquife que pode ser visitado na Igreja do Carmo, do Rio de Janeiro.

No mapa aparece em vermelho o trajeto de ida, iniciado em março de 1500 e a viagem de volta, concluída em julho de 1501

Livros: Brasil, Terra à Vista e Viagem do Descobrimento – Eduardo Bueno. Nau Capitânia – Walter Galvani. Canal Buenas Ideias – YouTube.

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