Boa parte dos motoristas, vez por outra, enfrenta neblina pelo caminho, especialmente nas estradas.
Imagine agora ter que encarar a neblina voando em um helicóptero? Precisei enfrentar essa situação inúmeras vezes nos meus tempos de repórter aéreo.
São Paulo é uma cidade onde o clima se modifica rapidamente. Às 7 da manhã vem a neblina, depois às 10 horas aparece um sol radiante.
No Sistema Anchieta - Imigrantes, costumeiramente acontecem nevoeiros. Sol na cidade e depois tempo fechado na serra e interligação.
Em várias ocasiões com o helicóptero na hora da decolagem avistei céu claro e visibilidade satisfatória. Depois, de repente, tudo fecha.
Tem hora que o piloto acaba ingressando no meio das nuvens e nós ficamos preocupados, mas eles não se perdem, se orientam pela bússola ou na conversa com outros pilotos pela fonia.
Quando era preciso voar em dias de nevoeiros esparsos, voltava minha concentração ainda mais para o trânsito. Olhava para baixo e deixava que o piloto, escolhesse os caminhos.
Mas houve uma vez em que o nevoeiro nos abraçou por completo. Perdemos a visibilidade totalmente. Não se enxergava um palmo à nossa frente, nem para baixo e nem para os lados.
O comandante que estava comigo começou subir na vertical para ganhar altura e sair acima do nevoeiro.
Subiu, subiu até que o sol apareceu sobre um céu azul lindíssimo. A cidade lá embaixo seguia coberta pela neblina e nós ficamos voando acima das nuvens.
De acordo com a meteorologista Joselia Pegorin, da Climatempo, que durante anos prestou serviço para a Rádio Eldorado, nevoeiro e neblina são essencialmente a mesma coisa.
“O termo difere a visibilidade, na neblina se consegue ver além de um quilômetro, no nevoeiro a distância pode se tornar bem menor”.
Para quem viaja de avião não há nenhum empecilho nessas condições, porque eles são pressurizados e conseguem voar bem acima das nuvens.
Além do que, se houver nevoeiro na hora do pouso, a descida acontece com a ajuda de instrumentos.
O Aeroporto de Congonhas utiliza o sistema ILS I (Instrument Landing System), que permite ao comandante a aproximação exata da pista mesmo que só se consiga enxergá-la nos momentos finais antes de tocar o solo.
Em Guarulhos onde os nevoeiros costumam ser mais frequentes, pela proximidade da Serra da Cantareira, a aproximação é feita em ILS CAT III Alpha, considerado o sistema de pouso mais seguro e avançado do mundo.
Os nossos helicópteros nem dispunham desses equipamentos até porque nossa finalidade era outra, observar o trânsito e nada mais além disso.
Repórter aéreo voa sempre com o rádio ligado e fica escutando a emissora onde trabalha para, na hora que for chamado, entrar no ar com o relato do que está vendo lá entre os automóveis.
Aquela vez, cercado por completo pela neblina e depois sem ter como ver o que acontecia lá embaixo, fui obrigado a improvisar,
informando aquilo que tinha visto antes de tudo fechar.
Naquele dia em que passamos a voar acima das nuvens a única coisa que deu para ver foi a ponta das torres transmissoras de televisão localizadas na Avenida Paulista.
O tempo de voo ia passando e diante daquela situação comecei a ficar preocupado com a possibilidade do combustível acabar sem que o nevoeiro se dissipasse.
Ficava eu olhando para o ponteiro do combustível e o piloto não me dizia nada. De repente surgiu uma abertura entre as nuvens e foi possível ver abaixo de nós o prédio do Estadão, na Marginal do Tietê.
Ufa! Foi como estar perdido e de repente encontrar o caminho de casa.
O comandante baixou a altura, ingressou na brecha surgida e pudemos seguir para o Campo de Marte sãos e salvos.
Depois, na emissora, contei ao pessoal o que havia acontecido.
Ouvi da locutora Rose de Oliveira, o seguinte comentário:
“Vou colocar um apelido em você, de agora em diante vou te chamar de Geraldo Nuvens”.
Interessante e emocionante, mais uma do "Geraldo Nuvens"
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