quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Arrastado pela força do vento, nosso helicóptero voou da Serra de Santos até Mogi das Cruzes a mais de 200 por hora


Dando continuidade à nossa conversa sobre as coberturas aéreas do Estação Férias pela Rádio Eldorado e ainda citando o comandante Marcos Filippo, informo desde já que não falarei só dele. Há também de outros pilotos e “pilotas” com histórias interessantes e situações inusitadas para contar.

É que esse comandante era mesmo destemido, subiu 11 mil pés para não ser multado pelo controle aéreo no autódromo de Interlagos em um domingo de Fórmula 1 e bem do alto transmitimos o início da corrida e com ele também fizemos voos rasantes nas filas de pedágio da Rodovia dos Imigrantes.

Em outras ocasiões, quando sobrevoávamos a Via Anchieta em dias de pouco vento ele contornava as curvas da estrada de Santos para que observássemos melhor o tráfego e para que os motoristas na estrada também nos vissem. Havia uma integração perfeita dele com essa máquina que ele dizia ter ajudado trazer dos Estados Unidos para o Brasil, o Robinson R-22 Beta.

Entusiastas do Robinson R-22 o consideram a melhor aeronave de pequeno porte do mundo

O R-22, conforme já explicamos é um helicóptero com motor a pistão, para dois passageiros e como tal, tem também suas limitações. Seu motor possui sistema duplo de magnetos, totalmente independentes. Os magnetos se assemelham aos platinados usados em antigos carros.

Ambos são testados antes do voo pelo piloto, quando gastos o motor perde desempenho. Por isso sua manutenção deve ser rigidamente seguida através do Manual do Proprietário.

A Rádio Eldorado nunca teve helicópteros, alugava os aparelhos das empresas de Táxi Aéreo.

Vale ressaltar, entretanto, que um acidente aéreo resulta do alinhamento de vários pequenos problemas. Por isso, embora uma vez tenha caído a bordo de um deles, ainda considero o R-22 uma aeronave segura

Seguindo-se estritamente o manual, se obedecendo as imposições da meteorologia voa-se com tranquilidade dentro de um R-22. Os riscos aumentam debaixo de tempestades, mas quando se está no alto dá para ver em que lado está a chuva nas tardes de verão. Assim, voávamos do lado oposto de onde elas estavam.

O problema é a ventania, o Robinson não suporta ventos superiores aos 20 Nós, ou seja 37,07 Km/h. Acima desse índice, pelo seu pequeno porte, o piloto corre o risco de perder o controle da aeronave.

Quando sobrevoávamos o Sistema Anchieta-Imigrantes, nosso piloto precisou seguir a rota do vento para retornarmos à base

Certa tarde de um domingo de verão, no mês de janeiro, decolamos para acompanhar a volta do paulistano das praias sobrevoando o Sistema Anchieta-Imigrantes e rodovias da baixada santista.

Nosso nível de altura estava pouco acima do topo da serra e, sem diminuir a altitude para avistarmos as estradas no trecho da baixada santista de forma a não perder contato com a central técnica da Rádio Eldorado, porque naquela tarde estávamos sem repetidora no litoral, iniciamos nossa descrição do tráfego para os ouvintes de nossa emissora.

Após a narrativa o piloto fez meia volta para retornarmos a São Paulo, mas o helicóptero não saia do lugar. A aeronave se esforçava para ir em frente, mas o vento estava muito forte.

Aguardamos alguns instantes em silêncio para ver se condutor dizia alguma coisa, mas ele se manteve em silêncio. 

Depois de uns dois minutos nos disse “Onde sair, saiu”.

Como assim, onde sair saiu? Mas não houve resposta.

O piloto então colocou o helicóptero na posição favorável ao vento e seguimos voando, mas a uma velocidade bem acima do normal, em torno dos 110 Nós, conforme o que víamos registrado no painel, ou seja, 203 Km/h.

O helicóptero começou a chacoalhar meio aos trancos e barrancos, mas seguíamos em boa altura sob controle do nosso piloto.

Perdemos o contato visual com as estradas, víamos abaixo de nós apenas a vegetação da Serra do Mar.


Meu Deus, onde iremos sair? 

Saímos sobre a cidade de Mogi das Cruzes, somente lá o vento dissipou.

Foi esta a visão de cidade que tivemos após sermos carregados pela força do vento 


Voltamos à base sobrevoando a Rodovia Presidente Dutra que apresentava tráfego normal e a nossa chegada ao Campo de Marte com pouso tranquilo.

Ficou a experiência de um dia ter sido arrastado pela força do vento.

Pouso tranquilo a bordo de um Robinson R-22 Beta


Robinson R-22. Motor a pistão de 4 cilindros refrigerado a ar e com magnetos no lugar dos platinados


Um comentário:

  1. Legal saber das histórias, ninguém sabe o que rola no bastidor. Continue escrevendo, É bem interessante. Grande abraço

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