Imaginem a cidade de São Paulo bombardeada por aviões e semidestruída por tanques e tiros vindos de todos os lados.
Isso aconteceu há 100 anos, durante a Revolução de
1924 que fez da capital paulista um lugar semelhante à Faixa de Gaza.
A revolta durou 23 dias, de 5 a 27 julho e registrou
um saldo de 503 mortos, na maioria civis e mais de 4.800 feridos.
O movimento iniciado por tenentes do exército, como
Juarez Távora e militares da Força Pública, liderados pelo major Miguel Costa,
tinha por objetivo destituir o presidente Arthur Bernardes.
A ação obteve
apoio do general da reserva Isidoro Dias Lopes que passou a comandar as tropas.
Quando cogitavam sair na direção do Rio de Janeiro, a
cidade de São Paulo passou a ser atacada por aviões.
Do alto eram lançadas bombas sobre as casas colocando
inúmeras famílias em desespero, por terra tanques das tropas legalistas circulavam
pelas ruas.
A população apavorada buscou refúgio através dos trens
superlotados que partiam na direção das cidades do interior.
Dos 700 mil habitantes existentes na época, 300 mil
abandonaram a capital paulista.
Ao mesmo tempo soldados legalistas invadiam residências na tentativa de prender os revoltosos, esparramando terror e medo da morte.
Pessoas inocentes que nada tinham a ver com a contenda
foram assassinadas e cerca de 1.800 prédios foram destruídos.
Passou a faltar alimentos e houve saques no mercado
central.
Permaneceram na capital paulista somente os mais pobres,
moradores operários do Brás, Belém, Mooca, Penha e Cambuci, os bairros mais atingidos
pelos bombardeios.
Para explicar os acontecimentos ocorridos há exatos
100 anos, o Comitê de Civismo e Cidadania da Associação Comercial de São Paulo –
Coccid, promoveu em 17 de junho uma palestra.
O encontro contou com a presença do presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine e teve como moderador o coordenador do Coccid, Samir Nakle Khoury.
Houve as participações de João Tomás do Amaral, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo - IHGSP e Gilberto Marques Bruno, membro do Coccid.
Foram convidados os palestrantes Moacir Assunção e
Dacio Nitrini que escreveram livros sobre a revolta e lá estivemos para acompanhar.
Os dois jornalistas comentaram que o nome “Revolução Esquecida”, veio
pelo fato de ter sido um acontecimento que não teve nenhuma participação popular.
“Eram militares lutando contra militares e a população
sem saber os motivos sofreu as consequências”, explicaram os palestrantes.
Carlos de Campos que ocupava o cargo que seria hoje o
de governador do Estado, ficou ao lado dos legalistas.
Para escapar dos bombardeios, deixou a sede do governo,
no Palácio dos Campos Elísios, se refugiou em Guaiaúna, região da Penha e de lá
passou a acompanhar os acontecimentos.
O prefeito de São Paulo, Firmiano Pinto, entretanto,
não arredou pé de seu gabinete, acompanhou o desenrolar dos fatos do começo ao fim e
se manteve sempre em defesa da população.
Tanto o prefeito quanto o presidente da Associação
Comercial de São Paulo da época, José Carlos Macedo Soares, foram ao Rio de
Janeiro pedir o fim dos bombardeios.
O presidente Arthur Bernardes os recebeu, mas não atendeu
aos pedidos e ao término dos acontecimentos Macedo Soares foi exilado.
Mesmo assim, para cessar os bombardeios os revoltosos deixaram
São Paulo a cavalo e nenhum deles se entregou aos legalistas.
A partida em cavalaria deu início à Coluna Prestes-Miguel Costa, outro episódio que hoje faz parte da história do Brasil.
Fontes: “São Paulo deve ser destruída”,
livro de Moacir Assunção - Editora Record – 2015
Associação Comercial de São Paulo -
apostila em pdf - Sérgio Lamarão/Inoã Carvalho Urbinati
Infoescola - Revolução Paulista de 1924