Hoje não vou falar de helicópteros, é que de vez em quando bate uma nostalgia e, nas comemorações dos 467 anos de fundação da cidade de São Paulo, me veio à lembrança, os bondes elétricos da minha infância.
Passeei bastante sobre os trilhos dessa pauliceia da minha infância sempre levado pelos meus pais ou por alguma tia, lógico.
Ainda me lembro do itinerário de algumas linhas e do ponto final dos bondes na Praça Clóvis Beviláqua, em frente à antiga Drogaria do Farto.
As principais linhas saiam dos bairros com destino à cidade, ou seja, ao centro.
Essas lembranças me ajudaram a pesquisar a história do transporte coletivo em São Paulo cujo início se dá no século 19.
Em 1875 quando a capital paulista passou a receber imigrantes de vários países, foi necessário implantar um serviço de bondes puxados por burros.
Jornais da época, como o Correio Paulistano, noticiavam a formação de imensas nuvens de mosquitos pela demora das autoridades em remover a sujeira deixada pelos animais.
Por volta de 1900 surgiram os primeiros bondes elétricos circulando nas ruas do triângulo; São Bento, Direita e XV de Novembro. Na inauguração o povo não cabia em si de tanta alegria. A aglomeração foi geral.
Os bondes elétricos eram largos demais para as ruas estreitas do centro e a situação se tornou perigosa para os pedestres. Naquele tempo as pessoas não tinham o costume de olhar o trânsito antes de atravessar as ruas e muita gente foi atropelada e morta.
Em um outro aspecto a cidade saiu ganhando porque obteve um transporte mais limpo, eficiente e não poluente.
A eletricidade passou a fazer parte da vida de todos e foi um dos principais fatores para o progresso do século 20.
Os anos seguiram e o bonde antes herói, foi transformado em vilão quando surgiram os ônibus. Estes eram mais velozes e a população passou a dar preferência a eles.
Ainda não havia preocupações com a poluição e quase ninguém sabia o significado da palavra monóxido de carbono.
Os bondes não tinham motoristas, quem dirigia era chamado de motorneiro. O mais famoso deles foi Augusto Barbosa, o Bailarino.
Titular da linha 43 Santana-São Bento, ficou conhecido pela solidariedade com as pessoas. Ele descia da cabine para ajudar as passageiras idosas a atravessarem a rua após o desembarque.
Diziam até que conhecia cada um dos usuários porque costumava parar nos pontos e aguardá-los quando estavam atrasados.
O apelido Bailarino veio dos tempos em que jogava futebol na várzea. Quando marcava um gol comemorava fazendo dancinhas como alguns jogadores de hoje.
Determinado dia, quebrou um caminhão sobre os trilhos e o bonde ficou retido. Algumas meninas estudantes do Colégio Santana desceram para comprar sorvete e depois retornaram, em plena Rua Voluntários da Pátria, com a permissão do Bailarino.
Em 28 de outubro de 1984 a Gazeta da Norte noticiou: "Morreu Augusto Barbosa, o motorneiro Bailarino, amigo dos idosos e das crianças".
Nos áureos tempos do bonde, São Paulo chegou a ter 60 linhas para atender a demanda de passageiros de quase todos os bairros.
Sua desativação pela Companhia Municipal de Transportes Coletivos - CMTC, começou em 1957 e se completou em 1968.
Linha e Extinção
42- Duarte de Azevedo – São Bento - 24/02/1957
43- Santana – São Bento 24/02/1957
9 – Duque de Caxias 25/11/1961
12 - Barra Funda 25/11/1961
13 – Barra Funda
25/11/1961
14 – Vila Buarque 25/11/1961
32 – Vila Prudente 25/11/1961
33 – Sorocabanos 25/11/1961
1 – Jaraguá
09/04/1962
6 – Penha
15/03/1962
11 – Bresser 15/03/1962
17 – Vila Pompeia 11/02/1962
27 – Vila Mariana 25/01/1962
30 – Bosque da Saúde 15/04/1962
30 A – Praça da Árvore – Bosque 15/04/1962
47 – Vila Clementino 15/04/1962
53 – Oriente
09/04/1962
63 – V. Clementino – V. Madalena 01/03/1962
65 – Casa Verde – Fábrica 20/07/1963
26 – Pq. São Jorge 20/07/1963
64 – São Judas – Lapa 13/01/1963
102 – Indianópolis 24/02/1963
104 – São Judas – Santo Amaro 24/02/1963
5 – Bela Vista 01/05/1964
23 – Domingos de Morais 16/11/1964
3 – Avenida
01/10/1965
40 – Jardim Paulista 01/10/1965
7 – Penha 26/03/1966
19 – Perdizes
12/08/1966
24 – Belém
10/03/1966
28 – Vila Madalena 08/07/1966
29 – Pinheiros 12/08/1966
35 – Lapa
12/08/1966
36 – Avenida Angélica 15/07/1966
49 – Canindé
10/03/1966
51 – Rubino de Oliveira 10/03/1966
55 – Casa Verde
12/08/1966
60 – Penha – Lapa
10/03/1966
66 – São Judas Tadeu 30/06/1966
4 – Ipiranga
14/01/1967
20 – Fábrica
14/01/1967
34 – Vila Maria
21/01/1967
41 – Belém Auxiliar
21/07/1967
61 – Vila Maria – Casa Verde 21/01/1967
67 – Alto da Vila Maria 21/01/1967
103 – Brooklin Paulista 25/01/1967
101 – Santo Amaro – Biológico 27/03/1968
*Fontes: Abelias Rodrigues da Silva e
Waldemar Pinto Sampaio
Hoje, esse sistema de transporte estaria "super in"!!!! Valeu!!! Uma bela e romântica época!! Abs.
ResponderExcluirparabens legal gostei muito
ResponderExcluirMuito bem lembrado me lembro da década de 50
ResponderExcluirBondes ainda sao usados em muitas cidades da Europa.
ResponderExcluirDelícias de histórias. Andei muito no Perdizes, para ir ao Colégio Santa Marcelina. Como eu ficava lendo até de madrugada na hora do bonde tinha sono e dormia. O motorneiro já me conhecia, me acordava quando ia chegando no colégio...
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