quarta-feira, 15 de abril de 2020

As coincidências entre Mandetta e Oswaldo Cruz em um país que desconhece sua história


O Brasil sempre foi um país cheio de crendices, curandeiros e benzedeiras.

Milagres aqui ainda proliferam, basta assistir a esses programas pagos exibidos na TV aberta para ver pastores evangélicos curar pessoas e expulsar demônios. Interessante é que só a empregada doméstica residente na periferia, sofre o assédio de satanás. Nunca nenhum político foi curado por esses pastores ou foi vítima do diabo com rabo e chifres.

Um desses "evangélicos" chegou a oferecer pelo preço de 1 mil reais, feijões mágicos capazes de curar pessoas vítimas da Covid-19. 

Óbvio que o Ministério Público Federal determinou que a "propaganda" fosse retirada do ar.

Como no Brasil, o
s pajés e suas pajelanças foram as primeiras referências em relação ao tratamento médico, muitas pessoas seguem acreditando em fórmulas mirabolantes.

O médico sanitarista Oswaldo Cruz foi vítima da Revolta da Vacina, em 1904 

Enquanto colônia de Portugal não havia nenhuma forma de assistência social à população. B
oticários provenientes da Europa é que traziam poções aqui vendidas a peso de ouro, mesmo sem a eficácia comprovada.


Com a chegada da família real portuguesa, em 1808, as necessidades da corte forçaram a criação das duas primeiras escolas de medicina.

O Colégio Médico-Cirúrgico, no Real Hospital Militar de Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro são dessa época.

Pasmen, foram essas as únicas medidas governamentais voltadas à saúde pública até a Proclamação da República.

Em 1904, o Rio de Janeiro era uma cidade infestada pelas doenças, entre elas a febre amarela, a peste bubônica e a varíola.

A razão para tantos males estava na falta de saneamento básico e o excesso de ratos transmissores de várias doenças.

O povo desconhecia os modos de prevenção e se já não bastasse tamanha ignorância, a população ainda foi vítima de uma medida que na verdade era bem intencionada.

O presidente da República, Rodrigues Alves, contratou o médico Oswaldo Cruz para resolver o problema das doenças.

Sua primeira decisão foi a de acabar com os ratos e para isso o governo passou a oferecer dinheiro como recompensa para quem matasse maior número de ratos.

A medida surtiu efeito contrário, algumas pessoas passaram a criar ratos para depois matá-los e ganhar mais dinheiro nas recompensas.

O sanitarista decidiu então convocar cerca de 1.500 funcionários públicos para ações de higiene.


Sem nenhum aviso antecipado, esse funcionários invadiam casas, queimando colchões infectados e roupas velhas.

Charge revela que Oswaldo Cruz passou a ser execrado pela população que não aceitava ser vacinada

Verdade também é que a população mais carente, passou a perder móveis e utensílios supostamente infectados que depois não eram repostos pelas autoridades.

A situação piorou quando surgiu a ordem de uma vacinação pública contra a varíola.

Muitos desconheciam o que era uma injeção, cuja picada de agulha era muito mais dolorida que agora.

Uma mesma agulha de injeção servia a centenas de pacientes.



Em novembro de 1904, o povo saiu às ruas do Rio de Janeiro para protestar dando início ao episódio chamado de Revolta da Vacina.

Ruy Barbosa, então senador da República, ocupou a tribuna defendendo os revoltosos se posicionando contra a vacina.

“Não tem nome na categoria dos crimes do poder, a tirania de se envenenar, com a introdução no sangue, de um vírus sobre o qual existem os mais bem fundados receios de que seja o condutor da moléstia e da morte”, disse o tribuno depois transformado em "Águia de Haia".

Após o discurso inflamado, o médico Oswaldo Cruz foi afastado pelo presidente Rodrigues Alves de suas funções, apesar da comprovada competência. Tanto que, ainda assim, conseguiu convencer parte dos congressistas de que as doenças só diminuiriam se houvessem ações que levassem ao aprendizado de noções de higiene por parte de todos.

Durante a Revolta da Vacina bondes chegaram a ser tombados no Rio de Janeiro

No Brasil do século 21 pessoas do mesmo modo, ignorantes dos riscos decorrentes do coronavírus, seguem caminhando sem máscaras cirúrgicas e e reclamando do necessário e preventivo isolamento social.

Assim como em 1904, manifestantes se mostram contrários a medidas preventivas que ajudam preservar vidas. O Globo
O início do diálogo, após a Revolta da Vacina, em 1904, possibilitou a estruturação das primeiras campanhas de vacinação e a educação sanitária.

Teriam também início as primeiras obras de saneamento básico que o Rio de Janeiro tanto precisava.

O Brasil do século 21 segue carente na distribuição de água potável, tratamento de esgotos, coleta mais eficiente de lixo e demais resíduos sólidos.

Como Oswaldo Cruz, em 1904, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta também se tornou vítima de críticas por defender medidas sanitárias.

Luiz Henrique Mandetta até já se despediu de funcionários e assessores no Ministério da Saúde

 Um povo que não conhece seu passado tende a repetir os mesmos erros.

Até quando iremos recorrer ao pajé?





6 comentários:

  1. Muito bom artigo Geraldo, as opinioes do povo contra a ordens do governo e as novidades sempre foram parte da historia da humanidade.

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  2. Juntaste bem os fatos, Amigo Geraldo Nunes... Parabéns!!!

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  3. Pertinente está relação do passado e o atual momento.

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  4. Só uma diferença Oswaldo Cruz era uma sanitarista,o Sr. Mandenta é um pediatra, não ouviu nomes renomados como Drta. Nise Yamaguchi, Osmar Terra, Roberto Kalil e outros! alem de pediatra o Mandeta é um politico e com denuncias de desvios de verbas, Vale lembrar que aqui tivemos inúmeros Oswaldo Cruz, Quero Lembrar que ja tivemos Vital Brasil, Adolfo Lutz e o grande Carlos Chargas, portanto sempre fomos muito bem servidos de médicos, principalmente ,sanitarista , infectologistas e grandes Vasculares

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  5. Pois é, e viva a ignorância. Se continuamos repetindo fatos é porque a ignorância ainda não foi combatida. Assim como progredimos muito pouco na área de saúde e higiene da nossa população, especialmente em saneamento básico

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