sábado, 2 de janeiro de 2021

Quatro livros para ler e não se arrepender, em 2021

Nenhum desses livros é lançamento e nem todos talvez estejam disponíveis na versão e-book, mas merecem leitura ainda que a impressão seja somente em papel.

Posso não ser um especialista em livros, mas diante da desinformação de pessoas que sonham em renascer brutalidades do passado, decidi tomar a iniciativa de sugerir algumas leituras, antes que 2021se perca em discussões que não levam a nada, algo comum, nesses tempos de polarização.

Afinal, um povo que não conhece sua história corre o risco de repeti-la.


Somente os livros oferecem a cultura permanente, aquela que se mantém sempre atual e que nos ajuda a refletir e se posicionar diante dos acontecimentos que surgem no nosso cotidiano.

No Brasil muitas pessoas se acostumaram a pensar com a cabeça dos outros por ignorância, comodismo ou oportunismo e isto não é bom.

Sendo assim, me permitam a ousadia de recomendar alguns livros que possam facilitar a compreensão do que ainda irá acontecer em 2021.

A História nos explica o passado para que possamos compreender o presente e até mesmo o futuro. 


1 - Sapiens, uma breve história da humanidade foi o livro estrangeiro mais vendido no Brasil em 2018.

Seu autor, o cientista israelense Yuval Noah Harari, discorre sobre a trajetória do Homo Sapiens, desde as cavernas até os dias atuais.

Durante a leitura surgem conflitos entre o que o autor escreve e os costumes tradicionais. 

Tudo é colocado com base em comprovações científicas e a conclusão é que apesar de tantos avanços sociais e tecnológicos, o homo sapiens continua se comportando da maneira brutal e animalesca igual aos tempos da idade da pedra, só que em cenário diferente.

Em suma, o ser humano é mau por natureza, mas precisa modificar seu comportamento enquanto há tempo para isso.


2 - Chatô, o Rei do Brasil, foi lançado por Fernando Morais, em 1994, e segue sendo um tema atual por colocar em análise o comportamento da mídia.

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, nasceu no dia 4 de outubro de 1892, em Umbuzeiro - PB, também cidade natal do ex-presidente Epitácio Pessoa.

Foi o maior empresário do setor de comunicações já surgido no Brasil, e ainda ocupa um patamar acima até mesmo de Roberto Marinho. 

Proprietário dos Diários e Emissoras Associados chegou a comandar 34 jornais e 36 emissoras de rádio pelo país todo.

Em São Paulo, foi dono dos jornais Diário de São Paulo, Diário da Noite e das rádios Tupi e Difusora.

A pioneira TV Tupi surgiu em 1950 por iniciativa de Assis Chateaubriand que depois implantou outros 18 canais de televisão Brasil afora. 

Tanta influência fazia dele um homem super poderoso, capaz de modificar leis que o prejudicassem e de elaborar outras em seu favor.

Se fez senador sem nunca disputar uma eleição e foi até embaixador em Londres, mesmo sem ser diplomata. 

Sua relação com o presidente Getúlio Vargas era de amor e ódio que variava de acordo com o interesse de cada uma das partes.

Chateaubriand teve a capacidade de mobilizar o empresariado para financiar iniciativas culturais, como a criação do Museu de Arte de São Paulo – MASP, cujo acervo riquíssimo foi adquirido pela iniciativa privada e doado à coletividade. 

Em 1960, Chatô sofreu uma trombose, espécie de Acidente Vascular Cerebral -AVC, perdeu parte dos movimentos e também a fala, mas seguiu escrevendo editoriais. 

Após Castelo Branco tomar posse, iniciou uma campanha contra o marechal presidente pelo fato de estar governando o país sem promover eleições.

A censura nos veículos de comunicação estava implantada, mas o magnata entendia que o presidente não faria uso desse instrumento contra ele. 

"O fato de eu estar em uma cadeira de rodas e ser quase um morto vivo, faz de mim uma pessoa inatacável", chegou a escrever aos seus interlocutores.

Efetivamente, não houve censura aos artigos de Chatô, mas se promoveu a entrada disfarçada do capital norte-americano nas comunicações do Brasil, com a chegada do Grupo Time Life que financiou o surgimento da Rede Globo de Televisão para fazer frente à Rede Tupi.

Foram, portanto, os militares que promoveram o crescimento da Rede Globo que os bolsonaristas gostam de chamar de "emissora do demônio".

Assis Chateaubriand morreu em 4 de abril de 1968, seu velório foi transmitido ao vivo pela TV Tupi. Caixão fechado, multidão passando em fila para o último adeus.

Em vida teve quatro mulheres, após a separação todas passaram a detestá-lo. Dessas uniões nasceram três filhos, dois rapazes e uma moça, com os quais também brigou, os afastando da herança.

Em seu testamento distribuiu os bens a um condomínio formado por pessoas de sua confiança. 

Mesmo assim, a Rede Tupi não resistiu à concorrência global. Endividada, com salários dos funcionários atrasados e inúmeras pendências judiciais, teve seus transmissores lacrados em 1980.

Em alguns Estados e no Distrito Federal jornais e emissoras de rádio pertencentes ao condomínio associado ainda seguem funcionando.


3- Getúlio, de Lira Neto, se distribui em 3 volumes imperdíveis para quem deseja saber como funciona o Brasil. 

No primeiro volume se aborda o cenário histórico do Rio Grande do Sul em 1882, ano em que Getúlio Dorneles Vargas nasceu, bem como o envolvimento da família dele na política.

Getúlio foi ministro da Fazenda do então presidente da República, Washington Luiz, e se tornou depois candidato à sua sucessão.

Ocorre que o presidente tinha um outro candidato, o paulista Júlio Prestes que venceu a eleição.

Entretanto, nos quartéis, o candidato preferido era Getúlio e após o resultado da eleição considerada fraudulenta, rebeliões começaram a acontecer e Washington Luiz acabou deposto por um junta formada por três generais.

O episódio entrou para a história com o nome Revolução de 1930, colocando Getúlio Vargas à frente do posto máximo da nação para um "governo provisório".

No segundo volume, Lira Neto, explica os acontecimentos de uma outra revolução, a de 1932, quando São Paulo através das armas tenta destituir Getúlio para convocar em seguida uma assembleia constituinte.

Os paulistas perdem nas armas, o presidente permanece no cargo, mas uma constituição democrática é promulgada em 1934.

Em 1937 acontece um golpe, a constituição elaborada três anos antes é rasgada e se estabelece o Estado Novo que na prática representava uma volta ao passado.

As casas legislativas são fechadas e as bandeiras dos Estados suprimidas. A Ditadura Vargas prossegue até 1945, quando Getúlio é destituído pelos mesmos militares que o defenderam durante quinze anos.

O terceiro e decisivo volume escrito por Lira Neto, trata da democratização do país, a formação dos partidos políticos e a volta das eleições diretas. Getúlio retorna à presidência da República, desta vez através das urnas.

Só que as pressões políticas aumentam sobre ele e aparece um inimigo implacável, o jornalista Carlos Lacerda, que se lançara na política e tenta de todos os modos aniquilar o presidente.

Termina a Era Vargas com o suicídio praticado em 24 de agosto 1954. Na carta testamento ele escreve: "Deixo a vida para entrar na história".


4 - 1968, o ano que não terminou, de Zuenir Ventura, é o quarto livro recomendado, porque o tema voltou a ser atual.

Efetivamente, o ano de 1968 parece não terminar. Foi nele que aconteceu o endurecimento do regime militar e a decretação do AI-5 que alguns agora pedem a volta, por total desconhecimento ou oportunismo.

O livro de Zuenir Ventura faz referências ao caso Para-Sar, plano terrorista arquitetado por um brigadeiro líder de um esquadrão de paraquedistas, interessado em desacreditar e reprimir os oposicionistas ao governo militar chefiado pelo marechal Costa e Silva.

Zuenir conta que a proposta do Para-Sar, era detonar explosivos em diversas vias públicas do Rio de Janeiro e atribuir a ação aos movimentos de esquerda.

Na fase seguinte seriam sequestrados e assassinados figurões da política brasileira, como Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros.

O plano não foi levado adiante porque um dos oficiais se recusou a cumprir as ordens por achar o plano violento demais. 

O assunto foi levado às instâncias superiores e uma sindicância foi aberta, mas nenhum militar chegou a ser punido. 

A primeira edição desta obra saiu em 1988, já sob vigência da atual constituição. 

"Os acontecimentos de 1968 podem agora ser relatados livremente, graças ao retorno da democracia", escreve Zuenir Ventura em uma parte do livro. 

Nossa esperança é que a democracia permanece em vigência neste ano de 2021, porque alguns saudosistas da ditadura sonham tornar possível se acabar com as liberdades democráticas conquistadas com sofrimento e luta de inúmeros brasileiros.

Tenho fé no Brasil e sigo acreditando na democracia e nas instituições que a protegem.

Bem, como ainda estamos em uma clima de ano-novo, não vamos prolongar a conversa. Espero que façam a leitura de pelo menos um desses livros.

Ler faz bem e lembre-se: Só um povo que conhece sua história consegue impedir que os erros do passado se repitam.

2 comentários:

  1. Caro AmigãoZão Geraldo Nunes. Obrigado pelas dicas. Dois desses livros eu já (Chatô e 1968), mas os outros dois ainda não. Valeu!

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  2. 1968 eu li e é muito bom. Chatô, está na fila da leitura. Excelentes indicações. Grande abraço.

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