quarta-feira, 20 de maio de 2020

A pandemia e o medo, empresários temem quebrar: Como seria se o Barão de Mauá ainda estivesse entre nós?

Pessoas com firmeza de caráter igual a Irineu Evangelista de Sousa, parecem estar em falta no Brasil de hoje.

Elas até existem, mas são poucas.

Precisamos de mais gente com a coragem do Barão que depois se tornou Visconde de Mauá.

Retrato do rosto de Irineu Evangelista de Sousa no dia da condecoração em que passou de barão para visconde



No Brasil a busca de soluções imediatas sempre existiu e se deve ao fato dos empresários pensarem no curto prazo.

O que faria o maior empresário brasileiro do século 19 se estivesse enfrentando uma pandemia como essa do mundo atual?

Para obter a resposta contaremos um pouco da sua história.

Dono de ideias avançadas para a sua época, Mauá causava inveja aos outros empresários e aos políticos

Nascido em 1813, viveu até quase a Proclamação da República.

Em nenhum momento de sua vida recorreu ao uso da mão de obra escrava, permitida em seu tempo.

Ele trouxe para o Brasil a indústria naval e as estradas de ferro com ajuda, é claro, de bancos estrangeiros.

Manteve parcerias com o governo, mas poderia ter feito muito mais não fosse o pensamento extremamente conservador de outros empresários.

A questão do comodismo entre alguns apaniguados da corte começou com a família real portuguesa que desembarcou no Brasil em 1808.

Vieram junto muitos bajuladores, mas quando Dom João VI decidiu voltar, alguns permaneceram pelo fato de terem adquirido terras ou aberto negócios no comércio.

Com Dom Pedro II, na hora do aperto, recorriam ao imperador que assim mantinha tutela sobre eles, era o jogo de sempre.

Os fazendeiros viam como essencial para a lavoura manter a escravidão pela falta de mão de obra para o plantio e colheita.

A cada safra o resultado era o mesmo, boa parte dos lucros era gasta na importação de bens de consumo para a ostentação do luxo e riqueza.

Só pensavam em lucrar e não em investir.

Foto provavelmente tirada no Reino Unido mostra o rosto de Richard Carruthers, o mestre do Barão de Mauá

Irineu Evangelista de Sousa, perdeu o pai quando tinha cinco anos de idade, numa contenda por terras no Rio Grande do Sul.

Sua mãe, pouco tempo depois, se casou novamente. A irmã mais velha, também se casou com a idade de 13 anos.

Coube ao jovem assim que completou 11 anos se mudar para o Rio de Janeiro, indo morar na casa de um tio.

Conseguiu emprego no escritório do comerciante escocês, Richard Carruthers, dono de uma empresa de importação e exportação.

Carruthers explicou que para trabalhar em sua empresa era preciso aprender falar em inglês, e lá se pôs o jovem a estudar.

O escocês disse também que os negociantes brasileiros pensavam de modo atrasado em relação ao que já acontecia na Europa, onde a industrialização fervilhava.

Irineu Evangelista de Souza ao visitar as indústrias do reino unido voltou ao Brasil maravilhado

Cansado de assistir ao círculo vicioso das relações entre governo e o empresariado, Carruthers decidiu retornar à sua terra natal.

Propôs ao jovem funcionário que assumisse seus negócios no Brasil, mas para isso era preciso antes visitar o Reino Unido.

Objetivo era fazer o rapaz entender como funcionavam as relações empresariais em um ambiente desenvolvimentista.

Irineu estava com 24 anos quando visitou Londres pela primeira vez e voltou convencido que o futuro do desenvolvimento caminhava junto com a industrialização.

Comprou ações e passou a fazer empréstimos junto aos bancos para dar início ao ousado projeto de industrializar o Brasil.

Implantou primeiro a indústria naval levando para seus estaleiros mais de mil operários, todos eles assalariados.

Além das embarcações suas empresas passaram a fabricar caldeiras para máquinas a vapor.

Guindastes, prensas, armas e tubos para encanamentos de água começaram a ser fabricados e logo adquiriu um banco.

Expandiu seus negócios também para o Uruguai e Argentina.

Mauá levou Dom Pedro II para visitar o estaleiro, depois deu uma pá para que assentasse o primeiro dormente da ferrovia 

Surgiram então os invejosos e dizem, até mesmo o imperador passou a não ver com bons olhos, as ousadias do jovem empresário.

Mesmo assim, em 1854, concedeu a Irineu Evangelista de Sousa o título nobiliárquico de barão.

A escolha pela alcunha Mauá veio de uma das estações da primeira linha férrea construída por ele, entre o Rio e Petrópolis.

Não bastasse, implantou na capital do Império uma companhia de gás destinada à iluminação pública.

Depois levou a navegação a vapor para o Rio Amazonas.

Réplica de um barco a vapor do século 19 navegando na região Amazônica como nos tempos do Barão de Mauá

Participando como sócio, Mauá ajudou trazer ao Brasil a São Paulo Railway que implantou a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.

Uma avançada obra de engenharia, o sistema funicular, possibilitou a subida da Serra por trilhos na ligação entre Cubatão e Paranapiacaba.

Os vagões eram puxados por cabos de aço ligados a uma locomotiva fixa, também chamada locobreque.

Foto atual mostra equipamentos recuperados da São Paulo Railway para visitação em Paranapiacaba

Por iniciativa do Barão de Mauá, o Brasil instalou ligação telegráfica com a Europa por cabos submarinos, uma inovação que surgiu a pedido de Dom Pedro II.

O investimento saiu caríssimo e o lucro financeiro ficou abaixo do esperado, mas com a obra ele obteve o título de Visconde.

Agências do Banco Mauá no Rio, Montevidéu e Buenos Aires fizeram de seu principal acionista um precursor do Mercosul

Irineu Evangelista de Sousa foi o homem mais rico do país em seu tempo

Sua fortuna seria equivalente hoje a US$ 80 bilhões, valor considerado acima do orçamento da nação em sua época.

Entrou para a vida pública, foi parlamentar liberal e abolicionista.

Contrário à continuidade da Guerra do Paraguai, após Uruguai e Argentina terem deixado o conflito, considerava a questão resolvida.

Dom Pedro insistiu na deposição de Solano Lopez e manteve o Brasil na guerra.

Disso se aproveitaram os adversários para fustigar Mauá junto ao imperador.

Suas fábricas foram alvo de sabotagens criminosas e seus negócios no Brasil, abalados pela legislação que sobretaxava a importação de insumos, entraram em declínio.

Os bancos pertencentes a Mauá tanto no Brasil, quanto no Uruguai e Argentina quebraram.

Deixou a política para se dedicar inteiramente aos negócios.

Precisou vender a maioria de suas empresas a capitalistas estrangeiros, como forma única de quitar suas dívidas.

Chegou ao final da vida ainda tendo algumas posses, desmentindo versões de que teria morrido à míngua.

Retornou para o Rio Grande do Sul onde manteve terras e morreu vitimado pelo diabetes, aos 76 anos, em 21 de outubro de 1889.

A data coincide com o baile da Ilha Fiscal, último evento oficial da Monarquia no Brasil.

Não chegou ver a proclamação da República.

Foi casado com Maria Joaquina Machado, sua sobrinha e teve com ela 18 filhos.

No filme dirigido por Sérgio Rezende: Mauá, o Imperador e o Rei, Paulo Betti interpreta o papel principal e contracena com Malu Mader.


A vida do Barão e Visconde de Mauá foi retratada em obra magistral do cinema brasileiro 


No início perguntamos como agiria Irineu Evangelista de Sousa se estivesse entre nós enfrentando o coronavírus e suas consequências. Você já tem a resposta?

Pelo que lemos a seu respeito, a conclusão é que agiria com a honestidade que o caracterizou, combatendo com fibra todas as dificuldades, não se comportando como um bajulador.

Falta ao País de hoje pessoas que façam investimentos pensando no lucro de suas empresas e em avanços para a sociedade e ao país como um todo.

O Barão-Visconde de Mauá faz falta!

Para saber mais assista o filme:




Leitura recomendada: Mauá, Empresário do Império – Jorge Caldeira – Companhia das Letras - 1995

2 comentários:

  1. Barão de Maúa com certeza foi um dos maiores Herois que esta nação já teve, ele ao contrario de muitos queria ver o Brasil crescer.

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  2. Homem importante para a história do Brasil. Fica o exemplo

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