sábado, 22 de junho de 2024

Revolução de 1924 fez de São Paulo uma Faixa de Gaza

 Imaginem a cidade de São Paulo bombardeada por aviões e semidestruída por tanques e tiros vindos de todos os lados.

Isso aconteceu há 100 anos, durante a Revolução de 1924 que fez da capital paulista um lugar semelhante à Faixa de Gaza.

A revolta durou 23 dias, de 5 a 27 julho e registrou um saldo de 503 mortos, na maioria civis e mais de 4.800 feridos.

O movimento iniciado por tenentes do exército, como Juarez Távora e militares da Força Pública, liderados pelo major Miguel Costa, tinha por objetivo destituir o presidente Arthur Bernardes.

 A ação obteve apoio do general da reserva Isidoro Dias Lopes que passou a comandar as tropas.

Quando cogitavam sair na direção do Rio de Janeiro, a cidade de São Paulo passou a ser atacada por aviões.

Do alto eram lançadas bombas sobre as casas colocando inúmeras famílias em desespero, por terra tanques das tropas legalistas circulavam pelas ruas.

A população apavorada buscou refúgio através dos trens superlotados que partiam na direção das cidades do interior.

Dos 700 mil habitantes existentes na época, 300 mil abandonaram a capital paulista.

Ao mesmo tempo soldados legalistas invadiam residências na tentativa de prender os revoltosos, esparramando terror e medo da morte.

Pessoas inocentes que nada tinham a ver com a contenda foram assassinadas e cerca de 1.800 prédios foram destruídos.

Passou a faltar alimentos e houve saques no mercado central.

Permaneceram na capital paulista somente os mais pobres, moradores operários do Brás, Belém, Mooca, Penha e Cambuci, os bairros mais atingidos pelos bombardeios.

Para explicar os acontecimentos ocorridos há exatos 100 anos, o Comitê de Civismo e Cidadania da Associação Comercial de São Paulo – Coccid, promoveu em 17 de junho uma palestra.

O encontro contou com a presença do presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine e teve como moderador o coordenador do Coccid, Samir Nakle Khoury.

Houve as participações de João Tomás do Amaral, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo - IHGSP e Gilberto Marques Bruno, membro do Coccid.

Foram convidados os palestrantes Moacir Assunção e Dacio Nitrini que escreveram livros sobre a revolta e lá estivemos para acompanhar.

Os dois jornalistas comentaram que o nome “Revolução Esquecida”, veio pelo fato de ter sido um acontecimento que não teve nenhuma participação popular.

“Eram militares lutando contra militares e a população sem saber os motivos sofreu as consequências”, explicaram os palestrantes.

Carlos de Campos que ocupava o cargo que seria hoje o de governador do Estado, ficou ao lado dos legalistas.

Para escapar dos bombardeios, deixou a sede do governo, no Palácio dos Campos Elísios, se refugiou em Guaiaúna, região da Penha e de lá passou a acompanhar os acontecimentos.


O prefeito de São Paulo, Firmiano Pinto, entretanto, não arredou pé de seu gabinete, acompanhou o desenrolar dos fatos do começo ao fim e se manteve sempre em defesa da população.

Tanto o prefeito quanto o presidente da Associação Comercial de São Paulo da época, José Carlos Macedo Soares,  foram ao Rio de Janeiro pedir o fim dos bombardeios.

O presidente Arthur Bernardes os recebeu, mas não atendeu aos pedidos e ao término dos acontecimentos Macedo Soares foi exilado.


Como não havia um plano de governo e não houve nenhum apelo para a adesão popular, a Revolução de 1924 chegou ao fim sem nenhum resultado, foi um confronto desnecessário.

Mesmo assim, para cessar os bombardeios os revoltosos deixaram São Paulo a cavalo e nenhum deles se entregou aos legalistas.

A partida em cavalaria deu início à Coluna Prestes-Miguel Costa, outro episódio que hoje faz parte da história do Brasil.


Fontes: “São Paulo deve ser destruída”, livro de Moacir Assunção - Editora Record – 2015

Associação Comercial de São Paulo - apostila em pdf - Sérgio Lamarão/Inoã Carvalho Urbinati

Infoescola - Revolução Paulista de 1924




5 comentários:

  1. Nunca tinha ouvido falar

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  2. A ocupação de São Paulo durou 23 dias, a revolta continuou pelo interior do estado, e a fuga ordenada foi com composições ferroviária, sendo que a Coluna Prestes se formaria muitos meses depois.

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  3. Muito boa matéria. Cada vez mais admiro e descubro detalhes sobre esse prefeito Firmiano Pinto. Há busto em sua homenagem no Parque Buenos Aires. No Centro tem predio com seu nome. Visionario.

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  4. Tinha só ouvindo falar, mais assim, a história com detalhes, nunca, não sabia que um dos Estado do Brasil tinha passado por algo tão forte, e significa nesse século, muito forte, realmente o mundo é feito de histórias, amo histórias, não do que aconteceu, porque é importante, você sabe o que aconteceu no seu país .

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