domingo, 6 de junho de 2021

“Mooca é Mooca, bairro é bairro, nada se compara”

 De vez em quando bate aquela saudade dos tantos bairros que visitei para fazer reportagens e ressaltar o aspecto cultural, social e humano dos moradores de São Paulo, nos programas de rádio e TV que apresentei.

Dia desses, sufocado pelo distanciamento social, decidi sair de carro e circular um pouco.

Me dirigi até o bairro da Mooca e muitas recordações desabrocharam na lembrança, inclusive a frase título desta postagem: “Mooca é Mooca, bairro é bairro, nada se compara”!

A região se modificou, surgiram muitos arranha-céus no lugar dos antigos sobrados, mas algumas coisas ainda resistem e outras mudaram para melhor.

Por exemplo, o Monumento a Anchieta, no canteiro central da Avenida Paes de Barros, altura da Rua da Mooca, passou por reforma e ficou mais bonito.

Recebeu nova pintura, foi remodelado, está agora limpo. O mais importante: não perdeu suas características.

Até 1984 constava que o bairro havia sido registrado na comarca, em 1867 e tinha somente 117 anos.

Mas um ilustre mooquense, Eugênio Luciano Júnior (1937-1999), discordou dessa informação, foi atrás e constatou  que a Mooca era muito mais antiga do que se imaginava.

Historiador incansável, buscou na biblioteca do Arquivo Histórico Municipal e nas atas da Câmara de Vereadores, as respostas que precisava.

Os documentos levantados por ele, provaram à prefeitura que em 17 de agosto de 1556, houve o registro de uma ponte construída sobre o rio Tamanduateí para ligar o burgo de Piratininga pela atual Rua Tabatinguera, à margem do outro lado, onde se encontra a Mooca de agora.

A descoberta acrescentou mais idade ao bairro que passou a ter 428 anos e não mais os 117 que se supunha até então.

Isto fez da Mooca, o distrito mais antigo de São Paulo, à frente de Pinheiros, Santo Amaro e São Miguel Paulista e a prefeitura oficializou o 17 de agosto como data oficial de aniversário do bairro que em 2021 completa 465 anos.


Para marcar a descoberta foi inaugurado no ano seguinte (1985) o monumento histórico com os dizeres:

“Há um fato concreto: A 17 de agosto de 1556, dois anos e pouco após a arribada dos jesuítas, a governança de Santo André, comunicou aos munícipes estarem todos obrigados a fazer uma ponte sobre o rio Tometeri que passa por junto da vila todas as vezes que tiver necessidade.

    A ponte deve ser mesmo a nossa e por ela passavam os padres da Companhia de Jesus. Essa ponte chave, reparou-se ou reconstruiu-se periodicamente por anos e séculos afora. A ponte do Tamanduateí foi sempre a mais notável e tradicional.”


O projeto original coube ao arquiteto Luiz D’Amore e a escultura do busto do padre Anchieta, ficou por conta de Victorio Simigaglia, mooquense, à época com 83 anos.

A homenagem a José de Anchieta se deu pela crença de que a ponte sobre o Tamanduateí possibilitou a passagem do missionário interessado em catequisar os índios existentes além da outra margem do rio.

Desse lugar também se extraia argila, por isso o nome Mooca, que no idioma tupi significa: construir ocas, ou seja, casas.

Depois do monumento inaugurado deram um jeito de colocar em um canto, a figura do Pepe Legal, o cavalinho do desenho animado de Hanna-Barbera que se tornou o símbolo da escuderia.

Na década de 1960, havia um programa na TV Record que promovia gincanas benemerentes, onde se pedia coisas difíceis de encontrar.

Uniformes dos funcionários da estrada de ferro São Paulo Railway, medalhas e troféus de algum campeão brasileiro, comendas honoríficas de paulistanos ilustres, eram alguns desses pedidos.

Quem corresse atrás e conseguisse tudo primeiro, ganhava os prêmios oferecidos pelo programa, depois entregues a instituições de caridade.

A Escuderia Pepe Legal da Mooca era a grande vencedora dessas competições e se tornou conhecida em toda a cidade.

Quem primeiro me contou essas realizações foi Rafael Cardamone, o Raluca, um dos fundadores Pepe Legal, ainda de grande significado para os moradores.

O conheci em um momento difícil de sua vida, após perder a esposa vítima de uma grave doença, passou a ter crises de insônia.

Durante as madrugadas ele telefonava para a Rádio Eldorado e no programa De Olho na Cidade, fazia reclamações pedindo melhorias para o bairro, inclusive limpeza e melhor conservação do monumento a Anchieta.

Fui até lá conferir a veracidade dos seus pedidos, fiz uma entrevista com ele e nos tornamos amigos.

Cardamone me abriu as portas da Mooca onde conheci mais pessoas com outras informações interessantes sobre o bairro.

Alfredo Di Cunto, fundador da confeitaria que leva seu nome, me assegurou ter sido ele o introdutor do panetone em São Paulo.

Guido Carlos Piva me falou de seu livro explicativo sobre os sotaques da Mooca onde o povo costuma conversar de um modo todo próprio, coisas do tipo: "Sou da Mooca, meu"!

Todos esses que citei já se foram, mas seguem fazendo parte da galeria dos personagens eternos da Mooca, bairro que também possui um brasão próprio.

Painéis cujo desenho destaca as atrações que o bairro também possui podem ser vistos pelos que passam por lá. Confira abaixo. 

 





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