segunda-feira, 14 de junho de 2021

Os balões da nossa infância nas noites enfumaçadas de junho

Na década de 1960, ainda havia muitas casas com quintal em São Paulo e vários moradores utilizavam este espaço domiciliar para acender fogueiras e convidar seus parentes e vizinhos para as festas juninas.

A data alusiva ao dia de São João, em 24 de junho, era a mais concorrida e nestas ocasiões cada convidado levava uma guloseima e todos se divertiam, especialmente as crianças comendo pipoca, bolo de fubá, paçoca e outros doces típicos desta época do ano.

Nesse tempo ainda era permitido soltar balões, embora já houvessem campanhas contrárias a essa prática.

A tradição veio de Portugal, lá era comum soltarem 5 balões para anunciar o começo de uma festa junina.

Quando menino, eu via a garotada mais velha entre 13 e 17 anos, comprar folhas de papel de seda em várias cores, para cortar e colar com goma arábica os balões que eram feitos de vários tipos.

O mais conhecido era o balão pião, mas havia outros modelos como o balão caixa, o charuto, mexerica, ou no formato de uma almofada, cujo nome a criançada pronunciava errado e dizia, “balão mofada”.

A tocha era feita com sacos de estopa cortados, enrolados e presos a um arame que depois era instalado no balão, dentro dessa tocha se colocava parafina.

Minutos antes de soltar se passava breu sobre a tocha e só depois se acendia. Assim, enquanto o fogo aquecia o balão internamente, cada pessoa segurava uma ponta até que ele ficasse cheio de ar quente e com capacidade para por si só, subir ao céu sem a ajuda de mais ninguém.


Só na hora da partida, é que alguém dava um empurrãozinho para que o balão subisse e seguisse seu rumo para um destino incerto. Depois que tudo isso acontecia, surgia em todos nós uma felicidade imensa.

21 de junho de 1970 foi o dia em que eu mais vi balões no céu, em toda a minha vida. Conto essa história na abertura do livro “O Brasil é Tri”, de Thiago Uberreich.

Nesta data que caiu em um domingo, o Brasil conquistou tricampeonato mundial de futebol, na Copa do Mundo disputada no México.

A seleção brasileira bateu a Itália por 4x1 na grande final e depois o povo  comemorou à sua maneira, inclusive soltando balões.


"Havia tantos balões que quase não se via o céu, somente quem assistiu aquele espetáculo consegue explicar...." São essas as minhas palavras colocadas no livro do meu amigo escritor e apresentador do Jornal da Manhã, da Rádio Jovem Pan.



Tenho a impressão que os bombeiros tiveram muito trabalho naquela tarde e noite após a grande final da Copa 70 e talvez, por causa do TRI, os balões acabaram sendo proibidos em definitivo.

Atualmente, o Artigo 42 da Lei de Crimes Ambientais proíbe se fabricar, vender, transportar ou soltar balões juninos em qualquer formato, medida ou tamanho.

Tal infração resulta em pena de 1 a 3 anos de prisão ou multa.

Cerca de 25% dos balões soltos geram transtornos para os voos e, nestes casos, os pilotos são forçados a abortar operações de pouso ou decolagem devido ao risco de acidentes.



Em 2007, quando ainda trabalhava de repórter aéreo, demos de cara com um balão junino em pleno voo sobre a Marginal do Tietê.

Não houve problemas, o comandante Marcelo Fagundes desviou o helicóptero com facilidade, ao mesmo tempo em que tirei essas fotos aqui postadas.

Em pleno século 21, ainda existem os tais baloeiros, pessoas que ainda fazem e soltam balões mesmo sabendo que tal procedimento é considerado agora criminoso.

Segundo o Corpo de Bombeiros, 90% dos balões costumam cair com a tocha ainda acesa, ocasionando na maioria das vezes incêndios, danos à rede elétrica e até mesmo mortes de pessoas inocentes.

Em 22 de maio último, a Polícia Militar Ambiental prendeu 10 suspeitos de soltarem balões em São Paulo e aplicou a eles multas que se aproximam de um valor acima dos 510 mil reais.

Balões agora, nem mesmo aqueles pequenos que no meu tempo eram chamados de "balão lojinha" ou "chinesinho".

Mais um aviso: Criança que fica muito tempo olhando para a fogueira e depois vai dormir, faz xixi na cama. Tchau!




5 comentários:

  1. Viajei no seu texto Geraldo.
    Fui morar no Moinho Velho em Abril de 1970, é lembro muito bem do céu carregado de balões ao final do jogo Brasil 4 x 1 Italia

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  2. Eu adorava ver os balões subindo, era um desafio, vencer a força da gravidade, ter o peso equilibrado, se ficasse torto queimava (que decepção) tanto trabalho que durava poucos minutos. Mas quando subia garboso era lindo demais. E o dono do balão se sentia o herói do dia 😄🥰 boas recordações. Assinado: Bernadete Stolai - via Whatsapp.

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  3. Vital Antônio de Paiva - via Whatsapp: Oi Gê. Me recordo desta data cheguei ver balões se baterem no ar

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  4. Cido Rodrigues: Eu corri muito atrás de balão nesta época - Via Whatsapp.

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  5. Também vi balões se chocarem no céu.

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