Todas as vezes que falamos sobre epidemias, devemos
levar em consideração o estágio da ciência e da medicina na época em que tudo
aconteceu.
Em nossos dias o grande malfeitor é o coronavírus, mas
os cientistas ainda irão vencê-lo para fazer dele uma "gripezinha", daqui alguns anos.
Na história do Brasil, a primeira grande epidemia foi de febre amarela e aconteceu no século 17, por volta de 1685.
Um navio negreiro proveniente das Ilhas de São Tomé e
Príncipe, trouxe a bordo pessoas febris.
Mosquito Aedes Aegiypti viajou para o Brasil em 1685 dentro de um navio trazendo escravos |
Acreditava-se que o mal teria sido causado pela carne deteriorada servida a bordo como alimento aos escravos.
Ainda não se sabia, mas se tratava da febre amarela causada pela picada do mosquito Aedes Aegypti, cuja nomenclatura em latim, traduzida para o português
significa: “Odioso do Egito”.
Outros vetores de transmissão desta mesma febre são os mosquitos Haemagogus
e Sabethes, presentes nas regiões silvestres, onde contaminam os macacos. Estes, por sua vez, contagiam os seres
humanos.
Hoje existem vacinas, mas naquele tempo não havia praticamente nenhum tipo de tratamento.
Com a febre as vítimas passavam a ter hemorragias
internas e lançavam para fora um vômito de cor escura e amedrontadora.
A bordo dos navios negreiros as pessoas viajavam aglomeradas, sem a mínima condição de higiene, facilitando o contágio |
O livro História do Brasil – Espírito Colonial, de
Pedro Calmon, publicado em 1935, conta que após o desembarque em Olinda, "o mal trazido
pelos escravos doentes se espalhou pelos arredores".
“Morriam de 20 a 30 todos os dias”, diz o autor, salientando
que autoridades pediram ao reino português, em julho de 1686, mais de um ano depois dos primeiros casos, a vinda de um
novo médico porque o único profissional existente em Pernambucano morrera de febre amarela logo no início da epidemia que se alastraria para outras províncias fazendo ainda mais vítimas na Bahia.
Outra publicação: História da Febre Amarela no Brasil, de
Odair Franco, lançada em 1969, informa que o médico enviado ao Brasil deu
início a uma campanha de “purificação das casas”.
A ordem para a população foi, abrir as janelas todas as manhãs para a entrada do sol e ar, "esfoliando-se todas as impuridades e teias de aranha...”
Outra determinação explicada no livro: “A moradia em
que alguém tivesse morrido seria caiada de novo, lançando-se nela grande
quantidade de cal virgem...”
Para a noite, de portas fechadas, a determinação
passou a ser o uso de defumadores.
Quem não o fizesse ficaria sob pena de multa de dez
tostões, dobrada nas reincidências.
Casas caiadas e cal virgem para evitar o contágio de doenças passou a ser uma obrigação no século 17 |
Tornou-se obrigatória a limpeza das ruas pelos
moradores, cabendo também a eles a coleta do lixo.
O destino de toda a sujeira recolhida seria o rio mais
próximo, pois ainda não se sabia que com esse procedimento apenas se transferia a doença de um lugar para o outro.
Houve também isolamento, não das pessoas sadias, mas dos infectados.
Segregados, os doentes eram levados a lugares distantes
da povoação, sem nenhuma assistência, onde o destino seria o de aguardar a hora da morte.
Entre as leis voltadas a se diminuir a quantidade de
vítimas da febre amarela, no século 17, uma delas foi em relação aos sepultamentos.
Estes, passaram a ser feitos em covas que não poderiam
ter menos de cinco palmos de profundidade.
Sobre os túmulos se acendiam fogueiras por três dias seguidos
após o enterro.
Às custas do Senado foi pago o serviço para ladrilhar
as lápides de modo que não pudessem delas “sair vapores”.
Corpos mesmo sepultados ainda serviam como focos de contágio, daí a necessidade de fogueiras sobre as covas |
Depois de atingir o ápice em 1687, a primeira
epidemia brasileira, entrou em declínio a partir de 1691.
A febre amarela voltaria a atacar outras vezes, outra violenta epidemia assolou o País no século 19, mais propriamente em 1850.
Nessa ocasião, as autoridades médicas exigiram que Dom Pedro II se recolhesse com a família em Petrópolis,
para ficarem livres do contágio.
Desde 1942, a febre amarela está sob controle no
Brasil, graças à existência de uma vacina, entretanto, vez por outra reaparece.
Do início de 2017 até fevereiro de 2019, o Brasil
registrou 326 casos confirmados de febre amarela, com 109 óbitos.
Para se evitar a febre amarela, basta se vacinar embora a doença ainda faça muitas vítimas na região amazônica |
Quanto ao coronavírus,
esperamos que em breve seja vencido, afinal a ciência hoje está bem mais
avançada do que nos tempos do Brasil-Colônia.
Os males do coronavírus por enquanto só podem ser evitados com o isolamento das pessoas, aguarda-se por uma vacina |
Muito bom!
ResponderExcluirExcelente apanhado histórico. Também espero que logo saiamos desta.
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