segunda-feira, 17 de agosto de 2020

São Paulo guarda debaixo do asfalto uma bacia hidrográfica por onde passam avenidas


Durante a construção do túnel Tribunal de Justiça, aconteceu um desmoronamento que ganhou manchetes nos telejornais.

Na madrugada de 24 de novembro de 1993, rompeu uma galeria do Córrego do Sapateiro, sob a Rua Antônio Joaquim de Moura Andrade, proximidades da Avenida São Gabriel.

Com isso as águas deste antigo riacho vieram à tona, dando o ar de sua graça como nos tempos em que seguia a céu aberto, na direção do Pinheiros

As águas que formam o Lago do Ibirapuera são provenientes do Córrego do Sapateiro com nascente na Rua Sena Madureira

 O Córrego do Sapateiro tem uma história interessante, durante uma parte do século 20 margeou o antigo matadouro da Vila Mariana, cujo prédio foi ocupado pela Cinemateca Brasileira, hoje em risco de abandono.

Depois, foi canalizado na altura da Rua Sena Madureira e suas águas formam o lago do Parque do Ibirapuera, inaugurado em 1954, continuando seu curso só que debaixo da terra.

Uma pequena usina de tratamento de esgotos faz com que as águas do córrego cheguem limpas ao Lago do Ibirapuera

Durante os reparos para continuidade da obra de implantação do Túnel Tribunal de Justiça, a construtora cercou tudo com tapumes e os desvios no trânsito, que já existiam, foram ampliados pela CET.

Com isso os transeuntes não podiam ver a cascata formada no antigo cruzamento que dava início à Avenida Juscelino Kubstcheck.

Apenas a visão privilegiada dos repórteres aéreos tinha acesso para descrever do alto o visual que se tinha lá embaixo.

Jornais e emissoras de TV alugaram helicópteros para fotografar e filmar aquele cenário inusitado.

Aquela cobertura despertou em mim, uma curiosidade imensa.

Busquei então fazer um levantamento da quantidade de avenidas que hoje existem sobre antigos córregos canalizados.

Muitas pessoas nem sabem de sua existência, mas a cidade de São Paulo guarda debaixo de si uma verdadeira bacia hidrográfica.

São os afluentes dos rios Tamanduateí, Tietê e Pinheiros, hoje guardados debaixo do asfalto.

Em São Paulo quando chove mais forte as águas dos riachos canalizados se sobrepõem às galerias e ganhas as ruas

Afluentes do Rio Tietê

Córrego do Pacaembu – Avenida Pacaembu
Córrego da Água Branca – Avenida Francisco Matarazzo
Córrego da Água Preta – Avenida Pompeia
Córrego Sumaré – Avenida Sumaré
Córrego Tatuapé – Avenida Salim Farah Maluf
Cabuçu de Baixo – Avenida Inajar de Souza
Ribeirão Verde – Avenida Edgar Facó

Uma parte da Avenida Salim Farah Maluf  tem por baixo de si o Córrego Tatuapé 

Afluentes do Rio Tamanduatei

Córrego Anhangabaú – Avenida Prestes Maia
Córrego Saracura – Avenida Nove de Julho
Córrego Itororó – Avenida 23 de Maio
Ribeirão da Mooca – Avenida Anhaia Mello
Córrego do Lavapés – Rua do Lavapés
Riacho Moinho Velho – Avenida Tancredo Neves
Riacho do Ipiranga – parte da Rodovia dos Imigrantes

O monotrilho segue sobre a Avenida Anhaia Mello e debaixo dela está o Riacho que segue da Vila Ema  até a Mooca

Afluentes do Rio Pinheiros

Córrego do Sapateiro – Avenida Juscelino Kubstcheck
Córrego da Traição – Avenida dos Bandeirantes
Córrego Uberabinha – Avenida Hélio Pelegrino
Córrego das Águas Espraiadas – Avenida Roberto Marinho
Córrego do Antonico – Avenida Jorge João Saad
Rio Pirajussara – Avenida Eliseu de Almeida

Por baixo da Avenida 9 de Julho sentido centro está o Córrego da Saracura, um afluente do Anhangabaú 


Acrescente-se que por baixo do Lago do Ibirapuera seguem os dois túneis do Complexo Viário Ayrton Senna, uma homenagem ao piloto tricampeão mundial de Fórmula 1, morto em 1° de maio de 1994.


A cidade guarda ainda muitos outros riachos canalizados, enumerá-los todos seria difíl porque nem a prefeitura possui um registro completo





3 comentários:

  1. Uma ocasião foi publicada na Veja SP uma matéria muito boa a este respeito. No Facebook encontrei uma página na qual o autor é pesquisador deste interessante tema.

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  2. Grande Geraldo Nunes. Sempre nos mostrando a cidade de São Paulo e todas as novidades que sua história guarda. Bom saber que a velha São Paulo foi um dia como qualquer outra pequena cidade do interior com sua belezas naturais.

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