Estou de volta para contar neste blog mais algumas das minhas aventuras nos tempos de repórter aéreo.
Foram 21 anos de sobrevoos diários sobre a cidade de
São Paulo, nenhum outro repórter voou tanto.
Eu gostava de trabalhar na Rádio Eldorado e a emissora gostava de mim, não vejo nisso nenhum problema.
Fui contratado para essa atividade em outubro de 1989 - faz tempo
- e encerrei minha carreira no setor - com méritos e prêmios - em dezembro de
2010.
Depois prossegui no Grupo Estado até 2015 participando do Projeto Rádio Estadão.
Sigo jornalista, mas desde 2016 me dedico a escrever livros institucionais e a preparar textos relacionados com a história, memória, economia e mobilidade urbana.
Mas as lembranças existem e nessas horas busco este
espaço para escrever coisas que acredito serem interessantes para os leitores e antigos ouvintes.
Uma foto da Avenida Paulista, na altura do Masp feita provavelmente por um drone |
Hoje em dia a obtenção de imagens aéreas pelos drones facilita
o trabalho dos repórteres.
Quando vejo imagens aéreas da cidade de São Paulo
trazidas por drones, me lembro do comandante Marcos Filippo, um dos primeiros pilotos com quem voei.
Instrutor de voo do Robinson R-22 Beta, foi um dos que
trouxe os primeiros aparelhos deste modelo para o Brasil.
Tinha um domínio incrível dessa máquina e agia com tanta segurança que
passava a todos que
voavam com ele uma confiança incrível.
Para facilitar nosso trabalho chegou a voar, algumas
vezes abaixo do padrão exigido aos helicópteros.
Eu nunca havia pedido isso, mas ele dizia “Tenho contas para pagar e não quero morrer
devendo a ninguém, fique tranquilo que cause risco, você é meu brother”.
Quem reclamaria de um tratamento tão carinhoso?
Certa vez tombou um caminhão na via expressa da
Marginal do Tietê e, para que eu anotasse a placa do veículo virado na pista, ele desceu com o helicóptero ao nível do rio pairando sobre as águas.
Fiz a anotação e ele subiu novamente.
Imagine estar dentro do helicóptero e anotar a placa de um caminhão acidentado. Só o repórter aéreo da Eldorado fez isso |
Em outra ocasião, um domingo à tarde de pouco vento,
descemos a serra do mar sobrevoando a Via Anchieta.
Ele contornava as curvas da estrada de Santos de um
modo que os motoristas que subiam a serra podiam ver o nosso helicóptero.
Estávamos com o logotipo da emissora nas portas do
aparelho.
Da estrada as pessoas acenavam de seus carros para
nós.
Para mim, tudo aquilo era fascinante.
Foto serve de exemplo para que entendam a visão daquela tarde de domingo, em vez de carretas, carros subiam a serra |
Nos dias de semana, na cobertura do dia-a-dia do
trânsito, o piloto Marcos Filippo entrava na Avenida Paulista ao nível do topo dos
edifícios.
Eu aproveitava e falava do trânsito nas alamedas que cruzam a principal avenida de São Paulo.
Em cada travessa da Rua Maria Figueiredo até a Rua Augusta, uma situação diferente.
Imagine a quantidade de informações contidas em só boletim de trânsito.
Aquilo me deixava realizado, era uma notícia diferente para o ouvinte em cada boletim, graças ao auxílio do piloto.
Imagem da Casa das Rosas para quem voa baixo na Paulista, mas essa foto foi feita por um drone |
Um fato inusitado que poderia entrar em algum filme de
comédia romântica foi quando, voando ao lado desse piloto, precisei acordar uma
namorada, não acostumada a levantar tão cedo.
Em um tempo onde ainda não havia os recursos dos
telefones celulares ou smartphones – ela não tinha despertador e nem rádio
relógio – fizemos um pairado na altura da janela do apartamento onde ela
morava.
Essa namorada acordou com o barulho do helicóptero, abriu a janela, sorriu, acenou e depois
disso voltamos para o alto para dar continuidade ao nosso trabalho.
Na Avenida Rebouças também chegamos a entrar abaixo do nível daquele edifício de esquina com a Eusébio Matoso.
“Assim, não iremos atrapalhar a rota de pouso dos aviões em
Congonhas, meu brother”, me dizia o comandante.
Como passei a oferecer um ótimo resultado do meu
trabalho, comecei a receber elogios e até um aumento de salário, graças ao auxílio desse piloto.
Ocorre que o comandante Filippo obteve um
emprego melhor e se mudou para o Rio de Janeiro.
Foi fazer os voos offshore levando funcionários da Petrobras às plataformas marítimas em alto mar.
Para isso se utilizam helicópteros bi turbina, não é para qualquer piloto, aquelas plataformas são flutuantes, tem que ser bom de braço.
Imagem de um helicóptero marca Sikorsky decolando de uma plataforma na Bacia de Campos - RJ |
Marcos Filippo me deixou mal acostumado, porque comecei a exigir dos
outros pilotos manobras semelhantes.
Ficou chato para mim, reconheço e peço desculpas, alguns se negaram a fazer e deles, Carlos Mendes, me explicou para um piloto menos experiente pode haver riscos.
“Quando voamos baixo, se acontecer uma falha do motor,
fica difícil ou quase impossível fazer um pouso de emergência”.
Carlos Mendes chamou essa situação de “Curva do Homem
Morto”, termo utilizado na aviação pelos pilotos de helicóptero.
Disse mais: "Não conte para a sua mãe que voou nessas
condições, se ela souber do perigo que você passou, ficará triste, muito triste”.
Diante dessas palavras passei a seguir as
recomendações, mas pedindo aos pilotos para que voassem o mais baixo possível.
Com menos altura, a visão do alto vista por quem acompanha o trânsito de helicóptero fica facilitada, mas desde então nunca mais pedi para que voassem fora do padrão recomendado.
Conforme disse Carlos Mendes, "não é para qualquer um."
Os drones por um custo menor substituem as imagens dos helicópteros, mas nem sempre a qualidade é a mesma |
Em alguns casos é necessária uma imagem panorâmica e em movimento que só com um helicóptero se consegue obter |
Olhando de cima, quem sobrevoa o Jardim América observa um paredão de edifícios que se inicia após a Rua
Estados Unidos.
Essa imagem fica melhor explicada quando é feita um helicóptero.
Através dela se consegue entender um pouco como funciona a Lei do Zoneamento na capital paulista.
Prometo em breve voltar a tocar nesse assunto que
envolve o mercado imobiliário dessa nossa metrópole.
Realmente Geraldo a Avenida Paulista traz memorias a todos paulistanos
ResponderExcluirMuito bom, sinto saudades das suas reportagens aéreas. Abraço
ResponderExcluirEmpolgante narrativa.
ResponderExcluirExcelente texto. Lembrei-me da Av Paulista antiga. Era muito diferente e chique.
ResponderExcluirEmocionante!!
ResponderExcluir