sábado, 5 de dezembro de 2020

Complexo Esportivo do Ibirapuera está a venda. Quem quer comprar?

“Ibirapuera Complex, a maior e mais moderna arena multiuso da América Latina.”

A frase, que é quase um slogan, dá início ao vídeo postado no You Tube pelo governo paulista, para "vender", o Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães no Ibirapuera.

Inaugurado em 25 de janeiro de 1957, o conjunto reúne em um mesmo terreno, o Estádio Ícaro de Castro Melo, o Conjunto de Piscinas Caio Pompeu de Toledo e o Ginásio de Esportes Geraldo José Almeida.

O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) anunciou, em sua última reunião, que não existe nada naquele complexo esportivo que mereça ser preservado.

Tal decisão abriu a oportunidade para quem adquirir o terreno de promover alterações naquilo que lá existe.

Consta do projeto a construção de um hotel cinco estrelas com heliponto e até de um shopping center.

A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou o projeto, na terça-feira, 1° de dezembro de 2020, que autoriza a concessão para a iniciativa privada por um prazo de 35 anos, com investimento mínimo de R$ 220 milhões.

O assunto ainda irá passar pela Câmara Municipal de São Paulo, porque o terreno foi doado pela prefeitura, em 1954.

Entidades em defesa do esporte olímpico se mostraram contrárias à proposta, assim como um grupo de urbanistas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU/USP.

Alegam que a privatização poderá interferir na preparação de novos atletas, além de afastar o público que recebe atividades recreativas gratuitamente. 

Haverá impactos no trânsito, porque a construção de um shopping center modifica tudo o que está à sua volta.


Em outras épocas a administração pública investia na elaboração de projetos de fundo social ligados ao esporte.

A queda nesses investimentos, certamente, está ligada à diminuição na quantidade de cursos e eventos, antes ali realizados.

Além das competições esportivas, inúmeros espetáculos culturais e artísticos aconteciam no Ginásio do Ibirapuera. 

Muita gente ainda se lembra dos shows de patinação do "Holliday On Ice", das apresentações de Roberto Carlos e das bandas de rock no Ginásio do Ibirapuera, como Genesis, Jethro Tull e Deep Purple, entre outras.

Em 1998, no Estádio Ícaro de Castro Melo, os Rolling Stones fizeram uma exibição memorável ao lado de Bob Dylan.

 Na atualidade outras arenas estão recebendo esses grandes shows e, mais recentemente, - por causa da pandemia - torneios esportivos foram suspensos ou disputados sem a presença do público.

Quando não entra dinheiro, também os governantes perdem o interesse, entendem eles que não há como destinar dotação orçamentária para bancar atividades que dão prejuízo e o fator social acaba esquecido.


Sobre os cursos mantidos gratuitamente nas dependências do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, temos uma história para contar.

Em décadas passadas, nos matriculamos em um curso de natação para pessoas com deficiência.

Uma das piscinas do Ibirapuera foi adaptada para essas aulas que proporcionaram recreação através do esporte a muitos deficientes físicos.

O curso possibilitou a todos nós, a oportunidade de aprender a nadar, fortalecendo nossa capacidade aeróbica e a autoestima em todos.


Formamos até um time de polo aquático e, por tudo isso, quem participou daquelas atividades jamais se esquecerá, tamanha a felicidade proporcionada.

Experiências deste tipo servem agora de exemplo para mostrar que o esporte aproxima as pessoas independente da raça, cor, religião ou gênero.

Para aquele curso foi designada uma professora especialista no ensino da natação para pessoas com mobilidade reduzida.

Junto com ela trabalhavam assistentes, estagiários em educação física e até uma equipe que nos ajudava a entrar e a sair da piscina.

No grupo havia cadeirantes e os que se locomovem com a ajuda de órteses, próteses, muletas ou mesmo bengalas.

Tais equipamentos não podem entrar na água então, o auxílio de alguém na entrada e na saída da piscina, se torna um fator essencial.

Na ocasião foi criado um vestiário adaptado às nossas condições e tudo funcionava sem nenhum luxo, tudo simples e funcional.

Mesmo com poucas verbas havia criatividade em tudo aquilo que se fazia.


O curso transcorreu normalmente até que um novo governo, que não é o atual, modificou a diretoria do Complexo Constâncio Vaz Guimarães.

Com uma nova filosofia de trabalho que buscava mostrar austeridade com o dinheiro público, nossa professora especialista não teve seu contrato renovado, o mesmo acontecendo com a equipe de apoio.

Todas ocupavam cargos comissionados e, na burocracia da máquina pública, o contrato a título precário pode ser extinto em qualquer momento.

Para a sorte daquele grupo o curso prosseguiu porque havia entre os funcionários públicos concursados uma professora treinada pela antecessora.

Essa profissional deu conta do recado, assumiu muito bem o comando das aulas, mesmo sem a equipe de apoio que não foi reposta.

Todos os paraplégicos ficaram na dependência da boa vontade de outros funcionários que, quando chamados, deixavam por alguns minutos suas atividades para nos ajudar a entrar e sair da piscina.

As aulas prosseguiram mais algum tempo até surgir um novo problema. A piscina aquecida passou a esfriar por causa de um vazamento.

Fomos informados que aulas seriam suspensas para a reforma, mas para isso seria necessária a abertura de uma licitação pública.

A licitação incluiu a piscina olímpica, a céu aberto, que precisava também de reparos urgentes.


A foto aérea acima mostra a piscina olímpica completamente vazia, sinal da demora em se aprovar as reformas tão necessárias. 

Devido à longa espera o grupo de alunos paraplégicos se dispersou e aquele curso de natação acabou sendo extinto.


A foto da carteirinha prova nossa frequência como aluno do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães.

Sempre e em todo lugar, cabe ao Estado, o papel de abrir portas para o desenvolvimento pessoal e social de cada cidadão ou cidadã.

Para isso existem as escolas públicas e outros mecanismos como é o caso do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, criado para atender qualquer cidadão que queira se desenvolver nas práticas esportivas.

Deixar de destinar verbas para o funcionamento de órgãos tão importantes, é simplesmente lamentável.

A população agora ficará na dependência daqueles que adquirirem o complexo desportivo podendo fazer dele aquilo que quiserem. 

Constâncio Ricardo Vaz Guimarães, nasceu na cidade de Santos, em 1915, e se tornou atleta do clube Saldanha da Gama. 

Ao término da carreira esportiva se dedicou à pesquisa e desenvolvimento do esporte em todo o Brasil.

A notícia de seu falecimento em São Paulo, em abril de 1961, repercutiu no país todo e o governo paulista de então, em justa homenagem, deu seu nome ao maior conjunto poliesportivo construído no Ibirapuera.

Um santuário esportivo dessa proporção e grandeza mereceria um olhar mais afetuoso de nossas autoridades e da sociedade que no fundo parece concordar com decisões que prejudicam sempre o lado mais fraco.

Assista à campanha iniciada pelo governo João Doria para “vender” o Ibirapuera. Confira o vídeo abaixo ou acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=pfE6tkOg038&feature=emb_logo

 

 


 

7 comentários:

  1. Lamentável. Absurdo. Dane-se a memória da cidade. Fui várias vezes ao Ibirapuera.Ele está no meu coração. Sentirei muita saudade.

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  2. Triste saber que, para esse governo, dinheiro vale mais do que pessoas. Shoppings não formam cidadãos, apenas geram consumidores.

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  3. Lamentável a atitude antidesportista deste o qual desperdicei o meu voto no segundo turno, que aliás nunca deve ter praticado nenhum esporte e ainda teremos que aguenta-lo por mais dois anos vendendo o estado, acredito que até o final do seu governo ele venda o Museu do Ipiranga e o Palácio dos Bandeirantes.

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  4. Como você, Prezado Amigo Geraldo Nunes, também tenho ligações estreitas e sentimentais com o Complexo do Ibirapuera. Minha Filha Cláudia fez um curso de natação por lá, na adolescência. E eu e a minha Sueli lá assistimos muitos eventos importantes, entre eles a cerimônia que lembrou a morte do saudoso Governador Mário Covas.

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  5. Resumo de anos da existência e atividades no Complexo Ginásio do Ibirapuera. CON...PHAAT não honra finalidade para DEFESA DESTE PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO, porque o jogo de INTERE$$E$ É maior do que todo Complexo. Conclusão: o DÓRIA DEVE RECEBER IMPEACHMENT OU SER CASSADO.

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  6. Comovente história. Lamentável a visão dos nossos governantes quanto a parte social.

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  7. Senhor Governador, meus pêsames!
    1. Certa vez, participei de um programa de televisão com um prefeito de visão, que
    disse: A melhor forma de unir uma cidade é por meio do esporte! Ele governou a
    cidade por muitos anos, transformando-a em exemplo de Esporte, vencendo por
    muitos anos, os Jogos Abertos do Interior, Jogos Regionais e suas equipes de
    várias modalidades conquistaram títulos nacionais e internacionais.
    2. Sou, com muito orgulho Professor de Educação Física, iniciei meus estudos na
    Escola de Educação Física do Estado de São Paulo, nas instalações do
    Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães. Cerca de 85% dos alunos eram
    do interior do Estado de São Paulo e no seu Corpo Docente vários professores
    faziam parte de delegações olímpicas. A Educação Física, onde aprendemos
    valores humanos, hoje está relegada a um segundo plano.
    3. Sou, com muito orgulho, atleta olímpico com quatro participações nos Jogos
    Olímpicos. No Ginásio Geraldo José de Almeida, também chamado Ginásio do
    Ibirapuera, jogamos, vencemos, perdemos e, principalmente, aprendemos,
    enfrentando as melhores seleções do mundo de várias modalidades e, em
    muitas ocasiões, subimos no pódio.
    4. Nós, esportistas, vivemos sempre esperando que tenhamos líderes que saibam
    dimensionar o que significa a prática esportiva e suas variantes, infelizmente são
    poucos, em quantidade insuficiente para mudarmos este cenário, mas mesmo
    com tantos obstáculos temos um honroso lugar no mundo competitivo, o que não
    podemos dizer em outras avaliações.
    5. Como o senhor quer ser lembrado¿ Certamente será como o governador que
    destruiu o maior orgulho esportivo da cidade de São Paulo. Acredito que na sua
    carreira política, alguns milhões de votos que deixará de receber dos atletas, dos
    esportistas eventuais, suas famílias, dos admiradores, cidadãos conscientes,
    certamente, não farão falta!
    6. Minha sugestão para o senhor, construa, um novo Centro Desportivo à altura da
    cidade de São Paulo, que seja referência mundial, assim que ele estiver pronto e
    entregue, todos aceitarão sua atual proposta de mudanças no histórico Conjunto
    Desportivo Constâncio Vaz Guimarães.
    Antonio Carlos Moreno
    morenofive@hotmail.com
    Santo André - SP

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