domingo, 17 de dezembro de 2023

Dona Dulce, “Rainha do Volante”, ajudou emancipar o Itaim Bibi e fazer dele um orgulho dos paulistanos

Hoje o Itaim Bibi é citado em todo o Brasil por abrigar em seus edifícios os escritórios da “Turma da Faria Lima”, o pessoal que rege o mercado financeiro, mas nem sempre foi assim.

Dulce Borges Barreiros, também conhecida como Dona Dulcinha, morou no Itaim Bibi por mais de 50 anos e se transformou numa daquelas personagens eternas de São Paulo, citadas pelos memorialistas que apreciam as boas lembranças.


Dona Dulce viveu 93 anos, nasceu em 1906 e faleceu em 1999, foi casada com o Sr. Antônio dos Santos Barreiros, teve três filhos e sete netos, entre os quais Cassiano Bernard Borges Barreiros, que gentilmente nos atendeu e pelo WhatsApp nos passou informações.



Cassiano é DJ e criador de uma empresa de produções para o segmento de áudio visuais e na foto acima, aparece bebê no colo da vovó.

Para a posteridade, Dona Dulcinha deixou um depoimento riquíssimo publicado em um jornal da região, cujo recorte nos foi entregue por Helcias Bernardo de Pádua, coordenador da Associação Grupo de Memórias do Itaim-Bibi.

Em 26 de outubro de 2023, Dulce Borges Barreiros, foi lembrada em uma solenidade promovida pela Câmara Municipal de São Paulo para comemorar os 89 anos do Itaim Bibi.

Helcias nos falou de suas lembranças sobre ela, nos tempos em que era menino, quando a nobre senhora comparecia à sua casa porque sua mãe, Benedita Ferreira de Pádua, era costureira e fazia os vestidos de Dona Dulce.


Neste depoimento ao jornal, a antiga moradora fala de sua juventude no bairro e da facilidade que tinha para conversar com as pessoas, tanto que se tornou assessora do então governador Adhemar de Barros. Dona Dulce conta:

“O Itaim de início era uma chácara onde moravam pessoas simples e graças à minha amizade com os políticos consegui para o bairro muitas melhorias como água encanada, luz, asfalto, esgotos, ônibus, escolas e até divertimento...”



“...Isso mesmo, construí o primeiro cinema do bairro, o Cine Itaim, na esquina das ruas Joaquim Floriano e Tapera, hoje Rua Bandeira Paulista...”

“...Os rapazes sempre queriam assistir filmes de bangue-bangue ou do Flash Gordon e as moças preferiam os filmes sentimentais, era uma briga danada. Este cinema funcionou até 1951...”




“...Quando inaugurei meu novo cinema, o Cine Star, depois Lumiére, o fizemos ao lado do Edifício Dulce, o primeiro prédio com elevador do Itaim. Todo mundo ia lá para andar de elevador...”




“...Ajudei fundar a Sociedade Amigos do Itaim e dei a ideia de lançar um concurso para o bairro ter uma bandeira que hasteamos até hoje das festas da comunidade.

Lembro-me de quando foi fundada a fábrica da Kopenhagen aqui no bairro, em 1925. Eram os donos, um casal da Letônia, que vieram para o Brasil fugindo da guerra. Eles começaram vendendo marzipan de porta em porta, doce de origem árabe.

A fábrica trouxe desenvolvimento para o Itaim, principalmente empregos...” 



“...Acho que fui a primeira feminista do Brasil, pois em 1924 ainda mocinha, com 18 anos, comecei a participar das corridas de automóveis realizadas no Pacaembu, cujas ruas eram todas de terra.

Meu carro era um Lincoln onde estou de pé sobre o estribo, todos os domingos ia com ele fazer o corso na Avenida Paulista.  Era um hábito muito chique, cultivado por gente importante que desfilava com seus carrões, um mais lindo que o outro...”



... Num dia de 1926, um moço muito elegante bateu à minha porta, era o conde Eduardo Matarazzo, ele disse assim: ‘Desculpe a minha ousadia Dona Dulce, mas eu sou representante da fábrica dos automóveis Bugatti no Brasil e gostaria que a senhora o exibisse pela Avenida Paulista’.

E lá fui eu dirigindo aquela máquina admirada por todos, foi um sucesso. Onde eu parava enchia de gente em volta.

Depois corri com a Bugatti no Pacaembu e capotei duas vezes. Tenho uma coleção de taças e medalhas, até hoje sou chamada de ‘Rainha do Volante!’”



Na edição de 15 de maio de 1926, a Revista da Semana publicou a reportagem fotográfica de uma corrida de automóveis realizada na avenida Brigadeiro Luiz Antônio.

Essa corrida foi promovida pelo São Paulo Jornal, extinto há muitos anos e na matéria, Dulce Barreiros, é citada como vencedora de uma das competições.

Outra foto apresenta o Conde Eduardo Matarazzo, vencedor com sua Bugatti da prova “Cidade de São Paulo”.

As outras duas fotografias mostram aspectos das provas.

O professor Helcias Pádua também me contou aspectos interessantes de sua família no bairro.



Na foto acima, Helcias é o menor de todos os meninos sobre o muro, só aparece sua cabeça. Seu pai, Orestes Bernardo de Pádua, é o que está no centro de terno branco.

Ao fundo ficava a residência da família Pádua, na Rua Luiz Dias, 48 antiga Rua do Porto nº 4. Reparem que não havia calçamento na rua e nem mesmo calçada.

Helcias Bernardo de Pádua também nos envia o logotipo das comemorações dos 90 anos do Itaim Bibi que acontecerão em 2024.




Acima está foto de Dona Dulce mostrada na solenidade promovida pela Câmara Municipal em outubro passado.

 

Fontes: Grupo de Memórias do Itaim Bibi e Blog do Ralph Giesbrecht

4 comentários:

  1. Eu a conheci em SV Ela tinha ap no mesmo prédio q eu ❤️❤️❤️❤️❤️

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  2. Bela história.
    Trabalhei por anos na esquina da Faria Lima com a Juscelino. Antes daqueles prediões.
    Época das casas noturnas famosas.
    Saudades!

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