segunda-feira, 9 de novembro de 2020

11/11: Saiba detalhes do dia em que cai com o helicóptero da Rádio Eldorado na Marginal do Pinheiros

 Assisti certo dia na televisão uma reportagem explicando por que os numerólogos consideram 11 de novembro, uma data emblemática. 

A junção duas vezes do número 11, ou seja, 11/11, leva as pessoas neste dia a se tornarem mais solidárias em relação ao próximo.

A força do número 11 decorre, na verdade, da liderança exercida pelo número 1, o que vem sempre primeiro. 

Os nascidos em um dia 1°, segundo os numerólogos, possuem a capacidade, se necessário, de exercer liderança em todas as atividades que praticarem.

Este repórter nasceu em um dia 1° e passou por uma situação dramática, em 11/11/2005, quando o helicóptero em que estava despencou do céu em meio ao trânsito na Marginal do Rio Pinheiros.

Foi um pouso forçado em auto rotação, que é quando o motor apaga, mas as hélices continuaram girando e através delas se faz a descida. 

Se trata de uma manobra arriscada, que só se faz em emergências. Graças a Deus saímos ilesos. 

O  objetivo daquele voo era levar aos ouvintes da Rádio Eldorado orientações sobre o trânsito. 

Naquele dia, porém, fomos os causadores do congestionamento em uma das vias mais movimentadas da cidade de São Paulo.

Ao descer, nossa aeronave esbarrou em dois carros. Já no chão deslizou sobre o asfalto, se desmanchando em pedaços até parar debaixo da Ponte Eusébio Matoso.

O pequeno modelo Robinson R-22 Beta teve as hélices superiores e o rotor de cauda destruídos, mas a cabine onde estavam piloto e repórter permaneceu intacta.

Era uma sexta-feira, 8h30 da manhã. No impacto, o tanque de combustível rachou e a gasolina se esparramou sobre a pista. 

Todos ao redor, pessoas que estavam dentro de seus automóveis,  presenciaram a cena sob o risco iminente de incêndio que poderia ter se alastrado aos veículos.

Nada disso aconteceu pela ação imediata dos que ali estavam, presos no trânsito, e que fizeram uso dos extintores de incêndio de seus automóveis, naquele tempo um item obrigatório.

Ficou assim o helicóptero com o qual caímos na Marginal do Pinheiros, em 11 de novembro de 2005

Cerca de um ano depois, saiu o laudo da perícia realizada pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos - Cenipa: "Correias da embreagem se romperam e na ausência delas o motor parou de funcionar".

Como a cabine do helicóptero resistiu, o piloto Leonardo Rebuffo e o repórter aéreo que estava a seu lado, escaparam sem nenhum arranhão.

     Se ficamos assustados? Claro que sim, mas na hora ninguém pensou na morte, só na vida

Depois da queda, ainda dentro cabine tombada na pista, dei graças a Deus por continuar vivo e ileso. 

Ainda pendurado pelo cinto de segurança e quase de cabeça para baixo fiquei sobre o piloto, Vi que ele estava bem, porque se desvencilhou rapidamente do cinto e saiu pela porta do meu lado, passando por cima de mim sem esbarrar.

Não pensou em pedir ajuda a ninguém para me tirar de dentro do helicóptero, pegou seu telefone celular e ligou para a empresa responsável pela aeronave.

Eu, paraplégico, vítima da paralisia infantil, continuei na cabine porque não conseguia sair sozinho. Com sequelas nos braços e nas pernas, minha luta naquele momento era contra a força da gravidade.

Consegui apenas desatar o cinto de segurança e me senti mais cômodo, foi quando algumas pessoas começaram a gritar. "Vai pegar fogo"! 

Havia pipocos, pequenas explosões causadas por alguns pingos de gasolina sobre o cano de escapamento e aquilo me assustou. Não fosse a pronta ação dos motoristas que usaram os extintores de seus carros meu destino poderia ter sido outro. 

Em meio à movimentação, aparece um rapaz que abre a porta do helicóptero, me levanta pelas axilas e me retira da cabine.

Ao ser erguido por ele, notei que a minha bota ortopédica estava presa na fuselagem do helicóptero, o moço também percebeu e deu um jeito de me retirar sem danificar minhas órteses.

“Agora, se segure com as duas mãos no meu pescoço para que eu possa te tirar daí, não tenho como te colocar no chão, há muita gasolina esparramada”. Essas foram as recomendações dele.

Fiquei admirado com a sensibilidade dele que nunca tinha me visto na vida e mesmo assim notou as sequelas de minha deficiência física. Me erguendo  com docilidade, deu a impressão de me conhecer há anos.

Cesar Tavares Lugo foi, naquele momento, um verdadeiro irmão a quem irei agradecer pelo resto da vida. Gostaria de revê-lo, porque com o passar do tempo ele mudou seu número de telefone e perdi o contato.

O nome dele não aparece em nenhuma rede social, se alguém souber de seu paradeiro, favor avisar.


Depois de me carregar nos braços, me colocou sentado no guard - rail à beira da pista da marginal e ali fiquei por alguns minutos desorientado.

Sem saber o que fazer, cercado de motoboys que me perguntavam o que havia acontecido com o helicóptero, me vi aturdido e sem nenhum meio de me comunicar com alguém. Tudo o que havia na aeronave ficou danificado.

Eis que então, o mesmo rapaz aparece e me oferece uma carona em seu carro, dizendo que me levaria até onde eu precisasse ir.

Expliquei o meu destino, o endereço da Rádio Eldorado na Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 - bairro do Limão, sede da emissora.

Ao chegar fui abraçado pelos colegas de trabalho, todos preocupados e ainda sem saber o que havia de fato acontecido comigo.

Entramos no estúdio e passamos a explicar aos ouvintes do Jornal Eldorado os motivos do helicóptero ter que descer em plena Marginal do Pinheiros.

"Senti cheiro de borracha queimada na cabine e uma luz amarela se acendeu no painel, em seguida o comandante Leonardo começou a procurar um lugar para descer. Sobrevivemos graças à habilidade do piloto e daqueles que fizeram uso de seus extintores de incêndio", fiz questão de ressaltar.

Pelo microfone agradeci, em especial, ao irmão de coração Cesar Tavares Lugo ainda ao meu lado. Também ele foi entrevistado sobre a ocorrência pelo âncora Caio Camargo.

O acidente repercutiu no País todo, ganhou destaque nos noticiários de TV e foi primeira página em todos os jornais impressos do dia seguinte.


           O Estadão exibiu fotos do helicóptero na edição do sábado, 12 de novembro de 2005

Ganhamos notoriedade. Cesar Tavares Lugo e eu fomos procurados pelo Globo Repórter e participamos do Programa do Jô, entre outros programas.

Graças às perguntas engraçadas do apresentador, demos risada da situação. Embora tenham sido momentos difíceis, houve um final feliz.

Na entrevista para Jô Soares, Cesar contou que mora em Bauru - SP e de tanto ajudar pessoas em situações de emergência, precisou fazer um curso de primeiros socorros.

"Incrível, parece que os acidentes escolhem o lugar onde estou para acontecer", comentou. Em seguida disse que certa vez, passando perto de uma fazenda, viu um avião descer em um campo onde vacas pastavam. Se dirigiu até o local, havia pessoas feridas e ele prestou ajuda.

O tempo foi passando e a rotina em nossas vidas foi retomada. Somente depois, é que fiquei sabendo das curiosidade da numerologia em relação ao primeiro algarismo. As previsões deram certo para mim e para o piloto Leonardo naquele dia 11 de novembro de 2005. 

A solidariedade de todos os envolvidos naquele acontecimento auxiliou a nós dois sobremaneira.

Alguns amigos disseram que nasci de novo. Tenho agora, portanto, dois aniversários: 1° de junho e 11 de novembro. Número 1 em dose dupla.

Sugiro que a data 11 de novembro passe a ser celebrada como Dia Mundial da Solidariedade. Quem sabe alguém ou alguma entidade abrace essa ideia.

Voltei a voar com o comandante Leonardo cerca de 40 dias depois. Foi no plantão da tarde do dia de natal daquele ano, 25 de dezembro, um domingo.

Foi um voo tenso para nós dois, parecia que cena iria se repetir, mas não aconteceu nenhuma irregularidade. 

Ainda voei mais cinco anos para a Rádio Eldorado, encerrei minha carreira de repórter aéreo em 7 de dezembro de 2010. 

Depois pela mesma empresa atuei como âncora e apresentador até 2015 no projeto Rádio Estadão.

Sigo trabalhando como jornalista home office, prestando consultoria a novos escritores, escrevendo ou revisando livros para as editoras. 

Seguem na memória as recordações das aventuras que passei. De vez em quando as coloco neste blog.

Para que vocês leitores também recordem, seguem fotos tiradas naquele helicóptero para a Revista Asas, em 2005.





Grande abraço a vocês, leitores e leitoras deste blog. Comentem se possível.

11 comentários:

  1. Como fazia todos os dias, liguei o rádio e, estupefata, ouvi as primeiras informações sobre o acidente. Somente ao findar o dia, com a confirmação de que os ocupantes da nave encontravam-se bem, foi que pude relaxar. Agradeço, mais uma vez, por tudo haver terminado de maneira tão boa.

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    1. Oi Geraldo nossa Senhora estava com você ela e a nossa mãe

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  2. Aquele dia foi um misto de sentimentos. Mas no final acabou tudo bem! Lembro de você entrando pela redação da rádio gritando..."Eu estou vivo". Aquele dia chorei de alegria e de emoção. Afinal meu amigo e colega de trabalho estava sã e salvo.

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  3. Ficamos todos do vivasp e são paulo de todos os tempos preocupados com sua pessoa, bom que você está aqui para contar a história desse acidente, abraços

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  4. Felizmente, caro Geraldo, os anjos da guarda estavam prontos, o piloto foi hábil, a sorte estava do lado de vocês e não era seu dia de partida. Fantástico. Agradeça muito.

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  5. Olá Geraldo, fiz uma busca rápida e achei o César, como sócio dessa empresa
    Patrus Adm - Gerenciamento Patrimonial LTDA - 15.155.483/0001-70 fica em Bauru.

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  6. Muito boa história, verdadeira, lembro-me perfeitamente de ter visto as reportagens na época, mas saber os detalhes é muito interessante

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  7. Foi uma ótima recordação e que bom vc continua aqui para escrever este texto. Abraço!

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  8. Curiosamente, no Canadá e na Europa o Dia 11 de Novembro é o dia que lembram dos veteranos das grandes guerras (Rememberance Day). Neste dia, às 11 horas, é observado um momento de silêncio em respeito àqueles que perderam a vida nas guerras. Renato Nunes.

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  9. Geraldo eu ouvi suas entrevistas maravilhosas por anos todo domingo cedo la estava eu c radio pilha na cama nao lembro o nome do programa parabens

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