Recentemente um leitor deste nosso blog escreveu
perguntando como fazíamos para suportar tantas horas de voo dentro de um
helicóptero sem ir ao banheiro.
De fato, aeronaves de pequeno porte não possuem
toalete, mas como a autonomia de um Robinson R-22 é de duas horas de voo, entre
um pouso e outro para reabastecimento, dá tempo do passageiro esvaziar a bexiga.
Mas essa pergunta me fez lembrar um episódio vivido
por mim e pelo comandante Costandi Kardosh, em um dos inúmeros sobrevoos que
fizemos juntos na cobertura do trânsito em São Paulo.
Depois ele se tornaria piloto número 1 do Globop e fundador da Helischool, escola que colocou no mercado de trabalho diversos novos pilotos que passaram a voar com a gente também.
Voltando ao assunto, foi em uma manhã dessas de tempo chuvoso e trânsito complicado que precisamos voar mais tempo que as habituais duas horas.
Em condições de chuva em uma aeronave não pressurizada, o corpo humano fica inflado e a vontade
de fazer xixi aumenta consideravelmente.
Nossa chefia então nos comunicou da redação que seria
preciso sobrevoar mais tempo, só que após a decolagem a vontade de fazer xixi
voltou e com força.
Pensei em pedir ao piloto que retornasse à nossa base no Campo de Marte, só que isso exigiria o preenchimento de uma nova
requisição de voo e se perderia muito tempo.
Os ouvintes de nossa rádio não podiam ficar sem notícias.
Pedi então que pousasse em algum lugar para que eu
resolvesse aquele assunto de uma vez por todas.
Costandi então avistou um imenso edifício em construção
cuja obra estava parada, sem em nenhum funcionário.
Era o prédio que hoje abriga o Instituto do Câncer, um
dos maiores hospitais verticais do mundo, na Avenida Dr. Arnaldo, com 112
metros de altura e 28 andares construídos em um terreno de aproximadamente
84.000 m².
A construção estava pronta, mas faltava o acabamento,
o piloto então fez um pouso sobre a laje da torre de concreto.
A chuva tinha dado uma trégua e o piloto aproveitou
para fazer xixi também.
No foi no alto dessa torre em construção que precisamos fazer xixi em uma manhã chuvosa |
Restabelecidos e confortados retornamos à aeronave, mas como voltou a chover e desta vez com rajadas de ventos, houve dificuldade na nossa decolagem.
Foi então que o comandante Costandi me explicou que quando
se decola do alto de um heliponto, a aeronave deve sair em sua em linha reta para depois subir.
Existe risco se a decolagem acontecer para baixo, seria como dar um
mergulho em uma piscina.
Neste procedimento, pressionado pelo vento, o piloto corre o
risco de perder o controle da aeronave e se espatifar com ela e seu passageiro lá
embaixo.
De cima daqueles 184 metros de edificação tínhamos abaixo de nós as pistas da Avenida Dr. Arnaldo e os túmulos do cemitério do Araçá, visão
essa nada convidativa.
Aí estão os túmulos do cemitério do Araça vistos por quem passa de helicóptero |
Motor acionado, hélices em pleno giro. O comandante Costandi, segura firme o cíclico e o coletivo, movimentando os pedais. Com braços fortes segura o nosso pequeno Robinson R-22 e levanta voo saindo em linha reta para depois subir e encarar com autoridade o vento implacável.
Dali para a frente tranquilos, concluímos nosso trabalho naquela manhã
chuvosa, sem maiores dificuldades.
Mais que isso, com a bexiga aliviada pudemos narrar a
melhoria nas condições do trânsito retornando à base de maneira cômoda e precisa.
Este é o comandante Costandi Kardosh dando instruções de voo a bordo de um R-22 |
Este é o prédio do Instituto do Câncer com sua fachada atual visto por quem sobe de carro pela Major Natanael |
Dia desses ainda conto sobre a presença de outros esqueletos
históricos de edifícios em construção hoje ativos, que marcaram a presença em nossos sobrevoos pela cidade
de São Paulo.
Interessante narrativa sobre os bastidores de um repórter.
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