Os 30 anos de lançamento do Plano Real, merecem ser comemorados porque ninguém mais acreditava na salvação do Brasil.
Somente quem viveu no país daqueles tempos consegue avaliar como eram grandes as dificuldades econômicas.
O início da década de 1990 foi um dos momentos mais difíceis da história brasileira, a inflação atingia proporções gigantescas, algo em torno dos 2.500% ao ano.
Apenas para se ter uma ideia da diferença, em 2023 a inflação foi
de 4,62%.
Quando as pessoas recebiam seus salários, se dirigiam aos supermercados e faziam suas compras para o mês todo antes que o dinheiro perdesse o valor.
Para citar outro exemplo das dificuldades, o setor automotivo, no início de 1994, passou a reajustar
semanalmente os preços dos veículos zero quilômetro.
A descrença era total e na tentativa de elevar a autoestima da população, o então presidente da República, Itamar Franco, apelou à memória afetiva e promoveu a volta do Fusca.
O mais bem-sucedido carro popular da história do Brasil voltou a ser fabricado entre 1993 e 1996, sendo neste período produzidas 45 mil unidades, para a alegria dos aficionados, nostálgicos e colecionadores.
Itamar era o vice de Fernando Collor, afastado pelo impeachment e, ao assumir, convidou um outro Fernando, o Henrique Cardoso para ser seu ministro da Fazenda.
FHC abraçou a economia em frangalhos, o caos era tão grande que o país nem obtinha arrecadação tributária suficiente.
Para cobrir as despesas se ordenava o Banco Central a comprar títulos diretamente do Tesouro, naquele tempo podia, para poder imprimir o dinheiro necessário e assim fazer frente às despesas. Como resultado a hiperinflação se fortalecia a cada mês.
Em 1° de março de 1994, um novo indexador surge na economia, a Unidade Real de Valor – URV para dar sustentação ao Cruzeiro Real, nova moeda que duraria meses.
Sua sigla diferente do antigo Cruzeiro - Cr$, era toda em letras maiúsculas - CR$ e serviu como balão de ensaio para o que viria adiante.
A Nação vivia um misto de tristezas e alegrias, Ayrton Senna tricampeão Fórmula 1, perdia a vida na pista de Ímola, em 1° de maio de 1994.
Um real, ou seja, R$ 1,00 passou ao valer US$ 1,00 o equivalente a CR$ 2.750,00. Para fazer as compras, calculava-se o preço a ser pago em reais dividido por 2.750.
No começo houve confusão, ninguém acreditava que 1 real pudesse de fato valer 1 dólar, mas aos poucos as pessoas foram assimilando as mudanças e o otimismo voltou bem devagarinho, mas voltou.
Os resultados positivos do Plano Real foram sentidos logo no primeiro mês de implantação; 6,08% de inflação em julho de 1994, contra 46,58% do mês anterior. Com o Plano Cruzado tinha sido desse jeito e depois o monstro voltou.
A estratégia para conter a inflação deixou de ser pelo
tabelamento de preços e para isso foi criada a taxa Selic para o cálculo dos
juros e no começo o patamar ficava em torno dos 50% ao mês.
Para inibir o consumo também houve o congelamento dos salários e uma parte dos economistas passou a achar que o país não suportaria, empresas iriam quebrar.
De fato, muitas empresas passaram a trabalhar no limite, o sacrifício foi grande, mas aos poucos o doente foi reagindo.
Méritos a Itamar Franco que aguentou as pressões
políticas e à sua equipe econômica formada por Gustavo Franco, Pedro Malan,
André Lara Resende, Pérsio Arida, Edmar Bacha e Winston Fritsch.
Fernando Henrique Cardoso deixou o cargo de ministro da Fazenda, se candidatou a presidente da República e ganhou a eleição.
A continuação desta série fica para a nossa próxima postagem.
Fonte: O texto deste post foi editado
a partir do livro “A História do Brasil sob o olhar da Contabilidade – Os 100
anos do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo – Sindicont-SP, publicado em 2019. Autores: Lenilde Plá De León e Geraldo Nunes.
Fotos extraídas dos arquivos da Agência
Brasil, exceto capa do livro de Thiago Uberreich – "1994 O Brasil é Tetra" - Editora Letras do Pensamento/São Paulo/2024