segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O jornalismo no Rádio demorou para ser aceito

Dois noticiários radiofônicos serviram de modelo para a leitura de notícias nas rádios brasileiras a partir da década de 1940.

O “Repórter Esso” começou como noticiário de guerra. Levava esse nome por causa do patrocinador, a Companhia Esso Brasileira de Petróleo, era a maior distribuidora de combustíveis do país naquela época.

Este noticiário ia ao ar de hora em hora, com notícias extraídas dos jornais impressos ou telegramas sobre a guerra enviados pelas agências internacionais. Sua duração era de cinco minutos.

“O Grande Jornal Falado Tupi”, por sua vez, começava às 7 da manhã, com uma hora de duração. Seu noticiário seguia o roteiro dos jornais publicados diariamente pela imprensa.

Trazia primeiro as manchetes do dia e depois era dividido em blocos de acordo com as editorias: notícias nacionais, internacionais, esportes, cultura, assuntos locais, etc.

Dirigido em São Paulo pelo jornalista Corifeu de Azevedo Marques, o “Jornal Falado”, foi ao ar pela primeira vez, em 1942, mesmo ano da estreia do “Repórter Esso”. 

Com o término da Segunda Guerra, esses noticiosos já consagrados, seguiram na programação, mas certos dirigentes da mídia não acreditavam que a leitura de notícias no rádio pudesse dar mais audiência que os programas musicais ou de entretenimento.

O jornalismo na mídia radiofônica passou a ganhar força mesmo, a partir de 1962, com a estreia na Rádio Bandeirantes do jornal Primeira Hora, cujo nome ainda é o mesmo no horário das 7 da manhã na Band Rádio.

“Se a televisão tem imagens, a qualidade do rádio está no som”, explicava Alexandre Kadunc, criador do Primeira Hora, que instituiu vinhetas, trilhas sonoras e frases de efeito que aguçavam a imaginação dos ouvintes.

Uma dessas trilhas, o “canto do uirapuru”, revelava os sons de um pássaro da Amazônia, ouvido somente uma vez por ano. 

“Quando o uirapuru canta, as outras aves silenciam para ouvi-lo, ressaltava o mestre Kadunc com quem muito aprendi como repórter iniciante, quando de sua passagem pela Rádio Capital, entre 1978 e 1982. 

Sua equipe de jornalistas na Bandeirantes tinha um nome: “Titulares da Notícia”.

Na mesma época, também pelo prefixo 840 AM, Vicente Leporace lançou “O Trabuco”, que entrava no ar após o “Primeira Hora”.

Leporace lia as notícias dos jornais impressos para em seguida comentá-las fazendo uso de seu senso crítico sempre aguçado.

A trilha de seu programa, que soou por 16 anos nos lares brasileiros, dizia: “Seu Leporace agora com o Trabuco (bang!), vai comentar as notícias dos jornais. Seu Leporace agora com o Trabuco (bang!), vai dar um tiro nos assuntos nacionais”.

Em 16 de abril de 1978, um domingo, Leporace morreu e “O Trabuco”, não foi ao ar na segunda-feira. Ninguém sabia quem seria capaz de substituí-lo diante dos microfones.

Para seu lugar chamaram Salomão Ésper, que costumeiramente substituía Leporace nas férias, e junto com ele, para alicerçar o conteúdo de opiniões se juntaram José Paulo de Andrade e Joelmir Betting, mas o programa precisou mudar de nome para Jornal da Bandeirantes Gente que segue na grade da emissora com outros apresentadores.


Mas quando o assunto é jornalismo no rádio, a marca Jovem Pan precisa ser citada. Inaugurada em 1944 com o nome Rádio Panamericana, ganhou de início, o título de “Emissora dos Esportes”.

O sucesso do programa Jovem Guarda, transmitido pela televisão Record, pertencente aos mesmos donos da Panamericana, ofereceu uma nova roupagem à rádio que antes só falava de futebol. 

Sua programação passou a ter programas que abordavam a música jovem, com a participação dos cantores da TV, complementada por assuntos que abordavam os temas da atualidade da época, com isso aos poucos, a notícia passou a ter prioridade.

Comandada nos bastidores pelo jornalista Fernando Luiz Vieira de Mello, a Jovem Pan levou ao ar ainda na década de 1960, o jornal da “Equipe Sete e Trinta”, lido nas vozes dos locutores, Antônio Del Fiol e Antônio Alexandre, com os comentários de Ney Gonçalves Dias.

A partir de 1969 se tornou possível a transmissão de programas ao vivo via satélite. Este avanço tecnológico possibilitou a criação do “Jornal de Integração Nacional”, com repórteres ao vivo direto de Brasília e do Rio de Janeiro.

Alguns anos depois o nome passou a ser, “Jornal da Manhã” e nele foram incorporadas as canções da Sinfonia Paulistana, obra imortal do compositor Billy Blanco, em homenagem à cidade de São Paulo.


Amanhecendo: “A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição. Porque tudo se repete, são sete, e às sete explode em multidão! Portas de aço levantam, todos parecem correr, não correm de, correm para...Para São Paulo crescer! Vam bora, vam bora, olha a horam vam bora, vam bora...!”

Grande São Paulo:São Paulo que amanhece trabalhando, São Paulo que não pode adormecer! Porque durante a noite, o paulista vai pensando, nas coisas que de dia vai fazer...”

Tudo o que foi contado nesta postagem, é apenas uma parte das muitas histórias sobre o jornalismo no rádio que completa agora em 2022, os seus 100 anos de existência no Brasil.

No próximo post, em razão da Copa do Mundo, traremos fatos interessantes ligados às narrações esportivas para em seguida concluir a série com as previsões que sempre anunciam para breve o fim do rádio.

Por hora, vamos brindar aqui mesmo, o centenário do rádio, ouvindo duas peças musicais da Sinfonia Paulistana de Billy Blanco:

Amanhecendo: https://www.youtube.com/watch?v=diJyOleyOVc

 


Grande São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=E8zCnw1hSrc



 

 

3 comentários:

  1. Muito legal. Fez-me recordar de quando ouvia o Reporter Esso, de todos os citados da Bandeirantes (iclusive O Trabuco), da Tupi e o matinal da Panamericana. Carlos Daher pelo Facebook.

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  2. Lembranças gostosas. A vinheta do Leporace foi o que ficou na memória, eu era adolescente, o conteúdo não me atraía àquela época. Gostava mais do Jornal da Manha, por causa das músicas citadas, extremamente pertinentes a São Paulo. Pena que a Jovem Pan se tornou excessivamente conservadora, e me afastei dessa emissora. Era na Pan que tinha a Ana Maria com o "É Noite, Tudo se Sabe"?

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