terça-feira, 22 de junho de 2021

Alberto Santos Dumont ajudou transformar a área em torno das Cataratas do Iguaçu em um parque nacional

 Sobrevoei as Cataratas do Iguaçu para uma reportagem sobre a Hidrelétrica Itaipu Binacional que em 2009 superou o próprio recorde em geração de energia.

Na ocasião aproveitei para fazer fotos aéreas em meio àquele visual exuberante, além de obter dados históricos interessantes que contarei aqui mais adiante.

A cobertura coincidiu com as comemorações dos 70 anos  do Parque Nacional de Iguaçu cuja comemoração reuniu autoridades brasileiras, paraguaias e argentinas em um evento que aconteceu ao lado do marco da tríplice fronteira.

Recentemente, a falta de chuvas modificou o cenário do maior conjunto de quedas d’água do mundo e no momento o que está sendo visto são pequenos filetes em meio aos imensos paredões rochosos do local, uma pena.

A vazão média tem sido de apenas 400 mil litros por segundo, o que representa pouco mais de um quarto do volume normal, conforme dados da Companhia Paranaense de Energia - Copel.

Além de alterar a paisagem, a estiagem também vem prejudicando a produção de energia, visto que o leito do Rio Iguaçu conta com seis usinas hidrelétricas ao longo do seu curso que atravessa todo o Estado do Paraná.

Esta visão triste das cataratas, por outro lado, me fez lembrar um episódio histórico do qual tomei conhecimento quando visitei Foz do Iguaçu para essa reportagem especial para a Rádio Eldorado*.

Ninguém menos que Alberto Santos Dumont, foi quem convenceu o governo a desapropriar as terras para transformar as cataratas em patrimônio da União.

Em 1916, depois de visitar o lado argentino das cataratas, o "pai da aviação", recebeu convite dos brasileiros residentes na cidade de Foz do Iguaçu, para que atravessasse a fronteira e viesse conhecer também o nosso lado.

Foi então que recebeu a notícia de não haver por parte do Brasil nenhuma proteção oficial às cataratas e ao seu entorno, tampouco qualquer estrutura para obter a presença de visitantes.

Ao partir prometeu aos membros da comunidade local, que iria pessoalmente a Curitiba falar com o presidente do Estado e interceder em defesa daquele bem natural.

Vale lembrar que a constituição vigente na época, a de 1890, não utilizava a palavra governador para designar os chefes do executivo de cada Estado, estes também eram chamados de presidentes.


Santos Dumont considerou que as cataratas não poderiam permanecer nas mãos de um proprietário particular, pois na época as terras se destinavam somente à plantação agrícola local.

O jornalista e escritor Jackson Lima, apaixonado pelo Paraná e mantenedor de um blog onde conta histórias de seu Estado, nos disse que o “pai da aviação” seguiu de fato a Curitiba, via Guarapuava e Ponta Grossa e se encontrou com o então presidente do Estado, Affonso Camargo, intercedendo em defesa da criação de um parque estadual.

A credibilidade de Santos Dumont era tamanha que sua presença sensibilizou o governante e, três meses após sua visita, declarou a posse para o Estado do Paraná de toda a área em redor das Cataratas do Iguaçu.

Esta área desapropriada em 1916, foi ampliada em 1930, para a criação do Parque Nacional do Iguaçu, oficialmente inaugurado em 10 de janeiro de 1939.


Jackson Lima nos ofereceu essa foto, postada em primeira mão no seu blog, onde Santos Dumont aparece ao lado do presidente do Paraná, Affonso Alves de Camargo, também de bigode e chapéu preto.

O menino vestido de branco, presente na mesma fotografia, se chama Pedro Alípio Alves de Camargo, futuro pai do ex-deputado Afonso Camargo Netto, falecido em março de 2011.  

“Foi o deputado que certa vez, gentilmente, me cedeu uma cópia dessa foto”, explicou Jackson Lima.

Nosso sobrevoo ao Parque Nacional do Iguaçu aconteceu em um helicóptero MD 600 2008, ao lado do então diretor-executivo da Itaipu Binacional, Jorge Samek, que nos mostrou do alto a presença da mata ciliar cultivada ao redor do Lago de Itaipu, em seus 1350 quilômetros quadrados de extensão.

A mata ciliar funciona como os cílios que protegem nossos olhos, assim tudo aquilo que possa poluir o lago fica retido nessa mata plantada com mudas retiradas do Parque Nacional do Iguaçu, cuja vegetação é semelhante à da Mata Atlântica.

Já não há mais nenhum terreno baldio ou desocupado em torno da hidrelétrica e em todas as terras há plantações de milho ou soja, inclusive no lado paraguaio.

Itaipu continua sendo a maior fonte geradora de energia elétrica para o nosso país e em breve, quando o volume das águas no Rio Iguaçu voltar ao nível normal, teremos de volta a exuberância das cataratas cuja visão é ainda mais linda do lado brasileiro.

Se faz importante ressaltar que a Usina Hidrelétrica de Itaipu não faz parte do pacote de privatização da Eletrobrás, recentemente aprovado.

Para registro dos que apreciam a aviação, o nosso voo sobre as cataratas a bordo de um MD 600 2008 biturbina sem rotor de cauda, aconteceu por questões de segurança.

Somente helicópteros turbinados podem sobrevoar as cachoeiras ou mesmo o lago da Hidrelétrica de Itaipu.

Para este repórter aéreo, a experiência de sobrevoar um lugar tão deslumbrante foi inesquecível.


*A produção da reportagem levada ao ar em 2009 pela Rádio Eldorado coube à jornalista Valéria Rambaldi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário