Logo depois de ter
iniciado minha carreira de repórter aéreo, descobri onde morava o apresentador e
magnata das comunicações, Silvio Santos.
Todas as manhãs ele costumava
fazer Cooper, dando voltas pelo quintal de sua mansão no Morumbi.
Quando nos via, brincalhão
como é, sorria e dava tchauzinhos para nós no helicóptero.
Isto acabou sendo
útil para mim anos depois quando a filha dele, Patrícia Abravanel, foi
sequestrada, em 2001.
Na ocasião, fui o
primeiro a noticiar pelo helicóptero que o sequestrador, Fernando Dutra Pinto, havia
voltado à residência no dia seguinte ao resgate ter sido pago.
Sílvio Santos e sua filha procuram sorrir após desfecho dramático |
Todos acreditaram que o
sequestro havia terminado.
Funcionários do flat-hotel onde ele havia se hospedado, na cidade de Osasco, viram armas de grosso calibre e avisaram a polícia.
Três investigadores compareceram ao local para prendê-lo, mas no tiroteio dois desses policiais civis foram mortos e o terceiro ficou gravemente ferido.
Três investigadores compareceram ao local para prendê-lo, mas no tiroteio dois desses policiais civis foram mortos e o terceiro ficou gravemente ferido.
Após o tiroteio, Fernando Dutra Pinto, desceu do prédio onde estava pelo lado de fora, pulando de andar em andar.
Entrou em um carro e seguiu dirigindo até a casa do dono do SBT.
Entrou em um carro e seguiu dirigindo até a casa do dono do SBT.
Chegando à residência fez do empresário-apresentador seu refém, assim como a filha Patrícia, e o restante da família.
Seu objetivo não era
agora conseguir um novo resgate, mas a chance de se livrar da prisão.
Fernando Dutra Pinto, um dos mais ousados bandidos já surgidos foi morto em briga no presídio |
Na manhã daquele 30
de agosto de 2001, tendo este repórter aéreo tomado conhecimento do término do
sequestro pelo noticiário do dia anterior, antes de decolar, passou instruções ao comandante Glaucos Delgado, que voaria naquele dia para a Rádio Eldorado.
Partimos, noticiando
o trânsito como de praxe, mas indo na direção da casa de Sílvio Santos, localizada
nas proximidades da Ponte do Morumbi.
Embora não se soubesse
ainda dos desdobramentos, queria eu me certificar que tudo estava bem. Faro jornalístico, modéstia à parte.
Lembrei Sílvio
Santos se exercitando no quintal, me acenando alegremente.
O que vimos, no entanto, foi a mansão cercada por viaturas policiais.
O que vimos, no entanto, foi a mansão cercada por viaturas policiais.
Avisei a redação da
Rádio Eldorado sobre o que estava acontecendo e imediatamente foram
encaminhados repórteres para noticiar por terra, os desdobramentos na Rua Antônio Andrade Rebelo, endereço do apresentador.
A checagem da redação
confirmou a invasão da residência e um novo sequestro em andamento dentro
da casa.
Pude assim ser o primeiro
a noticiar do helicóptero o que se passava em torno da residência, já explicando o
motivo da presença de tantas viaturas policiais.
Narrei tudo o que eu via de cima, conseguindo aquilo que se chama furo de reportagem.
Percebe-se pela claridade que outros helicópteros sobrevoaram a casa bem depois do início da manhã |
Naquele momento,
provavelmente 7h30 da manhã, não havia ninguém da imprensa sobrevoando o local,
apenas este repórter pela Rádio Eldorado.
Ficamos horas seguidas girando sobre a região com deslocamentos apenas
para reabastecer a aeronave.
Repórteres da
emissora, em frente do endereço, noticiavam de um outro ponto de observação ou entrevistando policiais porque
ninguém estava autorizado a entrar dentro da casa.
Percebe-se por esta foto tirada da rua, o quanto foi difícil o trabalho da imprensa naquele dia |
Diante daquele desenrolar coube a nós anunciar a chegada de mais viaturas policiais e as interferências
no trânsito decorrentes da ação.
Por volta do meio-dia
ou pouco depois disso, o então governador do Estado, Geraldo Alckmin, entrou
na residência deixando policiais e jornalistas atônitos.
O ousado sequestrador poderia ter matado Sílvio Santos, sua família e ainda o governador do Estado.
Se tratava de uma pessoa perigosa e destemida que teve a capacidade de matar dois policiais e de ferir gravemente um outro
Foram momentos de muita tensão naquele trabalho de informar o ouvinte, qualquer palavra poderia ser mal interpretada
Muitas horas se passaram até que o sequestrador decidiu se entregar, os motivos que o levaram a essa decisão ainda são contraditórios, mas enfim tudo deu certo.
Após a retirada pelos fundos da casa de
Fernando Dutra Pinto pela polícia, Silvio Santos e o governador saíram à
janela e da sacada do andar superior da mansão falaram aos jornalistas na rua.
Sílvio Santos surge ao lado do então governador Geraldo Alckmin para dar informações sobre o fim do sequestro |
Explicaram sem muitos
detalhes o desfecho que resultou na solução do impasse.
Em seguida o governador
se retirou e Silvio Santos continuou diante da imprensa buscando passar serenidade vindo sua filha Patrícia, então com 23 anos, logo depois.
Do alto observei o
apresentador conversando, suas palavras chegaram até mim, pela escuta do rádio, mas seu sorriso não era nem poderia ser o mesmo dos programas de
auditório.
Ao caminhar de volta
para dentro de sua residência, notei um Sílvio Santos buscando disfarçar o nervosismo.
Sílvio Santos se despede dos repórteres com um aceno |
Contei
isso aos ouvintes naquele exato momento e depois um repórter da Rede Globo disse a mesma coisa durante o Jornal Nacional, só que utilizando outras palavras.
Após o fim do sequestro retornei em
definitivo à base, acredito por volta das 4 horas da tarde, obviamente faminto.
No dia posterior ao
acontecimento voltei mais uma vez em sobrevoo à mansão de Silvio Santos.
Vi quando ele deixou
sua casa conduzindo sozinho o seu Lincoln branco, ano 1976, uma das marcas registradas dele até então.
O carro de Sílvio Santos na época do sequestro, em 2001 era este Lincoln 76 |
Não havia nenhuma segurança particular ou mesmo uma viatura policial a escoltá-lo.
Acompanhei o automóvel vendo do alto ele descer a Avenida Morumbi e avistei o carro ingressando na Marginal do Pinheiros.
Acompanhei o automóvel vendo do alto ele descer a Avenida Morumbi e avistei o carro ingressando na Marginal do Pinheiros.
Dali ele tomou o rumo
da Via Anhanguera, onde fica o SBT, e só depois, em uma entrevista, explicou
porque não pediu escolta policial.
“Dirijo sempre
sozinho, minha segurança sou eu mesmo, todos conhecem o Sílvio Santos”.
Se alguém achar que exagerei ou contei alguma mentira, segue aqui a reportagem do JN sobre o sequestro
Confira a edição de 30 de agosto de 2001, do Jornal Nacional com apresentação de William Bonner e Fátima Bernardes.
Essa história vai para os anais da Pauliceia. Um fragmento intenso de vida dessa cidade milionária. Parabéns!
ResponderExcluirParabéns pelo furo de reportagem!
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