Desde os meus tempos de repórter aéreo se buscava uma forma de diminuir a quantidade de acidentes de trânsito envolvendo os motoboys, cujo apelido pejorativo na época era “cachorro louco”.
Certa vez discuti com alguns colegas de redação,
contrários a uma ideia do então presidente da Companhia de Engenharia de
Tráfego - CET, Roberto Salvador Scaringella, que iria testar uma faixa
exclusiva para motos na Avenida 23 de Maio.
Argumentei na ocasião que a tentativa era válida pelo objetivo de preservar vidas no trânsito.
Naquele tempo, 2006, morriam em média dois
motociclistas por dia no trânsito paulistano, tais ocorrências movimentam viaturas de resgate, equipes do Samu e até o helicóptero da PM que transporta para os hospitais os casos mais graves.
Os colegas de redação, por sua vez, insistiam na questão do “cachorro louco” e argumentavam que os motoboys acidentados são os mesmos que cometem diariamente infrações diversas, chutam portas, quebram espelhos retrovisores dos carros e depois fogem.
De fato, esses “profissionais” em duas rodas ainda fazem coisas desse tipo, mas minha tese era que deixá-los morrer pelo fato de serem inconsequentes não passava de um exagero cruel.
A morte de um cidadão no trânsito, por pior condutor que ele seja, modifica o destino de famílias inteiras.
Muito do estresse deles ao dirigir é resultado dos baixos
salários e da preocupação permanente em sustentar os filhos, as esposas e demais
familiares muitas vezes doentes em uma cama.
Todos nós sabemos onde dói o calo, a pandemia está aí para mostrar o quanto sofre uma família que perde seus entes queridos.
A iniciativa do engenheiro fundador da CET, entretanto, foi inglória; os testes realizados em 2006 não deram certo e os motoqueiros seguiram na sua trajetória de imprudências, pagas na maioria das vezes com a própria vida.
Roberto Scaringella morreu em 2013, mesmo ano em que foram implantadas as faixas exclusivas para ônibus nos dois sentidos da Avenida 23 de Maio.
Neste caso o resultado foi positivo, o transporte
coletivo passou a fluir com mais velocidade, beneficiando milhares de passageiros.
As tentativas de diminuírem acidentes com motos ficaram no esquecimento, mas o número de ocorrências continuou em ordem
crescente.
No ano passado, cerca de 400 motociclistas perderam a vida por envolvimento nas ocorrências de trânsito na capital paulista, a média manteve-se acima de uma morte por dia.
Dos que sobreviveram quase 7 mil saíram com ferimentos
graves carregando consigo sequelas para tratamento médico nos centros de
reabilitação pagos pelo SUS.
Diante da quantidade de ocorrências, a decisão da CET de realizar mais uma tentativa para diminuir acidentes envolvendo motoboys, foi ao nosso ver a melhor notícia deste início de ano.
Desde o dia 25 de janeiro, aniversário de 468 anos da
cidade de São Paulo, está em operação o projeto-piloto “Faixa Azul”, no sentido
centro-bairro, da Avenida 23 de Maio, cujo objetivo é diminuir em até 30% as ocorrências que envolvem motocicletas.
A diferença das propostas anteriores está na criação desta “Faixa Azul”, pontilhada no asfalto, junto à faixa da esquerda dos carros, lugar onde os motoboys se acostumaram a andar em espaço compartilhado com os demais veículos.
Efetivou-se uma prática que já acontecia, mas agora sinalizada, o que facilita a fiscalização. O motociclista que ingressar no corredor exclusivo terá que andar na velocidade dos carros com a vantagem de se arriscar menos.
A proposta é de tentar preservar vidas e não deixar impune os infratores.
O trecho sinalizado fica entre a Praça da Bandeira e o
Parque do Ibirapuera, no sentido Aeroporto.
Em entrevista a um canal de televisão, o especialista em mobilidade urbana, Flamínio Fishmann, explicou que até hoje o sistema viário funcionou para atender somente os que andam de automóvel, “mas é preciso evoluir”.
Ele entende que pedestres, ciclistas e
motociclistas fazem parte de um mesmo cenário e não podem continuar morrendo em
tamanha quantidade.
Usando essas palavras, o especialista complementou aquilo que tentei argumentar aos meus colegas de profissão 16 anos atrás, sem conseguir. Lamento ter discutido com eles, mas sigo acreditando que fiz certo.
Por tudo isso entendo que a Faixa Azul foi o melhor presente de aniversário que a cidade de São Paulo obteve em 2022.
Os serviços de motoboys e moto fretes aumentaram muito em razão da pandemia e a geração de empregos cresceu no setor, então nada melhor que aumentar a segurança de quem trabalha e tem sua vida preservada.
Mortes de motociclistas
2020 = 345
2021 = 394 + de 1 por
dia aumento de 16% 6.548 sofreram ferimentos graves
Faço votos que os motociclistas se conscientizem, obedeçam a sinalização, não procurem
escapar utilizando outras faixas e que por amor a seus familiares preservem
suas próprias vidas.
Se alguém quiser me presentear, informo que aceitamos a pronta entrega através do serviço de um motoboy. Abraços aos leitores e leitoras, até mais ver!
Bom artigo. Espero que a ideia de certo. É realmente inovadora.
ResponderExcluirPelo jeito sempre foi mais fácil multar automóveis, ônibus e caminhões enquanto que motos passam na maioria das vezes impunes. Em 8 anos a capital terá mais motos do que automóveis. 🤔 pense nisso!!!
ResponderExcluirFinalmente nessa Cidade de Cabeções Idiotas Nasce uma Flor , uma Faixa ÚTIL AZUL para motociclistas ----dentre as inumeras Faixas INUTEIS parabéns ao IDEALIZADOR ~~~~
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