quarta-feira, 25 de março de 2020

O coronavírus de 2020 e suas comparações com a febre amarela no Brasil-Colônia

Todas as vezes que falamos sobre epidemias, devemos levar em consideração o estágio da ciência e da medicina na época em que tudo aconteceu.

Em nossos dias o grande malfeitor é o coronavírus, mas os cientistas ainda irão vencê-lo para fazer dele uma "gripezinha", daqui alguns anos.

Na história do Brasil, a primeira grande epidemia foi de febre amarela e aconteceu no século 17, por volta de 1685.

Um navio negreiro proveniente das Ilhas de São Tomé e Príncipe, trouxe a bordo pessoas febris.

Mosquito Aedes Aegiypti viajou para o Brasil em 1685 dentro de um navio trazendo escravos

Acreditava-se que o mal teria sido causado pela carne deteriorada servida a bordo como alimento aos escravos.

Ainda não se sabia, mas se tratava da febre amarela causada pela picada do mosquito Aedes Aegypti, cuja nomenclatura em latim, traduzida para o português significa: “Odioso do Egito”.

Outros vetores de transmissão desta mesma febre são os mosquitos Haemagogus e Sabethes, presentes nas regiões silvestres, onde contaminam os macacos. Estes, por sua vez, contagiam os seres humanos.

Hoje existem vacinas, mas naquele tempo não havia praticamente nenhum tipo de tratamento.

Com a febre as vítimas passavam a ter hemorragias internas e lançavam para fora um vômito de cor escura e amedrontadora.

A bordo dos navios negreiros as pessoas viajavam aglomeradas, sem a mínima condição de higiene, facilitando o contágio
O livro História do Brasil – Espírito Colonial, de Pedro Calmon, publicado em 1935, conta que após o desembarque em Olinda, "o mal trazido pelos escravos doentes se espalhou pelos arredores".

“Morriam de 20 a 30 todos os dias”, diz o autor, salientando que autoridades pediram ao reino português, em julho de 1686, mais de um ano depois dos primeiros casos, a vinda de um novo médico porque o único profissional existente em Pernambucano morrera de febre amarela logo no início da epidemia que se alastraria para outras províncias fazendo ainda mais vítimas na Bahia.

Outra publicação: História da Febre Amarela no Brasil, de Odair Franco, lançada em 1969, informa que o médico enviado ao Brasil deu início a uma campanha de “purificação das casas”.

A ordem para a população foi, abrir as janelas todas as manhãs para a entrada do sol e ar, "esfoliando-se todas as impuridades e teias de aranha...”

Outra determinação explicada no livro: “A moradia em que alguém tivesse morrido seria caiada de novo, lançando-se nela grande quantidade de cal virgem...”

Para a noite, de portas fechadas, a determinação passou a ser o uso de defumadores.

Quem não o fizesse ficaria sob pena de multa de dez tostões, dobrada nas reincidências.

Casas caiadas e cal virgem para evitar o contágio de doenças passou a ser uma obrigação no século 17

Tornou-se obrigatória a limpeza das ruas pelos moradores, cabendo também a eles a coleta do lixo.

O destino de toda a sujeira recolhida seria o rio mais próximo, pois ainda não se sabia que com esse procedimento apenas se transferia a doença de um lugar para o outro.

Houve também isolamento, não das pessoas sadias, mas dos infectados.

Segregados, os doentes eram levados a lugares distantes da povoação, sem nenhuma assistência, onde o destino seria o de aguardar a hora da morte.

Entre as leis voltadas a se diminuir a quantidade de vítimas da febre amarela, no século 17, uma delas foi em relação aos sepultamentos.

Estes, passaram a ser feitos em covas que não poderiam ter menos de cinco palmos de profundidade.

Sobre os túmulos se acendiam fogueiras por três dias seguidos após o enterro.

Às custas do Senado foi pago o serviço para ladrilhar as lápides de modo que não pudessem delas “sair vapores”.

Corpos mesmo sepultados ainda serviam como focos de contágio, daí a necessidade de fogueiras sobre as covas
Depois de atingir o ápice em 1687, a primeira epidemia brasileira, entrou em declínio a partir de 1691.

A febre amarela voltaria a atacar outras vezes, outra violenta epidemia assolou o País no século 19, mais propriamente em 1850.

Nessa ocasião, as autoridades médicas exigiram que Dom Pedro II se recolhesse com a família em Petrópolis, para ficarem livres do contágio. 

Desde 1942, a febre amarela está sob controle no Brasil, graças à existência de uma vacina, entretanto, vez por outra reaparece.

Do início de 2017 até fevereiro de 2019, o Brasil registrou 326 casos confirmados de febre amarela, com 109 óbitos.

Para se evitar a febre amarela, basta se vacinar embora a doença ainda faça muitas vítimas na região amazônica
Quanto ao coronavírus, esperamos que em breve seja vencido, afinal a ciência hoje está bem mais avançada do que nos tempos do Brasil-Colônia.

Os males do coronavírus por enquanto só podem ser evitados com o isolamento das pessoas, aguarda-se por uma vacina

2 comentários: