quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

O “esqueleto de concreto” mais antigo da cidade fica no centro e o seu endereço é a histórica Rua do Carmo


Quando das minhas reportagens aéreas onde o assunto era o trânsito na Radial Leste sentido centro e elevado, dava e ainda dá para ver um prédio abandonado semiacabado no centro em meio a outros arranha-céus.

No dia-a-dia das coberturas nunca tive tempo para abordar o assunto, mas agora buscando referências a históricas aos esqueletos de concreto que avistei em meus 21 anos de sobrevoos, lembrei desse edifício localizado na pacata Rua do Carmo.

Nessa rua hoje se localiza o ponto de entrada ao Poupatempo Sé também, um endereço também cheio de histórias e tradições.

Até metade da década 1970 ali funcionou o Diário Popular, um dos mais tradicionais jornais paulistanos, fundado em 1884 e extinto no ano de 2001.

Em frente ao prédio do jornal funcionava o Colégio do Carmo, localizado onde hoje está a entrada do Poupatempo Sé.

Restam de outros tempos nessa rua os antigos sobrados e a igreja Nossa Senhora da Boa Morte que apesar do nome, era conhecida como a "igreja das boas notícias", porque de sua torre se avistava toda a várzea do Tamanduateí. 

De lá era possível saber com antecedência quem se aproximava da cidade proveniente de Santos, como foi o caso de Dom Pedro I após proclamar a independência, no Ipiranga, em 7 de setembro de 1822.

Também na Rua do Carmo, há um prédio cuja construção foi abandonada décadas atrás, ou seja, bem antes do início dos nossos sobrevoos que começaram em 1989.

Durante a obra da construção inacabada algumas paredes chegaram a ser fechadas com tijolos e outras partes permaneceram abertas à espera de uma conclusão.

De tão antiga, surgiu na construção inacabada uma vegetação nativa
Nunca houve uma explicação oficial sobre o motivo da interrupção da obra e nem porque o terreno nunca mais foi ocupado por outra edificação.

O que se sabe é que o prédio foi projetado para ter 23 andares e servir de edifício-garagem para a então crescente frota de automóveis.

Anúncios chegaram a ser publicados nos jornais da época, mas depois os trabalhos foram paralisados.

Na parte de cima do anúncio, a propaganda de venda das garagens do prédio inacabado

Pelo que se entende pela leitura da propaganda veiculada na Folha de S. Paulo, em 5 de março de 1964, a intenção era vender as garagens por unidade. Um negócio desse tipo acontecia também na Rua Jaguaribe.

Assim como se vendem apartamentos para moradia, o proprietário de um automóvel poderia comprar a sua garagem pagando por ela 50.000 cruzeiros e estacionar seu carro com comodidade para ir ao trabalho.

Ocorre que a garagem serviria apenas para guardar o carro e depois não havendo também o apartamento de moradia como ocorre nos empreendimentos atuais.

Com essas informações já dá para entender porque o negócio não seguiu adiante. Faltaram interessados.

A ideia de se construir um estacionamento no subsolo dos edifícios residenciais pelo visto ainda não existia.

Até hoje a maioria dos prédios do antigo centro não possui garagem e isso ajuda a explicar um pouco da decadência nessa região da cidade.

Mas a ideia de se guardar os automóveis em um prédio exclusivo para isso deu certo em outros lugares.

Como exemplo cito um edifício ainda em funcionamento na Avenida Senador Queiroz.

O edifício garagem da Avenida Senador Queiroz funciona no sistema de estacionamento com estadias mensais ou avulsas
Um outro prédio do gênero, levado adiante na Avenida 23 de Maio, não teve a mesma sorte e segue abandonado e lacrado.

Sua marquise serve de cobertura para o sono de alguns moradores de rua do sofrido centro da capital paulista.

Voltando ao prédio da Rua do Carmo, número 93, este é apenas um entre os 708 edifícios não utilizados ou em abandono na cidade de São Paulo.

Este dado foi passado pela prefeitura paulistana após o incêndio que levou ao desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, próximo ao Largo do Paissandú, em 1° de maio de 2018.

A Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento informou na época que os proprietários desses 708 condomínios estavam sendo notificados no sentido de dar uma função social às suas propriedades como estabelece a Constituição Federal.

De lá para cá, ao que parece, nada mudou.

A quantidade de prédios abandonados e ocupados movimentos de luta por moradia segue muito grande.

São cerca de 70 imóveis nessa situação apenas no centro da cidade, segundo informações obtidas pelos repórteres na época do desabamento do prédio que serviu de sede à Polícia Federal.

Essa infelizmente é uma das marcas negativas de São Paulo aos olhos do País e do mundo.

Nessa foto da Rua do Carmo do início dos anos 70  se percebe que tudo mudou, menos a fachada do prédio abandonado

Fontes: BBC News e Portal São Paulo Antiga

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Comemore o aniversário de São Paulo e contemple a paisagem de edifícios em fotos aéreas


Vista do alto, de preferência a bordo de um helicóptero, a cidade de São Paulo revela sua grandeza, charme e beleza.

Se existem feiuras e mazelas? Sim, elas existem mas ficam para outra ocasião.
Afinal de contas neste 25 de janeiro de 2020, a capital dos bandeirantes completa 466 anos e quando alguém faz aniversário, educadamente devemos dar os cumprimentos deixando as críticas para depois.

Quando meus amigos ou amigas aniversariam costumo dizer: “Hoje é dia de feriado em seu coração”. Com a cidade é a mesma coisa. Sendo assim: “Parabéns, São Paulo.

Como presente de aniversário da cidade decidi mostrar algumas fotos interessantes que encontrei pela internet.


Esta é uma foto tirada em 2019 por de um helicóptero em sobrevoo pela Avenida Paulista.

Além da ciclovia em vermelho no canteiro central, vemos da altura da Praça Osvaldo Cruz parte do telhado do Shopping Paulista e mais acima o emaranhado de prédios que compõe o bairro de Cerqueira César e mais adiante a barreira interposta pela lei do zoneamento.

Da Rua Estados Unidos em diante não há nenhum prédio. O bairro revestido de verde na parte mais alta da foto é o Jardim América, ou se preferirem, o nome atual: região dos jardins.


Essa outra foto é da Casa das Rosas construída em 1935 a partir de um projeto do escritório Ramos de Azevedo.

Tombada pelo patrimônio histórico em 1985 serve de contraponto entre o novo e o antigo em convivência harmoniosa.


Como ilustração entre o passado e o presente apresento essa foto com um desfile de Romi-Isettas na Avenida Paulista nos anos 1950.

Nos remetendo a um tempo distante percebe-se um grande edifício sendo erguido ao fundo do Trianon.

Era o início da transformação na paisagem pela qual passaria a avenida mais conhecida de todos os paulistas.


Na região dos jardins, a foto noturna acima mostra a Igreja Nossa Senhora do Brasil, realçada por luzes em todo o seu esplendor.

Ao fundo os belos arranha-céus das Avenidas Faria Lima, Rebouças e adjacências abraçam a paróquia construída no estilo neobarroco.


O mar de arranha-céus que hoje faz parte da paisagem paulistana começou no início do século 20 a partir centro da cidade.

Os edifícios Itália e Copan ainda despertam atenção pela altura, tamanho e linhas arrojadas, mesmo debaixo de um céu carrancudo, coisa comum nesta época do ano.


Para complementar nosso passeio através das fotos aéreas, avistamos o Quartel da Luz, agora chamado de Mansão da Rota.

Situado na Avenida Tiradentes, o prédio inspirado nas edificações militares do século 19 também foi projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo.

O lugar serve de base para as operações das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar – Rota, o maior batalhão de policiamento militar do Brasil.

Ao fundo vemos também o Quartel da Cavalaria da PM, entre as ruas Jorge Miranda e João Teodoro.

OBS:
Caso você tenha uma foto interessante e queira publicar neste blog, anote o e-mail: geraldnunes@gmail.com

E de novo: "Parabéns São Paulo pelos seus 466 anos!"

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Assistir um prédio sucata se transformar em hotel luxuoso faz parte das aventuras deste repórter aéreo


Quem mora na capital paulista e passa diariamente pela Marginal do Tietê, nem se dá conta que o prédio amarelo e branco onde agora funciona o luxuoso Holliday Inn Hotel, no Anhembi, foi durante anos um famoso esqueleto de concreto esquecido pela prefeitura.

Esse prédio guarda histórias de abandono e descaso, embora com final feliz
Inerte todas as manhãs durante as nossas decolagens com o helicóptero anos a fio, o prédio inacabado fazia lembrar um engradado de madeira onde se guardam garrafas, mas em concreto e tamanho gigante.

Projetado pelo arquiteto Jorge Wilheim sua construção teve início em 1970 quando a prefeitura fez da região um complexo de eventos e negócios.

Sua finalidade era justamente a de ser um hotel para hospedar os participantes dos eventos no Centro de Exposições e o Palácio de Convenções do Anhembi.

A falta de interesse dos empreendedores da época, é que fez do prédio um sucatão e assim ficou durante anos.

Essa foto de 1972 mostra uma prova de remo no Tietê já poluído e ao fundo o prédio inacabado do hotel de décadas depois

Transformado em um fantasma de concreto armado, o prédio que viria a ser do Holliday Inn, viu até mesmo o sambódromo do Anhembi, ser inaugurado em 1991, dez anos antes dele começar a ficar pronto.

Sambódromo do Anhembi visto no cotidiano de quem voa de helicóptero e pousa no Campo de Marte
O monstrengo só começaria a se transformar em hotel no ano de 2001, quando a construtora São José se associou à dona do terreno, a empresa Alcântara Machado para a obra enfim, prosseguir.

Anos de abandono, entretanto, saíram caro, pois foi necessário se reconstruir quase tudo.

Tiveram que refazer as escadarias abaladas pelo tempo, desalagar garagem, retirar entulhos, adaptar tubulações, refazer pisos, isso sem contar a vedação e acabamento de paredes, a parte mais trabalhosa e dispendiosa do processo.
Disseram que tudo saiu por conta dos empreendedores.

Durante um ano inteiro, a movimentação de caminhões e pessoas trabalhando na recuperação do prédio foi intensa e passou a fazer parte da rotina de quem passava nas imediações como nós, a caminho do helicóptero.

Relatos apontam que nos últimos quatro meses da obra de recuperação, os operários chegaram a trabalhar uma média de 18 horas por dia.

O sambódromo do Anhembi virou palco da Fórmula Indy em 2013 quando o Holliday Inn serviu seus quartos aos pilotos
Concluída a obra de recuperação, o Holliday Inn Hotel Anhembi passou a dispor, a partir de 2005, de 780 quartos em 13 andares e corredores com 160 metros de comprimento, além de 12 elevadores, restaurantes, bares e estacionamento exclusivo aos clientes.
Em nossa longa trajetória de repórter aéreo acompanhamos também as transformações na cidade, como essas relatadas.

O sambódromo do Anhembi em um dia de glória como esse em que as escolas de samba desfilam.
Sigam me acompanhando porque há mais histórias envolvendo "esqueletos", a serem contadas.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Um esqueleto de concreto ganhou fama na Rua Tucumã, em São Paulo, sob as vistas do repórter aéreo


Foram anos seguidos sobrevoando a metrópole diariamente. Isto nos permitiu acompanhar várias transformações significativas na paisagem urbana.

Por toda a cidade, vários prédios surgiram no lugar de antigas residências, mas o que nos chamava a atenção eram os edifícios inacabados.

Percebam a diferença de altura entre o Edifício Villa Europa e os prédios vizinhos

Obras em sua maioria da iniciativa privada, acabavam não sendo concluídas por imbróglios envolvendo sócios ou embargos da prefeitura.

Do helicóptero, vez por outra, comentávamos em nossos boletins a existência desses esqueletos de concreto.

Um desses famosos esqueletos surgiu na Rua Tucumã, uma travessa da Marginal do Pinheiros.

Sua obra de construção iniciada em 1994 só despertou nossa atenção quando foi embargada pela prefeitura e o assunto saiu nos jornais.

O edifício Villa Europa teve sua construção paralisada durante uma década e meia, pelo fato de fiscais da prefeitura terem notado que o espigão projetado para ter 86,6 metros de altura, já estava com 116,7 metros, ou seja, 30,1 metros a mais.

Se alegou até que a altura do Villa Europa iria interferir no tráfego aéreo dos aviões que pousam em Congonhas, suspeita depois afastada pela Aeronáutica que, no entanto, precisou ser consultada.

O embargo da Prefeitura ficou anos e anos na Justiça fazendo do Villa Europa o elefante branco mais discutido da cidade.

Ocorre que as famílias que já haviam adquirido os apartamentos vendidos na planta queriam uma solução para o caso.

O processo levado para os tribunais teve uma sentença também polêmica: Demolição entre o 27º e o 31º andar, ou seja, mais de 1.200 m² de lajes teriam que ser desfeitos.

O caso Villa Europa ganhou destaque nas páginas do Estadão e nos boletins do repórter aéreo
Depois, se chegou a um acordo, os trabalhos de conclusão recomeçaram e, a pedido da construtora, peritos autorizaram se modernizar e adaptar a obra aos novos padrões arquitetônicos surgidos após o projeto original.

Em 14 de dezembro de 2009, o edifício Villa Europa foi entregue a seus moradores, ou seja, 15 anos depois do início da construção.

Em nossas próximas publicações, escreveremos sobre outros esqueletos famosos de São Paulo... Esqueletos de concreto, claro.




terça-feira, 14 de janeiro de 2020

O trabalho de um repórter aéreo durante uma enchente é de extrema importância. Confira


Foram inúmeras as enchentes que tiveram a visão apurada deste repórter aéreo que aqui escreve e sobram histórias.

Vou contar algumas.

O objetivo da cobertura passa a ser o de avisar as pessoas para que não sigam em direção a um determinado ponto que foi invadido pelas águas, bem como orientar trajetos não afetados pela chuva.

Mas há certas enchentes que ocupam cerca de 300 ruas ou avenidas ao mesmo tempo.

Dentro de uma cidade como São Paulo, após um temporal com raios, granizo e trovoadas, algo comum no verão paulistano, encontrar rotas após essa chuvarada toda se torna bem difícil.

Tietê transbordando nas proximidades da Ponte da Casa Verde deixa marginal interditada

Não confunda enchente com ponto de alagamento.

Classifico o alagamento como uma imensa poça d’água sendo esta transitável ou não.

Já uma enchente ocupa todos os espaços: avenidas ou ruas inteiras são cobertas pelas águas que também invadem as casas, estabelecimentos comerciais, deixando pessoas ilhadas, trazendo prejuízos de todo tipo.

O sobrevoo de uma enchente começa geralmente após a tempestade e não tem horário para acabar.

Nosso relato do helicóptero precisa ser cuidadoso. Se não tomarmos cuidado podemos fazer com que pessoas fujam de um lugar com enchente para depois entrar noutro.

Em uma situação dessas resta ao repórter aéreo apenas relatar o acontecimento que modifica a paisagem urbana habitual

Minha primeira cobertura aérea de uma grande enchente aconteceu no verão de 1990 quando ainda não havia telefones celulares.

As pessoas ligavam para a redação da emissora de seus aparelhos fixos perguntando se poderiam sair de suas casas para chegar a determinado ponto.

A rádio passou a colocá-las no ar e comecei a passar as orientações ao vivo. Imagine a responsabilidade.

A partir de 1994 vieram os telefones celulares e a interação com os ouvintes passou a ser maior ainda.

A Rádio Eldorado AM foi a pioneira na criação do ouvinte-repórter.

O pior que pode acontecer em São Paulo em dias de enchente é quando o Rio Tietê transborda.

Além das pistas da via marginal serem ocupadas outros afluentes transbordam junto e o caos se estabelece.

Dizem que a maior enchente ocorrida em São Paulo foi a de 1929,

Ruas do Bom Retiro foram transformadas em uma Veneza paulistana.

Dá para se acreditar que esta é uma cena da cidade de São Paulo na grande enchente ocorrida em março de 1929?

Essa enchente marcou tanto a população da época que uma placa de bronze indicando a altura em que chegou a água do Rio Tietê foi instalada na Rua Porto Seguro, região do Bom Retiro.

Após a grande enchente de 1929 houve um surto de lepra entre os paulistanos 

Mas, das minhas recordações, a enchente mais volumosa foi a de 1999 quando o túnel do Anhangabaú ficou submerso.

A falta de energia elétrica ocasionada pela forte chuva impossibilitou o funcionamento das bombas.

Além disso o lixo espalhado pela cidade foi parar dentro do túnel sentido zona norte.

Os carros parados no congestionamento de trânsito dentro túnel ficaram cobertos passando depois a flutuar com as rodas para cima por causa dos pneus cheios de ar.

Do helicóptero a visão que tínhamos era essa da entrada do túnel. Lá dentro, mais problemas ainda

Os ocupantes dos automóveis que ficaram presos dentro do túnel, foram salvos pelos bombeiros e felizmente, lá dentro, ninguém morreu.

A interdição do túnel durou cerca de 19 horas e do helicóptero tivemos que do alto orientar caminhos alternativos para se evitar o Anhangabaú também na manhã seguinte.

Essas são apenas algumas das histórias envolvendo enchentes e sobrevoos, mas existem outras que contaremos em algum outro momento.









terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Aprenda a pilotar: Ao sair de um heliponto sobre um edifício, a decolagem deve ser em linha reta e só depois para o alto

Recentemente um leitor deste nosso blog escreveu perguntando como fazíamos para suportar tantas horas de voo dentro de um helicóptero sem ir ao banheiro.

De fato, aeronaves de pequeno porte não possuem toalete, mas como a autonomia de um Robinson R-22 é de duas horas de voo, entre um pouso e outro para reabastecimento, dá tempo do passageiro esvaziar a bexiga.

Mas essa pergunta me fez lembrar um episódio vivido por mim e pelo comandante Costandi Kardosh, em um dos inúmeros sobrevoos que fizemos juntos na cobertura do trânsito em São Paulo.

Depois ele se tornaria piloto número 1 do Globop e fundador da Helischool, escola que colocou no mercado de trabalho diversos novos pilotos que passaram a voar com a gente também.

Voltando ao assunto, foi em uma manhã dessas de tempo chuvoso e trânsito complicado que precisamos voar mais tempo que as habituais duas horas.

Em condições de chuva em uma aeronave não pressurizada, o corpo humano fica inflado e a vontade de fazer xixi aumenta consideravelmente.

Nossa chefia então nos comunicou da redação que seria preciso sobrevoar mais tempo, só que após a decolagem a vontade de fazer xixi voltou e com força.

Pensei em pedir ao piloto que retornasse à nossa base no Campo de Marte, só que isso exigiria o preenchimento de uma nova requisição de voo e se perderia muito tempo. 

Os ouvintes de nossa rádio não podiam ficar sem notícias.

Pedi então que pousasse em algum lugar para que eu resolvesse aquele assunto de uma vez por todas.

Costandi então avistou um imenso edifício em construção cuja obra estava parada, sem em nenhum funcionário.

Era o prédio que hoje abriga o Instituto do Câncer, um dos maiores hospitais verticais do mundo, na Avenida Dr. Arnaldo, com 112 metros de altura e 28 andares construídos em um terreno de aproximadamente 84.000 m².

A construção estava pronta, mas faltava o acabamento, o piloto então fez um pouso sobre a laje da torre de concreto.

A chuva tinha dado uma trégua e o piloto aproveitou para fazer xixi também.

No foi no alto dessa torre em construção que precisamos fazer xixi em uma manhã chuvosa

Restabelecidos e confortados retornamos à aeronave, mas como voltou a chover e desta vez com rajadas de ventos, houve dificuldade na nossa decolagem.

Foi então que o comandante Costandi me explicou que quando se decola do alto de um heliponto, a aeronave deve sair em sua em linha reta para depois subir.

Existe risco se a decolagem acontecer para baixo, seria como dar um mergulho em uma piscina.

Neste procedimento, pressionado pelo vento, o piloto corre o risco de perder o controle da aeronave e se espatifar com ela e seu passageiro lá embaixo.

De cima daqueles 184 metros de edificação tínhamos abaixo de nós as pistas da Avenida Dr. Arnaldo e os túmulos do cemitério do Araçá, visão essa nada convidativa.

Aí estão os túmulos do cemitério do Araça vistos por quem passa de helicóptero

Motor acionado, hélices em pleno giro. O comandante Costandi, segura firme o cíclico e o coletivo, movimentando os pedais. Com braços fortes segura o nosso pequeno Robinson R-22 e levanta voo saindo em linha reta para depois subir e encarar com autoridade o vento implacável.



Dali para a frente tranquilos, concluímos nosso trabalho naquela manhã chuvosa, sem maiores dificuldades.

Mais que isso, com a bexiga aliviada pudemos narrar a melhoria nas condições do trânsito retornando à base de maneira cômoda e precisa.

Este é o comandante Costandi Kardosh dando instruções de voo a bordo de um R-22


Este é o prédio do Instituto do Câncer com sua fachada atual visto por quem sobe de carro pela Major Natanael



Dia desses ainda conto sobre a presença de outros esqueletos históricos de edifícios em construção hoje ativos, que marcaram a presença em nossos sobrevoos pela cidade de São Paulo.







sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

São Paulo terá prédios adaptados e apartamentos acessíveis ainda este ano. Secovi-SP já elabora cartilha a respeito


A partir de 26 janeiro deste ano de 2020 entra em vigor a regulamentação da lei que determina a disponibilidade de apartamentos acessíveis em todos os prédios em construção.

São Paulo, cidade com o maior número de edifícios no País deve sair na frente visto que o Sindicato da Habitação – Secovi-SP e entidades parceiras do setor, já elaboram uma cartilha para orientar os empreendedores sobre as novas regras.

São Paulo é a cidade brasileira com maior número de edifícios, cerca de 45 mil

A medida cumpre determinação do artigo 58 da Lei Brasileira de Inclusão (Lei n° 13.146/2015) e, assim que for colocado em prática, facilitará a vida de pessoas com necessidades especiais.

Para que isso aconteça, incorporadoras e construtoras deverão elaborar projetos com base nessa cartilha com orientações sobre requisitos que levem em consideração o desenho universal.

A legislação estabelece que 100% das unidades precisarão ser projetadas com dimensões que facilitem o acesso de pessoas com mobilidade reduzida.

Deste modo, uma pessoa com deficiência ao adquirir um imóvel na planta, poderá requerer à incorporadora ou à construtora que sua unidade seja entregue totalmente acessível, sem nenhum custo adicional. 

Esse pedido, conforme determina a lei, precisará ser feito por escrito, antes do início das obras.

O artigo 58 da LBI lista também as adaptações construtivas que deverão estar disponíveis para escolha do requerente de acordo com suas necessidades.

Os compradores poderão solicitar, por exemplo, um puxador horizontal na porta do banheiro, ou barras de apoio no box e na bacia sanitária, torneiras com acionamento por alavanca ou sensor, fita contrastante para sinalização de degraus e registros, bancadas, lavatórios, quadro de energia com interruptores e tomadas na altura adequada para pessoas cadeirantes ou com nanismo.

A foto mostra um exemplo de edifício cuja entrada precisou ser adaptada ao desenho universal

A arquiteta Silvana Cambiaghi, mestre em acessibilidade pela Universidade de São Paulo, especialista em desenho universal e presidente da Comissão Permanente de Acessibilidade da Prefeitura de São Paulo – CPA, considera a medida um marco histórico na maneira de se morar.
Silvana lembra que, antigamente, os apartamentos eram naturalmente acessíveis, com menos cômodos e espaços maiores, mas, há cerca de duas décadas os cômodos diminuíram e multiplicaram-se, tornando muitas unidades inacessíveis para os portadores de necessidades especiais. “Esse decreto traz um retorno à habitação de qualidade”, avalia.

Arquitetura inclusiva

“O avanço neste tipo de reflexão certamente influenciará a forma de projetar e de construir edificações”, opina a arquiteta urbanista Adriana Levisky, membro do Conselho Deliberativo da regional São Paulo da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura - AsBEA e sócia titular do Escritório Levisky Arquitetos - Estratégia Urbana.

Adriana explica que o conceito de adaptabilidade trazido pela legislação abre um grande campo de qualificação na construção civil em todo o País.

“Os modelos de habitação serão criativamente dinamizados, seguindo as tendências do mundo contemporâneo”, afirma a arquiteta apontando que hoje as pessoas estão vivendo mais. 

“Isso torna necessária a implantação de uma arquitetura cada vez mais inclusiva”, ressalta.

Pesquisa do IBGE divulgada em 2018, mostra que um em cada quatro brasileiros será idoso em 2060.

Em 2039, o número de pessoas acima de 65 anos irá superar o de crianças com até 14 anos.

Estes fatores irão necessariamente influenciar as práticas de projetos voltados ao mercado imobiliário”, define Adriana Levinsky.

Para o vice-presidente do Sindicato da Habitação - Secovi-SP, Carlos Borges, mesmo as pessoas que não são portadoras de necessidades especiais um dia irão envelhecer e, eventualmente, vão precisar de uma cadeira de rodas para deslocamentos.

“Isso nos leva a incentivar essas mudanças em busca de uma arquitetura mais inclusiva com todo gradualismo para equilibrar questões econômicas para que todos tenham direto a uma moradia digna e adaptada à sua realidade para um futuro próximo”.

Confira as principais características para se ter um edifício internamente acessível

1- Vão livre de passagem das portas

2- Largura mínima dos corredores

3- Nivelação do piso no acesso à unidade e em seu interior, incluindo varandas e terraços

4- Alcance visual adequado de janelas e guarda-corpos com faixa de altura dos dispositivos de comando (ou altura especificada pelo adquirente)


5- Em pelo menos um dormitório: área de transferência em um dos lados da cama

6- Área de manobra com amplitude mínima de 180°, com permissão para compensação usando o vão da porta

7- Equipamentos de comunicação (alarme, campainha, interfone), quando disponibilizados no empreendimento


8- Em pelo menos um banheiro: aproximação frontal ao lavatório, áreas de transferência para bacia e chuveiro, e previsão de reforço nas paredes para instalação de barras de apoio;



9 -Na cozinha e área de serviço:  área de aproximação frontal à pia e áreas de aproximação lateral aos equipamentos, como fogão, geladeira e micro-ondas, entre outros.

Fonte: Revista Secovi-SP - A revista do Mercado Imobiliário