quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

A internet deu sobrevida ao Rádio, só não se sabe por quanto tempo

Desde o mês de setembro tenho postado uma série de artigos em comemoração aos 100 anos do Rádio no Brasil sempre de maneira positiva e favorável.

Mas ninguém é perfeito e o Rádio brasileiro também não é. 

São inúmeras as qualidades, mas há uma série problemas que deixam em dúvida a sobrevivência deste veículo ainda hoje muito útil.

Ser útil apenas não basta, é preciso também obter lucratividade e desde quando surgiu a televisão, especialistas em mídia apontam o fim do Rádio sempre para daqui alguns anos.

O Rádio resiste, ouvido e admirado por boa parte da população, especialmente das classes mais populares.

Depois que vieram as redes de televisão, o alcance regional das rádios em AM ou FM, despencou em termos de audiência e anunciantes.

Ninguém na mídia sobrevive sem propaganda e a situação começou se agravar já na década de 1970, quando a televisão ganhou cores e via satélite passou a transmitir sua programação em rede nacional.

Os índices de audiência da TV cresceram, passaram a bater recordes sucessivos e os comerciais televisivos trouxeram lucros extraordinários aos que investiram em patrocínios.

Empresas que fabricam cervejas e refrigerantes, além das montadoras de automóveis e os grandes bancos se tornaram fortes anunciantes da TV aberta.


Para o Rádio sobraram os laboratórios de remédios e as lojas de comércio popular, além de outros poucos patrocinadores diversos.

As agências de publicidade entendem que no subconsciente, anúncios bem-produzidos despertam no consumidor um gosto especial para adquirir determinado produto.

Por isso, certos comerciais para a televisão custam  mais caro que filmes de longa-metragem, mas o resultado de quem investe em propaganda no horário nobre da TV, é amplamente satisfatório. Por quê?

As novelas e o futebol costumam dar mais de 30 pontos de audiência em uma só rede de TV aberta que cobra caro pelos seus anúncios, mas quem investe no patrocínio lucra depois muito mais.

Enquanto isso, os programas de maior audiência no Rádio costumam dar 1 ou no máximo 2 pontos de audiência, mesmo alicerçados pelo YouTube ou Facebook. Entenderam a diferença?

No Rádio com um bom texto e boas vozes dá para gravar comerciais de custo baixíssimo, mas a lucratividade também acaba sendo pequena por causa do fator audiência.

Embora a maioria das emissoras de Rádio também transmita em rede, nem sempre o anúncio tem abrangência nacional.

Enquanto algumas rádios de uma mesma programação vendem a sua propaganda, em outras praças, as associadas não conseguem vender e precisam ocupar o espaço destinado aos comerciais com chamadas de outros programas da emissora.

Na hora de repartir os vinténs surgem as discussões e o setor, por esses e outros motivos está sempre em crise, contendo gastos. 

Para se ter uma ideia, no início da década de 2000, apenas 3% de tudo o que se arrecadava em mídia no Brasil se destinava ao Rádio.


Até as empresas de outdoors, expulsas da cidade de São Paulo pela “Lei Cidade Limpa”, em 2006, faturavam mais que as rádios.

As consequências estão aí até hoje, várias emissoras venderam seus horários ou mesmo arrendaram seus prefixos para pastores e igrejas evangélicas.

Diante dessa situação, a mídia radiofônica como era na década de 1970, a que paga os menores salários para os seus profissionais.

Quem trabalha em uma rádio costuma ter também um segundo ou até terceiro emprego para cobrir todas as despesas de uma família. Quem é do ramo sabe que não estou mentindo.

Mas eis que surge a internet para ameaçar a televisão e beneficiar o Rádio que passa a falar mais longe com a mesma qualidade de som de uma emissora local, sem as oscilações da época das ondas curtas e o melhor de tudo: com imagens.

As webcams levaram o rosto dos apresentadores no estúdio para os portais e aplicativos, além de colocá-los em destaque nas redes sociais. 


Foi o balão de oxigênio que o combalido Rádio tanto precisava e ainda precisa para sobreviver.

O levantamento mais recente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão – ABERT, aponta uma pequena melhora.

Agora, 4% das verbas publicitárias, se destinam ao Rádio, mas a luz amarela de alerta nas finanças continua acesa: Para sobreviver, será preciso melhorar o conteúdo daquilo que é levado ao ar.

Aplicativos, streamings e podcasts serão cada vez mais acessados se houver uma programação de qualidade. Se não for o usuário de internet sai fora rapidamente. 

Agora é o ouvinte que escolhe o horário para ouvir porque tudo fica armazenado nos aplicativos.

Nestas novas ferramentas podem ser incluídas propagandas de acordo com o perfil desses web-ouvintes. Isto facilita a vida das emissoras. 

Fernando Vítolo, Nilo Frateschi Jr e Heródoto Barbeiro lançaram em setembro um livro que recomendo a todos que gostam de ouvir rádio.


Os autores enfatizam que agora, para se ter acesso às emissoras de rádio não são mais necessários os botões para ligar e mudar de estação.

"Os smartphones recebem sem ruído uma enormidade de canais radiofônicos trazidos pela web e as tecnologias do Metaverso e do QR Code tendem a deixar o rádio ainda mais acessível". 

Contamos com isso para que o Rádio se torne lucrativo e sobreviva!

Com esse artigo encerro minha série de postagens sobre os 100 Anos do Rádio no Brasil, sempre na torcida para que esse veículo consiga durar pelo menos mais um século cumprindo sua meta de divertir, informar e fazer companhia às pessoas.

O Rádio não vai morrer tão cedo! Assim espero.

Abraços fraternos a todos e todas que me acompanharam nesta série de postagens. 

Também estou no livro dos Campeões do Microfone.



Fontes: 

Portal Abert: As receitas da indústria de radiodifusão

https://www.abert.org.br/web/dados-do-setor/estatisticas/faturamento-do-setor.html

Livro: 100 Anos de Rádio no Brasil - Na voz dos campeões do microfone

Autores: Nilo Frateschi Jr, Heródoto Barbeiro, Fernando Vítolo/Editora Lafonte/São Paulo/2022

www.100anosderadionobrasil.com.br

 

5 comentários:

  1. Geraldo, você é referência !!!!!!

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  2. Muito teria a falar a partir do seu texto, puxando memórias de mais de 50 anos ouvindo rádio, desde o tempo em que o radinho de pilha ficava embaixo do travesseiro, à noite, ouvindo "É noite, tudo se sabe", da Ana Maria. (Quem era? Por onde anda a Ana Maria?). Mas vou ater a 3 coisas rápidas: 1 - o profissional de rádio deve estar super-estressado com essas novas tecnologias. Falar para rádio, e ainda ter que cuidar da imagem que vai aparecer no youtube, nossa, deve ser super cansativo e estressante. Tenho até peninha... 2 - O verbete Geraldo Nunes no livro está muito sintético! Nem cita o icónico programa São Paulo de Todos os Tempos! Não gostei... 3 - Graças a Deus "expulsaram" os out-doors da cidade. Olha a poluição na Marginal Pinheiros que a foto mostra. Valeu Gerald!

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