quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Júlio Abe e seu Museu de Rua na defesa da memória afetiva

 Fotógrafo, arquiteto, historiador e museólogo, o professor Júlio Abe Wakahara criou o Museu de Rua com o objetivo de despertar na população o sentido de se preservar o patrimônio histórico através da memória afetiva.

                    

A memória afetiva está no sentimento de cada um ao recordar lugares e acontecimentos que fizeram parte de sua trajetória de vida.

O projeto durou décadas. Montado em seu escritório, cada edição do Museu de Rua seguia com autorização da prefeitura, para os bairros sendo instalada em lugares públicos de grande movimento.

Fotos com legendas explicativas em cartazes impermeáveis, permaneciam semanas ou até meses em um mesmo lugar, para mostrar aos passantes um pouco da história de cada localidade.

Depois, a exposição seguia para um outro ponto da mesma região e lá ficava por mais algum tempo. 

Museus de Rua foram criados e expostos em vários bairros como Freguesia do Ó, Bexiga, Butantã, Pompeia, Pinheiros e até mesmo o Centro da cidade.



Júlio Abe fugia das entrevistas. “Nem é preciso citar o meu nome, o importante é motivar as pessoas a conhecerem a história dos lugares onde elas vivem”, dizia.

Em 2002 recebemos dele o convite para uma exposição conjunta de fotografias no Citibank Hall, da Avenida Paulista.

A mostra São Paulo de Todos os Tempos, foi organizada por Júlio Abe, em homenagem ao nosso programa de rádio.

Na ocasião colocamos as fotos ampliadas de nosso livro que levava o mesmo título e foi um grande sucesso.

         

Algum tempo depois dessa mostra, Júlio Abe foi atropelado quando atravessava a Rua Frei Caneca, em frente ao seu ateliê. Socorrido a tempo sobreviveu, mas ficou semanas em coma.

Recuperado voltou a trabalhar e deslocou suas atividades para o Grande ABC onde desenvolveu estudos sobre outra de suas paixões, o distrito ferroviário de  Paranapiacaba, no município de Santo André.


                                                                                   

O jornalista Ademir Medici em sua coluna Memória, no Diário do Grande ABC da terça-feira, 24 de novembro de 2020, destacou as atividades de Júlio Abe entre os moradores da vila ferroviária.

“Foi montada uma exposição sobre a trilha do Peabiru, o caminho de ligação aberto pelos indígenas, desde o oceano Pacífico até o Atlântico”.

Medici explicou em seu texto que, em 2019, Júlio Abe fez uma palestra em Paranapiacaba ressaltando a importância do nevoeiro local, "como fator de preservação do meio ambiente e defendeu seu tombamento como patrimônio natural e/ou paisagístico".

             

No mesmo dia Júlio Abe avaliou que não haverá dinheiro que consiga restaurar o sistema funicular de trens. “As pontes de ferro teriam que ser substituídas, não tem jeito de recuperar, já os túneis estão perfeitos, o que é incrível”.

                     

Funicular é o nome dado ao sistema de trens desenvolvido pelos ingleses no século 19 para a subida da Serra do Mar.

Vagões eram içados em cabos de aço, puxados pelas rodas de uma locomotiva fixa, uma tecnologia muito avançada para a época.


    

Júlio Abe Wakahara graduou-se em arquitetura e urbanismo pela FAU-USP, turma de 1968.

Fez mestrado pela mesma instituição onde foi professor de comunicação visual e museologia.

Presidiu o Conselho Regional de Museologia, quarta região do Estado de São Paulo e foi diretor da Divisão de Museus da Prefeitura de São Paulo e do Centro Cultural São Paulo.

    

Júlio se despediu de nós na madrugada do sábado, 21 de novembro de 2020, aos 79 anos, vítima da Covid-19.





5 comentários:

  1. Uma bela homenagem, lembraremos do Abe e das histórias que ele deu nova vida através de suas atividades. Trágico tê-lo perdido pelo coronavírus

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  2. Outro dia comprei num sebo uma publicação sobre esse Museu de Rua, dos anos 1970. Bem legal!

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  3. Uma bonita missão de levar a todos, sem distinção de classe socioeconômica, a possibilidade do transeunte se descobrir num cenário em que ele passa despercebido. Sim, existem outros valores que nāo correspondem aos cifrões, e preciso para e descobrir aquilo que esta diante de sí e você não enxerga. Uma linda missão de Julio Abe que se foi, mas deixou sua ricas (que nada tem haver com cifrões) lembranças que gentilmente oferecia ao povo. Obrigado Julio Abe.

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  4. Geraldinho, como sempre, descobrindo temas de suma impo0rtante para nossa história. Siga em frente, pois isso nos faz bem!

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