Imagine São Paulo em 1822, cidadezinha com população de 15 mil habitantes, muito parecida à São Luiz do Paraitinga que temos hoje.
Seu território em nada lembrava a metrópole atual, o núcleo urbano ficava concentrado unicamente nos entornos da região da Sé confinada entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí.
A pintura de François-René Moureaux, de 1844, expressa de modo mais próximo ao real como foi a entrada de Dom Pedro em São Paulo, depois de proclamar a independência às margens do Ipiranga.
Havia temores que uma guerra civil separasse a Província de São Paulo do restante do Brasil e o príncipe regente decidira vir do Rio de Janeiro até a capital dos paulistas na tentativa de acalmar os ânimos. Ao chegar preferiu antes hospedar-se na Penha.
Como não havia prédios, quem
estivesse em frente à igreja, conseguia ver o burgo paulistano e Dom Pedro
pediu ao secretário particular, Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, que viesse
antes a São Paulo para sentir como estavam os ânimos.
Em 9 de janeiro de 1822, Dom
Pedro, anunciou que ficaria no Brasil após ler uma carta mais parecida a uma intimação que José Bonifácio, seu ministro de de confiança, enviou e o colocou a par da situação.
“... A revolução já está
preparada para o dia de sua partida. Ministro fiel que arrisquei tudo por minha
Pátria e pelo meu príncipe, servo obedientíssimo do Senhor D. João VI, devo
dizer que as cortes de Lisboa o têm na mais detestável coação. Eu, como
ministro, aconselho a Vossa Alteza que fique e faça do Brasil um reino feliz,
separado de Portugal, que é hoje escravo dessas cortes despóticas..."
Foi este documento que ocasionou o Dia do Fico.
Embora português, Dom Pedro se viu obrigado a proclamar a independência do Brasil, antes
que algum outro fizesse, ele só não sabia em qual momento e hora, teria condições
para anunciar essa decisão.
Informado que os ânimos
estavam serenos, o jovem príncipe juntou uma comitiva formada por homens fiéis a ele e seguiu de São Paulo para a cidade de Santos.
Seu objetivo foi verificar
como estavam as fortalezas que guardavam o porto caso houvesse uma reação por
parte de Portugal.
Segundo registros do
historiador santista, Francisco Martins dos Santos, “...As ruas pelas quais o
cortejo passou estavam juncadas de flores e folhagens, apinhadas de povo. Das
sacadas pendiam colchas de seda e senhoras e moças atiravam rosas e outras
flores...”
Dom Pedro se hospedou no Convento dos Jesuítas, onde hoje fica a Alfândega de Santos. Antes, visitou a Fortaleza da Barra e o Forte Itapema, mostrados acima na pintura de Benedito Calixto. Depois, atendeu o convite para jantar na casa da família de José Bonifácio.
A viagem de retorno a São
Paulo teve início às 5 horas da manhã, seguiu pela Calçada do Lorena, cujo
trajeto íngreme de subida da serra impedia o acesso de cavalos, por isso o
caminho foi feito sobre o dorso de mulas.
O mensageiro da coroa Paulo
Bregaro, que havia partido do Rio de Janeiro para a entrega das cartas vindas de Portugal, além das assinadas por Dona
Leopoldina e José Bonifácio, passou por São Paulo e seguiu com
destino a Santos, mas encontrou com a comitiva que voltava.
Era a tarde do dia 7 de
setembro de 1822, um sábado e o grupo às margens do Riacho Ipiranga, se preparava para a troca das
montarias, substituindo assim, as mulas pelos cavalos, conforme o biógrafo Paulo Rezzutti.
Uma das cartas entregue a
Dom Pedro, dava conta da assinatura da independência, decretada em 2 de
setembro de 1822, por Dona Leopoldina, na condição de princesa regente do Brasil.
A futura imperatriz usou suas atribuições de chefe interina do governo, para assinar o documento que informava Portugal do resultado da reunião do Conselho de Estado que decidiu pelo rompimento dos laços que uniam os brasileiros ao reino de Lisboa.
O povo ainda não tinha conhecimento dessa decisão, ainda se acreditava no retorno de D. Pedro à sua terra natal, mas diante do que estava nas cartas somado à postura irredutível do governo português de rebaixar o país à condição de colônia, nada mais restava ao príncipe, senão anunciar ali mesmo que estava proclamada a Independência do Brasil.
Dom Pedro conclamou os acompanhantes e fez um breve discurso em voz alta finalizado com o célebre grito que entrou para a história: “Independência ou Morte!”
A pintura de Pedro
Américo, concluída 50 anos depois, enobreceu e deu cores românticas ao ato. Em
qualquer outro país fariam o mesmo.
Como a cidade de São Paulo ainda era pequena, a informação que o príncipe regente chegaria no final daquela tarde fez com que as pessoas saíssem às janelas e outras permanecessem nas ruas para acompanhar a entrada solene.
Dom Pedro e sua comitiva
subiram a Ladeira do Carmo, tendo sido o príncipe recepcionado pelo bispo Dom
Mateus de Abreu Pereira, o primeiro a ouvir de viva voz na cidade, a notícia da
independência.
O futuro monarca seguiu
em meio à festa popular para o Palácio do Governo, localizado onde está reconstruída a igreja do Pátio do
Colégio.
À noite houve uma recepção festiva no Teatro da Ópera quando então pôde sua majestade ficar ao lado de Domitila de Castro que havia conhecido em sua primeira passagem por São Paulo, antes de seguir a Santos.
Aquela que seria a Marquesa de Santos, se tornou depois sua amante e confidente.
Ainda em São Paulo, no dia 9 de setembro, nomeou uma junta governativa para a Província de São Paulo, composta pelo bispo diocesano D. Mateus de Abreu Pereira, o ouvidor da comarca, Dr. José Corrêa Pacheco e Silva e o marechal Cândido Xavier de Almeida e Sousa.
Às 5 horas do dia 10 de
setembro de 1822, deixou a capital paulista, partindo para o Rio de Janeiro, aonde
chegaria em tempo recorde de cinco dias, apesar dos temporais pelo caminho.
Foi Dom Pedro I aclamado imperador, no dia em que completou 24 anos de idade, 12 de outubro de 1822, solenemente coroado e consagrado Defensor Perpétuo do Brasil.
Começava assim o processo de consolidação de nossa independência que segue em andamento até os dias atuais.
Fontes:Alves, Odair Rodrigues/Os
homens que governaram São Paulo/Nobel/São Paulo/1986
Bittencourt, Vera Lúcia
Nagib/De Alteza Real a Imperador/PDF/Universidade de São Paulo/2006
De Assunção, Paulo/São
Paulo Imperial: a Cidade em Transformação/Editora Arke/São Paulo/2004
Rezzutti, Paulo/Independência: a história não contada: A construção do Brasil: 1500-1825/LeYa Brasil Editora/São Paulo/2022
Sérgio Ribeiro, Antonio/São Paulo - berço da
Independência do Brasil/Portal Alesp/2021
Caminho feito por D.
Pedro I/Priscila Mengue/O Estado de S. Paulo/27/07/2022 pg.10 A
Imagens: Google/Wikipédia
Importante e oportuna contribuição para nossa historia.
ResponderExcluirMuito bom o artigo publicado neste espaço sobre as nuances que livraram à declaração de Independência do Brasil.
ResponderExcluirParabéns ao seu autor !
Muito bom o artigo publicado neste espaço sobre as nuances que levaram à Independência do Brasil.
ResponderExcluirParabéns ao seu autor !
Muito boa a narrativa plena de fatos que nos remetem as nossa querida São Paulo.
ResponderExcluirInteressante comparar aquela São Paulo com a São Luiz do Paraitinga de hoje. Deve ser isso mesmo. Mas então poderíamos comemorar a Independência em 02 de Setembro? Valeu pelas informações históricas!
ResponderExcluirMaravilhoso rekato de nossa história!
ResponderExcluirExcelente relato, eu que morei no Ipiranga fiz uma viagem no tempo com essa narrativa e descobrindo o por que de tantas ruas no bairro ter nomes de pessoas não muito faladas bairro história do Brasil, como por exemplo: Paulo Bregaro Xavier de Almeida...
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho!!!
Adorei conhecer detalhes tão importantes da história da nossa amada Pátria! E que prazerosa leitura! Muito bom!
ResponderExcluirMuito bom relato da história, sempre ampliando conhecimentos, muito obrigado.
ResponderExcluirSempre bom como em um passe de mágica voltar ao passado e deixar nossa imaginação fluir ao longo desses locais citados. Recentemente percorri parte da calçada do Lorena e posso dizer que a subida no meio da mata de Santos a São Paulo não deveria ser nada fácil. Parabéns pelo relato
ResponderExcluirAgradeço os comentários aqui deixados, mas peço que coloquem o nome para que possamos interagir.
Excluir