Este 21 de abril de 2024 marca os 232 anos da morte de Tiradentes, figura emblemática e polêmica da história do Brasil.
Sua morte, ao contrário do que dizem os antigos livros, não
serviu de inspiração para o Grito do Ipiranga, porque os historiadores só o
descobriram muitos anos depois.
Mesmo assim, ao nosso ver, Tiradentes merece o
reconhecimento de herói nacional, embora haja opiniões em contrário.
No final do século 18 ainda não se tinha a dimensão exata do
tamanho do território nacional, por isso pensou-se de início, apenas na
independência de Minas Gerais.
O mundo vivia a fase do iluminismo contrário à continuidade das monarquias absolutistas e tal pensamento também era defendido pelos intelectuais que participaram da Inconfidência Mineira.
Tiradentes nasceu em 1746, nas proximidades de São João Del Rey, era militar e no quartel exercia a função de alferes, um prático em odontologia treinado para arrancar dentes. Daí, o apelido.
Seu posto era tenente de cavalaria, seu trabalho era escoltar
o ouro levado de Vila Rica para o Rio de Janeiro com destino a Portugal, seu
pelotão se chamava “Dragões de Minas”.
O tenente Silva Xavier sabia das falcatruas que aconteciam antes das pedras preciosas chegarem ao seu destacamento e da parcialidade dos representantes da coroa portuguesa estabelecidos no Brasil, para permitir o escambo, sem o devido pagamento de impostos.
O alferes tinha o defeito de falar demais e de comentar em
público esses acontecimentos nas tabernas e nos bordéis de sua época.
Isto incomodava as autoridades constituídas, mas como
partiam de um oficial de baixa patente, deixavam por isso mesmo, mas viviam de
olho nele.
Não havia meios para punir o contrabando de ouro e a Real
Fazenda - nome que se dava ao fisco português - decidiu sobretaxar os impostos
para cobrir as diferenças.
Ao novo tributo se deu o nome “derrama” que consistia na
entrega pessoal de 100 arrobas de ouro e diamantes aos fiscais, ou seja, 1.500
quilos de pedras preciosas.
Se a quantidade não fosse alcançada, se calcularia igual valor a ser pago em dinheiro.
O governo português estipulou um ano antes, a data de
entrega da “derrama”: fevereiro, de 1789.
Este anúncio ocasionou grande revolta e uma série de
reuniões entre os mais destacados senhores de Vila Rica, passou a acontecer.
Era preciso modificar a situação, pagar um quinto do que era
arrecadado, significava a ruína dos que trabalhavam nas minas de extração do
ouro e seus patrões.
Alvarenga Peixoto era um desses proprietários, assim como
seu advogado e amigo pessoal, Cláudio Manuel da Costa, também dono de
propriedades.
Além desses dois, Tomás Antônio Gonzaga, elogiado poeta, desembargador e ouvidor de Vila Rica passou a integrar o grupo que decidiu após sucessivos encontros, proclamar a República em Minas Gerais.
Joaquim Silvério dos Reis, dono de terras, participava
dessas reuniões e como devia grande soma em dinheiro ao governo português e não
queria perder suas propriedades, decidiu delatar os planos e conseguiu ter sua
dívida perdoada.
Ele fez chegar a Luiz Antônio Furtado de Mendonça, o
Visconde de Barbacena, governador da província, sua denúncia. Silvério não
estava sozinho, junto com ele havia outros proprietários cujos nomes não
aparecem na história.
Ainda assim perdeu parte dos bens por causa do levante, mas obteve de volta uma fazenda que herdara do pai.
Tiradentes participava das assembleias, mas em nenhum
momento - apontam as atas - seu nome aparece entre os líderes.
Ainda assim, esses mesmos documentos comprovam que o desenho
da bandeira de Minas Gerais teve o vermelho escolhido por sugestão do alferes,
em homenagem à Santíssima Trindade.
A inscrição dos versos em latim “Libertas Quae Sera Tamen” – Liberdade Ainda que Tardia, do poeta romano Virgílio, foi ideia de Alvarenga Peixoto.
Ficou determinado pelos representantes do fisco que a
cobrança passaria no dia marcado de porta em porta para arrecadar os impostos.
Em contrapartida, os inconfidentes combinaram de o tenente
Silva Xavier sair às ruas de Vila Rica e conclamar o povo para um protesto.
Assim que os Dragões de Minas fossem chamados para abafar a
agitação, o comandante da tropa, Freire de Andrade, se atrasaria.
Isso daria tempo para que o alferes se dirigisse à
residência do governador e o prendesse. Em seguida, seria proclamada a
República com a leitura de uma declaração de independência de Minas Gerais, em
relação a Portugal.
A proposta era, buscar depois, a adesão do Rio de Janeiro e de São Paulo para a formação de um Estado único e independente.
Como o governo português fora avisado da trama, estrategicamente,
a data da derrama foi adiada e nada do que ficou combinado aconteceu.
Isto arrefeceu os ânimos de alguns inconfidentes que começaram
a aplacar seus ardores de liberdade.
Tiradentes seguiu irredutível, viajou para o Rio de Janeiro
para levar adiante as propostas da Inconfidência Mineira, mas ao chegar acabou
preso.
Sucessivamente outros 11 envolvidos foram encarcerados e conduzidos de Vila Rica para o Rio de Janeiro. Todos negaram participação e assim também fez de início o alferes.
O processo ao qual se deu o nome “Devassa”, durou três anos
e após inúmeros interrogatórios, torturas e acareações, Tiradentes abarcou para
si todas as culpas.
Não se sabe ao certo porque fez isso, mas sua atitude fez
dele o herói nacional venerado pelos historiadores que primeiro levantaram os
autos.
Seu enforcamento aconteceu em 21 de abril de 1792, no Largo
da Lampadosa - Rio de Janeiro, hoje Praça Tiradentes.
Fonte: Dolci, Mariana de Carvalho/Tiradentes nem Patriota,
nem Frade/Hucitec Editora/São Paulo/2020
Retratos ilustrativos extraídos no Google, exceto capa do livro fonte