quinta-feira, 21 de julho de 2022

Incêndio na região da 25 de Março atinge parte da história

A Prefeitura de São Paulo deu início aos preparativos para demolição do prédio que pegou fogo na região da Rua 25 de Março, no dia 10 de julho de 2022.

O incêndio que durou mais de 60 horas abalou as estruturas do edifício e ficou definido que não haverá implosão.

Operários serão elevados por guindastes para destruir a estrutura de cima para baixo e a demolição total deve durar até seis meses.


O fogo esparramou-se para outros quatro endereços localizados na região da Rua 25 de Março.

A Igreja Ortodoxa Antioquina da Anunciação à Nossa Senhora, que faz parte da história da região, foi atingida.

O templo considerado o mais antigo desta religião no Brasil, foi inaugurado em 1904.

Ali se reúnem para as celebrações, remanescentes dos imigrantes sírio-libaneses, netos e bisnetos de origem cristã.


A artista plástica Cristiane Carbone registrou essa igreja em uma de suas pinturas que ajudam a contar um pouco da história da cidade e isto pode colaborar, futuramente, na restituição da fachada original.

Uma das ruas paulistanas mais conhecidas em todo o Brasil, é a 25 de Março, graças ao comércio popular de tecidos, roupas de cama, mesa e banho, além dos artigos de bazar e papelaria.

Fazem parte da vizinhança ruas como a Cavalheiro Basílio Jaffet, Comendador Abdo Schahim e a Ladeira Porto Geral, cujo nome se deve a um porto de areia existente no passado, nas margens do Tamanduateí que por ali passava.

O pequeno porto servia ao desembarque das mercadorias vindas de Santos, trazidas por pequenas embarcações.

Bastante sinuoso em seu traçado original, o Tamanduateí também era chamado de Rio das Sete Voltas, devido ao emaranhado de curvas na região da Várzea do Carmo, parte que hoje se chama Glicério.


Após sua retificação completa, o Tamanduateí passou a ter cara de um riacho, como mostra a pintura de 1894, assinada por Antônio Ferrigno.

A Rua 25 de Março ganhou este nome por uma homenagem da prefeitura à data de promulgação da nossa primeira Carta Magna, assinada por Dom Pedro I, em 1824.

Mas quem retratou a região de forma exuberante, foi Benedito Calixto no quadro ‘Enchente na Várzea do Carmo’, de 1892.

Clique sobre a pintura para ampliá-la em seu celular.

Esta paisagem foi registrada dois anos antes da pintura de Antônio Ferrigno ser desenhada e nela se destaca a visão exuberante que se tinha do Rio Tamanduateí.

O Pátio do Colégio nesse tempo servia como mirante. Dele e da Rua Boa Vista, ainda é possível ver a baixada onde está agora o Parque Dom Pedro II e uma parte do Brás, naquele tempo repleto de chácaras, casarios e algumas das primeiras chaminés ao fundo.

Na pintura se observa à esquerda, o antigo Mercado dos Caipiras, substituído anos depois pelo atual Mercado Municipal, inaugurado em 1933.

Uma fotografia já do século 20 mostra o Mercado dos Caipiras decadente e quase vazio, sem a presença do Tamanduateí nas proximidades. A retificação do rio levou anos para ser concluída.

Quanto à situação atual, um véu deve ser colocado no alto do prédio incendiado para impedir que os escombros da demolição se desloquem e venham cair sobre outros edifícios ou até mesmo transeuntes.

A implosão, que seria um processo mais rápido, foi descartada por causa de possíveis abalos nas edificações vizinhas.

O prédio atingido pelo fogo tinha 79 salas comerciais onde funcionavam lojas, escritórios e depósitos. Os prejuízos ainda estão sendo calculados.


As fotos da noite do incêndio foram tiradas por um gari que trabalha na região e depois compartilhadas com Devanir Amâncio, nosso amigo e colaborador.



Fonte: O Estado de S. Paulo - Gonçalo Junior

 

 

3 comentários:

  1. Ótimo resgate sobre a região da 25 de Março e o recente incêndio. Parabéns.

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  2. Lembro dessa igreja ortodoxa. Eu era criança e estranhava demais a igreja sem torres, entre prédios. Acredito na recuperação do Centro. Uma hora a degradação cansa e começa a ser revertida.

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